Damas Grifinórias escrita por Madame Baggio


Capítulo 15
Sofra por Mim


Notas iniciais do capítulo

Olá a todos!

Muito obrigada por todos os comentários!
Estamos chegando agora na reta final e logo logo as Damas vão dizer bye bye.

Por enquanto... Vamos nos divertir com as maldades ;)



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A chegada triunfal de Lily e James no Salão Principal causou uma surpresa geral na escola. Ninguém conseguia acreditar. Mas mais do que os demais alunos, os Marotos também estavam surpresos.

-Você se incomoda de me explicar o que aconteceu, James? –Sirius pediu irritado enquanto eles andavam no corredor –Por que eu não entendi direito até agora.

-Eu e a Lily estamos juntos agora. –James respondeu tranqüilamente dando de ombros.

-Desde quando? –Peter perguntou confuso.

-Desde hoje de manhã.

-Fácil assim? –Sirius perguntou descrente.

-Claro que não. –James respondeu como se fosse óbvio –Teve uma briga, várias ofensas, muitos beijos, muita coisa além disso... –ele deu de ombros –Até que ela concordou em namorar. Mas tem que ser muito de boa. Ela não me quer interferindo na vida dela e vice-versa... Ela continua sendo a vagabunda fria da escola e eu continuo sendo um babaca arrogante. É assim.

-Meu Merlin, esse mundo está perdido... –Sirius falou revirando os olhos –Primeiro o Aluado e agora você. Só falta o Peter começar a pegar uma delas.

-Ué, e você e a Carter, Sirius? –James sugeriu maldoso –Desistiu?

-Ainda não. –Sirius falou –Mas também não vou ficar dando tanta importância assim a ela. Eu estou me distraindo por ai, por enquanto. Se eu achar que compensa eu fico com ela. Caso contrário...

-Caso contrário você vai correr atrás da Bellatrix de novo, como todos nós já sabemos. –Remus cortou entediado –Eu vou te falar uma coisa com sinceridade, Sirius. Você fala e fala que está contra toda a sua família, mas volta e meia vai atrás da Bellatrix. Você pode falar o que quiser, que é por diversão, que é provocação mesmo, mas no fim você não consegue largar dela. Você não fica longe, você ainda tem essa ligação com a sua família. Mas no fim quem está sendo o idiota não é o noivo dela, não é ela. É você, porque você é o outro. Você é o estepe da Bellatrix. Ela não precisa de você e um dia ela vai falar isso na sua cara e desaparecer e você vai ficar sem nada.

Sirius se virou tão rapidamente na direção de Remus que o monitor mal teve tempo de desviar antes do punho do amigo tentar atingi-lo.

-Cala a boca! –Sirius falou furioso –Você não sabe de nada. Cala essa boca.

-Calma, Sirius. –Peter pediu desconcertado.

-Deixa eles, Rabicho. –James falou tranqüilo –Sirius e Remus já estão há um tempo nessa. Eles precisam se desestressar.

-Se esmurrando? –Peter perguntou em choque.

-Se for o que eles acham que é melhor... –James deu de ombros, tranqüilo.

-Eu não sei de nada, Sirius? –Remus falou debochado –Eu te conheço há anos. Eu te conheço perfeitamente.

-E mesmo assim você fala uma coisa ridícula dessas! –Sirius retrucou furioso –Eu estou falando sério, Remus, sai da minha frente agora, antes que eu resolva te arrebentar.

-Eu não tenho medo de você, Sirius. –Remus lembrou –Eu não sou como aqueles molequinhos fracos dessa escola que tremem só com o som do seu nome. Eu sou seu amigo, Sirius. Eu sei da sua força, mas eu também sei das suas fraquezas e dos seus medos.

-Eu não tenho medo de nada. –Sirius falou por entre os dentes.

-Todo mundo tem medo de alguma coisa, Sirius. –Remus falou tranqüilo –Ter coragem não significa ausência de medo. Significa que você sabe lidar com esse medo.

-Falou o grande pensador. –Sirius retrucou irônico –Por que, você tem medo de alguma coisa, Lupin?

-Eu tenho. –Remus respondeu sem medo –Tenho medo de um dia perder o controle e machucar um de vocês durante a lua cheia. Tenho medo de que vocês se cansem de serem minhas babás e sumam, me deixando sozinho. E agora eu tenho medo que a Marizza perceba a besteira que está fazendo ao se envolver comigo e vá embora também.

Os outros três Marotos ficaram em total silêncio diante da confissão.

-Deixa pra la, Sirius. –James falou depois de um tempo –Nós somos amigos. Nós não brigamos. Vamos logo, ou nós vamos chegar atrasados demais para a aula de Runas.

Sem falar mais nada o moreno deu as costas aos amigos e saiu dali. Peter ainda lançou um olhar preocupado aos outros dois Marotos antes de seguir James.

Sirius e Remus trocaram olhares desconfortáveis.

-Vamos logo. –Sirius falou sem olhar para Remus –Eu não quero tomar xingo daquele professor ridículo.

Remus deu um sorriso de canto de lábio. Ele sabia que tudo estava bem. Por enquanto. Provavelmente ele teria que brigar com Sirius de novo mais tarde. Só para realmente esclarecer as coisas...

XxX

Paloma levantou os olhos do seu pergaminho para olhar para Dimitri.

Merlin, essa era de longe uma das piores aulas de DCAT que ela já tinha encarado. Não só pelo fato de quem ela não estava entendendo nada da matéria, mas também pelo fato de que Dimitri a estava ignorando totalmente.

Bom, na verdade o segundo problema é que estava levando-a ao primeiro. Dimitri a estava ignorando, mas ele estava delicioso aquela tarde. Ela não sabia o que ele tinha feito, mas ela esperava que ele fizesse mais vezes. Normalmente o cabelo dele estava mais arrumado e bem comportado, mas hoje ele tinha algumas ondas e estava bagunçado como o de James costumava ser. Charme de Potter, provavelmente.

Ele estava usando jeans escuros que, Merlin ajudasse a população feminina de Hogwarts, acentuava ainda mais as pernas maravilhosas que ele tinha. E ele estava usando uma camiseta comum, de mangas longas e brancas. Merlin, o homem nem estava tentando, mas ele estava uma coisa de louco. E ela estava a ponto de ficar louca. Aliás, ela ia ficar mais do que louca se as Corvinais atiradinhas na primeira fileira não parecessem de flertar tanto com ele.

Foi ai que a idéia a atingiu. Dimitri estava fazendo de propósito! Ele queria provocá-la e irritá-la só porque ela vinha fazendo o mesmo com ele! Só podia ser isso! Ah mas ele estava muito enganado se ele achava que isso ia dar certo. Porque ela era uma Dama Grifinória e ela não era provocada.

Dimitri queria brincar?

Então eles iriam brincar. Do jeito dela.

