Damas Grifinórias escrita por Madame Baggio


Capítulo 16
Me Chama


Notas iniciais do capítulo

Aqui estamos com o penúltimo capítulo... BÚA!!!!

Assim é a vida e eu agradeço a todos os reviews maravilhosos que eu tenho recebido.

Vamos a ação!

CAPÍTULO REPOSTADO PORQUE ESTAVA COM FUROS!!! Mil perdões a todos!



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Dimitri estava em sua sala, preparando-se para as aulas do dia seguinte, quando ele ouviu a porta abrir. Ao levantar o rosto o moreno deu de cara com Nora.

A morena tinha os braços cruzados e o olhar de uma mulher com uma missão. Ele se perguntava se devia ficar preocupado já ou esperar um pouco mais. Estar no foco de uma pessoa com a mente manipuladora de Nora nunca era bom.

-Nora. –ele sorriu –No que posso ajuda-la?

Nora estreitou os olhos e pareceu considera-lo seriamente.

-Você... –ela começou –Está me decepcionando. De verdade.

Dimitri arqueou a sobrancelha.

-Eu sinto muito se não correspondo as suas expectativas. –ele falou irônico.

-Então faça alguma coisa a respeito! –ela falou impaciente.

-Nora, se você começasse a fazer sentido agora seria adorável. –ele falou, com uma doçura falsa e exagerada.

-Quando você pretende fazer da Paloma uma mulher honesta? –Nora perguntou com um sorriso divertido.

-Senhorita Ca...

-Nem comece! –Nora avisou. Ela fechou a porta atrás de si e caminhou na direção dele –Você só me chama de senhorita quando você sabe que eu estou totalmente certa e não quer admitir. O que é sempre.

Dimitri revirou os olhos.

-Nora, o que você quer que eu faça? –ele perguntou num suspiro.

-A Paloma está me enchendo. –ela declarou com simplicidade –Toda cheia de suspiros e olhares apaixonados e pensativos. Ela está envergonhando o nome das Damas, sabia?

Dimitri olhou para Nora como se ela estivesse louca. Bom, talvez ela estivesse mesmo.

-Nora, posso te lembrar que a Paloma é minha aluna? –ele falou levemente irônico, mas também havia uma certa vontade de lembrar a si mesmo disso.

Nora bufou.

-Quem liga pro fato de ela ser sua aluna? –ela perguntou –Nós dois sabemos muito bem que você não a vê só como uma aluna, assim com ela não te vê só como um professor. –ela respirou fundo –Isso vai deixar uma marca na minha reputação, mas tudo bem... Eu acho que ela é completamente apaixonada por você. Eu acho que ela... –uma careta –Te ama.

Dimitri teria rido do desespero de Nora para falar as palavras, se não fosse exatamente por elas. Se Nora achava que Paloma... Não, ele não ia pensar nisso. As coisas entre eles estavam fora do controle. Ela era uma aluna, por Merlin. Vários anos mais nova que ele. Isso não estava certo.

-Nora, isso não é uma boa ideia. Por tantos motivos que eu até ja perdi a conta. –ele declarou num suspiro.

Nora também suspirou, mas o dela era mais de tédio.

-Se tem tantos motivos assim pra vocês não ficarem juntos me responde só uma coisa. –ela pediu e então continuou antes de ele poder falar –O que você sente por ela é assim tão superficial que nem vale a pena tentar?

Dimitri olhou para Nora no mais completo choque.

-Superficial? Você acha que tem alguma coisa de superficial no jeito que eu gosto, aliás, que eu amo aquela menina? Se tivesse eu nem estaria aqui tendo essa conversa ridícula com você, Nora! Se fosse superficial, se não importasse, eu já teria feito alguma coisa a respeito. Mas é justamente porque importa, porque eu não consigo parar de pensar nela, que eu também não sei o que fazer! –ele sabia que tinha falado mais do que devia, mas fazia sentir-se bem ter finalmente desabafado.

E quando ele olhou para cima e se deparou com a expressão de gato com o rato de Nora ele soube que tinha falado demais. E falado exatamente o que ela queria que ele falasse.

-Nora...

-Vira homem, Dimitri! –ela falou sorrindo –Quebra algumas regras, provavelmente algumas leis, mas pega a garota. Ela é sua. –ela fez um gesto de dispensa com a mão –Se você me fizer ter outra conversa piegas dessa com você eu vou ter que te colocar na minha lista negra. E acredite, você não quer estar la!

Dimitri riu.

-Toma jeito, Nora.

-Só se for com whisky! –ela respondeu por cima do ombro, saindo da sala dele.

Mas se tinha algo que Dimitri tinha que admitir era que dessa vez Nora tinha razão. Chega de hesitar. Era hora de ter o que ele queria. Quem ele queria.

XxX

-Você já teve uma sensação de que alguma coisa muito séria está a ponto de acontecer? –Paloma perguntou a Marizza na manhã seguinte.

As duas tinham acabado de correr e a loira estava suada e mal-humorada. Paloma teria rido se não soubesse que isso só ia irritar Marizza. As duas corriam juntas desde o quarto ano e até hoje a loira não tinha se acostumado com aquilo. Provavelmente nunca iria, mas era a única opção em Hogwarts fora quadribol, então ela tinha aceitado.

Marizza tomou um gole de água, quase que em desespero.

-Eu te odeio, sabia? –ela declarou –Eu estou toda vermelha, suada e você está ai linda e morena como sempre! Você mal sua.

Paloma revirou os olhos.

-Não é culpa minha que meu corpo foi abençoado com todas as maravilhas possíveis. –ela falou revirando os olhos. Então abriu um sorriso malicioso –Eu sou praticamente um parque de diversões ambulante.

Marizza soltou uma risada irônica.

-E ja, eu ja tive um pressentimento desses. –a loira falou, voltando a pergunta anterior de Paloma –Aliás, a mais recente foi antes de me pegar com o Remus na torre de Astrologia, daquela primeira vez.

-Será que isso quer dizer que eu vou ganhar um pouco de diversão, então? –Paloma provocou, movendo as sobrancelhas de forma sugestiva.

Marizza riu.

-Como se todas nós não soubéssemos que a única pessoa com a qual você quer se divertir é o Dimitri. –ela retrucou.

Paloma murchou visivelmente.

-Foi mal. –Marizza falou.

-Deixa pra la. –Paloma deu de ombros –Eu só odeio me sentir dessa forma. Como uma primeiranista apaixonada por um cara mais velho. Eu nunca tive razões para duvidar de mim como mulher, até o Dimitri.

-Ele te perguntou o que você sentia, Paloma. –Marizza lembrou –Foi você que não soube responder.

-Eu fiquei chocada na hora. –ela falou, embora a frase tivesse soado fraca até para as próprias orelhas –Eu fiquei...

-Assustada. -Marizza completou por ela, porque era óbvio que a morena não queria admitir –Acontece, com todas nós. Merlin, lembra a Lily quando todo aquele rolo com o James começou? –revirou os olhos –Eu achei que ela ia acabar se escondendo embaixo da cama e nós teriámos que arrasta-la de la.

