Saving The World escrita por Writer


Capítulo 13
Planos do Destino


Notas iniciais do capítulo

Hey, como estão?
Sei que demorei, mas minha vida tem estado um pouco...turbulenta, por assim dizer, haha.
De qualquer forma, bom capítulo.



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Um recomeço nunca é fácil. Quer dizer, acredito que não seja, não lembro se um dia já tive de recomeçar por algum motivo. Mas este era o problema. Minhas memórias tinham sido roubadas e, supostamente, se eu conseguisse cumprir o desejo de Coringa eu as receberia de volta. No entanto, minhas lembranças pareciam não ter sido completamente perdidas. Não depois de duas semanas sonhando com a Torre da Liga da Justiça.

É. Aparentemente, eu deveria ser uma agente infiltrada naquele “observatório” dos heróis. No entanto, lembrava de cenas conflitantes, em uma hora eu parecia ser amiga de alguma garota chamada Smooth Hands, e na outra ela me ignorava, como se não conhecesse...Mas não como se fosse um “depois” e “antes”, era como se fosse a adaptação de um mesmo livro, mas com duas versões diferentes. Algo, no mínimo, complicado.

– Hey, sonhadora, você ta aqui só pela carinha bonita ou vai ajudar?

Revirei meus olhos e encarei o rechonchudo capanga do Pinguim. Com capangas preguiçosos e gordos como ele, entendia porque precisava de uma mãozinha pra segurança de sua “preciosa carga”. Mandei-o se afastar e comandei para que a água guiasse o compartimento de metal até que estivesse dentro do caminhão.

–Satisfeito? – perguntei batendo em seu ombro e me sentando dentro do caminhão.

Ele me olhou irritado e então foi para o banco do motorista. Mais quatro capangas entraram no compartimento de trás comigo e as portas foram fechadas. Tinha sido contratada pelo “Sr.Cobblepot” para “me certificar que sua preciosa carga passasse pela fiscalização da estrada”. Claro que seria muito mais fácil alguém como Princess fazer esse trabalho, fazendo com que os policiais enxergassem o que ela quisesse dentro do caminhão, mas depois de ter sido retirada daquele maldito museu como um saco de batatas por Duchess, eu fora excluída temporariamente dos planos principais da Gangue.

Como também quase ninguém mais tinha tempo para treinar, apenas seguia meus dias entre devaneios sobre os possíveis significados de meus sonhos e pequenos trabalhos como esse. Tudo bem que ficar enfurnada em um caminhão em um dia quente como esse não era exatamente minha ideia de “matar o tempo” predileta, mas era melhor do que ter que ajudar Ivy cuidando de seu jardim.

Suas plantas e flores já tinham um efeito hipnótico, a Mãe-Natureza em pessoa então possuía uma aura cheia de tentação própria. Não podia culpar os homens por sempre a cercarem, se bem que em alguns momentos o modo como ela tratava seus “servos” me incomodava. Alguns homens pareciam me lembrar de alguém, e imaginá-lo nos braços de Ivy me provocavam tais sentimentos de raiva que acabei por ressecar algumas das plantas de Ivy e arranjar uma briga com a ruiva.

Cerrei os punhos, com raiva. Se antes tinha certeza que estava me adaptando neste novo eu, agora nem conseguia mais dizer quem eu era. Como, mesmo sem me lembrar, meu antigo eu continuava me afetando? Não conseguiria seguir em frente desse jeito, não conseguiria formar minha nova vida.

E quem disse que você realmente quer formar esta nova vida?

Essa voz. Minha voz. Continuava me assombrando em minha mente, como o eco da pessoa que já fui, tentando impor essa antiga personalidade no novo eu. Mas eu não deixaria isso acontecer. Se recobrar aquelas memórias significa apagar quem eu sou hoje, prefiro nunca mais me lembrar. Chega de morcegos invadindo meus sonhos, chega de lembranças que me forçavam a reviver o passado.

–Eu sou Silapco. – murmurei para mim mesma, despertando uma estranha sensação que aos poucos parecia tomar conta de mim.

Levantei a cabeça, encarando os homens a minha frente com um sorriso triunfante. Não iria mais deixar aquela voz me influenciar, nem sensações estranhas tomarem conta de mim como acontecera no Museu. Os capangas me observaram sem entender, mas resolveram me deixar quieta. Lamentei a ponta de inteligência desse ato, tudo o que precisava agora era um pouco de ação.