XxX

Dimitri estava cansado. Isso era mais do que óbvio. Aquele tinha sido um longo dia.

Aliás a noite anterior também tinha sido longa. Ele passara grande parte dela acordado, pensando em Paloma. Para variar. Como resultado disso ele perdera a hora de acordar e tivera que se arrumar as pressas e tomar um banho a jato. O que acabou rendendo um visual muito pouco profissional na opinião dele. Além de vários comentários nada inocentes por parte de várias alunas.

A única coisa boa que tinha saído disso tudo é que Paloma tinha parecido irritada com as meninas. Quem sabe agora, sabendo como ele se sentia quando ela estava cercada de meninos, ela pararia de provocá-lo. Bom, não custava nada sonhar, pelo menos...

Ele também ficara sabendo pela rede infalível de fofocas de Hogwarts que James e Lily estavam juntos. Ele ainda não tinha muita certeza de quanto verídica a história era, mas ele daria um jeito de descobrir. Talvez ele pedisse para James ir até a sala dele para os dois conversarem depois...

Mas ele estava feliz pelo primo. Quem sabe assim eles paravam com aquela "guerra" estúpida deles. Já estava na hora de eles fazerem algo mais maduro. Além do mais, Remus também parecia muito bem com Marizza. Podia ser que eles realmente estivessem a um passo de ficarem todos juntos... Por que não, certo?

Alguém bateu na porta da sala dele.

-Entre.

A porta se abriu lentamente e Paloma entrou por ela. Dimitri engoliu em seco. Isso não podia ser nada de bom.

Aparentemente ela estava normal. O uniforme estava perfeitamente alinhado, mesmo com sua saia mais curta, mas isso já era normal delas. O cabelo estava preso em um rabo de cavalo e ela parecia calma. Ele deveria entrar em pânico agora ou esperar até ver se ela ia chegar mais perto?

-Oi professor. –ela falou simplesmente, parando a vários passos de distancia dele.

-Ola, Paloma. –ele falou tranqüilamente –No que eu posso ajudá-la?

-Você ficou sabendo da última fofoca? –ela perguntou com um sorriso maldoso –James e Lily juntos?

-Eu ouvi falar. –Dimitri concordou –Mas não sabia quanto sério era.

-Bem sério. –Paloma falou séria –Parece que só faltou o pacto ante-nupcial para ficar mais sério que isso...

Dimitri riu.

-Bom, acho que Hogwarts encontrou seu casal mais bizarro finalmente...

-Mais bizarro que o Remus e a Marizza querendo se devorar o tempo todo? –Paloma provocou rindo –Duvido muito.

Dimitri riu mais uma vez.

-Os dois estão bem?

-Mais que bem. A Marizza nem reclama mais de ter que correr a noite. –Paloma informou sorrindo feliz.

Eles ficaram se encarando em silêncio por um minuto.

-Me diz a verdade, Paloma. –Dimitri pediu soltando um suspiro cansado –O que você veio fazer aqui?

Paloma arqueou a sobrancelha.

-Eu não posso vir aqui para falar com você? –ela perguntou com falsa inocência.

-Paloma... –Dimitri bufou, já totalmente cansado –Eu sei que nada do que vocês fazem é sem um bom motivo por trás. Então sem brincadeiras. O que você veio fazer aqui?

Paloma riu baixinho.

-Direto ao assunto, hein Dimitri. –ela desafiou cruzando os braços.

-Paloma, eu exijo mais respeito. –Dimitri avisou –No fim das contas nós ainda estamos dentro da escola e eu ainda sou seu professor.

Paloma revirou os olhos.

-Como você quiser. –ela fez um gesto de dispensa com a mão –Você até pode ser meu professor Dimitri, mas hoje eu vim te ensinar uma coisinha...

Dimitri engoliu em seco.

-Paloma... –o tom dele era de aviso, mas Paloma ignorou-o totalmente.

-Você precisa aprender, Dimitri... –ela falou calmamente andando na direção dele –Que quem brinca com fogo... –ela parou quando pouco mais de um palmo de distância os separava –Pode acabar se queimando. Muito.

Dimitri abriu a boca para responder alguma coisa, qualquer coisa, mas Paloma não deu a ele a oportunidade. A morena jogou seus braços em volta do pescoço do professor e pressionou seu corpo contra o dele, antes de deixar sua boca encontrar a dele.

Dimitri não perdeu um segundo sequer. Abraçando-a pela cintura e levantando-a do chão e colocando-a sentada em sua mesa. Isso trazia uma incrível sensação de deja vu. Eles se beijando, ela naquela mesa...

Dimitri livrou Paloma da veste por cima da camisa branca do uniforme dela. Ele soltou o cabelo dela, adorando a sensação dos fios negros perdidos entre seus dedos. As mãos dela foram parar na cintura dele, entrando lentamente na camisa dele e arranhando suavemente os músculos definidos de sua barriga.

O professor tirou as mãos de Paloma de seu corpo e prendeu-as atrás das costas da morena. Depois, juntando uma grande quantia de força de vontade, ele separou sua boca da dela.

-O que? –Paloma perguntou confusa.

-Me diz por que você está fazendo tudo isso? –Dimitri exigiu –Por que?

-Co... Como assim? –Paloma perguntou confusa.

-Por que você está provocando tanto? Por que você não deixa pra la? Foi só por que eu te rejeitei aquele dia? É por que eu sou um professor e um desafio? É por que você realmente gosta de mim de algum jeito? –ele exigiu, então soltou as mãos dela –Por que?

Paloma parou, congelada. Ela olhou para ele e então piscou. Então abriu a boca, mas som nenhum saiu. Merlin o que ela estava fazendo? Ou melhor, por que ela estava fazendo isso?

-Eu... –Paloma parou, e respirou fundo –Eu não sei. –ela confessou.

-Então é melhor você ir embora, Paloma. –Dimitri falou se afastando dela –É melhor você ir logo.

Paloma não discutiu, não dessa vez. Ela se levantou de um pulo da mesa, agarrou sua veste e saiu rapidamente dali. O que ela queria com Dimitri afinal?

XxX

Dois dias depois a escola já estava um pouco mais acostumada com o relacionamento de Lily e James. Apesar de os dois serem um casal discreto na frente de todos, já corriam várias apostas de quero os dois iam realmente durar. Os mais otimistas apostavam até o final do ano.

As outras Damas não se sentiam muito confortáveis com o relacionamento. Nora, Paloma e Olivia já não sabiam mais como se comportar exatamente. Afinal, não tinha chance de elas se sentarem na mesma mesa que os Marotos durante o almoço e conversar como velhos amigos. Uma vez nessa situação, durante o Natal, já havia sido mais que suficiente.

Entre elas a que estava se comportando de forma mais estranha era Paloma. Ela tinha parado totalmente com tudo: provocações, flertes e pegas com outros meninos. Ela parecia estranhamente silenciosa e preocupada.

