Saving The World escrita por Writer


Capítulo 12
A Grande Estreia


Notas iniciais do capítulo

Aqui está o capítulo novo! Não postei na segunda, porque a página estava aparecendo meio desconfigurada para mim, mas quando entro sem estar logada ela está normal. Estava esperando uma resposta do Suporte, mas achei injusto fazê-los esperar demais. Portanto, aqui está o novo capítulo! Espero que gostem :D



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/319967/chapter/12

–Lutem!

Sorri para Duchess enquanto a encarava. A cada passo que ela dava eu dava outro, andando em círculos, esperando que a outra atacasse. Ela por fim piscou para mim e avançou primeiro, correndo em minha direção e atirando facas com um olhar mortal. Eu apenas desviava delas com a graça de uma acrobata. Quando chegou perto de mim o suficiente para desferir um golpe corpo a corpo, pulei e me segurei na grade do ringue.

Dei um pequeno sorriso para ela, há poucos dias ela fizera o mesmo com Princess e ao ver seu movimento apenas o copiei com facilidade, como se já o tivesse treinado milhões de vezes. Pude ver uma pequena ponta de irritação faiscar em seus olhos, mas seu sorriso não vacilava. Ela lançou uma faca em direção a minha perna e me soltei da grade, pulando por cima de seu corpo.

Porém, percebi tarde demais seu plano. Assim que apoiei minhas mãos no chão, ela me deu uma rasteira. Derrubando-me no chão e roubando por alguns preciosos segundos o ar em meus pulmões. Ela então lançou duas facas prendendo meus braços no chão. Tentei mexer meus braços, mas sabia que apenas conseguiria me machucar ainda mais.

Ela sorriu e deu um salto mortal para trás, posicionando seus pés ao lado de minha cintura e sorrindo vitoriosa. Virei a cabeça para o lado e dei um pequeno sorriso:

–Ainda não, Duchess. – brinquei e estiquei minhas pernas para trás como se fosse dar uma cambalhota ao contrário, mas encaixando-as em sua cintura e empurrando-a para baixo. Ela caiu com um pequenino baque no chão e aproveitei para me impulsionar com os pés e me soltar de suas facas. Pude sentir suas lâminas rasgando minha pele, mas aquilo não me importava, eu só pensava na vitória e no gostinho que ela teria quando a esfregasse na cara de Duchess.

Assim que me levantei Duchess fez o mesmo e nos encaramos mais uma vez, dando passos largos em direção à outra, pensando o que poderíamos fazer para vencer. Ela então sorriu, mordendo o lábio inferior, comecei a chamar a água, procurando qualquer quantidade que estivesse perto o suficiente para que visse até mim e regenerasse minhas forças. Porque quando Duchess sorria daquele jeito não poderia ser um bom sinal.

Ela tomou impulso no chão e correu em minha direção, comecei a correr também, me preparando para dar um soco em seu estômago, mas quando estávamos perto o suficiente ela saltou, flutuando alguns segundos por cima de mim e nesta fração de tempo só consegui ver seu sorriso antes de sentir as pontadas de suas facas em minhas costas.

Ela pousou no chão com graciosidade enquanto eu caía de quatro, sentindo um pouco de sonolência. Com dificuldade retirei uma das facas e analisei sua ponta, estava suja com meu sangue, mas pude ver uma pequena mancha roxa. Sonífero.

Grunhi de frustração e retirei as outras duas facas de minhas costas. Mesmo começando a sentir minhas pernas vacilarem e minha visão borrar obriguei-me a levantar. Ela não ganharia de mim, de modo algum, de todos os “residentes” daquele covil, Duchess se mostrara a única em combate físico capaz de não perder uma luta comigo. Os outros ou já tinham perdido ou nem lutavam, pois suas habilidades eram mentais e não físicas. Era o caso de Black Ako, por exemplo, ele não lutara, pois acreditava que não precisava disso já que conseguia se esconder nas sombras e entrar na mente das pessoas. Mas Princess lutara comigo, mesmo podendo também entrar nos pensamentos das pessoas, ela possuía a habilidade de criar Fogo Negro, uma espécie de fogo, só que muito mais resistente e doloroso. Sei disso, pois me queimei várias e várias vezes enquanto lutava contra ela, mas no final conseguira neutralizá-lo, usando sua habilidade contra ela mesma.

