Damas Grifinórias escrita por Madame Baggio


Capítulo 12
Os Sete Pecados Capitais


Notas iniciais do capítulo

Opa, dessa vez foi rapidinho, vai! hahaha

Obrigada pelos comentários, como sempre vocês são os melhores!

Não esqueçam de conferir minha nova fanfic "Você Sabe Que Me Ama" e de curtir minha página no face!



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A Preguiça

Lily espreguiçou-se na cama. Odiava acordar cedo. Odiava ter que ir a escola, mágica ou não. Odiava ter que ser certinha. Tudo isso era cansativo, era trabalhoso. Estar em Hogwarts era trabalhoso. Manter-se uma das melhores alunas da sala era trabalhoso. E ela odiava coisas trabalhosas. Mas seus pais esperavam que ela fosse bem sucedida e ela nunca faria nada para decepcioná-los.

Ela levantou-se da cama quase sem forças. Tinha preguiça de se arrumar e sabia que Remus estaria esperando por ela quando descesse. Nessas horas até ter um namorado era cansativo, principalmente quando o dito namorado era um Maroto.

Seu namoro com Remus já durava cinco meses e até que não era tão mau assim, mas as vezes ela sentia que faltava algo nesse namoro. Provavelmente faltava o... Gostar de verdade.

-Marizza, eu vou descer. –ela avisou a amiga que se arrumava em frente ao espelho.

-Certo. –a loira falou tranqüila.

Lily deixou o quarto, não sem antes soltar um longo suspiro cansado.

A Gula

Marizza desceu as escadas a caminho do salão principal. Seu estomago queimava de fome. Mas valia a pena. Ela estava conseguindo manter o peso há quase um ano agora. Ela não ia voltar a ser a gordinha sem graça que era até o começo do terceiro ano. De jeito nenhum.

Ela avistou Lily e Remus sentados juntos na mesa da Grifinória. A maior parte do tempo os dois mais pareciam dois amigos do que um casal de namorados.

-Bom dia, Remus. –ela falou sorridente, sentando-se diante dos dois.

-Bom dia, Marizza. –Remus respondeu sorrindo também, então ele virou-se para Lily –Por favor, Lily. Eles são meus amigos também.

-Eu já falei que se você quiser sentar com seus amigos eu não me incomodo, Remus, mas eu não vou com você. –Lily falou calma, mas clara -Você sabe que eu não me entendo com eles e eu não quero estragar minha manhã.

Remus suspirou, mas logo sorriu para a namorada.

-As vezes eu acho que você é geniosa demais para mim... –ele sorriu mais uma vez, antes de dar um beijo macio em Lily e se levantar –Nos vemos mais tarde. Até mais, Marizza.

Marizza acenou para Remus enquanto ele se afastava.

-A quantas anda seu namoro? –ela perguntou enquanto colocava comida em seu prato.

Lily abriu o Profeta Diário e pôs-se a ler.

-Na de sempre. –Lily falou dando de ombros –O Remus é um doce, eu tenho sorte de tê-lo.

-Com certeza você tem. –Marizza falou meio sem pensar.

Lily levantou os olhos do jornal que lia e arqueou a sobrancelha, então olhou para o prato da amiga.

-Você esta com fome hoje... –ela observou.

-Eu sei... –a loira falou despreocupada.

-Eu queria ter a sua sorte. –Lily falou –Poder comer tudo e não engordar nada.

-Bom, isso não é pra quem quer. –Marizza falou com um sorriso brilhante –Mas eu também tenho os meus segredos... –ela completou baixo e sem olhar para a amiga.

A Luxúria

Paloma arrumou sua saia, enquanto o garoto ao seu lado abotoava a camisa. Esse era o horário mais seguro para se encontrar com alguém. Durante o café da manhã não havia praticamente ninguém nos dormitórios masculinos e era a hora certa para se ter encontros quentes la.

-Vejo você mais tarde? –o garoto perguntou ansioso.

-Ah sim. –ela falou dando um selinho nele e se apressando para o café da manhã –Tchau.

Ela saiu rapidamente, desceu as escadas e saiu da sala comunal. Ela mal tinha dado dois passos no corredor quando ela trombou com outro menino.

-Paloma! –ele falou sorrindo –Eu estava te procurando.

-Ah oi Kevin. –ela sorriu –A gente se vê mais tarde?

-Pra mim ta perfeito. Vou estar esperando ansioso. –ele sorriu mais uma vez.

Ela desceu as escadas, feliz. Sendo a caçula da família e tendo irmãos fabulosos ela não recebia muita atenção em casa. Não havia nada de fabuloso nela. Não era genial como seus irmãos e tinha personalidade demais para o seu próprio bem. Seu pai vivia reclamando que ela tinha excesso de opiniões. Ele se perguntava porque ela não podia ser delicada como a irmã ou sagaz como o irmão...

Na escola era o único lugar onde ela conseguia um pouco de atenção. Não das garotas, elas não a suportavam por ela fazer sucesso com os meninos desde sempre, nem com os professores, bom, apenas com alguns deles. Mas agindo de um jeito um pouco mais solto ela pelo menos conseguia a atenção dos meninos.

Ela passou por Nora Carter a caminho do salão principal, uma das suas colegas de quarto. Elas não tinham o costume de conversar, mas pelo menos Nora não a tratava mal...

A Ira

Nora cruzou os corredores, a carta da mãe presa entre os dedos, esperando para ser lida. Ela só parou quando achou uma sala vazia que ficava longe o suficiente do constante movimento de alunos. Sentou-se na janela e respirou fundo antes de abrir o envelope.

Em resumo a carta dizia o mesmo de sempre. Seu pai havia pedido perdão, de novo, prometido nunca mais ver a outra, de novo e prometera nunca mais machucar nenhuma das duas, de novo. Todas promessas vazias que ela sabia tão bem quanto a sua mãe que não seriam cumpridas.

Ela rasgou a carta enfurecida. Mais uma vez aquela mulher, sua mãe, havia escolhido aquele homem que ainda tinha a coragem de chamá-la de filha. Mais uma vez ela ignorara todas as marcas, os machucados, a violência. E perdoara o cretino.

Nora não tinha vergonha de ser uma nascida trouxa. Na verdade ela se orgulhava muito dessa situação. Ela era a única na sua família que podia fazer mágica. Não fora isso que a afastara de seus pais, nunca fora essa a questão.

Seu pai, Victor, era filho de uma família tradicional. Ele namorava a mãe de Nora, Maryan, uma menina inocente de uma outra família tradicional. Eles planejavam se casar, tudo por boas aparências e acordos ainda melhores. Nora já ouvira uma ou duas vezes que seu pai sempre fora um cretino. Mesmo quando novo, enquanto ainda não eram casados ele costumava trair Maryan o tempo todo. Mas ela sempre aceitava, esperando que depois do casamento tudo melhorasse e também porque ela... "Amava" ele.

A questão era que pouco antes do casamento, apenas alguns meses antes, Victor conheceu essa mulher. Nora sabia o nome dela, conhecia a cara dela, até o som da voz da cretina. Alissa. Esse era nome da amante que seu pai tinha há mais de vinte anos...

Sua raiva só aumentou ao lembrar o nome da mulher que destruíra sua vida desde o começo. Ela nem percebeu o vidro da janela perto dela começar a trincar aparentemente sem motivo.

-É melhor você se afastar da janela, Nora. –a voz calma falou da porta –Assim que o vidro quebrar você pode se machucar.

Nora virou sua cabeça e deparou-se com Olivia apoiada casualmente contra o batente da porta.

-O que você esta fazendo aqui, Olivia? –ela perguntou por entre os dentes.

Olivia deu de ombros casualmente, entrando na sala e fechando a porta atrás de si.

-Garantindo que você se controle o suficiente. Ou... Pelo menos que ninguém escute a sua explosão. –ela apontou a varinha para a porta e murmurou alguma coisa –O que houve dessa vez?

Olivia e Nora não eram exatamente amigas. Elas se consideravam parceiras ou cúmplices, se fosse o melhor termo. Elas encobriam os segredos uma da outra e se ajudavam quando algum de seus planos dava errado. O que vinha ficando raro com o passar do tempo...

-TUDO! Aquele cretino que eu chamo de pai, aquela vagabunda que eu chamo de mãe... –ela esbravejou levantando-se e sacando a varinha.

-Nora, não xingue sua mãe. Você sempre se arrepende depois. –Olivia falou entediada, analisando as próprias unhas.

-Mas é o que ela é! –Nora esbravejou, e com um movimento de sua varinha lançou uma das mesas contra a parede do outro lado da sala –Ela fica agüentando calada tudo e não suficiente me faz agüentar tudo também! –outra mesa se chocou contra a parede.

-E seu irmão? –Oliva provocou. Ela sabia que quanto mais Nora furiosa mais rápido passaria a explosão.

-Você sabe que aquele filho de uma cadela é outro inútil! –Nora gritou, mandando duas cadeiras contra outra parede –Ele não apanha desde que teve tamanho pra enfrentar meu pai, mas também nunca fez nada pra ajudar! NADA! –dessa vez duas mesas voaram sem que ela sequer agitasse a varinha. Aquilo era perigoso.