As outras meninas sabiam melhor do que incomodar Paloma perguntando o que ela tinha. Pelo tempo que estavam juntas elas sabiam que Paloma preferia pensar sozinha antes de pedir ajuda a alguém. Assim que ela estivesse pronta ela iria conversar com as meninas. Elas simplesmente sabiam disso...

XxX

-Senhorita Carter!

Nora parou de caminhar e virou-se, encarando Dimitri que vinha em sua direção.

-Fala professor. –ela falou sorrindo maldosa –No que minha humilde pessoa do Mal pode ajudá-lo?

-Você podia começar parando de se referir a si mesma como se fosse uma má pessoa. –ele falou revirando os olhos –Você tem um minuto livre? –ele quis saber.

-Claro. –ela falou, mas ela já tinha um olhar desconfiado no rosto.

Dimitri não a culpava. No lugar dela ele também desconfiaria de tudo e todos.

-Você pode conversar comigo por um minuto? –ele perguntou, então olhou em volta e viu que alguns alunos estavam passando pelo corredor –Na minha sala. –ele completou então.

Nora arqueou a sobrancelha, um sorriso agora totalmente malicioso dominando seu rosto.

-Professor, professor... –ela falou, balançando a cabeça com falsa reprovação –Considerando seu histórico com meninas mais novas e a sua sala eu não sei se isso é uma boa idéia.

Dimitri olhou em choque para Nora, antes de parecer bravo.

-Nora... –ele falou, sua voz em tom de aviso.

-Ok, ok... –ela falou levantando a mão em sinal de rendição –Mas só porque você é meu professor preferido.

Dimitri apenas revirou os olhos, mas não falou nada.

Os dois andaram em silêncio até a sala dele. O professor fechou a porta e olhou para Nora, como que esperando alguma coisa.

-O que foi? –ela perguntou confusa.

Dimitri suspirou e passou a mão pelos cabelos.

-Eu só queria saber como você está na verdade. –ele admitiu –Tem um tempo eu não converso com você. E parece que você não recebeu nem mandou nenhuma carta para casa recentemente.

-Eu saí de casa durante as férias de Natal. –ela falou, como se não fosse importante.

-Saiu? –Dimitri perguntou em choque.

Nora podia se fazer de indiferente o quanto quisesse, Dimitri sabia que não devia estar sendo assim tão fácil para ela.

O professor descobrira por acidente os problemas domésticos que Nora tinha. Na volta do Natal deles, no quinto ano das meninas, Dimitri estava andando pela escola, fazendo rondas.

Foi quando ele viu a luz saindo de uma das salas. Ele era um professor novo naquela época e mais de uma vez ele tivera receio que os alunos não respeitassem sua autoridade ali dentro. Ele felizmente nunca tivera muitos problemas em salas de aula, mas os alunos que vagavam sem permissão pela escola já eram um outro caso. Esses costumavam não respeitá-lo de forma nenhuma. Bem, na verdade esses alunos costumavam não respeitar ninguém.

Ele parou diante da porta para olhar ali, para ver quem era o aluno e o que estava fazendo, antes de decidir como proceder.

Para a total surpresa de Dimitri ele encontrou Nora Carter ali, sentada no chão, perto da janela.

Ele rapidamente buscou dentro de sua cabeça o que ele sabia sobre a morena Grifinória. Ela era popular, mas nada simpática. Vários alunos tinham medo dela. E muito medo. Fora isso... Ah ela também era amiga de Paloma. Mas mais do que isso ele não sabia.

Ele olhou para dentro da sala mais uma vez, tentando entender o que ela estava fazendo. O rosto dela estava virado na direção da parede, dificultando para ele ver a expressão dela, mas a garota trazia um pedaço de papel nas mãos, provavelmente uma carta.

Foi quando ela virou um pouco mais o rosto que Dimitri percebeu algo que realmente o chocou. Ela estava furiosa, isso era meio claro, mas ela estava contendo lágrimas. Elas estavam tão a beira, inundando os olhos dela, mas Nora não deixava uma sequer cair. Ela estava se impedindo de desabafar aquilo.

-Senhorita Carter? –ele chamou entrando na sala.

Nora levantou-se em um salto. Ela obviamente não estava esperando ser interrompida.

-O que você quer? –ela perguntou agressiva.

-Calma ai, senhorita Carter. Quem está fora da cama é você. –ele lembrou –Acho que você poderia começar me falando o que você está fazendo aqui.

-Não é da sua conta. –ela rebateu irritada.

-Pode não ser da minha, mas nós veremos se é da conta do diretor. –ele falou tranqüilamente –Podemos perguntar o que ele acha do fato de a senhorita estar aqui a essa hora.

-Não, espera! –Nora pediu, ela bufou irritada –Eu não estava fazendo nada errado. Eu só queria um lugar para ler minha carta em paz. –ela falou, por fim, mostrando a carta que trazia nas mãos.

-Algum problema em casa, senhorita Carter?

Ela riu sarcástica.

-Quando eu não tenho problemas em casa? –ela retrucou virando as costas para ele.

Dimitri olhou para ela, confuso por um minuto.

-Alguma coisa sobre a qual você gostaria de conversar? –ele quis saber.

-Não com você. –ela respondeu de forma mal-educada, as costas ainda viradas para ele.

-Senhorita... –Dimitri avançou alguns passos e tocou o ombro de Nora.

No mesmo instante que a mão de Dimitri entrou em contato com seu ombro, Nora deu um gemido de dor e se afastou.

-O que houve com o seu ombro? –ele quis saber.

-Nada! –Nora respondeu rapidamente. Rápido demais.

Sem mais uma palavra sequer Dimitri avançou na direção de Nora e tirou a carta das mãos dela.

-Ei! –Nora protestou tentando tirar a carta da mão dele.

Dimitri era maior e mais forte, então foi sem sucesso que Nora tentou impedi-lo de ler a carta.

Os olhos do professor se arregalaram em surpresa ao ler a mensagem que a mãe da garota tinha escrito. Em resumo ela dizia que sabia que o marido tinha exagerado no tanto que tinha batido na filha dessa vez, mas a culpa era só de Nora por provocá-lo.

Dimitri olhou em choque para Nora.

-Isso é sério? –ele perguntou, ainda incapaz de acreditar no que acabara de ler.

-É. –ela respondeu arrancando a carta da mão dele –Claro que a idéia dele de provocação é não passar o recado que a amante vagabunda deixou quando ligou em casa. –ela falou com ódio claro na voz.

-Nora... –Dimitri chamou, chocando-a pelo uso do seu primeiro nome –Me conta qual o problema. –ele pediu.

E o mais surpreendente de tudo foi que ela contou. Ele esperava que ela negasse, que ela dissesse que no fim tudo estava bem, mas ela não fez isso.