–Hey! – ouvi um homem gritar na rua e o caminhão parando em resposta.

O motorista desceu do caminhão. Olhei discretamente pelo retrovisor, percebendo que ele conversava com três policiais. Com sorte eles não acreditariam no que ele dizia e abririam a porta para verificar. E nesse momento, eu teria minha pequena diversão.

Ouvi três batidas discretas na porta do motorista. Um sinal para que eu pegasse o rolo holográfico e montasse em frente a carga, assim simulando que tudo que estava aqui eram apenas caixas de papelão. Peguei o rolo do meu bolso e esmaguei-o.

–Mas...o quê? – os outros capangas me encararam sem entender.

Sorri, me concentrando ao máximo nos próximos segundos. Quando o primeiro capanga começou a se levantar, suspeitando que eu os tinha traído, fechei os olhos, sentindo e chamando até mim toda a água que podia. Dos canos de dentro das casas próximas até a caixa d’agua de um edifício, sentia cada gota se aproximar cada vez mais rápido. Ao mesmo tempo, um policial abria a parte de trás do caminhão. Isso estava muito fácil.

Quando ele abriu a porta, pulei para fora, aproveitando a água como impulso para me erguer mais ainda no ar, deixando que o capanga acabasse por cair em cima do policial ao invés de me agarrar por trás, como ele esperava. Pousei no chão com os joelhos dobrados e uma postura um pouco inclinada para a frente. Esperei os outros policiais perceberem minha presença e correrem até mim e comecei a correr, estendendo as mãos e controlando a água para que retirasse as pistolas das mãos deles.

Acertei o primeiro ainda correndo, bastou um soco forte em seu rosto para que caísse no chão. Ele abriu os olhos, caído, me encarando surpreso. Suspirei, um pouco desapontada:

–Realmente, se todos os policiais dessa cidade forem fracos como você – criei um bolsão d’agua em seu rosto e me aproximei, pisando em suas costelas com força – Não entendo como Coringa ainda não dominou tudo isso.

Inclinei-me em cima dele, prendendo seus braços com minhas mãos e as pernas com água. Aproximei-me mais de seu rosto:

–Adeus. – Sussurrei em seu ouvido e então o beijei roubando seu ar.

Demorou dois segundos até que os outros policiais resolvessem ir para cima de mim, mas rapidamente invoquei uma barreira difusa de água para que não conseguissem se aproximar. Quando separei meus lábios dos dele, ele me encarava perplexo e então começou a respirar desesperadamente procurando ar e a se debater, mas já era tarde. Desfiz a barreira para que os outros policiais pudessem ver o que acontecia. Eles tinham recuperado suas armas, mas, assim como os capangas, estavam paralisados.

Ouvi mais uma vez a tentativa patética do policial de tentar se libertar. Suspirei, aquele seu desespero estava me incomodando, o som de sua procura por liberdade não me permitia aproveitar meu pequeno show e então com um simples aceno de mão retirei toda a água do corpo dele de uma vez só. Claro que seria mais divertido observar pacientemente como tinha feito depois de começar o processo após beijá-lo, mas aquilo não estava tão divertido quanto pensei que fosse.

Pulei a múmia que se transformara o policial e encarei minha plateia:

–Bem, essa é a hora em que vocês correm. – e então os gritos começaram.

Os capangas prontamente aceitaram minha sugestão e os policiais pareciam não conseguir se mexer. Construindo degraus de água, subi até estar na altura do telhado das casas. Apreciando meu trabalho, fiquei alguns segundos lá parada, apenas me deliciando com o desespero que tinha causado. Olhei então ao redor e vi uma joalheria na rua seguinte. Pulei para o telhado da casa em frente a ela, analisando os colares, anéis e brincos da vitrine. O pagamento que receberia pela segurança da carga não chegava nem perto do valor que deveria custar uma daquelas joias.