-Esqueça isso, Nora. –Olivia falou, acompanhando os movimentos da outra menina –Não é como se fosse a primeira vez, e muito provavelmente não será a última. -ela deu de ombros.

-É isso que me deixa ainda mais irritada! –ela gritou, os móveis voando pela sala –Eu tenho todo esse poder, toda essa... Essa força e eu não posso fazer nada contra ele. –ela gritou, antes de cair derrotada no chão.

Olivia arqueou a sobrancelha.

-Terminou?

-Eu devia te bater por me levar até a beira desse jeito toda vez. –Nora falou sem encarar a outra.

-Quanto mais intenso seu ataque de raiva, mas rápido ele passa. –Olivia deu de ombros –Você sabe que eu só faço isso pra te dar uma mãozinha. E que nada do que eu digo é minha opinião verdadeira.

-E qual seria sua opinião verdadeira? –Nora perguntou irônica.

-Que você devia lutar, que você devia se revoltar. E que se sua mãe não quiser ir com você, você devia ir sozinha e deixar tudo pra trás. –Olivia falou com firmeza, encarando a garota.

Nora balançou a cabeça, se sentindo sem salvação. Olivia agachou-se ao lado da morena e tocou suavemente o ombro dela, num gesto um tanto quanto reconfortante.

-Você esta amolecendo, Olivia. –ela falou depois de um tempo –Melhor não deixar ninguém saber.

Olivia sorriu pelo canto dos lábios.

-Eu nunca amoleço, minha cara. Você ainda vai se acostumar com isso. –ela falou dando um leve tapa no ombro da amiga –Se você me da licença agora eu tenho que ir. –ela falou se levantando e dirigindo-se a saída.

-Onde? –Nora perguntou confusa.

-Bom, primeiro trazer os elfos-domésticos pra mais uma vez encobrir sua bagunça. –ela falou revirando os olhos e indicando a sala a sua volta –E depois... Bom, o advogado dos meus pais está ai.

-Vocês ainda não resolveram esse caso? –Nora perguntou confusa.

-Não. –Olivia falou tranqüila –E nem vamos até que eles me ofereçam tudo o que eu quero. –ela afirmou, um tom sombrio em sua voz.

A Cobiça

Olivia caminhou calmamente até a sala da professora McGonagall após avisar aos elfos domésticos que sala eles deviam limpar e que eles deviam manter segredo sobre o fato. Essa era terceira vez só esse ano que o advogado de seus pais vinha visitá-la esse ano.

Olivia tinha dois irmãos mais velhos que ela: Mabel, a primogênita e Alexandre, seu irmão. Olivia sabia seu destino antes mesmo de ele atingi-la, afinal fora o que acontecera aos seus irmãos e certamente iria acontecer com ela também.

Quando Mabel fizera catorze anos ela fora emancipada. Seus pais tiraram ela de sua responsabilidade e mandaram ela para longe de casa. Mandaram não seria o termo mais apropriado. Eles deram uma outra casa a ela e uma mesada permanente. Eles apenas não queriam ter mais nada a ver com ela ou com o que ela fazia. Mabel chorou por meses. Os pais de Olivia nunca foram visitá-la. Com Alexandre foi a mesma coisa, embora, mimado como era, ele não deu a mínima, contanto que ele ainda tivesse dinheiro para fazer o quer bem entendesse, e isso ele tinha. Portanto não foi para Nora surpresa alguma quando logo depois de seu aniversário de catorze anos seus pais vieram com a conversa de emancipação. Só que para o azar deles ela não era idiota como os irmãos.

Ela bateu suavemente na porta de madeira, antes de entrar na sala.

McGonagall estava de pé, lançando um olhar de dar medo ao advogado que esperava sentado próximo a mesa dela. Se aquele homem fosse humano ele certamente estaria amedrontado, mas ele trabalhava para o pai de Olivia há anos, ele definitivamente não era humano.

-Desculpe a demora, professora. –Olivia falou com a voz fraca e cabeça baixa –Eu estava ajudando uma amiga.

-Não se preocupe, senhorita Morgan. –a mulher falou, dando um pequeno sorriso de conforto a menina –O advogado dos seus pais está aqui. Eu vou deixá-los a sós. –ela falou, antes de lançar outro olhar de completo desprezo para o homem e sair dali.

Assim que a porta se fechou atrás da professora Olivia mudou sua expressão de desolada inocência para a de frieza completa.

-Aquela mulher acredita que você se trata de um anjo... –o advogado falou, com claro desprezo na voz –O que aconteceria se ela soubesse a tratante que você é?

-Cale a boca, Sloan. –Olivia falou revirando os olhos –A minha vida não é da sua conta.

-É se me faz ter que ficar vindo até essa escola. –ele replicou irritado –Seus pais fizeram uma nova oferta. –ele falou estendo um papel para ela –É bem mais do que seus irmãos estão recebendo.

Olivia pegou o papel e analisou. Realmente, era muito mais do que seus irmãos recebiam.

Os pais de Olivia queriam que ela assinasse um documento concordando com a emancipação e abrindo mão de seu direito de herança. Ah ela iria assinar o documento, assim que ela tirasse deles tudo o que ela merecia. Ela já tinha feito eles aumentarem a mesada proposta e agora conseguira fazer eles dobrarem a quantia. Mas ainda faltava uma coisa...

-A mesada está ótima. –ela admitiu devolvendo o papel a ele –Diga a eles que eu aceito.

-Finalmente. –ele murmurou aliviado.

-Com uma condição. –ela adicionou.

-O que você quer dessa vez? –ele pediu impaciente.

-A casa para onde eles vão me mandar. –ela falou.

-O que tem a casa? –Sloan perguntou confuso –Você mesma acompanhou sua mãe na compra e aprovou a casa.

-Exatamente. –Olivia confirmou –Eu quero a casa no meu nome. –ela falou com simplicidade.

Os olhos de Sloan se arregalaram.

-Você esta louca? –ele falou em choque –Seus pais nunca vão concordar com isso!

-Então eu não vou concordar com nada. –ela declarou com simplicidade antes de deixar a sala.

Ela sabia que os pais acabariam por concordar. Eles queriam muito os filhos longe da vida deles para não concordar...

A Inveja

Dois dias mais tarde naquela semana Marizza sentou-se no chão do banheiro e respirou fundo. O dormitório estava vazio, já que Lily devia estar em algum lugar com Remus e as outras meninas não estavam por ali.

Particularmente Marizza não tinha nada contra as outras três ocupantes do dormitório. Paloma agia como uma vagabunda, mas a loira sabia que se la tivesse metade do potencial sedutor da morena ela agiria da mesma maneira. Olivia e Nora eram meio assustadoras ocasionalmente, mas nunca tinham realmente feito nada contra ela, entãoela também não tinha nada contra elas.

Marizza olhou o vaso diante de si. Ela odiava fazer isso. Era nojento. Mas Lily ficava desconfiada se ela ficasse muito tempo sem comer, então ocasionalmente ela tinha que fazer o esforço para enganar a ruiva. Mas isso não evitava o que ela fazia depois...

Ela não podia se permitir um grama sequer em excesso em seu corpo! Nunca. Já fora decepcionante o bastante uma vez para ela. Nunca mais ela seria gordinha como ela fora uma vez.

A mãe de Marizza, Angélica, era por falta de definição melhor, uma mulher estonteante. Modelo bruxa enquanto jovem e grande empresária da moda depois de se tornar mãe de família ela nunca perdeu a forma perfeita, mesmo depois do nascimento de quatro filhos. Três meninos e uma menina. Marizza era a caçula da família. A única garotinha.

Seu pai, outro bruxo de sangue puro, era jogador profissional de quadribol e depois de aposentado se tornou o dono do time para o qual jogava antes. O que fazia da família de Marizza podre de rica, por falta de uma outra definição mais refinada.

Crescer entre três irmãos mais velhos não fora tão insuportável quanto poderia parecer. Na verdade Marizza amava ser a única princesinha da casa. E adorava ter os irmãos protegendo-a. Tirando o fato de que ela não era nada do que a mãe gostaria que ela fosse.

Todos os irmãos de Marizza tinham realizado o sonho do pai e se tornado jogadores de quadribol, dos melhores. Para o senhor Rogers sequer importava que seus filhos jogassem em times adversários ao seu, contanto que eles fossem os melhores. E eles eram.

Mas Marizza era um patinho feio em meio aos cisnes. Apesar de ela se parecer muito com a mãe ela não tinha a graça requerida para ser uma modelo como sua mãe queria. E não ajudou muito ela engordar com ela engordara quando ela tinha doze anos. O abismo entre ela e sua mãe só aumentou. Até que ela entendeu uma coisa: se ela não comesse ela não engordaria. E se ela comesse... Bom, ela não tinha que manter a comida no estomago dela. Ela tinha certeza que com tanto que ela não deixasse a comida ali muito tempo ela não engordaria nunca! E fora assim que ela recuperara seu peso e agora o mantinha.

