Apenas Amor - Romione escrita por Anne Almeida


Capítulo 22
A Verdade




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Hermione apertou as pálpebras com força, mas quando abriu os olhos ainda estava no mesmo lugar.

O cômodo era a sala de um antigo chalé. A decoração antiga estava empoeirada e o papel de parede, que devia ser rosa, mas estava creme, descascava em muitos cantos.

Vários porta-retratos estavam expostos, mas do local onde estava não conseguia se focar em foto alguma. Não podia se mover e muito menos falar.

Ela se sentiu tola. Como pudera permitir que o que deveria ser uma reunião de trabalho de tornasse aquilo? Como não conseguira perceber o que acontecia?

Pensou em Ronald e concluiu que ele estava começando a estar mais certo que elaultimamente. Ele a alertara, e por mais que os motivos dele fossem todos relacionados ao ciúme, no fim, ele estava com a razão.

Tentou ser racional e se forcar nas cordas que prendiam seus punhos e pés, assim como na tira de tecido que fora atada a sua boca. Tentou comprimir as mãos para que elas saíssem do aperto, mas o nó era bem feito e ela apenas conseguiu aumentar o machucado que já começava a surgir em sua pele alva.

Que droga!,pensou.

Olhou pela pequena janela e conseguiu vislumbrar uma floresta do lado de fora. Ela tinha certeza que não estavam mais nos EUA. O tempo que passara desacordada fora o suficiente para que ele se distanciasse o máximo possível de qualquer pessoa que pudesse ajuda-la.

Forçou a corda dos pulsos novamente, mesmo sabendo que só se machucaria mais, mas ela não conseguiria ficar ali sem fazer nada.

Foi nesse momento que John entrou. Trazia dois pratos e copos, que levitavam através de algum feitiço que ela ignorou.

Ele teve que baixar o olhar, para lançar a garota amarrada a cadeira aquele sorriso que mostrava todos seus dentes e dizer empolgado:

- Olá querida. Trouxe comida para nós.

Hermione tentou falar algo, mas o pedaço de pano não permitiu.

- Ah, sim, isso incomoda não é? Deixe-me ajuda-la.

Ele pôs os objetos que levitavam sobre uma pequena mesa na lateral da sala e se aproximou. Ela lhe lançou um olhar irado ao qual ele correspondeu sorrindo novamente.

As mãos grandes, porém esguias, foram em direção à nuca dela, onde estava o nó, mas antes de desata-lo ele sussurrou em seu ouvido.

- Só um aviso. Não adianta gritar. Ninguém lhe ouvirá. Já lancei o abafiato pela casa, e mesmo se não tivesse lançado, ninguém te ouviria, pois não há uma só pessoa a quilômetros daqui.

Ela percebeu pelo canto de seu olho que ele sorria ainda, mas esse sorriso, diferente dos que ele lhe lançara anteriormente, era assustador.

A pressão em seus lábios se desfez e faixa caiu sobre seu colo. Ela não gritou. Não porque planejasse obedece-lo, mas sim porque sabia que realmente não serviria de nada.

Ele se afastou e arrastou a mesa até que ela estivesse na frente da garota e então arrastou uma cadeira para si. Ficou sentado em frente a ela. Separados apenas pela mesinha.

- Espero que goste do que lhe trouxe - disse ele olhando os pratos.

Hermione fitou a refeição apetitosa que lhe era servida e depois olhou para ele.

- Eu não quero.

- Não dificulte as coisas querida. Estou lhe ajudando.

- Ajudando? – Hermione sentiu a raiva se apossar de seu corpo – Me ajudando? Não! Você está me sequestrando!

- Eu estou te dando uma nova chance meu bem...  – ele respondeu magoado.

- Uma nova chance? – ela perguntou confusa.

- Isso mesmo – ele lhe deu um sorriso curto – Uma nova chance de fazer a escolha certa.

Ela sentiu a compreensão do que ele falava, mas não conseguia acreditar.

- Você me sequestrou para me fazer escolher você? – ela estava perplexa.

- Isso meu bem – o sorriso se alargando – Esperta como sempre.

- Você me sequestrou para tentar me conquistar?

Ele se levantou da cadeira, demonstrando certo incomodo.

- Bem, sim e não.

Hermione não entendia mais nada.Ele começou a andar pela sala.

- Há algumas coisas que você não sabe – ele pareceu temeroso em continuar – Sobre mim.

- Você mentiu para mim?

- Não. Eu nunca menti para você! Jamais mentiria! – ele parecia desesperado para que ela acreditasse.

- Então... – ela deu a deixa para que ele se explicasse.

- Você lembra quando contei sobre a morte de meus pais?

- Sim – elabalançou a cabeça afirmativamente – eles foram mortos por Comensais...

- Não! – ele berrou a assustando – Não foram Comensais Mione. Foram Aurores. Eles invadiram minha casa! Acusaram meus pais de servir a Voldemort e depois os mataram!

Hermione estava surpresa, mas sua mente racional continuava funcionando.

- E eles serviam a ‘ele’?

- Bom, talvez... – ele parecia confuso – Mas isso não dava o direito a ninguém para mata-los!

O estado dele variava de acordo com o que falava. Hermione estava cada vez mais assustada.

