Grace pulou de sua cama e não conseguiu segurar o riso. Seus olhos brilharam ao pensar: "Brilhante! É o melhor jeito de descobrir a verdade sobre o olho daquele garoto!".

 A princesa vestiu a única roupa de plebeia que havia em sua mala, pôs um capuz que cobria perfeitamente seu longo cabelo rosa e calçou um par de botas de couro.

 Decidida a entrar no quarto do conde, seguiu pelo corredor sem fazer um mínimo ruído. Seu corpo inteiro tremia, fazia muito tempo que ela se arriscava dessa forma. Ela não negava que sentia medo, mas não era apenas medo, a garota sentia também, certa adrenalina percorrendo seu sangue.

 Em frente à porta entreaberta, fechou seus olhos e deu um longo suspiro. Agora ela não poderia voltar atrás. Entrou no quarto de Ciel e aproximou-se do próprio, que se encontrava dormindo profundamente. Acariciou o rosto do garoto. "O que eu estou fazendo?" a menina pensou, corando. Tirou o cobertor que envolvia o jovem.

- P-Princesa?!? –Surpreendeu-se o lorde- O que está fazendo?

- Cale-se! Quer que alguém acorde? –A essa altura a menina já tirara uma corda do bolso.

- Você vai me amarrar?

 A menina revirou os olhos e apenas amarrou-o. Não havia tempo para explicações desnecessárias. Com certa dificuldade, Grace segurou o menino em seus braços e se direcionou para o quarto da mesma.

- Tem certeza que vai conseguir me carregar? –O menino mostrava um sorriso cínico.

- Você não tirou minha dúvida... Apenas aceite as consequências!

- Francamente... É o melhor que a filha da rainha pode fazer?

 Grace preferiu calar-se, não poderia sequer aumentar sua voz.

 Abriu sua porta lentamente e sentou o menino em uma cadeira. Amarrou o menino com mais força e então começou seu plano.

 Trancou a porta e voltou-se para o jovem Phantomhive:

- Ora, ora... Veremos o que você esconde de mim!

- Tão ingênua...

- O que? Vamos ver até que ponto prosseguirei com minha "ingenuidade".

- Faça o que quiser, milady!

 A dama, já perdendo a paciência, resolveu dar uma última chance para Ciel:

- Vamos, me diga, o que há om seu olho?

- Sinto muito, senhorita Mackenzie, mas essa pergunta eu não posso responder!

 O jovem, então, recebeu um forte tapa em seu rosto, seguido pela rude frase da lady:

- Estúpido! Não aceito não como resposta!

- Recomponha-se. Não queremos que alguém nos interrompa, não é?

- Vamos direto ao ponto, não temos muito tempo até o amanhecer...

 Um longo tempo de silêncio prosseguiu, enquanto a garota olhava para Ciel. "Esse estúpido vai ficar parado?" Pensou, "Ele não vai nem mesmo gritar por ajuda?".

- Garoto... Não vai tentar me deter?

- Por quê? Eu sei que você não terá coragem de fazer algo que eu não queira!

 Grace, já furiosa com o conde, avançou em seu tapa-olho, retirando-o com a maior facilidade do mundo. Mas, infelizmente, o olho direito do garoto estava fechado e só era possível visualizar a pálpebra dele.

- Abra o olho! –A garota ordenava, enquanto puxava a pálpebra do jovem para cima.

 Inesperadamente, a lady Mackenzie foi derrubada por algo... Algo pesado que caíra sobre a própria, que se debatia e tentava inutilmente levantar-se.

- O que faz aqui? –Ciel riu- Droga, justo quando a brincadeira estava divertida!

- Pensei que ela estava te incomodando... –Aquela voz lhe era familiar, será que... –Bocchan!

 Sebastian, era ele o homem estranho que pulara da janela. Aliás, só um estúpido como ele poderia atrapalhar um momento tão importante.

- Saia de cima de mim! – Gritava a mimada.

****

 Grace encontrava-se suando frio e sentia como se alguém estivesse com a mão em seu rosto. Ouviu uma voz suave e, abrindo os olhos, deparou-se com Ciel.

 Aquilo tudo fora um sonho, a menina dormira profundamente, após a longa conversa com o conde Phantomhive.

- O-O que você faz aqui? –Grace disse, livrando-se da mão do lorde- Desculpe, estou de mau-humor...

- Teve um pesadelo, lady?

- Não, pior!

- O que, então?

- Sonhei com você!

 Ambos estavam descendo as escadas e Ciel estava com um sorriso cínico em sua face.

- Então... Não deveria estar feliz? Não é sempre que uma dama sonha com algo tão... Fascinante.

- Idiota, não seja convencido! –Riu-se Grace.

- O amor jovem é tão bonito! –O mordomo comentou, enquanto sentava-se numa carroça.

- Como assim? Ela é mimada e insana, além de problemática!

- E ele é um descarado e enxerido!

- Eu nunca gostaria desse troço! –Ambos falaram juntos.

- Hai, hai.

 Os dois nobres subiram na carroça. Não poderia ser um automóvel mais elegante, pois eles teriam que se passar por plebeus, assim, não seriam reconhecidos.