Claro que havia algumas desvantagens. Ela ficava doente com muita freqüência, apesar de ela não ter certeza se tinha ligação. Ela se sentia fraca as vezes e era obrigada a comer, mas ela nunca realmente comia a não ser que ela achasse que estivesse a ponto de desmaiar de fome. Mas tudo, tudo valia a pena.

Ela tinha muita inveja de Paloma. Ela tinha apenas catorze anos, mas seu corpo era perfeito. E ela não parecia fazer nada para mantê-lo daquele jeito. Era tão injusto.

Ela se debruçou sobre o vaso e pegou a escova de dente. Ela não tinha coragem de enfiar o próprio dedo na garganta para se forçar a por tudo para fora. Ela respirou fundo mais uma vez antes de se preparar para o que viria a seguir.

Ela mal colocara o cabo da escova na boca quando a porta do banheiro se abriu. Ela levantou-se assustada e deparou-se com Nora parada olhando-a, em completo choque. Ela rapidamente escondeu a escova de dentes atrás das costas.

-Carter... –ela já se preparava para inventar uma desculpa quando a face da morena morou de choque para a de mais completa irritação.

-Eu sabia! –Nora falou furiosa e pegou-a pelo braço tirando-a do banheiro.

-Carter! –Marizza gritou –Você está louca?

-O que esta acontecendo? –Olivia, que também estava no quarto, perguntou em choque.

-Ela estava se forçando a vomitar. –Nora acusou, jogando Marizza em uma das camas.

Olivia arqueou a sobrancelha.

-Eu sabia. –ela concluiu num suspiro.

-Como assim vocês sabiam? –Marizza perguntou em choque.

-Nós começamos a desconfiar quando você perdeu peso rapidamente ano passado. –Olivia informou –E porque você as vezes comia muito e daí ia pro banheiro.

-Olha, isso não é da...

-Ah fica quieta, Rogers! –Nora falou impaciente –O que você tem nessa sua cabeça loira? Gliter? Pra que você precisa fazer uma coisa dessas?

-Eu só... –Marizza hesitou –Eu só queria... Minha mãe, ela só queria que eu fosse como ela...

Olivia observou Marizza em silencio. Ela sempre invejara a loira. Afinal ela tinha uma família enorme e unida. Seus pais nunca ligaram para ela e os irmãos, tanto que Olivia duvidasse que sua mãe soubesse a cor de seus olhos. O fato de Marizza ter irmãos e pais que pegassem no pé dela fazia Olivia sentir uma pontada de inveja. Mesmo que fosse pra brigar ela preferia que os pais não ignorassem sua existência.

Nora soltou um suspiro frustrado.

-Rogers, pelo amor de Merlin, não fale absurdos! Pra que se machucar e se destruir desse jeito? Não vale a pena! –Nora argumentou.

-Eu não quero voltar a ser um patinho feio! –Marizza protestou.

Foi nessa hora que Lily entrou no dormitório e se deparou a estranha cena.

-O que esta acontecendo aqui? –ela perguntou cuidadosa.

-Nada! –Marizza se apressou em dizer.

-Ah sinto muito, Rogers, mas eu não vou te acobertar enquanto você se mata ai! –Nora afirmou tranqüila.

-Carter, isso não é da sua conta! –Marizza falou furiosa, se levantando.

-Parem as duas! –a voz de Olivia não estava alta, mas era forte o bastante para assegurar que nenhuma das duas iria discutir com ela.

Lily invejava isso em Olivia. Ela com certeza ainda seria Monitora-Chefe. Ela era aquele tipo de pessoa que não se contraria. Você fazia o que ela mandava simplesmente porque havia sido ela quem havia dito. Lily queria ter o poder que ela tinha.

-O que esta acontecendo? –Lily exigiu.

As três ficaram em silêncio.

-Você tem um minuto pra explicar antes que eu conte. –Nora avisou Marizza.

-Por que você esta fazendo isso comigo? –Marizza exigiu, revoltada.

-Porque você não tem que fazer isso! Por ninguém! Por Merlin, menina! –Nora falou irritada –Você tem uma amiga que com certeza daria a pele pra te ajudar nisso, então aproveite!

-Marizza, o que aconteceu? –Lily exigiu olhando para a amiga.

Marizza abaixou a cabeça e encarou os pés, antes de se jogar mais uma vez na cama.

-Lembra que eu te disse que tinha um segredo pra manter o peso? –a loira começou, sua voz baixa e envergonhada.

-Sim. –Lily falou encorajando-a.

-Bom... O segredo é que... –ela respirou fundo –Eu... Eu não fico com a comida no estomago. Eu forço ela pra fora.

Lily olhou para Marizza em choque.

-Há quanto tempo? –a ruiva exigiu.

-Desde o fim do ano passado. –Marizza admitiu envergonhada.

-Marizza, por deus! Porque você fazia isso? –Lily pediu inconformada.

-Eu não conseguia manter o peso! –Marizza falou, seus olhos começando a se encherem de água –Eu precisava ficar em forma, para a minha mãe me deixar em paz! Pra deixar ela feliz, pra me fazer bem comigo mesma. Pra... Pra... Nem eu sei pra que. –ela admitiu derrotada.

-Não fica assim, Marizza- Lily falou firme sentando-se ao lado da amiga na cama e a abraçando –Acalme-se a gente vai dar um jeito nisso. Eu juro que nós vamos resolver esse problema juntas. –ela falou de forma reconfortante, passando a mão pelos cabelos da amiga.

Lily era delicada. Nora já conhecia esse traço da personalidade da ruiva. Provavelmente isso vinha de ela ter um lar reconfortante. As vezes ela ficava acordada a noite ouvindo Lily contar a Marizza coisas de sua vida familiar. Como os pais dela se amavam e como o pai de Lily, Antony se Nora não se enganava, era carinhoso e atencioso. Nora invejava muito Lily por isso.

-Obrigada por ajudarem. –Lily falou baixo para as outras duas meninas, enquanto Marizza chorava silenciosamente em seus braços.

Nora e Olivia apenas fizeram um gesto de concordância com a cabeça, mas não falaram nada. Nessa hora Paloma abriu a porta, mas parou assim que viu a cena.

-Aconteceu alguma coisa? –ela perguntou preocupada.

-Agora esta tudo sobre controle, Parker. –Nora falou tranqüila –Não tem nada com que se preocupar. –ela assegurou.

Paloma olhou desconfiada a cena, mas não falou nada. Se Nora estava falando que não tinha nada provavelmente não tinha nada. Ela nunca contaria a ninguém, mas ela tinha muita inveja de Nora. Ela era forte. Ela não era do tipo que tolerava ser ignorada e ela não precisava se esforçar para ser notada. E também ela nunca deixaria alguém falar mal dela pelas costas. Ela era forte.

-Vamos, Nora. –Olivia falou de repente –Acho que as duas têm que conversar.

Olivia saiu do quarto seguida por Nora. Paloma não precisou de aviso para sair também.

-Nós vamos superar isso, Marizza. –Lily prometeu –Eu estou do seu lado, você não precisa se preocupar.

Vaidade

No dia seguinte ao episódio com Marizza as cinco colegas de quarto já eram mais uma vez completas estranhas uma para a outra. Lily não tirava os olhos de cima de Marizza nem por um minuto, mas a loira não parecia nada bem. Mas Lily não podia fazer nada já que a amiga se recusava a ser consultada por alguém ou dizer para qualquer outra pessoa qual era o problema.

-Senhorita Morgan.

Olivia levantou a cabeça e deparou-se com a professora McGonagall olhando para ela. Pela expressão da mulher ela imaginava que algo não agradável tinha acontecido.

-Posso ajudar, professora? –Olivia perguntou de forma educada.

-A senhorita deve comparecer a sala do diretor agora. –a professora informou.

Olivia arqueou a sobrancelha. Ela achou que era Sloan quem estava ali, mas os negócios com o advogado sempre eram resolvidos na sala da professora. O que teria acontecido que fosse necessário que ela fosse até a sala do diretor?

-Aconteceu alguma coisa? –ela quis saber.

-Nada, senhorita Morgan. –McGonagall assegurou –É apenas mais um encontro para acertar sua situação com os seus pais.

Aquilo não convenceu Olivia, mas ela achou melhor ir logo descobrir o que era ao invés de ficar perdendo tempo ali.

Ela chegou a sala do diretor e bateu na porta, antes de entrar. Olivia congelou assim que colocou os pés na sala. Seus pais, ambos, estavam ali.

Anabel Morgan era uma mulher elegante. Olivia era igual a mãe, uma cópia perfeita e tão elegante quanto. A mãe era uma mulher que andava sempre impecável e que prezava por aparências. Olivia nunca entendeu porque ela tivera filhos se pretendia expulsá-los de sua vida depois e ela nunca perguntou porquê Anabel os expulsava de sua vida. Ela tinha medo da resposta.