- Então eu fui morar com meu avô, mas ele era idoso, não tinha mais muitos anos de vida e me deixou – ele falava quase que para si mesmo, como fizera antes na doceria – E eu fiquei só. Tive que aguentar aquela escola durante três anos sabendo que ninguém me esperaria sair.

Hermione até sentiria pena se não estivesse tão assustada. John andava de um lado para o outro, se concentrando em seus pensamentos.

- Imagina minha surpresa quando sai e descobri que havia alguém me esperando... – ele andou até perto dela novamente – Não apenas uma pessoa, várias – ele sorriu estranhamente – Meu avó havia deixado um legado para mim e eles me repassavam.

John voltou a se sentar, mas ainda estava focado em si mesmo.

- Eles me levaram ao Estados Unidos, me ajudaram a entrar para o Ministério e desde então eu os tenho ajudado...

- Você é um traidor! – Hermione soltou antes que pudesse se refrear.

- Não querida, eu sou totalmente fiel, mas não aquele Ministério – ele tentou lhe dar um sorriso doce, mas Mione já estava cansada de seus sorrisos – Todos nós escolhemos um lado. O meu é apenas diferente do seu.

O rapaz, que havia se voltado para a garota quando ela falara, continuou a observa-la.

- Eu fiquei naquele Ministério por anos, buscando qualquer informação que pudesse ser útil, mas as informações realmente importantes nunca chegaram a mim... pelo menos até você chegar...

Hermione também se focou no rapaz.

- Apesar de trabalhar fazendo as mesmas tolices que eu, você tinha acesso ao alto escalão. Quem proibiria Hermione Granger de saber o que acontecia de verdade? Então me aproximei de você, e você teria sido apenas uma ótima fonte, mas...

John passou as mãos pelos fios loiros num gesto de concentração e depois olhou Mione nos olhos.

- Mas então percebi que podia ser mais. Nós podemos ser mais Hermione. Basta você querer. Você pode ME escolher. Nós podemos fugir!

- Fugir? – Hermione estava mais surpresa que nunca – Você está louco?

O rapaz deu uma gargalhada breve antes de responder, aumentando o assombro da morena.

- Não é loucura – ele explicou – Ontem, no Fogão Encantado, seu ‘amiguinho’ Weasley perguntou se já nos conhecíamos e isso me fez pensar que talvez ele saiba demais, andando com Aurores por ai, e isso com toda certeza não é bom. Se meu passado for revelado ninguém mais confiará em mim, o neto e filho de Comensais.

- Então você vai fugir?

- Mione, já fiz coisas das quais não me orgulho, mas também não me arrependo. Se descobrirem, estarei numa situação complicada, MUITO complicada.

- Você é um bandido!

- Não meu amor! – ele soltou fazendo Hermione se calar.

Amor? Ele a pegara de surpresa.

- Isso mesmo, não sei como, mas aconteceu, e você... você... você devia sentir o mesmo, não é?

Hermione não sabia o que dizer.

- Você devia ser minha – ele voltava a falar consigo mesmo, sussurrando–Você devia me escolher, não aquele idiota Weasley.

Então ele voltou a olha-la e esticando a mão tocou o rosto de Mione, que estava confusa demais para saber se devia sentir medo.

- Por isso estamos aqui. Eu e meus parceiros marcamos de nos encontrar aqui esta noite, mas eu vim antes, com você, para te fazer pensar. Nós podemos ficar juntos Mione – ele quase implorava.

Era estranho para ela ver John agindo daquela forma, tão diferente de como sempre agira. Finalmente mostrando quem era. Então ela juntou toda sua coragem para respondê-lo.

- Nós nunca ficaremos juntos John.

Ele afastou a mão do rosto dela. O rosto contorcido em ira. Se levantou e sorriu novamente antes de falar.

- Você prefere aquele ruivo panaca não é? Mas sabe o que ele faz enquanto você está aqui? Ele deve estar sentado no sofá da sua sala esperando você chegar. Bancando o idiota! Não sentirá sua falta até a noite chegar e até lá eu já estarei longe! E você? Você terá que sumir! – Hermione sentiu o sangue gelar enquanto ele continuava - Eu não queria isso. Mas você me obrigou.

John não hesitou antes de lhe dar as costas e abandonar o lugar.

Hermione permaneceu lá presa. O tempo escorrendo lento e rápido, pois, por mais que ela odiasse estar como estava, temia o que poderia vir em seguida. Então esperou e esperou.

As vezes ouvia ruídos nos outros locais da casa, mostrando que John ainda estava lá. Fazendo sabe-se lá o quê. Talvez planejando sua morte. E a luz que entrava pela janela começou a diminuir, revelando o fim da tarde.

Depois do que parecia uma eternidade,Jhon voltou a sala.

- Meus amigos não devem tardar – ele lhe sorriu e ela sentiu que o odiava qualquer sorriso dele – E então decidirei o que faço com você.

Ele se sentou confortavelmente em uma poltrona velha e puída próximo a ela. Foi quando ela ouviu. Ruídos leves vindos de fora. Mais bandidos chegando.

Foi nesse momento que Hermione percebeu que seus sentimentos não eram mais confusos. Ela sabia muito bem o que sentia. Raiva.Raiva daquele a quem ela se dispusera a oferecer sua amizade. E medo. O mais puro e simples medo.


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