Porém todas as vezes que lutei com Duchess, terminávamos no empate. Ela era uma adversária formidável, é verdade, mas não conseguia aceitar que se fosse pra valer ela ganharia de mim. Algo me dizia que eu tinha de vencê-la, nem que isso custasse a minha vida. Porém, foi esse mesmo algo que me fazia desconfiar de todos aqui, mesmo que depois da Iniciação de Coringa eles agora me tratassem como uma deles. Eu me via no espelho, mas de alguma forma meu reflexo parecia errado, como se minhas roupas tão azuis quanto a noite mais escura e minha maquiagem punk não realmente me pertencessem. E aquilo me incomodava, muito. Então agora descontava toda minha frustração nos treinos, tentando me preparar para seja lá qual fosse a provação que Coringa exigisse de mim.

Duchess deu mais uma de suas risadas agudas e então mexeu a cabeça, como se não acreditasse que eu ainda a provocava. Pegando mais duas facas que estavam escondidas em seu vestido ela se posicionou para atirá-las em mim. Comecei a correr em sua direção, imaginava o movimento de forma ágil e rápida, porém por causa do sonífero eu corria do mesmo modo que um bêbado. Ela sorriu e se preparou para lançar uma faca em mim quando foi interrompida por Black Ako:

–Duchess! – ele gritou a chamando da porta da sala de treinamento – Está na hora de irmos.

Ela revirou os olhos, mas ainda sim com um sorriso de lábios fechados no rosto. O pouco que conhecera dela já tinha aprendido que seu sorriso dificilmente deixava sua face, mas pela descrição dos outros ficava atenta, já que em todas as histórias mais sangrentas dela, ela não estava sorrindo.

–Acho que vamos ter de parar. – ela abriu mais o sorriso – Por enquanto.

Tentei sorrir também, mas me segurava na grande para não cair. Minhas pernas estavam dormentes e meus braços formigavam de um modo estranho. As pálpebras de meus olhos pareciam pesar mais a cada segundo. Duchess pegou um pequeno frasco de um bolso em seu vestido e o jogou para mim.

Inclinei-me para pegá-lo no chão, mas minhas pernas cederam e acabei sentada de joelhos no piso frio do ringue. Duchess deu mais uma de suas gargalhadas e pulou para fora do ringue. Abri o frasco e vi um líquido verde escuro dentro dele:

–Para que isso? – perguntei com a voz meio arrastada.

Ela riu mais uma vez e se virou para me encarar:

–Ora, você não pretende ir desse jeito, não é? – ela disse rindo e balançando a cabeça enquanto saía da sala.

–Ir?! Para onde?- gritei, porém ela já estava longe.

–Para onde acha que vamos? – Black Ako me respondeu, agora camuflado em uma das sombras do canto do ringue, seus olhos vermelhos brilhando – Está na hora do show!

–---

Gotham poderia ser aparentar ser uma cidade urbana comum de dia, mas durante a noite é que ela realmente mostrava todos os seus diferentes lados. No Parque Central casais passeavam de um modo romântico admirando a Lua Cheia e as poucas estrelas que apareciam no céu. Porém a duas quadras dali uma rua estava lotada de mulheres e homens, todos entrando e saindo de boates e bordéis. Alguns anos atrás até garotas menores de idade andavam por ali distribuindo cartões com seus telefones e piscadelas para chamar a atenção, porém com a polícia de Gotham agora sob comando de Gordon, eles conseguiam controlar um pouco mais isso. Mas não eliminar. Não. Sempre haveria aqueles que tentariam se aproveitar dos outros ou seguiriam por caminhos errados, mas do mesmo jeito que existiam aqueles que praticavam o mal, também existiam os que defendessem o bem. E não hesitassem em se levantar para defender aquilo que acreditavam.