Michel Morgan era um homem também elegante, mas facilmente manipulado pela esposa. Anabel era esperta o bastante para deixar o marido pensar que ele era quem mandava e pensava em tudo quando na verdade ele era simplesmente mais uma peça na mão dela.

Olivia sabia que não havia nada que Anabel não quisesse que ela não conseguisse. O único problema dela é que sua filha caçula era exatamente igual ela.

O diretor Dumbledore também estava ali e tinha uma expressão desaprovadora. Olivia sabia muito bem que tanto quanto ele quanto a professora McGonagall não aprovavam em nada o que eles faziam aos filhos. O que de jeito nenhum impedia que o casal Morgan continuasse a fazer.

-Diretor, eu gostaria de falar em particular com a nossa filha. –Anabel falou assim que Olivia entrou na sala.

Dumbledore levantou-se em silêncio e se dirigiu para a porta, mas antes de sair parou ao lado de Olivia e colocou uma mão reconfortante sobre o ombro da menina.

-Se precisar de algo, senhorita Morgan, é só chamar. –ele falou com um sorriso bondoso.

Olivia apenas concordou com a cabeça. Ela gostava do diretor, ele era compreensivo e era um bom homem. Mas infelizmente ele não podia fazer nada por ela.

-O que vocês estão fazendo aqui? –Olivia perguntou aos pais.

-Resolvendo essa palhaçada de uma vez por todas. –Anabel falou, furiosa. Ela abriu uma cigarreira de prata e tirou um cigarro dali, que Michel acendeu mais que prontamente.

-O que você pensa que você esta fazendo, Olivia? –o pai exigiu –Quem você pensa que é pra ficar fazendo exigências.

-Eu sou a filha de vocês! –ela falou furiosa –E se vocês acham que eu vou sair fácil assim da vida de vocês e com as mãos abanando vocês estão mais do que loucos.

Anabel bufou incomodada. Um gesto nada elegante da parte dela.

-O que eu fiz para merecer uma cobra como filha? –ela falou irritada.

-Você me criou, mãe. –Olivia carregou a palavra de sarcasmo –Isso não só esta no sangue como eu aprendi com a melhor.

Os olhos de Anabel brilharam em fúria.

-Esta vendo isso aqui? –ela falou mostrando um rolo de pergaminho para Olivia –É a escritura da casa, que vai ser passada pro seu nome, junto com a mesada estipulada. Essas são as últimas coisas que você vai tirar de nós. É isso ou nada. E acredite, você não vai querer nada vindo de mim. –ela falou numa ameaça clara.

-Se eu assinar esses papéis é tudo meu e eu nunca mais vou ter que olhar na sua cara? –Olivia desafiou.

-Exatamente. –Anabel confirmou.

Olivia andou até a mesa do diretor e pegou uma pena. Anabel entregou o papel a Olivia, que assinou tudo, logo depois de ler os termos. Ela não confiava o suficiente nos pais para assinar algo sem ler.

-Feito. –ela falou jogando a pena de volta na mesa.

-Mais alguma coisa? –Anabel perguntou irônica.

-Nunca mais apareça na minha frente. –Olivia falou dando de ombros –Não que você aparecesse antes, mas agora eu não quero te ver por razão nenhuma.

-Não se preocupe. –Anabel falou irônica –A próxima vez que nós nos vermos pode ser no meu ou no seu funeral.

-Nenhum dos dois. –Olivia falou –Eu não quero você no meu funeral e eu nunca iria ao seu. Pega mal rir em funerais. –e sem falar mais nada ela saiu da sala.

Ela desceu as escadas correndo e correu pelos corredores. Ela se recusava a chorar. Não tinha chance de ela derramar uma lágrima sequer, por nenhum dos dois. Seu pai era patético, um fraco que se achava um homem forte. E sua mãe... Não havia palavras que descrevessem Anabel. A maior parte do tempo Olivia preferia esquecer que ela era sua mãe. Ela nem gostava de chamá-la por esse nome.

As brigas das duas sempre consistiam em ataques mútuos e pesados. Ela não sabia qual das duas era mais fria por não se abalar por isso. Mas no fim ela sabia a verdade: ela era igualzinha a própria mãe. E não era só fisicamente.

Uma mão a segurou e a fez se virar.

-Oi Morgan. –era Lucius Malfoy.

-O que foi Malfoy? –ela perguntou impaciente e afastando-se dele.

-A gente vai se encontrar hoje para falar sobre o Lorde das Trevas. –ele informou –Por que você não vem com a gente?

Olivia bufou. Ela tinha se esquecido desses idiotas. Todos os pirralhos filhos de idiotas que já eram Comensais se reuniam para falar bem do idiota maior, que eles chamavam de Lorde, e planejar como seria quando eles se unissem a ele.

Olivia só tinha se reunido com eles uma vez. Ela estava entediada e eles eram pessoas de poder e prestígio. Ela achou que seria interessante ficar entre pessoas finas, mas ela se enganara. Eles não passavam de uma bando de idiotas que ficavam abanando o rabinho pra qualquer cretino que aparecia por ali.

-Eu já falei que eu não quero saber nada de vocês, Malfoy. –ela falou impaciente.

-Morgan, você falou que...

-Eu sei o que eu falei, Malfoy. –ela falou irritada –Mas eu não tenho intenção de ser outra revoltadinha seguidora de algum imbecil por ai. Se você vai abanar o rabo pra alguém me inclua fora dessa, ok? –ela falou irônica.

-Morgan, você viu coisas que não são qualquer um que vê e você ouviu coisas importantes. Você não ache que vai ser fácil assim pular para trás. –ele ameaçou.

-Eu não pretendo contar nada pra ninguém, Malfoy. –ela falou revirando os olhos –Eu quero mais é esconder para sempre que eu já estive em uma reunião ridícula daquelas. E eu posso pular fora a hora que eu quiser. Afinal, ao contrario do Rosier eu não tenho tatuagem nenhuma no meu braço. –ela falou antes de dar as costas e sair dali.

Ela não ia servir a ninguém. E ponto.

XxX

Paloma caminhou pelos corredores em silêncio. Ela tinha marcado um encontro com Kevin. Até que já tinha um tempo que ele estava durando. Ela não era do tipo de menina que se iludia. Ela reconhecia os sinais de que um cara estava perdendo o interesse e dispensava o infeliz antes de ele ter a chance de fazer isso com ela. Já não bastava ela ser rejeitada em casa, ela não seria rejeitada por garotos também. Nunca.

-Saiam daqui antes que ela chegue. –Paloma ouviu a voz de Kevin falar.

Ele estava esperando por ela na sala que eles haviam combinado.

Ela parou ao lado da porta. Ele não estava sozinho.

-Ah qual é, Kevin. –uma voz masculina falou –A gente quer saber como ela é.

-Como se vocês não soubessem. –a voz de Kevin era entediada –A escola inteira parece saber.

-Vai ver é porque ela dormiu com a escola inteira. –uma terceira voz sugeriu irônica.

-Você já transou com ela? –um terceiro menino perguntou.

-Ainda não. –Kevin admitiu –Mas eu espero que mudar essa situação logo...

Os meninos riram.

Paloma suspirou. Era só pensar que estava tudo bem... Pelo menos ela já sabia que nessa noite ela não se encontraria mais com Kevin.

Uma lágrima solitária rolou pela pele morena dela. Era tudo que ela se permitia: uma única lágrima para enterrar um caso. Nunca mais do que isso.

-Aconteceu alguma coisa, Parker?

Paloma virou-se e se deparou com Olivia e Nora olhando para ela com expressões curiosas.

-Nada de mais, Morgan. –ela falou dando de ombros e secando seu rosto.

Nesse momento os rapazes na sala riram mais uma vez. Entendimento se espalhou pelo rosto das duas outras garotas.

-Você não vai fazer nada? –Nora perguntou. Não era provocação. Era curiosidade.

-Eu vou deixá-lo na mão, literalmente. –Paloma deu de ombros –É o suficiente.

Olivia e Nora trocaram um olhar que fez parecer que elas estavam se comunicando sem palavras.

-Onde estão a Evans e a Rogers? –Nora quis saber.

-Quando eu saí do quarto elas estavam la. –Paloma informou.

-Ótimo. –Olivia falou –Venha com a gente, Parker.

-Eu? –Paloma perguntou confusa.

-Tem outra Parker aqui? –Olivia perguntou impaciente –Então é você mesma.

Apesar de não entender nada Paloma saiu atrás das duas. Elas caminharam em silêncio até a torre Grifinória e depois até o dormitório delas. Quando elas chegaram no quarto Lily e Marizza estavam sentadas na cama da ruiva.

-Marizza juro que se você continuar a dificultar tudo eu vou procurar ajuda! –Lily estava falando.

-Lily, eu estou falando que...

-Ela vai se cuidar, Evans. –Olivia afirmou entrando no quarto.

-Não se meta, Morgan! –Marizza bufou incomodada.

-Só fica quieta e escuta, Rogers. –Nora falou –Vai valer a pena. –ela prometeu.

Lily e Marizza olharam confusas para as duas.

