A noite havia sido angustiante para todos os cidadãos. Não era possível ignorar o episódio ocorrido no dia anterior. A guerra aconteceria. Isso era algo inalterável. Nada faria com que a decisão da maioria esmagadora mudasse. Enquanto a princesa estivesse ali para proteger a capital, o que ela desejasse seria uma ordem.

 Os primeiros raios de sol nem mesmo haviam tocado o solo e todos já se encontravam de pé. Ansiando por uma vitória repentina. Apenas a vingança que desejavam já era capaz de saciar a sede por se sobressair na luta. Sim, a vingança é algo tentador.

 Enfim, Ciel chega ao local. Grace parecia impaciente em sua armadura. Armadura, sim. Ela parecia ser a única a trajar algo assim. Sinceramente, ela estava bonita.

 Já estavam presentes, no mínimo, algumas mil pessoas. Todas dispostas a perder a própria vida por honra. Dignidade. Quanto ao local, era somente a divisa entre Londres e o território inimigo. Os inimigos haviam invadido a Inglaterra e se encontravam em um vilarejo próximo. Nenhuma distância considerável.

- Ohayou! Vieram cedo... –O conde comentou, desinteressado.

- Foi você que se atrasou, Ciel-kun! Se não percebeu, acontecerá uma guerra aqui! –A princesa rebateu.

- Nossa! Nem havia percebido! –Ironizou o garoto.

- Se não está interessado, vá embora! Não precisamos da sua ajuda... Onde está?

- O que?

- O mordomo, seu idiota! Onde ele está?

- Deixei em casa. Ele saberá quando agir.

 Deixando a conversa pairando no ar, foi visto que alguns homens de aparência maligna chegavam, ignorando o batalhão. Um deles, o líder, talvez, bufou e disse com rigidez:

- Quem é a líder dessa revolta tola?

 Todos os olhares se voltaram para Grace, com uma expressão inquieta. Ela deu um passo à frente, cerrou os punhos e mordeu o lábio inferior. As palavras não saiam da sua boca. Era como se tudo aquilo não passasse de uma ilusão. Conseguiu dizer, com timidez:

- Sou eu. A princesa. Você deve ter conhecido minha mãe, não é? Você a matou.

- Agora as guerras são lideradas por crianças? Bom, não há por que lutar com vocês. Seria muito injusto.

 A nobre não se aguentava mais, de raiva. Talvez enforcá-lo seria bom. Grace queria apenas mostrar o quão matura ela era. Sacou sua espada e encostou-a levemente no pescoço do líder.

- Onde está a criança? Não a vejo...

 Vendo a cena, Ciel seguiu o exemplo da líder e sacou sua espada, gritando e avançando em um dos inimigos. Logo todos estavam fazendo o mesmo. Parecia uma guerra de Esparta e Atenas. Aparentemente, a luta já havia começado, porém, o líder inimigo parecia sentir a falta de alguém. Até que, desviando dos golpes de Grace, que se encontrava vermelha de raiva e gritava com todas as suas forças...

- Kouichi!!! Qual o seu problema? Me ajude, seu inútil!

 Um homem baixo, vestido com um manto preto, vendo que seu mestre lhe pedia ajuda, deixou um sorriso nem um pouco discreto ocupasse seu rosto. "Y- Yumio-sama..." Ele pensou "Precisa da minha ajuda!".

 Antes que Kouichi pudesse chegar perto da princesa, ele sentiu uma dor imensa percorrer seu corpo. Virou um pouco a cabeça e notou uma espada lendária fincada em seu peito. O sangue corria delicadamente pelo seu corpo. Caiu sobre seus próprios joelhos, mostrando atrás de si, um garoto enfurecido, que berrava:

- Ninguém avança sobre ela, entendeu? Grace é minha!

 Todos pareciam ignorar o ocorrido e prosseguiram com a guerra. Voltando para Grace... Ela estava se cansando, nunca havia se esforçado tanto assim. Repentinamente, ela lançou uma voadora em seu oponente. O resultado não foi assim tão bom... Yumio acertou a perna da líder com sua espada. Sim, doía. Não havia o que fazer. Ela não poderia desistir assim tão rapidamente. A guerra só havia começado. Ela poderia fazer melhor.

 Vendo a situação da garota, Ciel aproximou-se e cortou fora o braço do homem. Orgulhoso de si mesmo, ele disse:

- Eu assumo daqui em diante. Não se preocupe comigo.

 Grace não ousou contrariá-lo. Apenas assentiu e partiu para outro inimigo. Já estava ciente de seu estado. Vendo um homem de costas, completamente alienado do que acontecia, acertou-lhe a cabeça com a espada, atravessando seu crânio. Era morte, na certa.

 Quanto a Ciel, não é possível dizer que estava vencendo. Porém não estava perdendo. Ele sempre arriscava. Yumio estava em desvantagem, pois não tinha um dos braços. Os dois estavam ofegantes. O conde, afastando-se um pouco do inimigo e arrancando seu tapa-olho, gritou:

- Sebastian, proteja Grace! Isso é uma ordem!

 Essas palavras ecoaram no ar, até ouvir-se subitamente a frase "Yes, my lord!". Ali estava Sebastian. Pronto para seguir as ordens de Ciel.

- Bocchan... Por que protegê-la? Não é melhor me deixar cuidar do líder?

- Apenas faça o que mandei!

 Ciel encontrava-se distraído. Yumio já notara. Tanto que, enquanto o nobre tentava se recompor, o inimigo enfiava sua espada no estômago do mestre, fazendo-o vomitar o próprio sangue.

 A vitória se encontrava longe... Ciel estava em um estado gravíssimo. Mal conseguia acertar seus golpes.

- Cansei disso. Diga adeus, demônio desgraçado! –Yumio tentava acertar sua espada no peito do jovem, porém...

 Grace já havia visto a situação. Não queria ver seu amigo morrer. Correu mais do que seus pés podiam aguentar e se jogou na frente de Ciel.

... Ela sabia que morreria...

... Porém nunca se imaginara fazendo tal ato...

... Muito menos por um conde mimado...

- Grace!!! –O lorde berrou.

 A garota caiu sobre seus braços. Ele notou cada detalhe dela, pela primeira vez. Sua situação era deplorável. Uma lágrima percorreu a face do garoto. Era inacreditável. Ela estava prestes a morrer. Não havia saída.

- Grace, eu...

- Te amo? É sempre isso que dizem em cenas como essas. Clichê! Diga algo mais original! – A meia-irmã de Grace aparecia, banhada por sangue.

- N- N- N- Não era isso que eu ia dizer!!!

 O conde voltou seu olhar novamente para a princesa, literalmente jogada em seus braços. Como resgatá-la? Só havia um jeito...