–Batman? – Robin me chamou pelo comunicador.

–Na escuta.

–Eles já não deveriam ter aparecido? – Ele reclamou pela quinta vez.

–Robin, se você está sugerindo que minha fonte estava errada espero que não tenha intenção de se levantar da cama amanhã. Pois nem isso vai conseguir fazer se você continuar me irritando desse jeito. – Scarlett respondeu irônica.

Limitei-me a continuar vigiando as entradas do museu e a ronda dos seguranças com a visão infravermelha. Não culpava Robin por estar reclamando, estávamos a quase uma hora esperando que a gangue atacasse, mas nada parecia fora do comum. Se Scarlett não se mostrasse tão confiante quando falara com John na Torre da Liga sobre esse roubo eu não estaria aqui vigiando.

Encarei a garota sentada ao meu lado. O outono já estava acabando por isso a temperatura em Gotham estava começando a cair, porém Scarlett não demonstrara sentir incomodo com a temperatura. Mas pude notar que estava nervosa com medo de que a dica não estivesse correta, ela amassava e desamassava uma embalagem de um doce qualquer que já tinha comido quando estávamos chegando ao posto de observação.

Com seus cabelos presos em um rabo de cavalo e sua roupa vermelha e branca ela poderia se parecer com uma adolescente comum que estava indo para uma festa a fantasia para aproveitar o sábado à noite, mas qualquer um que chegasse perto poderia sentir a aura de poder em volta dela. Como se você entrasse em uma bolha, sentiria que aos poucos era envolvido por uma energia maior e maior. Porém não era só o intangível que demonstrava sua diferença para com as outras garotas comuns, mas seus olhos também. Sempre que ia lutar, os olhos dela se transformavam de um ingênuo castanho para um poderoso vermelho. Um vermelho escarlate.

Despertei de meu devaneio com o som da risada de Duchess, a aprendiz de Coringa. Não consegui encontrar muitas informações sobre o passado daquela garota, mas com o pouco que juntara consegui entender o porquê dela odiar tanto branco. Logo, precisei apenas de algumas simples pesquisas e já tinha seu perfil completo, assim como seu laudo médico. Sem dúvida, ela ocuparia uma cela longe da de Coringa em Arkham.

Os guardas saíram de suas posições de ronda e correram para o centro do museu, a origem daquela gargalhada aguda e histérica. A fonte que decorava o local, uma bela peça de mármore, esculpida de forma que em toda sua extensão fosse possível se ver uma figura de Netuno, o Senhor dos Mares, aumentou seu fluxo de água e então começou a transbordar. A água encharcando os sapatos dos guardas e algumas peças.

–Batman? Não devemos...? – Scarlett se virou para mim com uma expressão de confusa.

–Temos de esperar eles aparecerem. Todos eles. Então teremos uma chance de pegá-los. – disse e Scarlett assentiu. Cliquei no comunicador para que Damphir e Robin também ouvissem – Isso é para os dois também, esperem até o meu sinal.

–Ok. – Damphir respondeu.

Voltei meus olhos para a cena que acontecia abaixo de mim, como parte do teto era feita de vidro, conseguia enxergar o que acontecia mesmo sem a ajuda das lentes especiais que havia projetado com Alfred. A água da fonte continuava a seu fluxo rápido e sua quantidade parecia não ter fim. Logo toda a área central estava coberta com uma fina camada de água no chão, mas pequenos fios se desprendiam e seguiam para outras salas. Ela deveria estar sendo controlada de alguma forma, mas como?

Não demorou muito e logo a força da água começou a diminuir e então um pequeno cilindro pareceu ser jogado do centro da Fonte. Feito com metal resistente à mudança de temperatura repentina eu compreendi o que eles fariam antes que o gás escapasse do cilindro e começasse a se espalhar pela sala. Os guardas começaram a tossir e Scarlett fez menção de sair do esconderijo, mas bloqueei seu caminho esticando uma das mãos.

–É um sonífero apenas. – a tranquilizei.

