Mione entrou no seu apartamento cinco minutos depois de sair da doceria se despedindo apressada de John e quase correndo pra casa. Encontrou Rony com a mochila ao seu lado no sofá e brigando com o cadarço dos velhos tênis.

Ele se virou e a olhou quando ela bateu a porta a suas costas. Ignorou a presença dela e terminou de amarrar os cadarços.

- Obrigado pela hospitalidade Mione – ele não parecia agradecido – Preciso ir.

Mione cruzou os braços tentando ignorar a vontade de chorar que surgira derrepente.

- Por quê? – ela perguntou se referindo a partida repentina.

Ele ignorou a pergunta e caminhou para a porta, quando chegou ao lado dela, ela repetiu.

- Eu só quero o porquê – sua voz transparecia sua raiva – Porque Ronald?

As lágrimas já fugiam dos olhos de Mione. Era a hora. Ele sabia. Ela sabia. Era a hora da verdade. Era a hora de Ronald Weasley por as cartas sobre a mesa.

Ele soltou um sorriso debochado. Surpreendendo a si mesmo. Isso não era típico dele. Ele não era assim. Mas quem se importava?

Ele voltou ao sofá. Jogou a mochila de qualquer jeito e disse:

- Eu te amo Mione. Eu te amo tanto que dói. Por isso eu preciso ir embora.

Mione não evitava mais as lágrimas.

- Você é mesmo um idiota Weasley! Eu te dei todas as chances, eu esperei por tanto tempo! Eu até beijei você e você não fez nada! Depois você chega aqui todo amigável e espera que eu ainda esteja esperando? Que só porque disse uma palavra qualquer eu vou correr para os seus braços? Tá enganado Roniquinho!

Mione chorava e não dava a mínima. Ela estava com raiva. Com raiva dele por ser tão lento em perceber e principalmente em falar de seus sentimentos. Por fazê-la passar por aquilo e por tantas outras coisas antes.

Mas principalmente raiva de si mesma por querer correr pros braços dele e esquecer qualquer outra coisa no mundo. Por que eu te amo, vindo dele, nunca seriam palavras qualquer para ela. E finalmente por ela ainda amar o legume insensível do Ronald Weasley.

Ela se virou para a porta e saiu rápido sem dar chance de Rony esboçar uma reação.  Saiu do elevador correndo e deixando os outros ocupantes curiosos, estava confusa.

Porque ele tinha de fazer aquilo? Surgir derrepente mudando tudo?,ela pensou e passou os dedos sobre os olhos secando as lagrimas. Estava tudo bem antes dele chegar. Ela trabalhava. Tinha amigos. E tinha John, que sempre demonstrara interesse por ela. Os pensamentos se sucediam rápidos. Eu estava feliz. Não estava?

Ela chegou ao seu destino. Uma pracinha deserta meio escondida entre as arvores. Um pequeno chafariz que já não funcionava estava no centro e Mione se sentou em um banco próximo o olhando.

Não, seus pensamentos responderam.

Não estava. Apesar de ter conseguido tudo que buscava, ela sentia um vazio. Todos os dias desde que se mudara. Um vazio que só sumira três dias atrás quando um ruivo chegou vomitando em seu tapete.

A morena respirou fundo, controlando por fim as lagrimas, secou o rosto novamente com o dedos e fechou os olhos. Um vento morno rondava ali. Era agradável e ela sentiu os batimentos de seu coração diminuírem a um nível saudável.

Não era a toa que ela havia ido pra li. Descobrira aquele lugar pouco depois que se mudara, enquanto caminhava pelas ruas com o objetivo de conhecer a região. Se encantara assim que o vira, e desde então, sempre que sentia só, com saudades de casa, ia para lá. Percebeu que muitas das vezes em que estivera ali fora para pensar nele.

Acreditar que a distancia havia feito seus sentimentos mudarem ou diminuírem havia sido tolice, concluiu, afinal ele sempre esteve presente. Nos pensamentos dela. Nos desejos de reencontro. No seu coração.

- Você o ama, não é?

Hermione abriu os olhos espantada. John estava ao seu lado e ela nem havia percebido a aproximação dele. Ele lhe deu um sorriso confortador e continuou.

- Agora eu entendo – disse ele também se sentando.

 - Entende o que? – perguntou Mione arrumando os cabelos, tentando disfarçar o estado em que se encontrava.

- Por que você nunca me quis. Era ele. O tempo todo. Sempre foi. Você queria ele.

Ele deu um sorriso tristonho.

- Sinto muito – a voz da garota saiu meio chorosa.

- Deve sentir mesmo. Deixando um cara como eu passar.

Ela olhou para ele e viu que ele sorria brincalhão.

- Está tudo bem – confortou ele, novamente – Você vai fazer o que é certo.

- Não sei – disse ela duvidosa, ele continuava a sorrir.

- É claro que vai, afinal você é Hermione Granger.

Ronald ficou só na sala de Hermione se achando um idiota.

- Mione tem alguém. Ela tem alguém – ele sussurrava pra si mesmo.

O coração dele rugia ante a descoberta e ele sentiu o corpo arriar sobre o sofá. Era ridículo imaginar que Mione sentisse o mesmo que ele. Afinal ela era a princesa da inteligência e beleza e ele apenas o bobo da corte. Mas e tudo que houvera entre eles? E o beijo?

Ele se odiou por não ter resolvido tudo antes.

- Babaca! Trasgo das Montanhas! Retardado! Imbecil! ... – ele começou uma lista de xingamentos contra si próprio.

Depois de alguns minutos de ofensas ele percebeu que seu estoque havia se esgotado e recostou a cabeça no sofá, com uma sensação profunda de perda. Sua mochila ainda estava ao seu lado. Ele a olhou e olhou para a porta.

- Está na hora – pensou – A hora de eu por um fim a isso.

Ronald pegou a mochila de cima do sofá e se encaminhou a porta.