Paloma riu, porque aquilo era exagero da parte de Marizza, mas ela estava feliz porque a amiga estava tentando anima-la.

Paloma sempre tivera um certo... Receio. Receio de ser a penetra das Damas. Lily e Marizza já eram amigas antes do grupo se juntar e Nora e Olivia também eram mais ou menos isso. Ela era a única que não tinha amiga nenhuma e tinha desabado no grupo, praticamente se infiltrado. Por vários meses ela tinha se mantido meio a distância, até que Olivia deu uma chamada nela e esclareceu alguns pontos. Elas eram todas amigas, ponto final.

Mas no fundo ainda havia uma certa insegurança. Isso era normal, ela imaginava. Todo adolescente era inseguro. Mas esses momentos de amizade e cumplicidade que ela dividia com Marizza quando elas corriam juntas, ou quando estudava com Lily, ou quando se arrumava com Nora e até quando discutia com Olivia eram provas de que ela não era uma intrusa. Ela era uma Dama.

-O que você vai fazer em relação ao Dimitri? –Marizza quis saber.

-Eu não sei. –Paloma admitiu –Eu adoraria bater na porta dele e dizer que eu sou idiota e estou loucamente apaixonada por ele, mas eu não tenho essa coragem toda.

Marizza arregalou os olhos de repente.

-Bom, talvez você devesse reunir coragem rápido. –ela falou, olhando na direção do castelo –Tipo já.

-Por que? –Paloma perguntou confusa.

-Porque o seu professor preferido está vindo pra ca. E cara, ele parece muito decidido.

Paloma virou a cabeça tão rapidamente que seu pescoço estralou. E de fato Dimitri estava vindo na direção delas, com um olhar que fez um arrepio percorrer o corpo dela. Ah Merlin...

XxX

Dimitri sabia muito bem onde Marizza e Paloma estariam aquela hora da manhã, mesmo que não fosse tecnicamente permitido. Não havia nenhum regulamento em Hogwarts que proibísse alunos de se exercitarem tão cedo na manhã, mas de forma geral os alunos não deviam estar circulando pela escola até o começo do café da manhã. Ou seja, embora não oficialmente as duas estavam quebrando as regras da escola.

Claro que Dimitri não tinha ido até ali para brigar com as duas. Ele tinha ido até ali porque precisava desesperadamente ver Paloma e tentar de uma vez por todas falar de todos os sentimentos que ele não devia sentir, mas sentia mesmo assim. Porque pela primeira vez desde que se vira apaixonado por ela juntara a coragem necessária para mandar as regras pro espaço e tentar.

Só esperava que ela não pisoteasse seu coração com um daqueles saltos agulha que ela adorava tanto...

-Meninas. –ele cumprimentou ao se aproximar.

Paloma parecia a um passo de desmaiar, mas Marizza tinha um enorme sorriso no rosto.

-Professor, bom dia! –ela falou animada –Como você está nessa manhã gloriosa?

Dimitri estreitou os olhos.

-Muito bem, e você?

-Maravilhosamente bem. –ela falou tranquila –Mas como você pode ver eu estou cansada e suada, então eu preciso ir tomar um banho, fazer chapinha, maquiagem, as coisas de praxe...

E com isso declarado a loira simplesmente se virou e saiu dali, deixando Paloma sozinha com ele.

-Bom dia, Dimitri. –ela falou por fim, sorrindo levemente.

-Bom dia, Paloma. Como você tem estado?

A morena limpou a garganta.

-Muito bem, professor. De verdade.

Um silêncio carregado caiu entre eles.

Dimitri não podia fazer isso. Estava se sentindo um covarde, mas não conseguia dizer mais nada. Porque tinha medo. Medo de ser dispensado, medo de ela se cansar dele rápido, medo de magoa-la. Eram tantos medos que começava a se achar um idiota por ter achado que isso podia dar certo.

Paloma merecia muito mais do que ele. E dai que ele vinha de uma boa família? Ainda era apenas um professor, mais velho que ela. Claro que nem era tanta diferença assim, mas mesmo assim. Já era mais do que o suficiente.

Faltava coragem para muita coisa. E dizer que amava Paloma infelizmente era uma delas. Ele era um idiota e no momento estava se odiando.

-Paloma...

-Eu acho que te amo!

Foi como se o mundo tivesse prendido a respiração. Como se a terra tivesse parado de girar.

-O que? –ele perguntou incrédulo.

Paloma ficou vermelha. Ele nunca tinha visto a morena corar, mas certamente havia uma certa vergonha no olhar dela agora.

-Isso não saiu do jeito que eu queria. –ela falou com uma risada forçada.

-Quer dizer que você não quis dizer isso? –ele perguntou com cuidado.

-Não, eu quis! Na verdade, não... –ela parou e balançou a cabeça –Isso está tudo saindo errado.

Dimitri levantou a mão e tocou o ombro dela.

-Respira fundo e começa de novo. Nós temos todo o tempo do mundo. –ele ofereceu.

Ela provavelmente sabia tão bem quanto ele que eles não tinham todo o tempo do mundo. Assim que a escola começasse a acordar o momento estaria perdido. Então era agora ou nunca.

-Eu... Nunca pensei que seria assim. –ela falou, olhando para o lago, não para ele –Que um dia eu ia olhar para trás e me achar idiota por ter pulado de menino pra menino, sem me importar com nada. Nunca achei que eu ia me achar menos digna de coisa alguma por causa disso. –ela respirou fundo –Mas você... Você bagunçou minha vida, Dimitri. Muito mais do que eu gostarioa de admitir. E eu tenho medo. Medo de ficar com você, medo de ficar sem você. Medo de que você não goste de mim no fim das contas.

A mão de Dimitri que estava no ombro da morena subiu e tocou-a no rosto.

-Eu também tenho medo. –ele admitiu –Medo que você me ache velho e sem graça em um mês. Medo que seus pais me matem, medo que suas amigas não aprovem. Eu tenho medo que não dê certo. Mas você sabe o que dizem sobre o medo e a coragem. –ele sorriu.

-Que medo é coisa de gente fraca? –ela perguntou sorrindo.

-Não. –o sorriso aumentou –Que ter coragem é ter medo, mas ir e arriscar mesmo assim. E eu quero assiscar, Paloma. Porque se tem uma coisa que valhe a pena aqui é você. Só você.

Paloma sentiu sua garganta travar diante da confissão. E Merlin, ela não ia chorar!

-Isso quer dizer...

-Que eu te amo. –ele falou com um sorriso enorme –Eu te amo e eu quero você comigo.

-Só pra constar... –ela falou, embora seu sorriso também estivesse cada vez maior –Eu não vou ficar mais comportada por causa disso.

Dimitri estreitou os olhos.

–Com tanto que você pare de beijar os outros por ai, eu não dou a miníma pra sua conduta. –ele declarou.