Ela assentiu, mas ainda parecia contrariada. Eu também estaria, mas compreendia que um sonífero de nada faria mal aos guardas e logo o motivo de nossa espera sairia de seu esconderijo e poderíamos pegá-los.

Um relógio da época vitoriana começou a tocar as doze badaladas que marcavam a meia-noite. Como se guiados pelo som, um a um os guardas caíram desacordados. Quando a última badalada soou, a fumaça começou a se dissipar, mas não havia sinal de nenhum dos integrantes da Gangue. Esperei mais alguns segundos, mas nada. Tinha de descer até ali se quisesse descobrir o que estava acontecendo. Tomei impulso e pulei através do teto, estilhaçando o vidro em milhares de pequeninos cacos.

Agachei-me e abri os olhos de um dos guardas, analisando sua pupila e então contei seus batimentos e a respiração. Nada. Realmente parecia um sonífero comum. Ouvi mais três pousos no chão e logo Robin correu para meu lado. Scarlett deu alguns passos, mas pareceu se distrair olhando para a água da fonte e Damphir apenas ficou parado nos olhando.

–E então? – Robin perguntou ansioso.

–É um sonífero simples, que induz um sono controlado à vítima por algumas horas. – expliquei agora tentando observar mais ao meu redor, descobrir o que tinha perdido. Esse não parecia ser um assalto da Gangue, Duchess gostava de um bom teatro para isso, assim como Coringa. Nada com eles era simples.

–Senhoras e senhores! – a voz de Duchess ecoou pelos alto-falantes do museu. – Peço que todos prestem muita atenção ao centro do palco!

As luzes começaram a se apagar e logo estávamos na escuridão, mas isso não me incomodava. Há muito tempo já tinha aceitado a escuridão, e estava acostumado a me misturar a ela.

–Pois hoje e somente hoje... – ouvi um pequeno ruído mecânico e logo pedaços da fonte começaram a cair, rachados perfeitamente ao redor dos desenhos esculpidos – Terão o prazer de presenciar o grande show da única e exclusiva Gangue!

A luz central se acendeu, iluminando como um holofote Duchess, que estava em pé em uma escada de metal no centro de escombros do que antes era a fonte que tanto orgulhava o proprietário do museu. Com uma roupa negra com sua costumeira grande saia rodada, um chapéu na cabeça e sua maquiagem de palhaço gótico ela parecia uma personagem de um pesadelo de uma criança ou de um filme de terror sobre circos. Mas ele sabia que quando queria, podia ser bem perigosa.

–Mas uma Gangue não pode ser formada por uma pessoa só, não é mesmo? –ela riu – Então apresento as outras estrelas dessa grande noite! Com suas chamas mortais e seu coração de gelo... Red Boy!

Mais uma luz se iluminou e então Red Boy apareceu, brincando com uma chama em suas mãos, enquanto passeava em cima de um vidro que guardava alguns documentos antigos em exposição.

–Mas claro, não podemos esquecer a princesa das chamas negras, da grande dominadora de mentes, Princess of Night!

Mais uma luz se acendeu, e então Princess sorriu para nós, balançando os pés do alto de um totem indígena. Ela piscou para nós e logo senti uma força pressionar minha mente. Com tantos anos de treinamento não era algo que eu não conseguisse repelir, mas já não tinha certeza de Damphir e Scarlett.

–Porém, não são esses belos rostos que irão ofuscar as Trevas e sombras que sempre o seguem por onde ele passa, ou espantar o sorriso de seu rosto sem face, Black Ako!

Uma das luzes se acendeu, mas Black Ako não apareceu embaixo dela e sim encostado em uma das paredes no canto. Só era possível distinguir sua silhueta das sombras pelo sorriso e os olhos vermelhos brilhantes.

–Duchess, já chega, não viemos para nenhum de seus joguinhos idiotas. – Robin falou irritado, com toda aquela encenação.

–Ah! Não sejam mal-educados, pois hoje também é a noite de estreia da nossa mais nova integrante: Silapco!