Talvez ela realmente precisasse desabafar com alguém. Talvez fosse o fato que ele era um professor, uma pessoa mais velha e com mais experiência. Talvez ela tenha se sentido mais segura. Dimitri nunca realmente perguntou a ela porque ela tinha escolhido confiar a ele aquele segredo, mas ele não o traiu nem por um segundo, mesmo quando ele achava que devia.

E a partir desse dia, vendo ela ali tão frágil e sozinha, um grande carinho por Nora nasceu nele. Ela se tornou quase uma irmã para ele. E alguém de quem ele tinha muito orgulho.

-As meninas... As meninas não me deixaram voltar para casa. Eu já sou maior de idade, então não tem nada que eles possam fazer... Eu to morando com a Olivia. –ela falou como se não importasse, mas Dimitri sabia que importava sim, e muito.

-E sua mãe? –ele perguntou com cuidado.

Nora bufou, então olhou em volta. Então mexeu-se desconfortável e cruzou os braços.

-Eu não posso fazer nada por ela Dimitri. –ela falou por fim –Ela está nessa vida porque quer. Ela não tem o direito de me arrastar nisso também.

-É o que eu venho te dizendo há muito tempo, Nora. –ele lembrou-a.

-Eu sei. –ela suspirou –Era só isso? Posso ir embora?

-Espera... –Dimitri pediu.

Nora olhou para ele e arqueou a sobrancelha. Ele abriu a boca, mas não conseguiu falar nada. Merlin, que idéia idiota! Ele não podia perguntar sobre Paloma para Nora.

Nora ficou confusa ao ver a expressão perdida de Dimitri, mas logo uma expressão de realização iluminou o rosto dela, logo seguida por um sorriso malicioso.

-A Paloma está bem, professor. Um pouquinho estranha, mas isso é normal né? Ela continua com aquela energia irritante, correndo todas as manhãs... –ela falou fingindo analisar as unhas –Se bem que ela deve estar correndo o dobro, já que ela não pega mais ninguém, ela tem que gastar toda aquela energia de algum jeito né?

Isso capturou a atenção de Dimitri.

-Como assim? –ele perguntou, antes de conseguir se conter.

-É professor, eu não sei o que você fez com nossa morena, mas ela não tá mais pegando os meninos a torto e a direito não... –Nora falou com um sorriso conspirador –Aliás desde a última vez que vocês se agarram na sua mesa, ela ta toda amuadinha... O que foi que rolou hein?

-Nora! –Dimitri bronqueou, escandalizado –Eu não te dei toda essa intimidade.

-Ah claro. –ela falou irônica, revirando os olhos –Pra falar dos meus problemas tudo bem, né? Agora quando ferra pro seu lado...

Dimitri suspirou.

-Eu só não sei o que fazer, Nora. –ele admitiu –E você fazendo piadas não ajuda em nada.

Nora suspirou.

-Menos sentimentalismo ai, Dimitri. –ela falou entediada –Você sabe que se você quiser tramar contra alguém, falar mal de alguém ou roubar a namorada de alguém você pode contar com meu total apoio, mas não me venha falar de sentimentos, ou eu passo mal. –Dimitri bufou –E com todo respeito, não tem chance de eu falar alguma coisa que te ajude a domar a Paloma. Já me bastam a Lily e a Marizza nessa.

-Nora, eu não quero "domar" ninguém, como você tão eloqüentemente colocou. –ele revirou os olhos –Eu gosto da Paloma, nada mais.

Nora ergueu a sobrancelha, em desafio.

-Gosta quanto? –ela quis saber.

-Muito. –foi a resposta de Dimitri.

-O bastante para não querer que ela deixe de ser uma Dama? –ela pressionou.

-O bastante para ter mentido para os pais dela mais de uma vez, dizendo que ela se comporta em Hogwarts.

Nora deu um sorriso satisfeito.

-Ela tá fugindo, Dimitri. Ela nunca sentiu isso antes e ela nem sabe o que seria "isso" exatamente. Seja paciente. –ela recomendou –Mas eu creio que ela seja sua.

Sem falar mais nada Nora virou as costas e começou a sair da sala.

-Nora! –Dimitri chamou –Por que você confiou seus segredos a mim? –ele perguntou, quando ela virou-se para olhá-lo.

-Você sabia que eu tenho um irmão mais velho não é? –Dimitri fez que sim com a cabeça –Por alguns motivos você me lembra ele. A cor dos olhos, do cabelo e pelo porte. –Nora suspirou –Meu irmão nunca fez nada para me ajudar, ou defender. Depois que ele saiu de casa e deixou de apanhar ele nunca fez nada por mim. E você, que nem me conhecia veio e me deu um ombro pra chorar, mesmo quando eu achava que não queria um. –ela deu uma pausa –Você é como eu queria que meu irmão fosse. –ela admitiu –Por isso eu escolhi confiar em você.

Dimitri sorriu para Nora.

-Eu te considero uma irmã também Nora. Nunca tenha medo de pedir ajuda para mim se você precisar. –ele falou sério.

Nora deu um sorriso debochado.

-Obrigada professor, mas chega de sentimentalismo ou as pessoas vão achar que eu virei um ser humano e você sabe que eu tenho uma reputação a zelar. –ela dá uma piscadela para ele –Até depois.

Dimitri sorriu vendo ela partir. Aquela menina não tinha jeito mesmo...

XxX

Marizza olhou pensativa para os livros que tinha na prateleira diante de si. Ela odiava Herbologia, com todas as suas forças. Aquelas luvas de dragão eram terríveis para a pele da mão dela, mas a terra era ainda pior. Ela odiava aquelas plantas nojentas e mal-cheirosas, tanto quanto não suportava a relaxada professora. Em suma... Ela odiava Herbologia.

-Quanta concentração, Madame Marizza. –uma voz levemente provocadora falou logo trás dela –Quem vê pode pensar que você está resolvendo um problema de vida ou morte, tipo a próxima bolsa que você vai comprar.

Marizza virou-se surpresa e deparou-se com Phillipe olhando para ela, um sorriso gentil no rosto.

-Phillipe! –ela disse sorrindo feliz –Merlin parece que faz séculos que nós não nos falamos!

-De fato, Madame. –ele falou, fazendo uma cortesia debochada –Como a senhorita e seu simpático sapatinho andam?

-Sapato? –ela perguntou confusa, então pareceu entender –Ah aquele sapato... Já saiu de moda faz tempo, queridinho. –ela falou, fazendo um gesto de dispensa com a mão –Mas se você quiser pode salvar meu novo sapato. –ela falou mostrando o sapato que trazia no pé.

Na opinião de Phillipe os dois sapatos eram idênticos, mas quem era ele para dizer alguma coisa?

-Como você tem andado, Marizza? Eu vi que você está namorando agora o inimigo número 1 das Damas... –ele provocou.