Paloma riu, mas antes que esse riso fosse muito longe, Dimitri a beijou. E ela o beijou de volta, porque era disso que sonhos eram feitos: do gosto da boca dele.

Então ela não ligou muito quando ele a prensou contra a árvore, apenas deslizou os braços, envolvendo o pescoço dele, afundando uma das mãos em seu cabelo, enquanto as mãos dele vagavam sem rumo definido pelo corpo dela. Nunca tinha sido tão bom estar com alguem, tão certo.

Quando os dentes dele se fecharam suavemente sobre o pescoço dela Paloma soube que tinha encontrado o Paraíso nos braços da pessoa menos provável, mas que de certa forma sempre fora dela. Sempre. Pra sempre. Com sorte.

XxX

-Não se atreva a começar nenhum relacionamento de longa duração!

Nora abaixou o jornal que estava lendo e ergueu uma sobrancelha para Olivia.

-Você andou bebendo chá dos elfos de novo, Olivia? –a morena perguntou irônica.

Olivia revirou os olhos e se jogou na poltrona ao lado da amiga. Era fim do dia e várias pessoas estavam ali em volta da sala comunal, relaxando e se preparando para descer para o jantar.

-Eu não aguento mais esse clima de romance entre as meninas –Olivia comentou desgostosa –Já não me basta a Lily e a Marizza, agora a Paloma resolveu virar uma mulher direita. –ela bufou –Você é minha última esperança.

Nora riu.

-Não se preocupe, querida. Eu não tenho intenção nenhuma de fazer uma idiotice dessas. Nunca.

-Não diga nunca, querida. –Olivia comentou, fechando os olhos –Um dia você pode acabar achando um homem burro e rico com o qual valha a pena casar. Com comunhão total de bens, é claro.

-É claro. –Nora falou irônica –Que nunca seja dito que você não tem uma mente para negócios, Olivia.

-O que? Vai me dizer que você pretendia casar por amor? –ela falou como se a simples idéia fosse detestável.

-Eu não pretendo me casar. Ponto final. –Nora explicou –Casamento não serve para nada. Talvez eu faça apenas um bem para a humanidade e tenha um filho, mas essa vai ser minha única contribuição para um mundo melhor.

Olivia riu.

-Generoso da sua parte. –ela cedeu.

-Com licença.

As duas jogaram olhares congelantes ao primeiranista que as interrompera. O menino se encolheu e engoliu em seco.

-O senhor Lestrange pediu para entregar isso para a senhorita Morgan. –ele declarou pálido, esticando um papel para Olivia.

A morena tirou o papel da mãe dele.

-Está entregue. Agora suma. –ela falou por entre os dentes.

O menino ficou pálido e saiu dali rapidinho.

-Pelo menos ele foi bem adestrado... –Nora comentou com um sorriso –O que a cobra junior quer dessa vez?

-Não sei. –Olivia declarou, atirando o bilhete na lareira. Sem ler.

Nora olhou surpresa para a amiga.

-Desde quando você ignora ele assim tão facilmente?

-Eu to de saco cheio do Rabastan. –Olivia declarou com simplicidade –Saco cheio de quão importante ele se considera. Eu só preciso fazer mais uma coisa e dai eu vou me livrar definitivamente dele.

-Se você precisar de ajuda para se livrar do corpo é só me avisar com antecedência. –Nora avisou séria –Eu vou precisar dar uma limpada na minha agenda antes, mas tudo pode ser resolvido.

Olivia riu.

-Eu não pretendo me livrar dele desse jeito. –ela falou –Eu só vou empurrar algum otário pro grupinho dele.

-O Pettigrew?

-O próprio. Ele já está meio caminho andado. Um empurrãozinho extra e ele tá nas mãos dos futuros Comensais...

-Você não se sente mal por estar fazendo isso com ele? –Nora perguntou, mas não com recriminação, apenas curiosidade.

-Antes ele do que eu. –foi a resposta de Olivia.

XxX

Nora sempre se considerara uma pessoa razoável. Ela podia não ser uma menina doce ou agradável, mas não era também totalmente irracional ou desprovida de emoções.

Para a maioria das pessoas podia não fazer sentido a morena ter amigas, mas para ela fazia.

Nenhuma pessoa era uma ilha. Isso não existia. Todo mundo precisa de pelo menos uma pessoa no mundo que lhe entenda. Nora tinha muita sorte de ter quatro dessas pessoas.

Por mais assombroso que pudesse parecer Nora realmente gostava das amigas. Não era uma relação de interesses, mesmo que tivesse começado assim. Quando elas decidiram se juntar no quarto ano Nora nunca esperara sinceramente se dar bem com Lily e Paloma e muito menos Marizza. Seria a primeira a admitir que as vezes tinha vontade de afogar a loira, mas isso era só porque de forma geral elas eram diferentes. No fim do dia ainda gostava tanto de Marizza quanto gostava das outras.

E para ser justa as quatro tinham feito muita diferença na vida dela nos últimos anos. Uma vez ela lera em algum lugar que o verdadeiro amigo é aquele que te vê como algo melhor do que você realmente é. Esse certamente era o caso dela.

Nora tinha medo das pessoas, por mais que odiasse admitir. Porque na experiência de vida dela, por mais curta que fosse, pessoas mentiam, traíam e machucavam umas as outras. Todas as pessoas que deviam te-la protegido como criança a machucaram de alguma forma. O pai com sua violência, a mãe com seu silêncio e o irmão com seu abandono. Pelo tempo que tinha entrado para Hogwarts Nora já estava mais do que convencida de que todas as pessoas do mundo seriam assim.

Como poderia ser diferente? Se seus familiares próximos, que deviam ser os maiores exemplos de amor, a machucavam, porque completos estranhos teriam qualquer obrigação com ela?

Mas então veio Olivia. No começo as duas só se falavam por causa de um projeto de Poções que foram forçadas a fazerem juntas. Então, quase que por nada, começaram a conversar. E dai Olivia descobriu por acaso o que Nora vivia dentro de casa e os momentos da mais completa raiva que a engoliam. E mesmo assim Olivia não se afastou.

Na verdade foi naquela hora que Olivia e Nora sentaram e a primeira contou a "tradição" familiar de emancipar os filhos que seus pais seguiam. E juntas as duas começaram a planejar o que fazer para conseguirem tirar o máximo da situação. Elas tinham doze anos.

Elas se tornaram meio que cúmplices, ainda não exatamente amigas. Mas certamente um passo mais próximo disso. Então vieram as outras, mais Damas. Agora amigas, quase irmãs.

Nora agradecia todos os dias a sorte que tivera. Porque no fundo sabia que não merecia tudo isso.

A última super aventura da amizade acontecera há quase uma semana atrás, quando Sirius descobrira o que ela já tinha sofrido em casa.