Deslizei pela água até a escada de incêndio de um prédio que dava para um beco. Pulei para a rua, limpando qualquer sujeira que tivesse grudado na minha roupa. Segui o fluxo de pedestres tentando me esconder naquele mar de pessoas, mas minha roupa parecia chamar muita atenção. Distanciei-me um pouco e vi uma sorveteria com algumas mesinhas na calçada. Um sobretudo negro pendurado em uma das cadeiras. Discretamente passei em frente a sorveteria, aproveitando que o dono do sobretudo tinha ido até o caixa pagar a conta. Peguei-o, percebendo que era um pouco mais largo que meu tamanho ao vesti-lo e assim se arrastava no chão enquanto eu andava.

Abaixei a cabeça e olhei discretamente para trás, aparentemente o homem não percebera o que eu tinha feito, mas duas garotas que seguravam um sorvete de chocolate me encaravam, como se me desafiassem a dar mais um passo. Sorri para elas e continuei a andar.

A de cabelos castanhos foi a primeira a se levantar da mesa para me seguir, a outra, com cabelos ruivos meio dourados, deu uma última abocanhada no sorvete e se levantou para seguir a outra ainda com a boca marrom pelo chocolate. Elas me seguiram por mais alguns metros até que entrei em outro beco, se elas queriam briga, é o que encontrariam! Estava vendo a sombra delas se projetar em direção ao beco quando as sirenes da policia se aproximaram, certamente pelo que tinha feito na outra rua. Ouvi um grito de frustração e então suas sombras, assim como elas, sumiram.

Dei de ombros e atravessei a rua, entrando na joalheria. Fiz questão de ignorar as primeiras atendentes que me olhavam de maneira esnobe e segui até o homem que parecia ser o gerente da loja, com um terno cinza e cabelos castanhos claros penteados impecavelmente. Dei o meu sorriso mais doce e falso que consegui e o chamei:

–Com licença, pode me ajudar?

–Pode falar com uma de nossas aten...- Ele se virou me observando. Pisquei demoradamente e então me aproximei mais dele, chamando sua atenção para meu decote.

–Estava me arrumando para a festa quando percebi que não tinha nenhuma joia que combinasse com o vestido. – menti fazendo um bico – Será que você não pode me ajudar?

Ele engoliu em seco, seus olhos escuros finalmente se desviando de meu decote, suas bochechas coraram enquanto ele seguiu até a parte de trás de um balcão, ajeitando os óculos e logo uma atendente estava ao seu lado:

–Senhor, não acha que...

–Não! – ele silenciou a atendente e se virou para mim com uma caixa com um colar de pérolas nas mãos – Eu irei atender a formosa dama.

Sorri enquanto a atendente loira seguia para o fundo da loja com raiva. Ah! Isso estava fácil demais.

***

Primeiro ouvi as sirenes e então senti Samantha me puxar pelo braço com um grito frustrado:

– Vamos deixar isso pra lá, temos de ver o que esta acontecendo na outra rua.

Pensei em protestar, mas terminei por abaixar a cabeça e assentir, seguindo ela pelo lado contrário que a mulher que estávamos perseguindo tinha seguido enquanto ela discursava sobre como até mesmo um roubo de casaco era importante, apesar de estarmos deixando isso pra lá. Era estranho pensar em perseguir alguém sem meu uniforme, ou mais estranho ainda era sair com alguém da Liga sem usá-lo.

–Dançarina? – Samantha me chamou depois de arrombar uma porta de um prédio aparentemente abandonado em um beco.

–Desculpe, distraí-me um pouco. – segui-a para dentro do prédio, já abrindo minha bolsa onde estava meu uniforme.

Ela sorriu e me apontou um banheiro onde poderia me trocar:

–Tudo bem, mas vê se não demora, hein? – ela disse sorrindo fechando a porta para mim.

Olhei-me no espelho quebrado do banheiro. Um sorriso tímido decorava meu rosto. Apesar de não ter revelado minha verdadeira identidade para ela, Samantha se mostrou muito simpática e gentil. Todas as vezes que era tímida demais para falar alguma coisa ela parecia não ligar e continuava falando. Logo os seus monólogos se tornaram conversas, mesmo que com poucos comentários da minha parte, e assim concordei em vir até a cidade com minhas roupas normais para tomarmos um sorvete. Apesar de gostar de sua honestidade ao não esconder sua identidade, ainda não conseguia fazer o mesmo. E não sei se um dia conseguiria.