Olivia foi até a porta e a puxou, fechando-a.

-Sente-se, Parker. O assunto pode ficar longo. –ela pediu a outra morena.

Paloma arqueou a sobrancelha, mas fez o que Olivia pediu, sentando-se na cama mais próxima.

-Aconteceu alguma coisa, Morgan? –Lily perguntou com cuidado.

-Ainda não. –Nora respondeu –Mas nós vamos fazer acontecer.

Lily, Marizza e Paloma olharam para as duas sem entender nada.

-Nós queremos fazer uma aliança. –Olivia falou –Com vocês três.

-Do que você esta falando? –Lily perguntou confusa.

-Não dá pra negar que nós somos fortes separadas. –Olivia explicou –Cada uma de nós tem uma característica que de algum jeito nos dá destaque.

-Separadas nós somos fortes. Mas unidas nós poderíamos ser invencíveis. –Nora completou.

-Ãh? –Marizza estava totalmente confusa.

-Pensem assim... –Olivia propôs –Evans, existe alguma coisa que uma de nós tem que você gostaria de ter?

Lily corou suavemente.

-Bom...

-Não precisa ter medo de responder, Evans. –Olivia encorajou –Basta dizer.

-Eu queria ter essa autoridade que você tem. –ela admitiu sem graça.

Olivia arqueou a sobrancelha.

-Bom, eu queria ter a sorte de ter uma família como a sua Evans. –Nora falou.

Lily olhou chocada para Nora.

-Eu queria uma família como a da Rogers. –Olivia também falou calma.

-Minha família? –Marizza perguntou em choque –Bom, se você me ajudar a ter o corpão da Parker ela é sua.

Paloma olhou para Marizza e arqueou a sobrancelha.

-Meu corpo é fácil de ter, queridinha. –ela falou revirando os olhos –É só a Carter me falar onde ela arrumou tanta coragem que eu te conto como consegui-lo.

-Viram? É disso que eu falo. –Olivia falou –Cada um de nós tem um ponto forte e um ponto a ser aprimorado. Nós podemos nos ajudar muito. Cada uma de nós seria um pilar para um novo grupo. E acreditem: nós cinco juntas poderíamos ter Hogwarts na palma das nossas mãos.

As outras três meninas olharam para Olivia em choque.

-Mas... –Lily começou, ainda confusa de onde aquela conversa ia levar.

-Eu topo. –Paloma falou de repente.

-Você não pode estar falando sério, Parker! –Marizza falou em choque.

-Pra você não deve ser fácil entender, Rogers. Afinal você sempre teve uma grande amiga ao seu lado, mas eu sempre estou sozinha. –Paloma falou –Fazer parte de um grupo é tudo o que eu sempre quis.

-Assim que se fala, Paloma. –Nora falou sorrindo.

Paloma sorriu.

-Ah Merlin! –Lily falou –Eu não acredito no que eu estou ouvindo.

-Pensa com cuidado, Evans. –Nora propôs –Imagina onde a gente pode chegar. A Olivia é a rainha em controlar os outros, eu sou uma pedra de gelo e acredite isso ajuda muito em alguns momentos e a Paloma, além de saber todos os jeitos e trejeitos com os homens, também é ótima com maquiagem e cabelo. Ou pelo menos foi o que eu ouvi.

-É verdade. –Paloma confirmou.

-Agora junte isso a sua inteligência e o estilo da Rogers. Além de todos os contatos que nós temos. –Nora insistiu.

-Pense onde nós podíamos chegar se nós nos ajudássemos. Cada uma de nós pode ser o suporte que a outra precisa para chegar a algum lugar ou superar alguma coisa. –Olivia pressionou –Imagine como tudo viria muito mais fácil para nós.

-E o que poderia vir mais fácil pra gente? –Lily perguntou sem paciência.

-Todo o poder que nós queremos. –Olivia respondeu sem hesitar –Que queremos e merecemos.

Lily respirou fundo. Ela não parecia estar aceitando a idéia muito bem. Não que Olivia e Nora já não esperassem por isso. Apesar do que pudesse parecer a quem visse de fora elas não tinham escolhido as três garotas ali só por serem suas colegas de quarto. Não foi uma decisão fácil. Elas já queriam há um tempo esse jeito de dominar a escola, mas só agora as coisas pareciam propícias o bastante. No começo elas tinham dúvidas sobre Paloma, mas a cena do corredor tirara qualquer hesitação que elas tivessem em relação a morena.

Marizza olhou da amiga ruiva para Olivia e Nora.

-Sabe, Lily... –ela falou com cuidado –Não me parece uma idéia tão má assim...

-Marizza! –Lily falou inconformada –Você não pode estar falando sério!

-Lily, pensa! –Marizza falou –Sermos tudo o que sempre quisermos. Fazer as outras pessoas nos invejarem!

-E não só isso, Evans. –Olivia falou –Você acha que eu tenho autoridade? Você também quer? Eu te ensino. Nós faremos de você monitora-chefe dessa escola. Os alunos vão parar pra você passar.

O olhar de Lily se voltou para Olivia.

-Eu achei que você ia querer ser monitora-chefe. –ela falou arqueando a sobrancelha.

-Você é mais indicada pra tarefa do que eu. E você seria mais convincente. –Olivia deu de ombros –Nós podemos colocar você la.

-Você acha? –Lily perguntou insegura.

-Eu tenho certeza. –Olivia afirmou.

Lily hesitou por um segundo. Mas apenas um.

-Mas o que nós faríamos? –ela quis saber.

-Mandaríamos na escola. –Olivia falou sem hesitar –Se fosse por medo e por respeito não importaria. Todos iriam saber quem nós somos e a que nós viemos.

-Imagine tudo isso. Os alunos mais novos parando para nos verem passar, os rapazes entortando o pescoço para nos olharem... Todos aqueles sonserinos nojentos engolindo cada uma das palavras maldosas que eles já disseram sobre nós. –Nora prometeu.

Isso capturou a atenção de Lily.

-Eles iriam?

-Se não por bem pode ter certeza que iriam por mal. -Nora deu de ombros –Nós não estamos planejando ser as boas meninas de Hogwarts.

-O que isso quer dizer? –Marizza perguntou.

-Nunca ouviu falar, Rogers? –Olivia provocou –Boas meninas vão para o céu...

-Mas meninas más vão para onde quiserem. –Paloma completou sorrindo.

-Exatamente. –Olivia concordou –E nós queremos ir para todos os lugares.

-Mas malvadas? –Lily hesitou mais uma vez –Não seria demais?

-Você acha que tudo o que o Malfoy fez pra você não precisa de um troco a altura? –Nora lembrou –Você não adoraria fazer ele pagar por todas as vezes que ele foi cruel com você.

O olhar de Lily adquiriu um brilho frio.

-E teria como fazer isso?

-Meu anjo, comigo planejando nós podemos fazer ele cair de joelhos na sua frente e implorar. –Olivia afirmou tranqüila.

-Eu aceito. –ela falou –Com uma condição.

-Que seria...?

-Nós vamos precisar de regras. –Lily falou –Leis se vocês preferirem o termo. Um parâmetro para o que nós estamos para fazer.

-Eu concordo. –Marizza falou –Um guia para nossas ações.

-Eu acho que seria interessante. –Olivia cedeu –Como nossos dez mandamentos.

-Então ai esta. Teremos dez leis. –Marizza falou pegando um pergaminho e uma pena.

-Nós estamos a cima de todos. –Nora falou, antes de todas –Isso será um pensamento constante na nossa cabeça. Nós não faremos o que queremos se ficarmos achando que somos todos iguaizinhos e bonitinhos.

-Eu concordo. –Olivia falou –E nós também não vamos abaixar nossa cabeça para ninguém. Professor ou aluno.

-Então nós também nunca devemos fraquejar. –Marizza falou enquanto escrevia no pergaminho –Nunca demonstrar fragilidade ou medo.

-Faça disso duas leis. –Lily falou –Uma sobre fraqueza e outra sobre medo.

-Nós nunca vamos sofrer por homens. –Paloma falou de repente –Eles irão sofrer por nós.

-Esse é o espírito, Paloma. –Nora falou com um sorriso maldoso.

-Nós nunca iremos nos desculpar. Arrependimento nunca. –Olivia falou.

-Nós nunca iremos mentir para nós mesmas. –Marizza falou –O resto do mundo pode ouvir todo o tipo de mentira, mas entre nós e para nós mesmas nós nunca mentiremos.

-Feito. –as outras concordaram.

-Eu acho importante nós termos um símbolo para nós e honrá-lo. –Lily falou.

-Nós seremos realeza. –Olivia deu de ombros –As princesas de Hogwarts.

-Mas princesas não inspiram poder, inspiram romances idiotas. –Nora falou revirando os olhos.

-Rainhas parecem poderosas, mais velhas. –Marizza opinou.

-Eu digo que nós devemos ser Damas. –Paloma opinou –As madames que controlam Hogwarts.

-Eu acho isso perfeito. –Nora concordou –Mas eu acho que nós temos que ter uma marca a mais.