Lily tinha ido buscar uma poção para a cólica de Nora e voltara para o quarto encontrando Nora chorando nos braços de Sirius. Fora a situação mais ridícula para qual a morena ja passara. Tinha vergonha de si mesma só de lembrar.

Lily de alguma forma conseguira se livrar de Sirius e depois ficara ali conversando com Nora, esperando a poção fazer efeito. Então a morena respirou fundo e disse que era melhor chamarem as outras. Quando elas apareceram Nora contou tudo o que tinha acontecido. Olivia explodiu em risadas e a morena foi obrigada a atirar um sapato na outra.

As maravilhas da amizade...

O único problema que sobrara daquele dia era...

-Ainda bem que eu finalmente te achei, Carter.

É, a ironia do tom dele não estava sendo desperdiçada em Nora.

A morena bufou.

-O que você quer agora, Black?

Sirius arqueou a sobrancelha.

-Se você acha mesmo que pode fazer aquele espetáculo, confessar todas as cachorradas que vocês já fizeram com a gente e me usar como lenço e depois fingir que nada aconteceu você é mais insana do que eu pensava. –ele falou.

Nora lançou um olhar assassino para ele.

-Que bom que você percebeu finalmente. –ela falou irônica –Agora se você me dá licença eu tenho uma consulta no St Mungus.

Ela foi passar por ele, mas Sirius segurou o braço dela impedindo-a de deixa-lo ali.

-Eu e você vamos conversar, Carter. Você querendo ou não. –ele declarou com firmeza.

Nora revirou os olhos. Ela tinha que tratar as coisas com cuidado. A vantagem de todo aquele show no dormitório dela era que Sirius tinha tido tempo para se acalmar depois de descobrir que ela era animaga e que agora o maroto tinha amolecido em relação a ela.

Talvez ele nem percebesse, mas estava sendo bem menos hostil com ela agora. Um erro da parte dele, obviamente. Só porque agora ele sabia o segredinho dela e a tinha visto chorando não queria dizer que seriam amiguinhos ou que Nora iria desperdiçar qualquer oportunidade de esmaga-lo.

Homens. Ela chegava a ter pena deles.

Na verdade... Não chegava, não.

-Sobre o que você quer conversar, Black? Porque eu ando sem tempo pra acompanhar as novelas, então se você quer discutir isso com alguem talvez fosse melhor procurar o Potter. –ela ofereceu com falsa doçura.

Sirius bufou e soltou o braço dela.

-Eu estou tentando ser paciente com você, Carter, mas eu juro por Merlin que se você continuar com essa ironia irritante sua eu vou te chacoalhar, até que você resolva falar alguma coisa que preste. –ele avisou.

Nora lançou a ele um olhar que deixava claro que ela não achava que ele era capaz.

-Ok, Black. –ela falou, com uma bufada exagerada –Eu vou fazer minha bondade do dia e fingir que estou interessada em falar com você.

Sirius resolveu ignorar isso.

-Então que tal você me contar como você estava me usando para atingir a Bellatrix? –ele perguntou irônico.

-Eu não sei porque eu preciso te contar alguma coisa. –ela falou –Você aparentemente já sabe de tudo.

Sirius lançou um olhar a ela.

-Ok, ok. –ela lançou as mãos para cima –É isso mesmo. Eu dei em cima de você só pra irritar a Bellatrix, satisfeito? Por isso eu falei que se você me quisesse você não podia ficar mais com ela. Aliás, como você ficou sabendo disso?

-Rodolphos. –ele informou.

-O corno? –ela perguntou meio chocada –Devia ter pensado nisso...

-Como assim?

-Ele veio falar comigo um tempo atrás... Queria que eu ajudasse ele a manter a cadela da noiva dele longe de você... Eu disse que não tavaa afim.

-Isso explica porque ele sentiu a necessidade de te dedurar... –Sirius cedeu.

-Ele é só um molequinho que brinca com coisas que não conhece e se acha o máximo por isso. –ela falou com desprezo –Um dia ele vai se machucar e eu vou chorar de rir.

-Você não vai ser a única... E sobre a animagia? –ele estreitou os olhos.

-Ah da um tempo, Black. –ela revirou os olhos –Quer dizer que só você e seus amiguinhos podem ser animagos ilegais?

-Como é que você sabia disso? –ele exigiu.

-Bom, na verdade começou a fazer sentido quando descobrimos que o Remus era lobisomem...

-COMO É QUE VOCÊ SABE DISSO? –ele perguntou agora irritado de novo.

-Abaixa esse tom de voz, Black, porque eu não sou uma das suas vagabundas pra você usar esse tom comigo. –ela avisou, colocando as mãos na cintura.

-Como vocês sabem do Remus? –ele exigiu por entre os dentes.

-Lily e Olivia perceberam os sinais no quinto ano. –ela deu de ombros –A curiosidade nos levou a tentar entender o que vocês tinham a ver com isso, ja que vocês também sumiam durante a lua cheia. Das duas uma: ou Remus tinha tido o mau gosto de morder todos vocês e vocês iam todos juntos uivar para a lua, ou vocês três tinham arrumado um jeito de acompanhar ele de alguma outra forma. Não foi la tão dificil descobrir como, uma vez que nós começamos a pesquisar. E claro que os apelidos ridículos e as piadas de duplo sentido de vocês ajudaram. –ela falou como se eles fosse idiotas.

-E você? –Sirius quis saber –Por que você resolveu virar animaga?

-Quando nós descobrimos que vocês conseguiam nós resolvemos tentar. A Paloma e a Lily não quiseram nem tentar. Marizza nunca conseguiu virar animaga. A Olivia consegue, ela vira um corvo, mas quem disse que alguem convence ela a sair voando por ai? –Nora revirou os olhos –Ela disse que só queria provar que conseguia, mas dificilmente vira um passarinho e sai voando por ai.

Sirius duvidava que Olivia ia deixar uma habilidade dessa passar em branco, mas achou melhor não comentar nisso.

-Bom, é isso. Fim. E todos viveram infelizes para sempre, até o divórcio. –ela falou irônica –Mais alguma coisa? –ela perguntou, embora era óbvio que não estava sinceramente oferecendo informação.

-A oferta ainda está de pé? –ele perguntou, mesmo assim.

-Que oferta? –ela perguntou impaciente e confusa.

-Você. No lugar da Bellatrix.

Nora lançou um olhar descrente para ele.

-Você está falando sério? –ela perguntou chocada –Depois de eu ter confessado que a maior parte do tempo eu só estava com você pra irritar a louca-mor, você ainda quer ficar comigo?

-Você acabou de dizer a maior parte do tempo, ou seja, não era o tempo todo. –foi a única coisa que ele disse.

Nora pareceu pensativa por um minuto.

-Mesma regra aplica. –ela avisou –Eu não ligo se você ficar com a escola inteira, contanto que você não fique com ela.

-Eu vou pensar no seu caso. –ele falou com um sorriso de canto de lábio.

Nora estreitou os olhos.

-Eu é que estou pensando no seu, pulguento.

-Falou a bichana.