Mais uma luz se ligou e então a água da fonte começou a se agitar. Duchess pulou de onde estava e foi para outro canto iluminado, gargalhando de forma histérica quando um jato de água explodiu. Quando ia chegar ao teto, o jato parou e então começou a cair, criando uma espécie de queda d’agua infinita, pois quando chegava ao chão, voltava para seu início.

– Ora Duchess, e todas aquelas vezes que nos esgueiramos por aí durante a noite, apenas para nos divertimos com os gritos não significaram nada? – uma voz feminina ecoou rindo – Assim você me magoa.

Uma fenda se abriu na água que caía da “cachoeira” e dela uma mulher com pele branca e cabelos negros selvagens pulou para o chão. Pousou ao mesmo tempo em que a água da queda d’agua se dissipou em uma nuvem de ar úmido.

A mulher caminhou em nossa direção, com um vestido azul escuro de mangas compridas e decote em V ela poderia se passar por uma aristocrata graças à sua postura e a joia que carregava em seu pescoço, mas a grande fenda na saia do vestido deixava por aparecer algumas de suas armas o que parecia apenas acrescentar a sua imagem de princesa assassina.

Parou a dez passos de nós, fazendo um bico como se estivesse decepcionada:

– Ah! – Ela riu e abriu um sorriso malicioso – Então esse é o famoso Batman? Você não faz jus à sua fama.

Tomou um impulso e pulou em minha direção, antes que percebesse, ela estava a centímetros de mim. Segurando seu braço impedi que ela cravasse as pontas do sai¹ no pescoço de minha armadura. Se não tivesse reflexos tão rápidos, sabia que já estaria morto. Minha armadura tinha pequenas aberturas em alguns pontos que acabavam por me deixar vulnerável a facas ou punhais, e nesse caso a um sai também. Porém poucas pessoas sabiam dessas falhas, não era algo que muitos soubessem, muito menos inimigos que eu jamais imaginara ter.

–Mas quem sabe você não me rende uma boa dança antes de eu derrota-lo e finalmente conseguir meu prêmio? – ela riu.

–Fique longe dele, sua louca! – Scarlett gritou e chutou Silapco, que conseguira se soltar de minha mão e agora estava com os dois pés no chão.

A mulher se limitou a rir e se virou com graciosidade na direção de Scarlett e se abaixou. Scarlett acabou pulando por cima dela, e, vendo a oportunidade, Silapco agarrou a perna de Scarlett e, sem nem piscar, arremessou Scarlett para o outro lado da sala, e a garota acabou batendo em uma coluna grega e caindo no chão, desacordada.

Silapco caminhou na direção de Scarlett, mas Damphir se postou em sua frente. Sua face não demonstrava emoção, mas eu conseguia perceber o senso de justiça e proteção brilhando em seus olhos. Porém Red Boy arremessou uma bola de fogo em Damphir, que logo desviou, mas acabou chamuscando um pedaço de suas botas negras. Red Boy riu correndo até ele, os dois travavam uma luta acirrada. Mesmo com suas chamas, o garoto não conseguia acertar Damphir.

Acordei de meu devaneio com um soco de Silapco. Segurei sua mão antes que acertasse meu rosto, mas quando olhei para seus olhos não consegui entender. Aqueles olhos verdes, eu sabia quem era ela na verdade, mas seus olhos estavam verdes com alguns riscos negros, não os olhos verdes claros daquela que eu tanto acusei e acreditei ter desaparecido.

–O que está fazendo? – perguntei olhando-a nos olhos. Por alguns segundos sua expressão determinada vacilou dando lugar a uma estranha confusão, mas então ela recobrou a coragem e usou meu aperto, torcendo o próprio pulso, para chutar minhas costelas com força. Soltei sua mão e ela recuou alguns passos para trás.

–Estou apenas querendo recuperar o que é meu, morceguinho, e não pararei por nada que estiver em meu caminho, mesmo que seja você. - e então correu em minha direção, desferindo socos e chutes com uma precisão incrível. Desviei de vários, mas acabei por sentir um pouco a dor que sua força e precisão causavam.