Troquei de roupas rápido e bati na porta, ao que Samantha abriu e logo deu um assobio brincalhão:

–Sério como você ainda não tem um namorado lá na Torre, Dançarina? –ela riu.

–Pelo que dizem sou “romântica demais.” – revirei os olhos e nós duas rimos.

–Pode ir na frente, tenho de confirmar algo com a Torre antes de ir. – ela disse encostando a porta do banheiro.

Achei meio estranho ela ter de reportar algo para a Liga antes mesmo de ver o que estava acontecendo, mas saí do prédio abandonado e me impulsei para voar acima dos telhados. Mesmo meu uniforme sendo uma saia “curta” (ia até o meio das coxas), não me incomodei em voar, gostava da sensação de liberdade que o vento sempre me proporcionava, e também tinha começado a usar um shorts curto por baixo desde que Flash tinha acidentalmente levantado minha saia.

Voei até o telhado, onde pude ter uma ideia do estrago que tinha acontecido. Um caminhão estava parado no meio da rua e alguns policias pareciam render os homens que criaram aquela confusão mais ao longe. Outro grupo de investigadores se reunia ao redor de algo. Voei até um deles:

–O que aconteceu? – perguntei para um que tinha se afastado mais do grupo.

–Quem é você? – quando tirou o chapéu e seus cabelos escuros caíram ao redor dos ombros percebi que aquela era a nova detetive do departamento de policia de Gotham que Dinâmico descrevera em seu relatório. Não que eu tivesse procurado o relatório dele, estava apenas querendo me informar mais sobre a cidade que teria de patrulhar.

–Pode me chamar de Dançarina, fui enviada pela Liga. –disse solenemente, deveria mostrar que me sentia honrada por representar heróis tão poderosos. Mas acho que acabei por criar o efeito contrário, pois ela fez uma careta e saiu andando em direção ao caminhão. Segui-a sem saber mais o que fazer.

–Detetive Rachel Fox. – ela se apresentou sem se incomodar em olhar para mim – Recebemos um chamado há poucos minutos de uma testemunha. Aparentemente alguns policiais interceptaram o caminhão, pois esta é uma zona apenas para o tráfego de carros e motos de porte pequeno. Suspeitando alguma coisa, eles pediram para conferir a carga e foi quando uma mulher ainda não identificada atacou um policial e o matou. Não temos ainda ideia de quem é essa mulher, mas será feito um retrato aproximado assim que as testemunhas resolverem colaborar.

Ela deu um olhar de esguelha para onde dois policiais estavam sentados perto de uma ambulância, encarando um ponto fixo inexistente. Eles pareciam não perceber o que acontecia ao seu redor.

–Eles estão em choque. – constatei.

–Sim. E até voltarem a si mesmos não conseguiremos pegar essa louca. – ela disse forçando as mãos no casaco do sobretudo.

–Deve ter sido realmente terrível para deixar quatro policiais em tal estado.

A detetive apenas bufou e saiu andando em direção a um dos carros de policia, acendendo um cigarro no caminho. Subi no caminhão e me aproximei do compartimento que ainda estava lacrado lá dentro. Ao sentir uma lufada de ar, virei-me e dei de cara com Samantha, agora já vestida com seu uniforme como Musa, observando o compartimento do lado de fora. Pulei do caminhão:

–Já estou a par mais ou menos do que aconteceu, mas ainda não consigo acreditar. – ela disse parecendo realmente abismada.

–Com o quê? – crimes e assassinatos ocorriam todos os dias naquela cidade, e estando na Liga há mais tempo do que eu ela já devia estar acostumada.

–Você não viu o corpo, viu? – neguei com a cabeça e dei um passo em direção ao amontoado de investigadores, mas ela segurou meu braço, me impedindo. – Você não precisa ver aquilo.

Ao perceber as sombras em seus olhos apenas assenti. Não era uma questão de ela me achar fraca, o que já me levara a muitas discussões com outros heróis, mas sim de algo que tinha traumatizado policiais treinados e assombrado uma heroína já experiente da Liga. Ela soltou meu braço, então caminhei até a detetive, ao que Musa me seguiu:

–Você de novo?-ela disse tragando seu cigarro mais uma vez.

Revirei meus olhos, irritada, aquela mulher não tinha um pingo de compaixão por policiais de seu próprio departamento e parecia não me respeitar ou qualquer herói da Liga.

