Sirius acordou às 11h00min no sábado de manhã com o barulho do bico da coruja, Elkes, batendo no vidro da janela do seu quarto. Ela carregava duas cartas presas em suas pernas. Sirius levantou-se de sua cama, bocejando, foi até a janela e a abriu para que Elkes entrasse. A coruja estava gelada e havia alguns pequenos flocos de neve em suas asas, sim, estava nevando. Ele desamarrou as duas cartas e as colocou sobre a mesa, pegou a coruja e a levou até o quarto de seu irmão, que estava dormindo. Tentando fazer o mínimo de barulho, entrou no quarto e colocou Elkes dentro da gaiola, dando a ela quatro petiscos.

– Sirius? O que está fazendo aqui? - seu irmão perguntou meio sonolento, ele estava com o rosto amassado.

– Vim devolver sua coruja... - respondeu se dirigindo a porta do quarto.

– Saia daqui, estou com sono - disse Régulo rabugento e colocou a cabeça novamente no travesseiro, voltando a dormir.

– Com todo prazer - murmurou, saindo do quarto e voltando ao seu. O quarto de Régulo dava arrepios em Sirius, para um garoto de 11, quase 12 anos, aquele era um quarto totalmente medonho, as Trevas dominavam o local.

Já dentro de seu quarto, Sirius trocou seu pijama quente por uma calça jeans preta, um tênis da mesma cor, uma blusa de manga cumprida branca e por cima, um casaco de moletom marrom, uma típica roupa para o dia do Ano Novo, hoje era 31 de dezembro de 1975; No próximo ano, 1976, Sirius faria dezesseis anos dia 16 de abril.

O Ano Novo na família Black não era nada de interessante, normalmente o elfo, Monstro, preparava um jantar com todo tipo de pratos "chiques", adequados à sociedade bruxa elevada, como dizia Walburga. E sem faltar, obviamente, whisky de fogo. Os quatro componentes da família se sentavam a mesa e comiam sem trocar uma palavra. Quando o relógio anunciava que era meia-noite, todos bebiam o whisky sem ao menos se abraçar ou qualquer coisa do gênero.

Sirius pegou as duas cartas de James e Remus em cima da mesa e se sentou a beira de sua cama para lê-las. Abriu primeiro a de Remus, era pequena e apenas comentava o que Sirius havia dito na outra carta. Ao final da sua carta, ele escreveu que tinha coisas importantes a dizer, mas que preferia falar cara a cara, quando estivesse em Hogwarts. Sirius largou a carta de Remo ao seu lado e pegou a de James. Esta dizia coisas banais, por exemplo, falava que Sirius era um tarado, e ele era mesmo, e que não conseguia ficar um dia sem se pegar com uma garota, disso Sirius discordava, pois já estava há quase duas semanas apenas olhando para o corpo de outras garotas que passavam por ele e ainda não conseguira se aproximar da sua vizinha, (que finalmente tinha revelado seu nome), exceto do beijo no café, mas aquele fora um beijo falso.

Após terminar de ler a carta de James, ele foi ao banheiro para fazer sua higiene matinal. Não teria necessidade de responder as cartas, pois logo eles, Sirius, Remo e James, se encontrariam em Hogwarts.

Desceu para a cozinha e preparou uma torrada para comer, estava de estômago vazio.

– Bom dia, Sirius - seu pai adentrou na cozinha com o jornal, Profeta Diário na mão.

– Bom dia... - o filho respondeu já deixando o local quando o pai perguntou.

– À volta para Hogwarts é nesta segunda?

– É.

– Esteja pronto de manhã, eu levarei você e Régulo à estação.

– Você?

– Sim, sua mãe vai precisar de Monstro e eu os levarei. Como eu disse, acorde cedo, pois não quero me atrasar para o meu compromisso depois - Orion disse com os olhos no jornal.

– Nem se incomode, acordarei antes de você - Sirius respondeu irônico antes de sair definitivamente da cozinha.