Logo estávamos longe do centro da confusão, onde Red Boy e Damphir ainda lutavam e Robin ainda defendia de Duchess e Princess uma Scarlett um pouco desorientada. Invadimos um espaço que imitava a época jurássica, com grandes imitações de dinossauros que nos encaravam no escuro.

Quando consegui acertar um soco em seu estômago, arremessando-a alguns metros longe, ela parecia não conseguir mais lutar. Arrastou-se para perto de uma parede, procurando algo pela sala enquanto eu me aproximava. Sua roupa estava rasgada e um fino filete de sangue escorria de sua boca, eu não deveria estar muito melhor.

–Eu não vou desistir. – ela disse se levantando com um pouco de dificuldade e me encarando de forma altiva.

Encarei-a em silêncio e então recuei alguns passos me escondendo nas sombras. Ela deu um passo hesitante:

–O que é isso? – gritou – Não vai ter coragem de terminar o que começou?!

Apenas a encarei, tentando ler sua postura, entender suas ações:

–Se infiltrar na Liga foi muito esperto, mas por que está aqui se já poderia ter me atacado diretamente? O que você quer afinal? Poderia ter me destruído enquanto estava desacordado, sem minha armadura. Queria provar sua força?

Ela trincou os dentes, me procurando nas sombras. Lancei a batgarra e logo subi em uma das imitações que estavam penduradas no teto, ela poderia estar machucada, mas já mostrara ser conhecedora de alguma das artes das sombras.

–Qual o seu verdadeiro objetivo? Assassinas devem manter a discrição e aqui está você, criando um show de circo. – minha voz ecoou na grande sala.

–Eu não sou uma assassina! – gritou com raiva e então pareceu parar para pensar no que tinha falado. Murmurou algo para si mesma e pareceu-se distrair com seus pensamentos. Aproveitei sua distração e atirei um detonador de abalo que fez com que ela caísse no chão novamente. Planei até parar ao seu lado. Ela parecia já cansada demais para sequer olhar em minha direção.

Agachei-me e levantei seu rosto, fazendo-a me encarar. Seus olhos estavam úmidos e desfocados.

–Para alguém que pareceu ser tão orgulhosa, chorar agora não vai me comover. – disse com desprezo.

Ela então pareceu se focar novamente no presente e olhou-me nos olhos.

–Seus olhos, eles não deveriam ser assim... – ela murmurou parecendo estar confusa.

Respirei de forma profunda, já me irritando com seus joguinhos:

–O que você quer?! – gritei expondo toda minha frustração e raiva.

–Eu... -ela abaixou a cabeça- Minhas...memó...

E então fomos jogados contra a parede por uma explosão. Senti algo pesado em cima de mim e minha visão ficou turva por alguns instantes. Consegui ver a sombra de um par de botas femininas e alguém ser arrastado em direção ao fogo. Depois que as duas figuras sumiram ouvi a sirene da polícia e Robin chegou junto com Scarlett perto de mim. Eles levantaram a cabeça de um tiranossauro e eu consegui me mover novamente.

–Damphir está nos esperando no ponto de encontro. – Robin me informou.

Depois que escapamos do incêndio e tive uma rápida conversa com Gordon, nos encontramos em um telhado próximo ao museu. Damphir estava com a roupa um pouco chamuscada, mas sem ferimentos graves. Segundo Scarlett, ele e Red Boy tinham empatado e não conseguiram terminar a luta por causa da explosão que Duchess causara.

–Ah, mas aquela princesinha sentiu o gosto de beijar meus pés. – Scarlett riu vitoriosa.

–Afinal, o que eles queriam? - Damphir perguntou.

–Graças ao incêndio, não poderemos saber o que exatamente eles poderiam querer roubar.

–Talvez algo para vender no mercado negro? – Robin sugeriu.

–Não. Se Duchess estava lá era por obra de Coringa e ele não ia querer apenas alguns artefatos que pudesse vender. – respondi tentando pensar em algo que interessaria Coringa. Ele não era como os outros criminosos, então não seria por algo simples como dinheiro.

–Batman- Damphir me chamou alguns minutos depois, enquanto Robin e Scarlett se comunicavam com a Liga – Achei isto enquanto lutava com Red Boy, mas acredito que seja para você.