–Ia perguntar se precisa de ajuda com alguma coisa, mas percebo que é perda de tempo. – disse nervosa.

–Que bom que percebeu logo. – ela deu um sorrisinho cínico- Agora se me permitem, tenho trabalho a fazer.

Contei até dez para não fazer aquela detetive de nariz empinado sair voando dali e então, quando não consegui me acalmar peguei uma barra de chocolate da minha bolsa e comecei a devorá-la. Musa parecia irritada com a atitude da mulher, mas logo se recompôs, com um pequeno resmungo de frustração. Olhei a cena mais uma vez e avistei um homem com uma prancheta e papéis conversando com uma loira muito assustada. Deveria ser o desenhista que criaria o retrato-falado da mulher até então desconhecida.

–Tive uma ideia. – sussurrei para Musa e caminhei até estar mais perto dos dois, e me escondi atrás de um dos carros de policia.

–Entendo, então seus cabelos eram mais ou menos assim? – o homem disse mostrando a prancheta para a mulher loira, que logo assentiu assustada. – Obrigada pela ajuda, senhorita.

–Tu-tudo bem. –ela gaguejou se levantando com algumas sacolas – Posso ir? A senhorita Hettefield deve estar nervosa pela minha demora.

O homem se levantou também deixando a prancheta e os papeis em cima da mesa. Olhando pelo retrovisor, com cuidado, fiz com que a primeira página que estava desenhada deslizasse para fora da mesa voando até mim enquanto eles pareciam distraídos conversando sobre algum filme novo que acabara de ser lançado. Voltei até Musa com um sorrisinho de vitória, mas ela me encarava com um olhar sério. Realmente algo deveria estar preocupando-a muito, pois essa postura não combinava com seu jeito risonho e leve de sempre.

–Recebi um chamado, temos de voltar para a Torre. – ela disse acionando o transmissor em sua pulseira para que pudéssemos nos teletransportar até lá.

–Musa, o que está acontecendo?

–Ainda é extraoficial, mas Diana acabou de me contar, parece que há algo muito perigoso acontecendo. Tão perigoso que a Rainha de Temiscira chamou-a para uma conversa. – ela me confidenciou. Tinha sido escolhida como aprendiz de Diana, a Mulher Maravilha, então algumas vezes se comunicava diretamente com ela, sabendo dos acontecimentos da Liga antes mesmo que os outros heróis aprendizes, como eu e todos aqueles que ainda tinham aulas com um herói mais antigo, soubessem.

–Mas as amazonas não cortaram qualquer comunicação com o exterior? – Musa assentiu e então fomos teletransportadas. Quando cheguei a Torre percebi que ainda tinha o retrato da mulher nas mãos. Olhei-o por um instante antes de guarda-lo em um bolso por dentro da saia com um arrepio.

Ainda não entendia o que, mas podia pressentir o presságio nas palavras de Musa. Algo grande estava em curso e talvez nós não fossemos o suficiente para deter o que quer que fosse.

***

–Ilusion? – Lex me chamou pelo comunicador e bufei.

–Eu estou ocupada. – disse ainda me concentrando no policial à minha frente. Estive tão irritada esses dias que matara os outros dois anteriores sem nem realmente vasculhar seus medos mais profundos, apenas criando ilusões o suficiente para fazê-los gritar de desespero. Mas esse era realmente um prato cheio, o que não lhe faltavam eram traumas ou medos, e nesse momento estava me deliciando ao ver suas reações ao rever o assassinato da filha várias e várias vezes.

–Ela despertou. – Lex disse roubando completamente minha atenção, o que me fez soltar o lápis e deixar uma de minhas ilusões incompletas. Apenas a cabeça de uma garota com os olhos chorando sangue e encarando o pai. O policial começou a chorar. Talvez devesse ter deixado uma ilusão ao meio antes.

–Você tem certeza?- disse já sorrindo.

–E eu te ligaria se não tivesse? – ele disse com seu jeito antipático, mas pude perceber um sorriso da forma como falava.

–E quando concluiremos isso?

–Logo. – eu ri com gosto e então desliguei.