-Pra que perder tempo? Você nem beija tão bem assim! –ela declarou jogando as mãos pra cima.

-Quer apostar? –ele provocou.

-Eu te vejo mais tarde, Black. –ela declarou se afastando –Depois que eu tiver pensado no seu caso.

-Você sabe que você quer, Nora!

Nora não respondeu a provocação, mas um sorriso apareceu no canto de seu lábio. Black tinha definitivamente amolecido. E agora ele também fora levado pela correnteza.

As delícias de ser uma Dama...

XxX

-Para você.

Lily levantou os olhos do seu dever de casa, passou pela caixa de veludo que havia sido colocada diante de si e então finalmente olhou nos olhos de James. Seu namorado.

-Quanta delicadeza, querido. –ela falou irônica.

James revirou os olhos e sentou-se sobre a mesa onde Lily tinha seus livros abertos.

-Pra você. –ele simplesmente repetiu, empurrando a caixinha na direção dela.

Lily abaixou sua caneta e pegou a caixa. Não podia negar que estava curiosa. O pacote era razoavelmente alto e grande, mas o veludo denunciava que tinha que ser uma jóia. Uma fita vermelha envolvia o presente.

-O que é?

-Que tal você abrir primeiro? –James provocou.

Nesse momento Lilith pulou na mesa e então se acomodou no colo de James.

-Ela é uma traidora. –Lily acusou.

-Ela tem bom gosto. –James rebateu, coçando a gata atrás das orelhas –Se entregou ao meu charme bem antes de você.

Lily achou melhor ignora-lo e puxou o laço, fazendo-o se soltar, então abriu o presente. E perdeu o folego.

-Ah Merlin, James... Isso é simplesmente lindo...

-Quem bom que você gostou. –ele falou, embora seu sorriso fosse totalmente arrogante, como se já soubesse com certeza que ela iria gostar.

-Bom, é um relógio e é de ouro. –Lily provocou –Não tem o que não gostar.

James riu.

Ele sabia que Lily tinha uma paixão por relógios de pulso, então não poupara esforços para achar um perfeito para ela. O relógio era de fato de ouro, com mostrador redondo cercado por pequenas pedras de brilhante, que faziam a peça mais refinada, sem deixa-la exagerada. O presente perfeito para Lily.

O maroto tirou Lilith do seu colo e colocou a gata na mesa, fazendo a felina lhe lançar um olhar de desagrado.

-Não seja ciumenta. –ele coçou o queixo da gata, antes de deslizar para perto de Lily -Posso? –ele indicou o relógio.

Lily deu a caixa para ele e James soltou o relógio e puxou o braço de Lily.

-Onde você conseguiu isso? –ela quis saber, enquanto assistia encantada James colocar a peça em seu pulso.

-Eu encomendei algum tempo atrás. –ele falou –Logo depois que você finalmente cedeu aos meus encantos. –ele provocou –Chegou em casa ontem e minha mãe mandou para mim. Ela ficou extremamente feliz ao saber quem era e por que você estava ganhando um presente. Ela te adora.

-Sua mãe é esperta. –Lily falou, então colocou o relógio diante de seus olhos e admirou a beleza da peça –Ah James, é simplesmente lindo, perfeito. Você vai me deixar mimada e mal acostumada até o fim do ano.

James deu um sorriso de canto de lábio.

-Espera só o que eu vou fazer até o fim das nossas vidas. –ele falou com simplicidade.

Lily arqueou a sobrancelha.

-Isso soa terrivelmente permanente. –ela falou sarcástica.

-E é. Você é minha. –ele declarou com finalidade.

-Eu não me lembro de ter assinado nenhum contrato vitálicio com você. –ela provocou, apoiando os cotovelos na mesa.

-Meu amor... –James murmurou com carinho, se inclinando na direção dela –Quem disse que você tem escolha?

Lily soltou uma risada.

-James, querido, eu tenho todas as escolhas do mundo. –ela declarou com finalidade –A sua sorte é que você acaba de comprar meu amor momentâneo com esse relógio. –ela declarou passando a dita peça diante do olhos dele.

James segurou a mão da ruiva e puxou-a, fazendo-a se levantar.

-E você tem minha devoção eterna. Não seria justo você me dar o mesmo? –ele perguntou abraçando-a.

-James, meu amor, nunca te disseram? O mundo não é justo. –ela falou de forma doce.

James não pôde evitar de rir e beijar a ruiva. Ela ainda ia deixa-lo louco e provavelmente ele passaria o resto dos seus dias tentando entende-la e conquista-la totalmente, mas devia ser masoquista, porque mal podia esperar por esses dias.

XxX

-Ei Morgan...

Ele tinha demorado menos do que ela prevera inicialmente para vir falar com ela. Olivia tinha que dar um pouco de crédito a Peter Pettigrew por isso. Mas não muito.

Peter era exatamente o tipo de pessoa que ela não suportava: o que vivia para seguir. Que ninguém a entendesse mal, essas pessoas eram extremamente úteis. Afinal, todo líder precisava de seguidores. Mas Olivia odiava pessoas fracas, por toda a utilidade delas. Pessoas sem opinião, pessoas medrosas, pessoas que serviam. Ela não tinha nascido para ser uma dessas pessoas e talvez por isso ela nunca fosse entende-las.

Por isso ela não gostava de Peter.

Ele sempre estaria seguindo alguém. Os Marotos, os futuros Comensais. Sempre seguindo. Ela duvidava que ele teria a capacidade de escolher o que comer se alguém não estivesse dando a ele algum tipo de indicação.

Não que isso fosse um problema para ela no momento. Ela precisava de Peter vulneravel, mesmo porque, tudo estava indo de acordo com o que ela queria e logo ele seria o passaporte de saída dela daquele grupo infernal com o qual ela se metera, sabe Merlin porque.

-O que você quer, Pettigrew? –ela perguntou de forma impaciente.

Ele recuou um passo, intimidado, inseguro, mas tinha que ser assim. Ele tinha que ter um pouco de medo e apreensão em volta dela, de outra forma não cairia no plano. Ele tinha que acreditar que havia algo maravilhoso além da porta negra e que ela estava relutante em dividir com alguem como ele. Ele tinha que acreditar que era possível ser algo que certamente nunca seria: alguém poderoso.

-Bom, eu... –engoliu em seco –É só que eu... Andei pensando...

-Acho difícil de acreditar. –ela falou seca, cortando-o.

Ele respirou fundo e tentou de novo.

-Sobre o que você disse sobre o Lestrange e os amigos dele que... –ele parecia levemente mais confiante, mas ainda sim assustado –São...

-Comensais? –ela sugeriu impaciente.

-É. –ele estava claramente desconfortável com a conversa, o que era de se esperar.

-O que tem eles? –ela pressionou.

-O que é... Necessário para se tornar um? –ele perguntou por fim.

Olivia fingiu pensar.