-A nossa Casa é claro. –Olivia falou repentinamente –Leões são de fato criaturas de realeza e nossa casa é de fato considerada lar de pessoas corajosas que não retrocedem. Essas seremos nós.

-Sim, as Damas Grifinórias. –Nora pareceu saborear o nome –E nós defenderemos o nome da nossa casa acima de tudo!

-E eu acho que nós devíamos poupar as meninas da nossa casa do que quer que nós façamos. –Lily disse –Fazer delas nossas aliadas e protetoras.

-Certo, meninas grifinórias não serão inimigas. –Marizza falou enquanto escrevia.

-A não ser que elas insistam muito. –Olivia deu de ombros –Sempre tem uma idiota pra fazer isso...

-Ok... –Marizza anotou a regra, então pareceu contar –Falta uma.

-Alguma sugestão? –Olivia perguntou.

-Eu tenho uma. –Lily falou com cuidado –Se nós vamos fazer isso nós não podemos mais ser apenas colegas de quarto ou conhecidas. Ser parceiras de crime não será o bastante.

-O que você sugere? –Olivia perguntou arqueando a sobrancelha.

-Nós teremos que ser amigas. Grandes amigas. Nós teremos que confiar umas nas outras, contar conosco em todas as horas. Nós teremos que ser unidas, praticamente irmãs.

Olivia e Nora se encararam e arquearam as sobrancelhas.

-Eu acho isso razoável. –Marizza falou –Se nós nos importarmos de verdade uma com as outras será mais do que suficiente para sobreviver todas as crises e para nós nos mantermos firmes se um dia precisarmos.

-Eu acho ótimo. –Paloma falou –Antes amigas do que apenas cúmplices.

Olivia pareceu pensar.

-Eu acho uma boa idéia.

-Mas isso vai trazer um problema. –Nora falou, chamando a atenção de todas elas –Para confiarmos umas nas outras nós vamos precisar saber o que nos faz querer estar aqui. O que nos motiva. Todas estão dispostas a abrir essa parte da própria vida para as outras? –ela jogou um olhar provocador para Olivia.

Todas ficaram em silêncio por alguns minutos, refletindo sobre o assunto. Paloma foi a primeira a quebrar o silêncio.

-Eu conto para vocês a minha vida. Só espero que vocês entendam porque é importante pra mim... Apesar de eu as vezes me sentir meio tonta por levar isso tão a sério.

-Não se preocupe, Paloma. –Lily encorajou –Basta você contar.

-Não sei se todas vocês sabem, mas meu pai é um dos caras mais poderosos do Ministério. –ela começou com cuidado –Ele é braço direito do Ministro e muitas pessoas idolatram o chão que ele pisa.

-Eu já ouvi falar do seu pai. –Olivia admitiu –Raphael Parker, não é?

-É. –Paloma confirmou –A minha mãe é a irmã do Ministro anterior ao de agora. Os dois são o casal perfeito, realeza do mundo bruxo.

As meninas ficaram em silêncio esperando ela respirar fundo e tomar coragem para continuar.

-Meu irmão Santiago é o mais velho da família. O orgulho do meu pai. Ele é o filho que meu pai sempre quis: espero, inteligente, ambicioso, bonito... Ele foi uma estrela enquanto estava em Hogwarts e continuou sendo fora daqui também. Um ano e meio depois nasceu Cristal, minha irmã. Ela é o sonho da minha mãe e por extensão acabou sendo o orgulho do meu pai também. Ela sempre foi bonita e graciosa, o tipo de filha perfeita para se mostrar para todos, mas nunca com opinião o bastante para embaraçar meus pais. Ela fez o que era certo e achou um bom partido para se casar e foi o que ela fez dois meses depois de se formar em Hogwarts.

-Ela não se casou com um Lestrange? –Marizza perguntou.

-Casou. –Paloma confirmou –O tio dos irmãos daqui da escola.

-Mas se ela se casou com o tio deles, isso quer dizer que...

-A Cristal é quase vinte anos mais velha que eu. –Paloma cortou o pensamento de Lily –Dezoito anos e três meses para ser mais precisa. –ela falou irônica –Eu fui um acidente, não estava nos planos, fui indesejada se vocês preferirem o termo. –Paloma falou irônica.

-Mas... O que aconteceu? –Lily perguntou confusa.

-Meus pais se descuidaram uma vez e eu apareci para atrapalhar. Minha mãe já tinha quase quarenta anos, foi uma gravidez de risco e o fato de ela não estar nada feliz pelo acontecimento não ajudou em nada. Uma vez ela me falou que só não abortou porque meus avós proibiram, mas ela nunca teve muito problema em falar que ela nunca me quis.

-Que horror. –Lily falou chocada –Mas e o seu pai?

Paloma deu de ombros.

-Se minha mãe não me queria imagine o meu pai. Na verdade por um bom tempo ele me foi inteiramente indiferente. Ele só começou a ter problemas comigo quando eu comecei a ter, o que ele chama de "opinião demais".

-O que isso quer dizer? –Nora perguntou irônica.

-Quer dizer que eu não aceitava tudo o que ele me dizia. Para a Cristal bastava meu pai falar algo e ela aceitava, mas eu nunca fui assim. Eu nunca consegui abaixar a cabeça e isso fez meu pai irritado comigo várias vezes.

-E agora? –Olivia quis saber.

-Agora eles não se preocupam mais comigo. Eles conseguiram me prometer em casamento para um dos filho do Rosier.

-E você não falou nada contra? –Nora perguntou em choque.

-Eu tentei. A única resposta que eu consegui foi o primeiro tapa da minha vida. –ela deu de ombros –Ele disse que isso é o mínimo que eu posso fazer por eles.

-Eles ainda não te dão atenção, não é? –Lily chutou –Nem seus irmãos.

-Meus irmãos ligam ainda menos para mim, se isso é possível. Mas não, eles não me dão atenção. Por isso eu saio com os meninos...

-Eu já imaginava. –Olivia falou pensativa –Bom, nosso primeiro passo será livrar você desse casamento ridículo. Seus pais são problema para depois.

-E como vocês vão fazer isso? –Paloma quis saber.

-Eu vou pensar nisso. Deixa comigo. –Olivia prometeu.

-Bom, essa é a minha história... –Paloma concluiu, olhando para o chão.

-Você não está mais sozinha, agora Paloma. –Marizza sorriu –Agora você só vai precisar se enroscar com esses meninos idiotas se você quiser se divertir. –ela falou marota.

Paloma riu.

-Eu acho que eu posso falar agora... –Lily falou calmamente –Eu na verdade não tenho muitos problemas domésticos. –ela admitiu –Meus pais tem um casamento muito feliz e eu tenho uma irmã mais velha que é uma vaca invejosa, mas isso é o de menos.

-Xingando sua irmã pelas costas, Lily? –Nora provocou –Não achei que você tivesse isso dentro de você...

-Se você conhecesse a Petúnia você entenderia... Meus pais são apaixonados e muito atenciosos. Bom, na verdade... Eles são atenciosos demais.

-Você quer dizer super protetores? –Olivia sugeriu.

-Exatamente. –Lily suspirou –Eles me tratam muito bem, mas eles são muito protetores, eles não deixam eu fazer quase nada, sempre se preocupando com riscos e com a possibilidade de tudo dar errado. Eles querem que eu seja a melhor na escola e que eu escolha uma profissão segura, case com um bom rapaz e tenha uma vida segura.

-Você quer dizer uma vida entediante né? –Nora falou irônica.

-Por ai. –Lily falou com um sorriso –Eu não tenho realmente grandes problemas. Só um pouco de pressão. E não muita disposição ou vontade de chegar la.

-Agora você tem os contatos certos. –Paloma piscou para Lily –Nós te ajudamos a chegar la.

Lily sorriu.

-Bom, vocês já sabem mais ou menos qual o meu problema. –Marizza falou dando de ombros –Eu queria ser a filha dos sonhos da minha mãe e sendo gordinha eu nunca ia conseguir isso...

-Bom, eu acho que eu tenho uma idéia... –Nora falou com um sorriso cruel.

-Qual? –a loira perguntou curiosa.

-Que tal você ficar mais bonita e ser melhor que a sua mãe? –Nora falou com um sorriso cruel –E jogar na cara dela que isso não tem nada a ver com ela?

Marizza pareceu pensar por um minuto.

-E como eu vou fazer isso? –ela perguntou curiosa.

-A poderosa aqui é a Paloma. –Nora olhou para a outra morena –Você diria a ela como você se fica assim?

-Não tem segredo. –Paloma falou com simplicidade –Eu manero na comida, mas me recuso a passar fome. Se eu exagero num dia eu procuro equilibrar no outro. E eu faço exercícios. Eu corro trinta minutos todo dia.

As outras quatro meninas olharam espantadas para ela.

-Que horas? –Lily perguntou confusa.

-As seis da manhã. O tempo ainda não está quente o bastante para ser incomodo e eu não tenho que agüentar ninguém me atrapalhando. –Paloma explicou.