Foi ao banheiro e escovou os dentes. Depois se dirigiu a porta da frente da casa e saiu para a rua, respirando o ar frio de inverno. Ele tinha planos para essa tarde, antes da "festa" entediante da família Black.

Já era 13h17min da tarde. Caminhou até a casa ao lado e passou pela caixa de correio desta, atravessando o gramado e tocando a campainha da porta.

– Boa tarde - um homem alto de cabelos castanhos e olhos verdes atendeu a porta com um sorriso.

– Boa tarde, er... a Grace está? - ele perguntou, esperando que a garota atendesse a porta e não o pai, ou qualquer coisa que fosse dela - Sou Sirius, da casa ao lado, amigo de sua...

– Filha, sou David - ele completou apertando a mão de Sirius - ela está lá em cima em seu quarto. Grace! Grace desça aqui, você tem visita! - ele gritou a chamando.

– Já vou! - ela respondeu do andar de cima.

O pai dela continuou parado ali na porta a esperando também.

– Então, - Sirius quebrou o silêncio - me desculpe pela minha mãe no dia em que você e sua família foram a minha casa e ela os recepcionou mal... eu fiquei sabendo disso depois, me desculpe, ela é muito mau humorada - ele se desculpou por sua mãe sinceramente, e isso fez com que a expressão de David mudasse para uma mais simpática. "Acho que consegui um ponto a favor de mim" pensou Sirius.

– Quem é? - uma voz feminina ecoou da escada.

– Um amigo seu, filha - o pai respondeu de volta.

– Mas... - ela chegou à porta - Sirius? - fez uma careta.

– Tudo bem, Grace? - Sirius perguntou cínico.

– Er... bem, depois que você conversar, quero que você vá lavar a louça, ok mocinha? - o pai disse para a filha - Até mais, Sirius.

– Até - ele respondeu até que o pai sumisse da vista dos dois.

– O que você faz aqui? - a garota perguntou bruscamente avançando um passo e fechando a porta de casa atrás dela.

– Acordou de mau humor hoje, é? - Sirius continuou parado no mesmo lugar, ficando bem próximo dela e podendo sentir seu aroma de morango, isso o deixou com mais vontade agarrá-la ali mesmo.

– Você não respondeu minha pergunta - Grace cruzou os braços e o encarou.

– Eu vim desejar Feliz Ano Novo a você e a sua família.

– Jura? - ela perguntou desconfiada.

– Juro.

– Obrigada, então um Feliz Ano Novo a você e sua família também.

– Obrigada - o garoto continuou ali parado a encarando.

Grace sentiu como se tivesse recebido uma descarga elétrica com aqueles olhos cinzentos a olhando. Ela desviou o olhar e disse:

– Ok, boa tarde - virou-se para abrir a porta.

– Ah... boa tarde - Sirius piscou os olhos um pouco e se despediu dela, virando-se para voltar para casa - Ei, essa foi nossa segunda conversa civilizada que não terminou com um "foda-se", sabia?

– Sério? Palmas para nós então - era riu e entrou em casa.

Sirius voltou a seguir seu caminho com um pequeno sorriso no rosto.

Quando fechou a porta, Grace ficou ao lado da janela espiando Sirius voltar para casa sem que este percebesse. Quando ele estava na calçada, uma garota passou, ele a olhou de cima a baixo e falou alguma coisa, esta riu e deu as costas para ele.

– Idiota - murmurou Grace indo para a cozinha lavar a louça.

********

O Ano Novo já havia passado. Era uma segunda-feira de manhã, dia de voltar para Hogwarts. Sirius estava no banheiro, já vestido, terminando de escovar seus dentes. Quando abriu a porta do banheiro, Monstro estava passando segurando alguns lençóis. Ele apenas olhou para Sirius carrancudo por um segundo e depois continuou andando.