-Sangue puro. –ela deu de ombros –Mente aberta, ambição, o desejo de ser mais. E, logicamente, alguem que te indique.

Isso pareceu deixa-lo um pouco decepcionado.

-Oh...

-O que foi?

-Eu não conheço ninguem que...

-Você quer se unir a eles? –ela perguntou, arqueando a sobrancelha, como se a ideia fosse ridícula.

Peter se endireitou, no primeiro show de bravura que ela já tinha visto vindo dele. Fez até com que ela o admirasse um pouco. Bem pouco.

-E se eu quiser? –ele perguntou, levantando o queixo.

Ela o encarou de volta e isso o fez recuar um pouco. Ela pareceu pensativa por um minuto.

-Eu posso te apresentar a eles. –ela falou por fim –Mas não tenho certeza se eu devo.

-Por que? –ele quis saber.

-Vários motivos. –ela deu de ombros –O primeiro sendo que você tem aqueles seus amigos irritantes que se acham melhor que o mundo e com certeza devem achar besteira se unir aos Comensais.

-Isso não tem nada a ver com os outros! –ele protestou –Eu quero me unir porque... Porque...

-Esse é outro problema. –ela falou com um suspiro entediado –Você nem sabe porque você quer se unir a eles.

-Eu sei! –ele protestou –Eu quero ser forte, eu quero ser mais! Você mesma disse que era tudo o que era necessário.

-É, mas eu não vou arriscar minha reputação apresentando você pra eles se você vai acabar se acovardando no final e mudando de ideia. –ela falou séria.

-Eu não vou mudar de idéia. –ele assegurou.

-Você sabe que no fim isso se traduz a servir ao Lorde das Trevas ao sair daqui, né? –ela lembrou –Que você vai estar ao lado dele, no ideais dele, querendo livrar o mundo bruxo dos nascidos trouxas.

Peter enoliu em seco. Ela podia ver a batalha sendo travada na cabeça dele. Por um minuto ela sentiu pena dele. Peter estava sendo jogado como um peão por ela, e logo também seria pelos Comensais junior. Mas entre ajudar Peter e ajudar a si mesma... Bom, nem havia escolha.

-E então? –ela pressionou.

-Você pode me apresentar para eles? –ele perguntou por fim.

Olivia quase suspirou de alivio.

-Me encontre na sala comunal a uma da manhã, Pettigrew. –ela falou por fim –E não se atrase, ou eu não vou te dar uma segunda chance.

XxX

-Nora!

-Ninguem me chama de Nora sem permissão, Black. Pra todo mundo é Carter e pra você é senhorita Carter. –Nora declarou colocando as mãos na cintura.

Sirius revirou os olhos e se aproximou dela.

-Eu não vou te chamar de Carter enquanto eu te beijar. –ele falou como se fosse óbvio –Seria broxante.

-Olha a minha cara de preocupada, Black. –ela falou irônica.

Sirius resolveu ignorar todas as ironias delas, era praticamente impossível de se conversar com ela as vezes, e agir um pouco.

Ele deu um passo para frente, passando os braços pela cintura dela e trazendo-a para perto.

-Ai está outro problema. –suspirou –Que tal você começar a me chamar de Sirius? Juro que eu não conto pra ninguem. –falou com seriedade fingida.

-Você está ficando folgado, Sirius. –Nora falou irônica, embora sem afasta-lo –Por que você está todo cheio de amor para dar?

-Eu achei que era meio óbvio, Nora. –o nome foi claramente uma provocação –Porque nós estamos... Qual a palavra pra isso? "Juntos" seria ridículo, "apaixonados" um delírio, "ficando" parece mais...

-Ah cala boca, Sirius, antes que você gaste seu limitado vocabulário procurando definição pra uma coisa que não tem definição. –Nora cortou impaciente –E quem disse que a gente tem alguma coisa? Eu disse que ia pensar no seu caso. –ela lembrou.

-Você não tem o que pensar. –ele declarou, puxando-a para mais perto –Você tinha uma condição pra topar ficar comigo e eu já aceitei. Você não pode mais pular fora nem mudar de ideia. Agora já era.

Nora olhou para Sirius como se tivesse pena dele.

-Sirius, eu sempre tenho escolhas. –suspirou –Mas já que você está tão desesperado pra ficar comigo, pode ser. –ela deu de ombros.

Sirius lançou a ela um olhar que declarava claramente que aquilo não era engraçado.

-Eu só não vou comentar isso porque eu sei que você quer tanto quanto eu.

Ela arqueou a sobrancelha.

-Quem disse?

Sirius achou melhor mostrar para ela e beijou-a.

Ele e Nora haviam se beijado pouquíssimas vezes na verdade, mas todas elas tinham tido o mesmo efeito nele. Era intoxicante, como estar alto, como estar bebâdo. Era como beijar alguem esperando que a pessoa enfiasse uma faca nas suas costas.

Bom, talvez isso acabasse acontecendo...

Nora não era tão inocente quanto a maioria das pessoas acreditavam. Ela tinha uma carinha de menininha, de boazinha, era pequena, delicada. Se a morena fosse como Olivia provavelmente usaria isso mais para sua vantagem, mas não fazia isso. Nora preferia agir sem discrição e deixar claro que não era uma tonta, do que ficar se fazendo de frágil e dar as pessoas a chance de menospreza-la.

E Sirius conseguia entender e respeitar isso. Era um mundo cruel la fora, ou alguma baboseira nesse sentido. Era comer ou ser comido, matar ou morrer e toda aquela filosofia fatalista. Nora fazia o que tinha para ser a mais forte, e sabendo um pouco mais do passado dela até que fazia sentido. Sirius ainda não tinha decidido como ia matar o pai de Nora por ter se atrevido a machuca-la, mas chegaria la.

Nora se separou brevemente de Sirius, respirando com dificuldade, os lábios inchados pelos beijos dele se abrindo num sorriso maldoso.

-Nada de Bellatrix? –ela quis saber.

-Entre uma vagabunda fria e uma vagabunda grifinória, é meio óbvio o que eu prefiro. –ele declarou com calma.

Nora estreitou os olhos.

-Se você não quiser se meter em problemas...

-Eu vou te beijar mais agora. –ele completou e fez exatamente isso.

XxX

Peter desceu as escadas do seu dormitório as 12:49. Ele não queria se atrasar de forma alguma, porque sabia muito bem que Olivia iria sim desistir de apresenta-lo aos amigos dela se ele cometesse o menor deslize.

Peter não tinha muita certeza do porque estava fazendo aquilo, mas parecia uma boa ideia. Parecia ser o jeito mais fácil e seguro de se ganhar poder. Ia dar certo, ele tinha certeza disso.

-Você está adiantado. –uma voz declarou das poltronas.

Peter pulou de susto.

-Ancioso? –Olivia perguntou, como se não tivesse percebido o susto que ele levara.

-Eu não queria te deixar esperando. –foi a resposta dele.

Olivia balançou a cabeça, claramente apreciando a resposta.