Marizza rolou os olhos.

-Remus não é o inimigo número um. Talvez o número três. Potter e Black certamente são os primeiros.

-Tudo certo então com o malvadão?

Marizza riu.

-Sim. Tudo ótimo.

-Então será que nós podemos voltar a conversar? –Phillipe perguntou cheio de expectativa.

Marizza olhou para Phillipe, totalmente pega de surpresa. Essa era a última coisa que ela esperava que Phillipe fosse querer dela.

Da última vez que eles tinham se visto Marizza tinha humilhado Phillipe publicamente, de forma cruel. Claro que tudo tinha sido só um ato por parte de ambos. Ela estava preocupada que os Marotos pudessem fazer algo contra ele já que naquela época a guerra deles estava a todo vapor. Sequer parecia que havia sido apenas uns poucos meses atrás. Parecia que havia acontecido há séculos.

Marizza sentiu-se sinceramente chocada com a vontade que Phillipe tinha de voltar a ser amigo dela. Se alguém tivesse feito a ela o que ela fez a ele, mesmo com ótimas razões, como ela tinha na época, ela nunca mais teria olhado na cara da pessoa. Nunca mais.

E mesmo assim, la estava ele. Com aquele sorriso de criança feliz e aqueles olhos azuis tão inocentes, olhando para ela, esperando que ela dissesse que sim. Que eles podiam voltar a ser amigos.

-Phillipe, você tem certeza que...

-Marizza. –a voz fria de Remus entrou em cena.

Ah Merlin, que maravilha. Tudo o que ela queria agora...

-Oi Remus. –ela falou, sorrindo para o namorado que se aproximava.

Remus parou ao lado de Marizza e jogou o braço em volta do ombro dela, de maneira possessiva. Ele lançou um olhar congelante para Phillipe, que pareceu não se importar e apenas ficou ali sorrindo educadamente.

Marizza queria bater a cabeça contra a prateleira. Isso era ridículo.

-Remus, esse é Phillipe Trinian. Phillipe, esse é meu namorado, Remus Lupin. –ela apresentou os dois.

-Prazer. –Phillipe falou, oferecendo a mão para um cumprimento que Remus ignorou totalmente.

-Você não era aquele cara que ela mandou ficar longe? –Remus perguntou arqueando a sobrancelha.

-Remus! –Marizza falou, inconformada.

-Sou eu sim. –Phillipe sorriu tranqüilo.

-Então por que você não faz um favor e some? –Remus perguntou.

-Remus! –Marizza agora estava realmente irritada –Você não se atreva a falar assim com um amigo meu! –ela falou séria, agora não mais a namorada de Remus, mas uma Dama. Uma Dama defendendo alguém que estava do seu lado –Eu não vou permitir que você trate ele dessa forma.

Dizer que Remus estava chocado era aliviar a situação. Ele parecia totalmente estupefato e próximo a ficar irritado.

-Marizza. –Phillipe chamou preocupado, claramente desconfortável –Não precisa brigar com ele...

-Precisa sim, Phillipe! –ela respirou fundo e então olhou para ele –A gente pode se falar mais tarde? Nós temos muita conversa pra por em dia.

Phillipe olhou entre ela e Remus por um minuto, então sorriu suavemente para a loira.

-Claro. Te vejo depois. –e com isso ele deixou os dois ali.

No momento que Phillipe saiu da linha de visão Remus travou os dentes tentando controlar a irritação.

-O que você estava fazendo conversando com ele, Marizza? –ele perguntou, a raiva mal contida.

-Desculpe, Remus, mas eu não te devo satisfações de com quem eu converso ou deixo de conversar. –ela falou sarcástica –Eu estava conversando com ele porque o Phillipe é meu amigo.

-Me refresque a memória então, porque se eu não estou enganado você humilhou publicamente dito "amigo" há menos de três meses atrás. –Remus retorquiu irritado.

-O que eu só fiz para protegê-lo de vocês! –ela falou também irritada.

-Protegê-lo de nós? –Remus repetiu em choque –O que isso quer dizer?

-Quer dizer que nós estávamos num tempo em que não perdíamos sequer uma chance de apunhalar o outro pelas costas, vocês estavam atacando todos os nossos informantes, pelo amor de Merlin! –ela falou exasperada –Eu só fiz o que eu fiz para tirar ele da mira de vocês! E foi a coisa mais difícil que eu já fiz em toda a minha vida se você quer saber!

Remus olhou em choque para ela.

-Bom, se foi assim tão difícil assim para você por que você não corre la com ele? –ele perguntou furioso.

Marizza foi claramente pega de surpresa por essa, mas depois foi como se ela tivesse percebido uma coisa óbvia.

-Você está com ciúmes. –não era uma pergunta e Remus sabia disso.

-Não! –ele respondeu mesmo assim.

-É isso sim! –Marizza falou –Ah meu deus! –ela soltou uma risada sem-humor –Você está com ciúme dele! Você mesmo falou que era ciumento.

-Eu não tenho que ter ciúme de um moleque da Lufa-Lufa! –Remus protestou.

-Não mesmo! –Marizza afirmou –E mesmo assim você está!

Remus respirou fundo.

-Ah vamos ser sérios aqui, Marizza. –ele falou totalmente frustrado –Ele é de longe uma opção melhor para você do que eu sou! Ele é um menino tranqüilo, ele te idolatra aparentemente, ele...

-Ele tem uma namorada que ele pretende pedir em casamento tão logo ele termine Hogwarts. –Marizza cortou –Por Merlin, Remus, você está ouvindo o que você mesmo está falando? Quanta besteira? O que é isso agora?

Remus ficou calado. Marizza respirou fundo.

-Remus, me fala o que está acontecendo. –ela praticamente implorou –Por que essa conversa estranha agora? Pra que esse ciúme? Merlin, você tem idéia de quanto tempo eu esperei para estar com você? Você acha mesmo que eu vou te deixar assim fácil?

-Eu sou um lobisomem, Marizza. –Remus falou de repente –Você merece coisa melhor.

Marizza cruzou o espaço entre eles, ela então segurou o rosto de Remus entre suas mãos de forma firme, mas gentil ao mesmo tempo.

-Remus, se isso importasse você acha que eu teria vindo tão longe? –ela perguntou –Então esse é o seu problema? Você é lobisomem, o Phillipe não? Não importa. –ela falou de forma firme –Eu escolhi você, com todos os seus defeitos e qualidades. Eu quero você. Ninguém mais.

Os olhos de Remus pareceram arder em chamas com essa afirmação.

-Você tem idéia do que isso quer dizer? –ele perguntou.

-Com certeza. –ela afirmou –Você é o homem da minha vida, Remus Lupin, e sinto muito se você não estava pronto pra ouvir algo desse...

Remus cortou Marizza puxando-a para um beijo de tirar o fôlego.