Ele apertou um botão em um relógio em seu pulso e a imagem de um portão de ferro que guardava uma sala no museu pairou no ar. Damphir então aumentou o contraste na foto e um ponto de interrogação apareceu pintado no relógio. A imagem piscou duas vezes e então sumiu.

–Aqui está. – ele me estendeu um MicroSD e o guardei em meu cinto. – Acredito que possa te ajudar a descobrir o que eles queriam.

–Vou analisar mais tarde. –respondi.

Ele assentiu e então ele foi até Scarlett e os dois foram transportados para a Torre. Robin veio até mim com um pouco de preocupação nos olhos:

–Você também percebeu, não é? – Robin riu – É claro que perceberia.

Continuei observando o museu que agora já não queimava mais. A perícia entrava no prédio e os bombeiros já voltavam para seus postos.

– Sabe, eu realmente acreditei que ela era uma heroína. – ele suspirou – Acho que essa é mais uma lição de “ouça a voz da experiência.” Deveria ter acreditado em você.

–Ela foi esperta, todos se deixaram enganar. Não se culpe por isso.

Ele passou a mão nos cabelos. Uma mania que parecia ter criado desde que o adotara:

– Bem, você não se enganou. – ele riu sem graça.

Fomos até um de meus depósitos para que ele pudesse pegar sua moto para voltar para a Torre dos Titãs. Despedimo-nos e então ele ligou a moto. Logo me voltei para meus computadores e comecei a analisar a imagem que Damphir me dera. Sem dúvida, aquele ponto de interrogação era obra do Charada, mas não via o enigma desta vez. Quando já eram sete horas da manhã, Alfred me chamou pelo comunicador, pedindo para que voltasse para a mansão.

Suspirei, depois de tanto tempo pesquisando, analisando e revendo as imagens das câmeras de segurança do Museu não percebera nada que pudesse me indicar o real objetivo de Coringa ao mandar sua Gangue para lá. Fui fechando meu registro de atividades. Quando ia fechar a imagem que Damphir tinha me enviado, e também não conseguira decifrar, sem querer alterei sua matiz também, sobrepondo ao contraste, outro jogo de cores. Ao observar o ponto de interrogação amarelo percebi que algo no fundo da imagem também se modificara. Fui alterando a matiz até que o ponto de interrogação ficasse verde. Quando consegui atingir o tom certo, no fundo da imagem mais cores tinham aparecido. Aumentei o zoom até enxergar uma estátua de uma mulher de mármore com alguns detalhes de ondas em seu pedestal. No tornozelo da estátua branca agora um risco dourado aparecia, como um adorno de ouro. Voltei a alterar a matiz e percebi que a pintura só aparecia quando se o ponto de interrogação estivesse verde.

Liguei para Alfred dizendo que não poderia voltar à mansão hoje, teria de me consultar com a única pessoa que era realmente conhecedora das tradições e símbolos na Grécia Antiga. Lavei o rosto, tentando ficar mais apresentável antes de vestir novamente a armadura. Afinal, não poderia aparecer com aquela aparência desleixada na frente da Princesa de Themyscira.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

¹ Arma usada em antigas artes marciais no leste da China. Mais ou menos como esse par: http://api.ning.com/files/i*tFWQTF2R*q6eE9BqlmVlHIl3mQqbOWc5yt62QADbi2YZEPuNv98d9*H8hgaS8WRRuzUJbA6lyKsPd9aqKUWL6ILV1DRjZ5/dark_dragon_sai_set_540.jpg
—---------
Então, o que acharam? Alguma ideia sobre a pista do Charada? Vou dar uma dica: a pista do Charada e o nome da "nova vilã" são elementos que devem ser analisados de forma conjunta. ( Eu me achando A Moriarty, hahaha)
Ah! E sobre a desconfiguração da página da história, me avisem se isso também está acontecendo com vocês.
Não esqueçam de comentar e bom feriado!
—-----
E, claro, um agradecimento especial para a YuukiKuran que ainda acompanha essa história, te adoro, amore ;3