-Vamos então. –ela declarou se levantando.

Peter seguiu a morena em silêncio pelos corredores do castelo. Ele perdera a conta do número de corredores que cruzaram e escadas que desceram até ela parar diante de uma porta.

A morena bateu duas vezes de forma firme e a porta se abriu.

-Olivia. –Rabastan, que abrira a porta, falou com óbvio prazer –Pettigrew. –bem mais seco.

-Eu trouxe um novo amiguinho pra você brincar, Rabastan. –Olivia declarou –Por que você não o convida para entrar?

Rabastan virou seu olhar para Peter.

-Você jura na sua vida que tudo o que for dito e testemunhado nessa sala jamais sairá daqui? –ele perguntou.

Peter engoliu em seco.

-Sim. –soou mais fraco do que ele queria, mas pelo menos não gaguejara.

Rabastan deu lugar para ele passar pela porta.

-Bem vindo. –o outro declarou.

Peter cruzou a porta, entrando na sala onde mais alunos do que ele esperava se encontravam. E não apenas sonserinos, como temera, mas lufos, corvinais e até grifinórios. Todos ali juntos, todos iguais. E agora ele era parte deles.

XxX

-Bom trabalho, Olivia. –Rabastan falou, estendendo a mão para tocar o rosto de Olivia.

Ela deu um tapa na mão dele e um passo para trás.

-Eu fiz o que nós combinamos. –ela falou por entre os dentes –Agora esqueça que eu existo.

Olivia deu as costas a Rabastan e aos chamados dele. E dentro dela a dama esperava sinceramente nunca se arrepender dessa noite mais do que ja se arrependia.

XxX

-Senhorita Parker, eu preciso ter uma palavrinha com você.

Paloma soltou um grande suspiro de tédio e sofrimento. Um bem falso.

-Sim, professor. –ela respondeu, totalmente educada.

Marizza deu um sorriso maldoso, enquanto Nora revirou os olhos.

-A gente se vê no almoço, Paloma. –Olivia declarou.

-Ou não. –Marizza completou com mais um sorriso.

Paloma ignorou as amigas e os outros alunos que saíam da sala cochichando sobre o que ela teria feito para ser chamada para ficar na sala para falar com o professor.

Quando o último saiu e fechou a porta atrás de si Paloma abriu um sorriso inocente.

-Eu fiz alguma coisa errada, professor? –ela perguntou com um falso olhar doce.

Dimitri revirou os olhos e cruzou os braços.

-Pode parar com essa conversa fiada, Paloma. –ele falou, embora um sorriso curvasse sua boca.

-Ué, não foi pra isso que você fez eu ficar aqui? –ela falou, sua voz ainda totalmente inocente –Pra brincar de professor malvado e aluna levada? Eu até to vestida a cárater. –ela comentou, dando uma voltinha, como se não usasse aquele mesmo uniforme todos os dias.

Dimitri riu.

-Você é terrível. –ele sorriu.

-E isso é uma das minhas melhores acusações, as piores tendem a fazer senhoras corarem! –ela falou com um ar dramático.

Dimitri riu de novo.

-Vem aqui. –ele falou fazendo um gesto para ela se aproximar.

-Ah então a gente vai mesmo brincar de professor bravo e aluna levada... –ela provocou, caminhando em direção a ele.

-Não. –ele declarou, envolvendo-a pela cintura e puxando-a contra si –Nós vamos ser simplesmente o que nós sempre somos.

Paloma pareceu pensativa.

-Essa eu não sei. –ela falou por fim –O que é?

-Dimitri e Paloma, apaixonados um pelo outro.

Um lindo sorriso apareceu no rosto de Paloma, tornando-a ainda mais bonita na opinião de Dimitri.

Era difícil acreditar que ele a tinha agora, e ainda mais, que a tinha dentro da escola, onde não devia sequer pensar nela como nada além de aluna. Era errado em tantos niveis que chegava a ser vergonhoso. Mas a triste verdade é que Dimitri a queria tanto para a si que a teria como pudesse, mesmo que fosse totalmente contra as regras da escola.

-Eu gosto dessa. –Paloma declarou num sorriso –E vou gostar mais quando você estiver me beijando.

Ele se inclinou e atendeu ao pedido dela. Porque uma coisa era certa: ninguem sabia o quanto isso ia durar. Algum professor podia descobri-los, algum aluno poderia dedura-los, Paloma podia se cansar dele.

Era triste, mas era verdade. Dimitri sabia muito bem o quanto a queria, mas nunca saberia com certeza o quanto ela o queria. Por isso tinha que aproveitar cada minuto com ela, porque embora quisesse que aquilo durasse para sempre... Bom, nada era para sempre, não é?

Então abraçou-a mais contra si e beijou-a porque era disso que as tardes eram feitas. Beijos de saudade e momentos roubados.

Quando os dois se separaram ela sorriu mais uma vez.

-Eu passo o dia pensando nisso. –admitiu num suspiro –Em te ver de novo. E eu vou te falar que eu vou matar a próxima meninhinha assanhada que ficar secando a sua bunda.

-Paloma!

-É verdade! Elas secam mesmo! Bando de sem vergonhas, isso sim. Na idade delas elas deviam ainda estar brincando de boneca, não querendo brincar de médico.

Dimitri revirou os olhos.

-Alguem está muito saidinha hoje. –ele comentou.

-Se fosse só hoje estaria bom. –ela falou com outro sorriso.

Dimitri ficou sério então.

-Eu vi você discutindo com o Klein mais cedo. –falou por fim.

Paloma perdeu o sorriso na hora, então recuou um passo, se afastando dele.

-É, estava. –ela falou, sua voz baixa.

-O que aconteceu? –Dimitri perguntou, esticando a mão e tocando o rosto dela.

-Eu vinha evitando todos os meninos desde que nós nos acertamos. –ela suspirou –Alguns nem ligaram, como o Max e o Theo. A gente sempre zuou muito juntos, mas na verdade nós também erámos meio que amigos. Eu achava que era assim também com o Thomas, Merlin sabe que ele nunca teve um ataque de ciúmes antes.

Dimitri se forçou a ficar em silêncio. A franqueza de Paloma estava cortando-o como uma faca. Claro que sabia que a morena já tinha saído, e saía, com vários rapazes da escola, mas ouvi-la falando disso com ele como se não fosse nada era realmente incômodo.

-Hoje de manhã ele veio falar comigo. –ela continuou, sem perceber a reação de Dimitri –Ele ja chegou tentando me beijar. Eu desviei e dei risada, brinquei com ele, mas também fui firme e disse que não queria mais nada, além de ser amiga dele.

-Foi ai que ele brigou com você?

-Foi. Ele começou a perguntar porque eu não queria mais ficar com ele. Se eu estava a sério com alguém, com quem eu estava. –outro suspirou –O Thomas já tinha me pedido em namoro, ano passado, mas eu tinha dito para ele que não namorava. Que não queria nada a sério com ninguem e ele entendeu. Acho que agora ele sente como...