-Droga. –Remus murmurou separando os lábios minimamente dos dela –Nós temos que sair, antes que eu arrume uma detenção para nós dois por atividade inapropriada na biblioteca.

Marizza riu, em deleite.

-Torre de Astronomia. –ela disse. -Agora mesmo, Lobinho...

XxX

Dois dias depois de ter conversado com Nora, Dimitri ainda não tinha certeza do que ele devia fazer. Ele queria falar com Paloma, mas ela parecia estar fugindo dele. E o mais estranho: fugindo dele para ficar sozinha. Nora não estava brincando, ela tinha parado completamente de sair com outros garotos. Ele sabia que não devia se sentir satisfeito por isso. Mas se sentia mesmo assim.

Ele tinha planejado dar uma desculpa qualquer e fazer Paloma ficar depois da aula para poder falar com ela, mas o mundo estava conspirando contra ele. Sirius tinha resolvido que era divertido recordar e resolveu voltar a ser um segundanista e atirar bolinhas de papel na cabeça dos alunos da Sonserina.

-Sem brincadeira, Sirius. –Dimitri falou revirando os olhos –Bolas de papel? Quantos anos você tem?

Sirius deu de ombros, com um sorriso relaxado no rosto.

Dimitri tinha feito Sirius ficar depois da aula para pelo menos fingir que ia dar uma bronca no moreno. Os outros Marotos tinham ido para o almoço, mas Sirius não estava realmente com pressa. As vezes era bom falar com Dimitri.

-Eu estava entediado. –ele falou, como se isso justificasse –Francamente, Dimitri, você ja deu aulas melhores.

Dimitri arqueou a sobrancelha.

-Pra você é Professor Potter, Black. –ele bufou.

Sirius olhou para ele com curiosidade.

-Você está estranho, Dimitri. –ele falou por fim –Aconteceu alguma coisa?

-Nada que seja da sua conta. –o professor falou de forma defensiva, cruzando os braços sobre o peito.

Sirius parecia tentado dizer algo, até que ele achou melhor deixar para la. Por fim o moreno apenas deu de ombros.

-E ai? Qual o castigo pelos papéis? –ele perguntou com um sorriso maroto.

Dimitri nem respondeu. Ele arremessou uma bola de papel que acertou Sirius em cheio.

-Vê se cresce, Black. –ele falou por fim.

Sirius deu risada.

-Eu vou ver o que eu posso fazer. Até mais, Dimitri.

Sirius deixou a sala de Dimitri e caminhou em direção ao Salão Principal. Ele estava curioso ao que podia estar deixando Dimitri fora do eixo. Desconfiava que era Paloma. Sempre tivera alguma coisa estranha entre aqueles dois. Antes ele achava que era viagem da parte dele, mas ultimamente Dimitri não tirava os olhos da morena. E vice-versa.

-Black.

Sirius odiava o sobrenome dele as vezes. Nesse momento, ouvindo o maldito nome vindo da boca do infeliz que o estava falando ele odiava ainda mais.

-Se você não quer confusão... –ele falou se virando lentamente para encarar o idiota –Saí da minha frente agora, Lestrange.

Rodolphus deu um sorriso de pura tranquilidade.

-Não sejamos rudes, Black. –ele falou com elegância –Eu tenho algo a dizer que certamente vai te interessar.

-Nada do que você tenha a dizer pode me interessar, Lestrange. –Sirius falou, travando o maxilar em fúria.

-Eu acho que você vai descobrir o contrário. –ele deu um sorriso frio –Algo sobre sua adorada Nora Carter.

Sirius riu. De verdade.

-Nora? –ele repetiu incrédulo, ainda rindo –Ela não é minha adorada e eu não poderia ligar menos para o que ela faz.

Rodolphus deu um pequeno sorriso de canto de lábio. Aquele que dizia "eu sei algo que você não sabe".

-Nem mesmo quando envolve você tão diretamente? –ele perguntou com tranquilidade.

Isso fez Sirius parar. Ele não queria dar crédito a Rodolphus, mas soubera o tempo todo que Nora estava planejando algo. E se o envolvia ele queria sim saber. Mas não sabia se compensava ouvir isso da boca do diabo.

-A pergunta, Lestrange, é: por que eu deveria confiar em você?

Rodolphus parecia totalmente confiante em si e tranquilo com a situação, o que era de certa forma preocupante. Se ele estava assim tão tranquilo provavelmente ele tinha algum trunfo grande. E Sirius odiava ser o último a saber das coisas.

-Você não precisa confiar ou acreditar em mim. –Rodolphus falou, como se a mera idéia fosse estúpida –Eu posso simplesmente te falar e você pode ir conversar com a Carter.

-Por que você resolveu compartilhar informação, hein Lestrange? –Sirius quis saber.

-Aquelas cinco se acham as donas da escola, mas são todas vagabundas quaisquer. A Carter é ainda pior, porque é uma vagabunda de sangue-sujo. Alguém tem que ensinar a ela o lugar dela.

-E você está me contando porque quer que eu resolva o problema, assim você não precisa sujar suas mãos. –Sirius concluiu revirando os olhos –Só que eu não sou o seu capacho, Lestrange. Arruma outro.

-Elas fizeram uma lista de inimigos no começo do ano. –Rodolphus falou de repente –Pessoas com as quais elas queriam acabar.

-E eu e os meninos estávamos na lista. –Sirius conclui com tom entediado –Me conta uma coisa que eu não sei.

-Ela não está dando em cima de você pra acabar com você, Black. Você é só um meio para um fim. –o sorriso dele era nojento –Ela só está com você para irritar a Bellatrix. Nunca foi seu charme que conquistou a Carter. –completou irônica –Ela só quis fazer o cachorrinho da Bella virar o cachorrinho dela.

Por um minuto Sirius não quis acreditar. Claro que nunca pensara que Nora resolvera sair se pegando com ele porque gostava dele, mas nunca pensara que... Merlin, ele estava ficando muito irritado. De repente tudo fazia muito sentido. Porque agora, porque Bella era a única com quem não podia sair se quisesse Nora. Ela tinha jogado com ele o tempo todo.

Quando Rodolphus viu Sirius travar a mandíbula soube que tinha vencido. O maroto ia querer tomar satisfações com Nora. Era orgulhoso demais para não fazer isso. E aquela vagabunda ia se arrepender por ter desafiado ele.

Sirius começou a sair dali, mas então virou-se para Rodolphus.

-Obrigado, Lestrange.

Então, sem que Rodolphus esperasse, deu um gancho de direita no sonserino, que caiu no chão. E dai sim, Sirius saiu dali. E quando encontrasse Nora ia fazer aquela cretina se arrepender.