– Eu acordo de manhã e é com isso que eu tenho que dar de cara - o rapaz murmurou mais para si mesmo do que para o elfo.

Chegou no seu quarto, pegando sua pequena mala já pronta e desceu para o primeiro andar para esperar seu pai e seu irmão. Largou a mala no hall de entrada, abriu a porta da casa e saiu. Nevara a noite, e a rua estava coberta de neve. Olhou para lado e viu Grace, também fora de casa, tirando a neve de cima do transporte trouxa, talvez de seus pais, com um objeto que parecia uma vassoura, "10h da manhã e ela já está de pé", Sirius pensou.

– Já trabalhando? - ele perguntou alto, chamando a atenção dela.

Ela olhou para trás para ver quem era e respondeu:

– E você, acordou tão cedo por quê? - fez um pergunta irônica ao ver que era Sirius.

– Tenho compromisso... - ele foi caminhando até ela - estou indo para minha escola.

– Como assim? - ela perguntou, continuando a limpar a neve do carro.

– Eu estudo numa escola interna, um pouco longe de Londres. Tenho duas semanas para voltar para casa e passar o Natal e Ano Novo.

– Você não estuda aqui em Londres? Então não terei você me perturbando por um grande período de tempo, sem querer ofender, é claro.

– Não se preocupe, minhas férias são nos mesmos meses que as suas, nós vamos nos encontrar bastante - ele ironizou.

– Como você sabe quando são as minhas férias? - ela virou para ele e o encarou.

– O período de férias é igual em todas as escolas de Londres, e, por coincidência, o período das minhas férias também - ele deu de ombros.

– Hm, então, como é estudar numa escola interna?

– Nada demais, a única coisa de diferente é que você não volta para casa no fim do dia, você dorme e come lá - ele estava ao lado dela.

– É tipo uma escola para alunos bagunceiros?

– Er... - Sirius ficou meio confuso, ele não podia dizer que era Hogwarts onde estudava.

– Desculpe a pergunta - ela baixou os olhos, um pouco envergonhada.

– Não, tudo bem, você ta certa, é para alunos tipo bagunceiros... - ele riu um pouco para disfarçar sua expressão anterior.

– Tipo? Então você quer dizer badboys? - ela virou-se de frente para ele.

– É, badboys... - ele repetiu a palavra, pensativo - e sabe o tipo de comportamento de badboys?

A garota mordeu o lábio inferior, mas continuou parada. Sirius olhou para os lados e após certificar-se de que não havia ninguém da sua família por perto, agarrou a cintura da garota com as duas mãos e puxou-a para perto de si para um beijo.

Grace ficou em estado de choque. Tudo fora muito rápido e quando percebeu o que estava acontecendo, empurrou Sirius, separando seus lábios dos dele. Mas quando o empurrou, ele tropeçou e caiu para trás, puxando-a junto. Os dois estavam caídos no chão e ela estava em cima dele com os olhos arregalados.

– Seu... seu... - ela falou tentando formar uma frase - seu tarado! O que você acha que estava fazendo, hein?! - ela se levantou, nervosa.

– Eu só estava... - Sirius continuava no chão, confuso com a reação dela.

– Não responda! E nunca mais fale comigo! - ela foi a passos largos e rápidos até a porta de sua casa, levando consigo o objeto para limpar o carro, e entrou.

Sirius se levantou limpando a neve de suas roupas com a mão. "Mas como?! Ela estava na minha..." ele pensou. Deu um suspiro e voltou para sua casa, para esperar seu pai e seu irmão; Às 10h23min, os três, Sirius, Régulo e Orion, aparataram da casa Black para um local próximo a Estação King's Cross. Era um pequeno beco por onde ninguém passava, um ótimo local para aparatar sem nenhum trouxa ver.

Seguiram para a Estação até a Plataforma 9¾. Os dois irmãos se despediram casualmente do pai e assim atravessaram a parede para a plataforma.