-Eu vou ter que correr as seis da manhã? –Marizza choramingou.

-Se você realmente quiser minha ajuda e manter a forma você vai ter sim. –Paloma falou tranqüila.

-Ok... –a loira aceitou.

-Acho que eu sou a próxima. –Olivia falou suspirando.

-Não, Olivia, me deixa ir primeiro antes que eu resolva sair daqui correndo. –Nora falou.

-Nora, vai com calma e sem se exaltar. –Olivia pediu.

Nora revirou os olhos.

-Pare de falar como se eu fosse uma histérica. –ela resmungou –Eu espero que vocês tenham estomago forte. –ela falou para as outras três.

As meninas não falaram nada, mal ousando respirar.

-Eu tenho um irmão mais velho que eu e meus pais são, infelizmente, ainda casados. Meus pais namoravam quando ainda eram adolescentes e já eram noivos antes mesmo da minha mãe fazer dezoito anos. Naquela época meu pai costumava sair um pouco com a minha mãe e depois sair com qualquer outra garota só por diversão. Eles iam se casar de qualquer jeito e minha mãe fingia não se importar, apesar de ela chorar toda noite por causa dele.

Nenhuma das meninas disse nada.

-Pouco tempo antes do casamento ele conheceu essa mulher... Três anos mais velha que ele... O nome dela era... Aliás, o nome dela é Alissa. Ela era só uma golpistazinha qualquer, uma vagabunda, mas ela fez meu pai cair na dela em cinco minutos. Ele achou que tinha se apaixonado. Mas meu avo não deixou ele desistir do casamento com minha mãe e disse que se ele a largasse pela outra ele o deserdaria. –ela parou para respirar fundo –Como a vagabunda só queria meu pai pelo dinheiro é claro que ela fez com que ele casasse com a minha mãe e a mantivesse como amante.

-Você quer dizer que ele... –Lily não conseguiu completar a frase.

-Eles têm um caso até hoje. –Nora confirmou –Meu pai pegou muita raiva da minha mãe por ter sido obrigado a casar com ela e passou a ser muito frio com ela. Ele nunca se importou em negar ou esconder o caso com a outra. Ele a leva a lugares públicos, compra presentes caros... Ela liga na minha casa e manda chamá-lo. –ela falou, a fúria começando a transparecer na sua voz.

-Respira fundo, Nora. –Olivia pediu.

-Mas isso não é o pior! –Nora falou ignorando a outra –O pior é que ele bate na gente! O cretino desconta cada frustração e irritação batendo em nós! Na família dele! Nela ele nunca toca, mas na gente... –ela parou e fechou os olhos, inalando fundo –E minha mãe... –a voz dela tremia –A minha mãe não faz nada! E nos proíbe de fazer qualquer coisa também! Ela me pede pra ficar calada e o que mais me dói... O que mais me machuca... É que não consigo falar não! Eu não quero vê-la sofrer, eu não quero vê-la machucada, mas eu não sei mais o que fazer. –ela admitiu, antes de começar a chorar.

Olivia se surpreendeu. Aquela era a primeira vez que Nora realmente chorava por isso. Era a primeira vez que ela se permitia tal emoção.

Lily foi a primeira a se mexer e sentar-se ao lado da morena.

-Não chore, Nora. –ela falou puxando a morena e fazendo ela colocar a cabeça em seu ombro –Não desperdice suas lágrimas. Nós vamos achar uma saída pra você como nós acharemos para todas nós.

Marizza logo se levantou e também sentou-se do outro lado de Nora.

-Isso. Agora nós seremos sua família. –a loira propôs –E juntas nós vamos ficar fortes e você não vai ter que olhar para trás. E você vai dar um jeito de superar isso.

Nora levantou o rosto e respirou fundo, antes de enxugar as próprias lágrimas.

-Obrigada. –ela falou –Acho que eu realmente precisava desabafar.

-Você quer falar alguma coisa, Olivia? –Paloma perguntou cuidadosa.

Olivia deu de ombros.

-Meus pais são uns cretinos que só tiveram filhos para depois emanciparem eles e se livrarem de todos nós. Nada demais. –ela deu de ombros mais uma vez –Nada que não possa esperar até amanhã.

-Você tem razão -Lily falou olhando para Nora –Foi um dia cheio de novidades, acho que todas nós estamos precisando de uma boa noite de descanso.

-Isso. –Paloma falou se levantando –Pode ir dormir, Marizza. Amanhã a gente começa a correr.

-Mas já amanhã? –a loira perguntou incrédula.

-Eu nunca deixo para amanhã o que eu posso fazer hoje. Acostume-se. –ela falou tranqüila.

-Eu não tenho certeza se quero dormir agora. –Nora falou em meio a um suspiro cansado.

Lily revirou os olhos.

-Não seja boba. Chega pra la. –a ruiva falou empurrando Nora para o lado e deitando ao lado dela.

-O que você pensa que esta fazendo? –Nora perguntou escandalizada.

-Essa história de não quero dormir é desculpa pra quem tem medo de fechar os olhos e ficar sozinha. –Lily falou –Se eu ficar aqui você não vai estar sozinha.

-Você mal me conhece, Evans e vai dividir a cama comigo? –Nora perguntou incrédula.

-É o tipo de coisa que eu faria por uma melhor amiga. –Lily falou tranqüila –Acostume-se.

-Que seja... –Nora falou revirando os olhos –Mas caso você não se lembre eu gosto de dormir sem roupa.

Lily bufou.

-Então você dorme por baixo do lençol e eu durmo por cima. –a ruiva resolveu.

-Serve.

-Boa noite, meninas. –Olivia falou –Descansem bem, amanhã nós começamos uma pequena e silenciosa revolução...

XxX

Havia alguma coisa pesando sobre o peito dele. Disso ele tinha certeza. Bastava ele espantar a preguiça e abrir os olhos e ele veria o que era.

James abriu os olhos devagar, tentando se acostumar a claridade, mas deparou-se rapidamente com dois enormes olhos verdes o encarando.

-Ah! -ele assustou-se, mas o felino sobre o peito dele meramente encarou-o –Quem é você?

O gato rajado pareceu pensar por um minuto, então miou baixinho e deu uma lambida áspera na ponta do nariz de James.

O moreno analisou o gato com cuidado. Ele estava deitado num dos sofás da sala comunal e aparentemente o gato havia decidido que apesar de todas as poltronas disponíveis no lugar a opção mais interessante era se deitar sobre ele.

-Eu te conheço de algum lugar... –ele falou alto –Você não é a gata pulguenta da namorada mala do Remus?

Ele pôde jurar que o gato lhe lançou um olhar de desaprovação que deixaria McGonagall orgulhosa.

-É, você deve ser mesmo o gato dela. –James comentou –Qual o seu nome mesmo? –ele pensou alto –Era alguma coisa sem criatividade que lembrava o nome da sua dona... Qual o nome dela mesmo? –a gata enfiou as unhas em James –Ai!

Quando ele olhou para ela mais uma vez ela parecia apenas estar inocentemente arrumando-se para se deitar no peito dele.

-Olha, você não está realmente pensando em ficar ai né? –James falou, severo –Eu tenho aula em alguns minutos e eu odiaria te enxotar daí.

A gata ignorou-o totalmente e deitou-se, fechando os olhos em seguida.

-Ei! –ele protestou –Você não pode me ignorar desse jeito!

-Lilith... –uma voz chamou.

A gata levantou as orelhas e abriu os olhos imediatamente. Num movimento fluído, que na opinião de James pareceu provocação, ela pressionou a barriga dele antes de pular para o chão.

James seguiu o animal com os olhos, até ver ela parar no pé da escada que levava ao dormitório feminino. Logo sua dona apareceu. James sabia que era a namorada de Remus, apesar de ele não ligar muito para a existência dela. Evans, pelo menos ele achava que era esse o nome, era uma pessoa sem graça, na falta de definição melhor e ainda segurava Remus nessa história de ser todo bonzinho e politicamente correto.

-Oi meu anjo. –Lily falou abaixando-se par acariciar o queixo da gata.

-Anjo... Sei. –James resmungou.

Foi então que ele reparou com quem a ruiva estava. Paloma? Desde quando Paloma andava com ela? E desde quando a Evans não andava com aquela loira estranha?

-Vamos, meninas! –Paloma chamou, escada acima.

-Já vai! –veio a resposta.

Logo as outras meninas, inclusive a filha mais nova dos Morgan, que era o único jeito que James se lembrava dela, desceram as escadas.

-Paloma, você quase me matou hoje! –Marizza choramingou –Pare de me apressar!

Paloma riu.

-Larga a mão de reclamar, loira. Vamos logo, eu estou faminta!

James viu o curioso grupo passar e não pôde deixar de lado a sensação de que havia algo de muito estranho prestes a acontecer.

XxX

No fim do dia as cinco novas amigas estavam exaustas para dizer o mínimo. Elas não tinham feito nada demais, além de andarem pela escola juntas, o que por si só já havia sido estranho o bastante. As pessoas não paravam de cochichar e se perguntar o que estava acontecendo.