XxX

Nora estava com uma cólica desgraçada. O tipo de cólica que doía tanto que a fazia querer matar alguém e rosnar para qualquer pessoa que parecesse feliz. Por isso mesmo Marizza tinha lançado um olhar a ela e sumido dali. A loira era esperta, porque a cara de feliz dela estava seriamente irritando Nora. E ninguem gostava de Nora irritada. Não era saudável.

Ela estava tentando respirar fundo e superar isso. Lily já tinha corrido para o laboratório de Poções para preparar a poção que Giulia tinha ensinado a ela. Nora só queria que a ruiva voltasse logo.

Nora sabia que ela era insuportável quando tinha cólicas e odiava forçar as amigas a suporta-la nesse estado, mas as outras damas não pareciam se importar. Não de verdade. Claro, Olivia iria revirar os olhos e Paloma ia ignorar suas queixas e sorrir, Lily iria querer ajudar e Marizza continuava a falar, apesar de fazer isso com a voz mais suave, mas elas estavam apenas fazendo isso para parecerem duronas. Porque Nora sabia que no fundo elas se preocupavam muito com ela, e só queriam que ficasse melhor logo.

Nora nunca imaginou que teria tanta sorte na vida, tendo essas amigas, pessoas que realmente se importavam. Ela sempre achou que teria que passar a vida se escondendo ou tendo ataques de raiva escondida do resto do mundo. Mas agora ela não precisava mais ficar sozinha. No fim do dia havia alguém ali para segurar a mão dela, para dar um abraço, para dar apoio. Ela não precisava de mais que isso.

Algo pulou na barriga de Nora e a morena levantou os olhos, deparando-se com as orbes incrivelmente amarelas de Satine, a gata de Paloma.

A morena revirou os olhos.

-O que você quer agora, Satine? –ela perguntou impaciente –O Shadow não está aqui. Ele deve ter arrumado uma outra namorada.

A gata bocejou e balançou o rabo de forma desdenhosa.

Nora deu um sorriso de canto de lábio.

-Ai está uma mulher que sabe como tratar um homem. –ela passou o indicador no queixo da gata –Mas eu estou com cólica, então eu certamente não quero você na minha barriga. Deita aqui do lado.

A gata pareceu considera-la por um momento antes de descer da barriga de Nora e se deitar ao lado dela na cama.

Nora não sabia porque, mas Satine certamente gostava dela. Paloma costumava brincar que bichanos se reconheciam, mas Nora ignorava a outra morena.

Ela achava que o que Satine realmente gostava era da cama dela. Nora tinha, por algum motivo desconhecido, um colchão diferente dos das outras meninas, mais macio. Ela achava que era isso que Satine gostava. E também tinha o fato de que o sol da tarde batia ali. Era a única explicação lógica.

-A vida dá voltas, né, Satine? –Nora comentou, coçando a cabeça da gata –Quem diria que um dia nós estariámos onde nós estamos hoje? Lily com o Potter, Marizza se pegando com o Lupin... E eu me pegando com o Black. –ela deu uma risada -Sinceramente? Não é mais só pra me vingar da Black. Claro que não é amor, eu nem sei seu gosto dele, mas eu gosto de como ele pensa, como ele me beija e a gente tem umas ideias parecidas... Eu posso não ama-lo loucamente, mas até que ele não é o pior tipo de homem que tem por ai.

Satine ronronou uma concordância.

-O pior tipo é o meu pai. –ela continuou, mais para si mesma –O pai da Olivia também não é la essas coisas. E o pai da Paloma também podia ser melhor... Marizza e Lily têm sorte. Os pais delas são incríveis. Não é a toa que ela ainda acreditam em amor. Pobrezinhas.

Satine soltou um miado baixo e Nora decidiu que aquilo também era concordância. Ela se perguntava porque pessoas tinham cachorros. Gatos eram tão mais interessantes. E com características bem mais humanos. Afinal, um gato só vem pra você se quiser alguma coisa. Animais interesseiros. Praticamente humanos.

Foi ai que a porta do quarto dela se abriu com um estrondo.

-O que é isso? –ela perguntou se sentando.

E deparando-se com um Sirius Black totalmente furioso.

Não que ele estivesse gritando, ou vermelho, ou bufando. Não, era mais aterrorizante do que isso. Ele parecia completamente no controle. A não ser pela mandíbula travada e pelos olhos dele, que pareciam estar faiscando.

E toda aquela fúria estava direcionada a ela.

Mas Nora ia jogar com calma. Se Sirius achava que podia intimida-la ele estava redondamente engando. Se achava que podia ver até o quarto dela e tentar assusta-la ele ia ter uma surpresa desagradavel.

-O que você quer, Black? –ela perguntou revirando os olhos, então num gesto pra mostrar que ele não a assustava, voltou a deitar e fechou os olhos –Eu não estou me sentindo bem, então acho melhor você ir embora.

Ela ouviu os passos se aproximando, mas antes que tivesse tempo de abrir os olhos Sirius tinha agarrado o seu braço e a estava puxando para cima.

-Chega de show, Nora. Eu e você vamos conversar. –o tom dele era de finalidade –Agora.

Nora sabia que ja o tinha empurrado o suficiente. Ela não era idiota. Não ia colocar a sua segurança em risco só pra mostrar que era mais corajosa que ele.

-O que você quer, Black? –ela repetiu, puxando seu braço, para que ele o soltasse, e então se levantando –E como você entrou aqui?

-Olivia ensinou o caminho pro James uma vez e ele compartilhou. –ele falou, seu tom falsamente gentil –Agora o que eu quero? Me dá uma razão, só uma, Carter, pra eu não acabar com a sua raça agora.

Pânico travou a garganta de Nora. Homens irritados eram perigosos. Homens irritados batiam em pessoas. Sem se importar se eles eram maiores, mais fortes ou se a pessoa realmente merecia a agressão. Homens eram perigosos.

Ela ainda conseguiu respirar fundo e se controlar. Lily devia estar a ponto de voltar, eles estavam dentro da escola, pelo amor de Merlin! Sirius não ousaria bater nela.

-Qual é o seu problema, Black? –ela perguntou –E como eu posso me defender se eu não sei a acusação?

-A acusação é de ser uma vagabunda.

-Me conta uma coisa que eu não sei, Sirius? –ela revirou os olhos.

-Você estava mesmo me usando para atingir a Bellatrix? –ele perguntou, o tom dele deixando claro que não iria tolerar mais brincadeiras.

-Estava. –ela falou com calma –Mas sejamos francos aqui, Sirius: você sabia muito bem que eu não tinha começado a te dar bola porque eu tinha repentinamente me apaixonado.

-Essa não é a questão! –ele exclamou irritado –Uma coisa é você estar comigo pra me acertar, mas ser usado como arma contra outra pessoa...

Nora até que entendia a irritação dele. Se alguém tivesse a ousadia de usa-la pra acertar outra pessoa, esse alguém estaria ferrado.