O policial preso à cadeira devia ter quarenta anos, mas chorava como uma criancinha de cinco. Revirei os olhos e caminhei até ele, materializando uma almofada negra e colocando em seu colo antes de me sentar em cima dela. Não iria me sujar com o suor daquele homem ridículo que nem deveria ser um policial pelo tanto que pesava.

–Sabe de uma coisa? Eu realmente estava me divertindo com você– eu disse com um olhar genuinamente chateado ao passar a ponta de minhas unhas em seu rosto, deixando um fino rastro de sangue pingar – Mas eu nunca suportei homens fracos, e chorando desse jeito...Você realmente me desaponta policial...Lance. – disse lendo o broche em seu uniforme.

Levantei-me limpando quaisquer resquícios que ele tivesse deixado em mim e olhei para meu bloco de desenho caído no chão. Sorri:

–Foice. – e então uma foice de dois metros se materializou em minhas mãos.

Passei minhas mãos sobre a lâmina, como se a acariciasse e então dei um giro rápido empunhando ela e ouvi o homem parar de respirar. Apertei um botão escondido e a foice se contraiu até se tornar um bastão. Tinha demorado alguns dias para pensar e desenhar algo que fosse prático e mortal, mas tinha valido a pena. Vesti minha capa branca e guardei o bastão em um bolso escondido dentro dela.

–Não é você, Lance. Sou eu. – disse sorrindo ao imitar a frase tão clichê dos filmes de menininha e me deliciando com o som da cabeça gorda do policial finalmente cair e rolar no chão. Saí voando do velho armazém e materializei e joguei uma granada antes de me afastar mais. O que meu pequeno presentinho não destruísse, tinha certeza que os litros e mais litros de álcool nos toneis que ligavam o armazém a indústria ao lado iriam dar conta.

Depois de tanto tempo esperando, finalmente conseguiria minha liberdade e, de quebra, a provável destruição da Liga da Justiça. Realmente era um jeito ótimo de se terminar uma sexta-feira à noite. Liguei meu comunicador e chamei Iceking:

–Ice? – disse sorrindo.

–Se quer me contar que nosso experimento finalmente começou, você esta atrasada, Ilusion. – ele disse sem um pingo de emoção.

Grunhi frustrada, como aquele garoto poderia ser irritante:

–Então acho que já sabe da nossa pequena reuniãozinha, certo? – ele apenas ficou em silêncio. – Foi o que pensei.

–Quando? – ele se limitou a perguntar. Não deveria estar em um bom dia, já que conseguia ouvir o som do barulho com que ele provavelmente brincava em suas mãos.

–Depois de amanhã, naturalmente.

–Estive meio distraído esses dias. – ele disse explicando e então riu, se isso era possível – Mas é claro que seria depois de amanhã. Até lá então, Yuuna – ele disse saboreando meu nome. Desliguei o comunicador e pousei ao lado de Duchess que já me esperava em um beco junto com Black Ako.

Seu sorriso se abriu mais quando me viu chegar e então se espreguiçou demoradamente antes de sair do beco e observar o imenso prédio de vidro à nossa frente:

–Vamos? – ela disse se virando e então Black Ako e eu a seguimos. Sem dúvida essa era uma noite especial, afinal, não era sempre que você invadia o prédio das Indústrias Wayne.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam?
Para quem não conseguiu acompanhar primeiro é a narração de nossa protagonista querida - ou agora nem tão querida assim, hahaha- , depois é a vez de Dançarina e por último Ilusion ;3
Espero que tenha conseguido agradar as donas de todos os personagens que aparecem aqui, e daqueles que não apareceram também ;)
Se ainda está lendo isso, não se esqueça de comentar! haha, para eu saber que pelo menos ainda tem alguém que acredita nessa história e não a abandonou pela sua escritora negligente.
Ah! Também gostaria de saber, vocês preferem capítulos "grandes" como tenho feito até agora ou desejam que eu divida cada um em partes menores a partir de agora?
Vocês quem decidem, haha.
Com amor,
Writer.
P.S. Se alguém me enviou uma MP e eu não respondi, só pra avisar que não entrei aqui desde...abril e como o sistema descarta MPs sem atualizações depois de 30 dias. Mas sintam-se livres para me enviar qualquer coisa - novamente-, conversar com meus leitores me anima mais para escrever sobre a história >.< .



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