-Se não tivesse sido bom o bastante? –Dimitri sugeriu.

-É, por ai. –ela suspirou de novo –Sabe... Eu odeio ter brigado com o Thomas, mas se ele não pode entender... Bom, então tem que ser assim. –ela o encarou –Eu só quero você agora. Nenhum dos outros chega nem perto.

Dimitri olhou para ela meio em choque. A honestidade de Paloma era desarmante as vezes.

-Eu sei que é difícil. –Dimitri falou por fim, mais uma vez trazendo-a para perto –Mas são escolhas que nós fazemos e com as quais nós temos que viver. Eu escolhi você, você me escolheu e por causa disso pessoas ficaram de fora. É assim em todo relacionamento. É impossível fazer todo mundo feliz.

Ela pareceu pensativa por um minuto.

-Sabe de uma coisa? –ela sorriu de novo –Eu acabei de decidir que nós devíamos nos casar.

O coração de Dimitri pulou uma batida.

-O que? –ele perguntou em choque.

-Eu acho que faz muito sentido. –ela falou de forma razoável –Assim que eu me formar, é claro, mas eu duvido que meus pais não vão aprovar. Nós devíamos nos casar.

-E de onde veio essa insipiração repentina? –Dimitri perguntou arqueando a sobrancelha.

-Bom, eu te amo, você me ama e eu to cansada de brincar. –ela falou com sinceridade.

-Você só tem dezoito. –ele lembrou.

-Praticamente dezenove. –ela retrucou –E eu não vou ter essa idade pra sempre. Se você faz questão a gente espera mais.

-Paloma, isso é loucura. –ele falou por fim.

-Eu sei. –ela sorriu ainda mais –Por isso mesmo é uma boa ideia.

E ele não pôde resistir. Um sorriso enorme se abriu no rosto dele e Dimitri a beijou.

Se ela ainda estaria pensando assim daqui dois meses não era importante. O que valhia era que agora, nesse momento, ela queria passar o resto da vida com ele. E nada vale mais do que o presente. Nada.

XxX

-Remus Lupin!

Remus levantou a cabeça, tirando os olhos de seus livros e viu sua namorada vindo em sua direção, com um olhar muito determinado.

Isso ia ser interessante.

-Deixa eu adivinhar. –ele falou, encarando-a em perfeita calma -Alguma liquidação de sapatos num raio de mil quilometros está acontecendo?

Marizza revirou os olhos.

-Como se eu precisasse esperar por uma liquidação para comprar quilos de sapatos. –ela falou –Na verdade eu tenho algo muito sério para discutir com você.

"Algo muito sério" nunca queria dizer nada bom.

-Ok. –Remus falou muito sério, já que ela estava muito séria –O que foi?

-Antes de mais nada... Em duas semanas nós vamos ter que almoçar com meus pais e meus irmãos em Hogsmeade. –ela avisou, embora não parecesse nada feliz com a ideia –E antes que você reclame e diga que eu nem pedi sua opinião, fique sabendo que ninguem pediu a minha. E se eu não tenho direito a escolha, você com certeza não vai ter também.

Remus estava dividido entre divertimento pela expressão dela, ou irritação por ela ter assumido que ele faria o que ela queria.

-Seus pais querem me conhecer? –ele chutou.

-Na verdade eles ainda não sabem que nós estamos juntos. –ela falou, se sentando ao lado dele –Mas eu quero remediar isso logo.

-Ah é? –ele arqueou a sobrancelha.

-Com certeza. –ela falou tranquila –Mesmo porque, e isso remete ao segundo motivo pelo qual eu vim falar com você, se você me aguentar até lá, nós vamos estar juntos na formatura e eles vão te conhecer de qualquer jeito.

-A formatura é daqui cinco meses... –ele falou com cuidado.

-Isso quer dizer que você não vai me aguentar até la? –ela provocou com um sorriso.

Remus sorriu de volta.

-É claro que sim. Eu ja te falei que você é minha e sem chance de escapar. –ele falou como se fosse óbvio.

-O que me leva de volta a formatura. –ela falou de forma vitoriosa –Viu? Por que você tem que complicar tudo?

Remus revirou os olhos. Ele não entendia a lógica dela, mas aparentemente não era realmente necessário.

-Sobre a formatura... –ela continuou –Você ja decidiu o que vai vestir?

Dessa vez ela realmente conseguiu choca-lo.

-Marizza, a formatura é daqui cinco meses. –ele falou com calma, como se achasse que ela não fosse entender.

-Eu sei, Remus.-ela revirou os olhos impaciente –Isso quer dizer que você não pensou no que vai vestir?

-Eu gosto de deixar essas coisas pra última hora. –ele falou irônico –Sabe, fica mais emocionante desse jeito.

-Não preocupe essa cabecinha linda, meu amor. –ela falou, dando um selinho nele e se levantando –Eu vou cuidar de tudo.

-Tudo o que? –ele perguntou com cuidado.

-Tudo. –ela falou mais uma vez.

-Marizza...

-Não tema, querido, tudo está sob controle.

-Tudo o que? –Remus perguntou de novo, ja meio que perdendo a paciência.

-A formatura, é claro. –ela falou como se ele fosse lerdo –Agora eu tenho que ir, as meninas estão me esperando.

Com isso ela deu mais um beijo nele e saiu da biblioteca. E encontrou as amigas esperando por ela no corredor.

-O que foi agora, Barbie? –Nora quis saber.

-Nós temos planos a fazer. –ela declarou.

-Quem nós vamos matar? –Lily quis saber.

-Ninguem. –a loira informou –Mas nós temos que nos preparar para a formatura.

-Isso não é só daqui cinco meses? –Olivia perguntou arqueando a sobrancelha.

-Por favor. –Marizza falou impaciente –Como se nós fossemos aceitar uma formartura mediocre.

-Ela tem razão. –Paloma cedeu –Se nós não intervirmos a formatura será do jeito que sempre é: um tédio.

-Exato, por isso mesmo nós temos que trabalhar nela. –Marizza falou satisfeita.

-Você está atrasada, Barbie. –Olivia falou com um sorriso satisfeito –Eu ja achei a banda e o fotógrafo certos. Só falta convencer Dumbledore.

-Brincadeira de criança com o nosso charme. –Paloma falou com um sorriso.

-Então está na hora de discutir o importante: vestidos! –Marizza declarou –Eu ouvi falar que estampas animais vão estar na moda pro verão.

-As chances de eu usar um vestido de onça são nulas. –Nora avisou.

-Mesmo porque, gato por gato, você fica com seu próprio pelo, né Nora? –Paloma provocou.

A outra morena revirou os olhos e deu o braço pra Paloma, que deu o braço para Olivia, que se uniu a Lily que agarrou a mão de Marizza.

-Hora de planejar, Damas.


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Notas finais do capítulo

Opa, próximo é o último!

Mas boas notícias! A saga das Damas vai continuar! Aguardem!