-Eu não acredito na sua cara de pau! –Sirius bradou irritado.

-Ah Black, até parece que eu sou um anjo! –ela ficou impaciente –Você me conhecia muito bem. Bem o bastante para saber que se eu estava em cima de você de repente é porque tinha alguma coisa no meio.

-Você acha que eu ligo pros seus esquemas, Carter? Por mim se você quiser matar a Bellatrix e jogar o corpo dela no lago, que se foda! Mas você não me meta nas suas guerrinhas de mulher, porque eu não vou aceitar!

-Ah é? –ela na resistiu provocar –Quando foi mesmo a última vez que você ficou com a prima querida?

Os olhos de Sirius estreitaram e ele estava a um passo de dizer mais alguma coisa quando ele ouviu um sibilo ameaçador. O olhar dele caiu na cama de Nora, onde um gato, ele supunha que fosse o gato de Nora, estava mostrando os dentes de forma ameaçadora.

-O que a sua bola de pelos quer? –ele perguntou revirando os olhos.

-Essa é a gata da Paloma, seu idiota. –Nora retrucou –E se eu fosse você eu tomava cuidado. Ela adora arranhar.

Algo na frase de Nora o fez olhar de novo para a gata. Era a mesma gata que entrara no dormitório deles há algumas semanas. Ela tinha pulado na cama de Peter e assustado o maroto. E ela realmente tinha uma cara maldosa, ele se lembrava. Os olhos verdes dela tinham um brilho inteligente, pelo o que ele se lembrava.

Mas olhando agora a tal gata não tinha olhos verdes. Os olhos dela eram amarelos. Mas Sirius tinha certeza absoluta! A gata tinha olhos verdes. Não esmeraldas como Lily, mas verde-musgo, como...

O olhar de Sirius se virou para Nora, com fúria renovada. Olhos exatamente da mesma cor dos de Nora!

E de repente muita coisa fez sentido! Como as Damas sabiam sobre o mapa, as inúmeras vezes que a tal gata tinha ido parar no quarto deles! Como Nora se escondera o dia que Remus a encurralara na sala!

O tempo todo estivera bem ali, diante dos olhos deles e nunca se tocaram! Porque eles achavam que eram os únicos adolescentes em Hogwarts espertos o bastante para serem animagos ilegais!

-Então era assim que vocês nos espionavam, Carter? –Sirius falou, a fúria muito pouco controlada dessa vez –Sendo animaga?

Nora não era de se intimidar, mas isso certamente fez um arrepio percorrer o corpo dela. Porque se Sirius havia se tocado de que ela era uma animaga obviamente também perceberia quantas vezes a tática fora usada contra ele e os amigos.

E de fato ele parecia furioso agora. Mais do que antes, se isso era possível.

-Eu não acredito em você! –ele bradou furioso, avançando em direção a ela.

E dai a coisa mais estranha do mundo aconteceu. Sirius queria gritar com Nora, chacoalha-la e se possível faze-la pedir, não, implorar por perdão. Mas não foi o que aconteceu. Ele deu dois passos na direção dela e a morena desmanchou.

Ela deu um passo cambaleante para trás, antes de cair no chão e cobrir a cabeça com as mãos. Como se ela estivesse esperando por um golpe, como se ela achasse que ele fosse bater nela.

-Não, por favor! –ela gritou, de forma abafada –Não me bata, por favor! –isso sim, era implorado. Nora estava implorando.

Só esse fato já teria sido o bastante para fazer Sirius parar, mas não era só isso que o incomodara. Nora achara que ele ia bater nela! E enquanto ele podia não ser o melhor tipo de homem por ai, se tinha uma coisa que ele nunca faria era isso! Não se batia em mulheres. Se havia algo de decente que seu pai lhe ensinara essa era a única coisa. Ele nunca levantara a mão para um mulher e nunca iria. Ele podia perder a cabeça e gritar, aliás isso acontecia com mais frequência do que gostaria de admitir, mas nunca, nunca, em toda a sua vida batera em uma mulher. E por mais que Nora o deixasse louco não tinha intenção alguma de começar com ela.

Mas um segundo olhar provou outra coisa. Não era que Nora tinha medo de que ele fosse bater nela. Aquilo tinha sido uma ação reflexiva, porque já tinha acontecido. Alguém já tinha batido nela. E pelo tremor que percorria o corpo dela, o medo em sua voz, não haviam sido poucas as vezes.

Uma memória que parecia terrivelmente distante veio a tona. No Natal. Ela tinha chegado na casa dos Potter cansada, usando óculos escuros e ela tinha uma manhca roxa enorme nas costas. De fato alguém tinha batido nela. Várias vezes.

E de repente uma raiva ainda maior tomou conta de Sirius. Mas dessa vez não era contra Nora. Era contra quem quer que fosse o cretino que tinha a ousadia de bater nela. Nora não era só uma mulher, ela era pequena, delicada, obviamente frágil. Um homem que tinha a coragem de levantar a mão contra ela não merecia ser chamado de homem.

Sirius respirou fundo e tentou se controlar. Ele sabia que tinha sido sua raiva que tinha despertado o medo nela.

-Quem foi, Nora? –ele perguntou, sua voz rouca –Quem foi?

Nora ainda parecia querer ficar escondida, ou se fundir a parede e sumir. Ela não respondeu.

Sirius se agachou perto da morena e tocou a ponta de seus dedos em uma das mãos dela. Nora tremeu com ainda mais força.

-Me diz quem foi, Nora. –ele insistiu –Quem foi o monstro que pôs esse medo todo em você?

Nora pareceu hesitar, antes de tirar as mãos de frente de seus olhos. Quando os olhos verdes dela, marejados por lágrimas, encontraram os dele foi como se ela tivesse acabado de se dar conta de quem estava com ela ali no quarto.

-Sirius? –ela chamou confusa.

Sirius sentiu sua garganta travar. Se ele pudesse mataria agora mesmo o desgraçado que fizera isso a Nora. Ela era uma mulher forte, uma lutadora. Certo, ela também era uma vagabunda que só ligava para si mesmo, mas ela podia. Ninguem tinha o direito de machuca-la desse jeito. Ninguem!

Sirius segurou o rosto de Nora entre suas mãos, de forma gentil. Ela ainda parecia muito assustada.

-Sim, sou eu Madame. –ele disse –Você precisa de alguma coisa?

Os olhos dela encheram de lágrimas mais uma vez e do nada, a morena se jogou nos braços de Sirius. E o que ele podia fazer senão abraça-la de volta? Afinal, não se recusa o pedido de uma Dama.

E foi assim que, alguns minutos depois, Lily encontrou os dois. Sentados no chão, abraçados. Com Nora choranda e Sirius prometendo que ia acabar com o pai dela.


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Notas finais do capítulo

Comentem, please! Próximo capítulo "Me Chama" será o penúltimo!

B-jão