Elas conversaram muito, Olivia contou a todas sua história e elas começaram a fazer planos: coisas que desejavam obter, pessoas das quais queriam se vingar.

O dia passou estranhamente e confortavelmente rápido. Quando elas viram o dia já se fora e a noite já caíra e elas já estavam de volta ao dormitório.

-Eu estou morta. –Paloma admitiu.

-E o dia ainda não acabou. –Marizza falou com um sorriso carregando uma grande caixa.

-O que é isso? –Olivia perguntou curiosa.

-Bom, já faz um tempo que eu queria fazer uma pequena mudança no uniforme e eu até já li o livro de regras da escola e vi que não há nada contra isso. –a loira admitiu –Eu só não tinha coragem de começar sozinha.

-O que é? –Paloma insistiu curiosa.

-Bom, hoje a hora que você me fez acordar as seis da manhã pra correr... –a loira enfatizou o horário –eu aproveitei e já mandei uma coruja pra minha mãe e ela me mandou um pequeno presente...

-Pedindo coisas pra sua mãe, Marizza? –Olivia falou reprovadora.

-Qual o problema em usufruir do que ela pode me oferecer? –Marizza falou dando de ombros –Eu posso usar o que quiser até o momento de deixar tudo pra la.

-Faz sentido. –Nora analisou.

-Mas o que foi que ela mandou? –Lily perguntou agora muito curiosa.

-Isso.

Marizza abriu a caixa e as meninas depararam-se com minissaias negras, uniformes oficiais de Hogwarts.

-Ah meu deus! –Paloma falou abobalhada.

-Isso é perfeito! –Nora falou pegando uma das saias.

-Bom, eu acho que já que a gente vai revirar a escola, não custa nada começar por esse uniforme insosso que nós temos. –Marizza falou como se fosse óbvio.

-Isso é mais que perfeito! –Paloma falou animada.

-Tem certeza que não vai dar rolo? –Lily quis saber.

-Absoluta. –a loira confirmou –Eu li o manual inteiro de regras da escola e não tem nem uma única palavra contra minissaias no uniforme.

-Ah até que pra uma cabeça loira cheia de glitter você pensa, Marizza. –Nora provocou.

-Obrigada, Nora. –Marizza falou irônica.

-Só falta uma coisa agora. –Olivia falou pensativa.

Ela e Nora trocaram olhares que poderiam dar medo.

-O que? –Lily perguntou insegura.

-Um pacto.

-Pacto? –Marizza perguntou arqueando a sobrancelha –Que tipo de pacto?

-Um pacto de sangue. –Nora falou tranqüila e séria.

-O que? –as outras três perguntaram juntas e em choque.

-É brincadeira, suas lesadas. –Nora falou revirando os olhos.

-Claro que nós estamos falando de um pacto mágico. –Olivia falou como se fosse óbvio.

As outras meninas reviraram os olhos.

-Que tipo de pacto mágico? –Lily quis saber.

-É como um Voto Perpétuo. –Olivia explicou –Mas não radical quanto, apesar de que ele deixa uma marca.

-Que tipo de marca? –Marizza perguntou preocupada.

-Uma marca que seria nosso símbolo. –Nora falou –Algo que sempre nos lembraria quem nós somos e a que nós viemos, sabe?

-Essa marca seria visível? –Lily quis saber.

-Claro que sim. –Nora falou revirando os olhos.

-Ta, mas com uma condição. –Lily falou.

-Qual agora? –Olivia perguntou.

-Tem que ser num lugar onde nós possamos esconder. –a ruiva falou –Uma coisa que nós só mostraremos se quisermos.

Olivia pareceu pensar por um minuto.

-Faz sentido. Eu concordo. –a morena falou.

-Ótimo. Mas o que a gente vai marcar? –Paloma quis saber.

Nora tirou um pedaço de pergaminho do bolso e estendeu para as meninas.

-Isso. –ela falou simplesmente.

Paloma, Lily e Marizza se debruçaram sobre o papel para observar o desenho nele feito. Era um simples G, com uma coroa. Era simples, mas era perfeito.

-Uau... –Paloma comentou –Você quem fez, Nora?

-Foi. –ela deu de ombros –Durante a aula de História da Magia. Acho que tem a ver.

-Eu acho mais. –Marizza falou –Eu acho que é perfeito!

-Então vocês estão prontas? –Olivia perguntou.

-É só você falar o que temos que fazer. –Lily falou.

-Todas peguem suas varinhas. –Olivia falou –Agora coloquem as pontas juntas aqui ao centro.

Elas fizeram uma roda e estenderam suas varinhas, fazendo as cinco pontas ficarem unidas.

-Com a mão livre, toquem o lugar onde vocês querem que a marca fique. –Olivia instruiu em seguida.

Lily colocou a mão sobre seu pulso esquerdo.

-Eu gosto de usar relógio. –ela explicou –Assim fica escondido.

-Ah já que a lógica é essa... –Marizza tocou a própria nuca –Eu não gosto de usar cabelo solto.

Nora colocou a mão sobre a base da sua coluna.

-Eu não uso nada que mostre minha barriga.

Olivia pôs a mão sobre a curva do seio esquerdo.

-Eu não uso decotes.

Paloma pareceu pensar seriamente.

-Bom, não tem nada que eu não vista, ou que eu não tire, se é que vocês me entendem... –ela falou revirando os olhos, fazendo as meninas rirem –Então eu vou optar por aqui mesmo. –ela falou colocando a mão sobre o cós da saia.

-Prontas? –Olivia perguntou, quando todas concordaram com a cabeça ela fechou os olhos –Unidas pelo mesmo desejo, regidas pelas mesmas dez leis e unificadas pelo mesmo símbolo. Nós agora fazemos um voto de estarmos sempre juntas, de sermos sempre unidas e que se algum dia nós fraquejarmos que essa marca na nossa pele nos lembre de quem nós realmente somos. Eu, Olivia Morgan, juro.

-Eu, Nora Carter, juro.

-Eu, Paloma Parker, juro.

-Eu, Lily Evans, juro.

-Eu, Marizza Rogers, juro.

Uma luz vermelha saiu das varinhas das cinco amigas e as envolveu. Quando a luz diminuiu elas viram marcadas nos lugares que haviam escolhido o novo símbolo que deveriam proteger e amar.

Elas sorriram umas para as outras.

-Agora está feito. –Nora falou.

-Agora sim, estamos prontas para Hogwarts. –Olivia falou.

-Muito pelo contrário, Olivia. –Lily falou com um sorriso que chamou a atenção de todas – Hogwarts é que vai ter que estar pronta para nós.

XxX

-Bom dia, Pontas. –Remus falou em meio a um bocejo.

James olhou para cima do seu prato e viu o amigo parado diante dele.

-Oi Aluado. –ele olhou em volta –Cadê aquela sua namoradinha ruiva? –ele perguntou.

Remus revirou os olhos.

-Deixa a Lily em paz. Ela deve estar com a Marizza...

-Oi perdedores. –Sirius falou se jogando no banco ao lado de James, Peter se sentando ao lado de Remus –Ué, Aluado, por que você esta aqui e não com a pentelha ruiva?

-Não me encham. –Remus falou bufando.

Da porta do salão principal vinha um burburinho.

-Que inferno. O que esta acontecendo? –Sirius reclamou.

-Aquela não é a sua namorada? –Peter perguntou para Remus.

Remus esticou a cabeça e viu o quinteto que se aproximava. É, tecnicamente aquela era Lily. Mas havia algo de diferente, desde o cabelo que parecia diferente, passando pela leve maquiagem, até a saia curta do uniforme. E com quem ela estava andando? Seriam aquelas mesmo? Morgan? Carter? Paloma? Desde quando?

Elas vinham caminhando numa tranqüilidade e superioridade fora do comum. Uma coisa que não era característica delas. Especialmente de Lily. E o salão inteiro parecia hipnotizado por elas.

Elas se aproximaram e Lily sorriu suavemente para Remus.

-Bom dia. –ela falou suavemente.

-Bom dia, Lily. –ele falou cuidadoso –Aconteceu alguma coisa?

-De jeito nenhum. –ela assegurou.

-Ta olhando o que Black? –Nora perguntou impaciente –Perdeu alguma coisa?

-Devo ter perdido. –ele falou sarcástico –Desde quando vocês cinco andam juntas.

-Isso não é da sua conta. –Nora avisou.

-É só como as coisas vão ser a partir de agora. –Olivia informou –Nós mandamos e vocês fazem. É só. –ela deu de ombros.

-Até mais meninos. –Marizza falou piscando para eles e saindo dali com as amigas.

Os quatro marotos observaram a movimentação.

-Eu acho que algo grande está prestes a acontecer. –James falou. Então ele observou Olivia expulsando alguns primeiranistas da mesa para ela e as amigas se sentarem –E alguém vai ter que controlar isso...

E assim nasceu o oitavo pecado...

A Crueldade...


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Notas finais do capítulo

Comentem, please!!!

B-jão