P.O.V James Potter

Eu podia estar no quarto com Scorpius e Alvo, mas minha cabeça estava longe, procurando algum sinal da minha deusa loira. Pode ser difícil para qualquer um entender (acredite, é difícil para mim), mas eu amo essa garota. Enquanto escutava vagamente o que eles diziam, e ria, eu pensava em como a faria acreditar em mim. A grifinória mais sonserina que eu já tinha conhecido.

Eu andava diferente nos últimos tempos. Mais responsável, talvez. Tinha mais de dois meses que eu não corria atrás de nenhuma garota, mesmo que fizesse de tudo para todo mundo pensar que continuava na mesma. Mas Dominique não acreditava. Ela nunca acreditava. Mas, para mim, era de longe a única. Eu sei que disse muitas coisas que não devia, e que aquele tapa foi merecido. Mas todo mundo precisa de uma segunda chance, certo? Antes que eu tivesse um plano realmente formado, o pontinho escrito “Dominique Delacour” saiu de uma da torre da Grifinória, seguindo para algum lugar que eu ia descobrir em breve. Tinha que sair dali.

–Agora? Nada. Apenas seja tão incrível quanto consiga, e ganhe a garota. - eu olhei para Alvo, tentando passar a sensação que tinha certeza que Scorpius conseguiria. - Hum, o Scorpius entende. Vocês me deem licença. - comecei a sair do quarto, e depois mudei de ideia.- E, Malfoy- chamei, e ele levantou o olhar. - é agora ou nunca. Essa é sua melhor chance. Vejo vocês amanhã, aprendizes!

Era agora ou nunca para mim também.

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Algum tempo depois, eu encarava a porta de uma sala vazia. Não sabia por que ela estava ali naquela noite, mas reunia minha coragem para entrar. Oh, céus, o quão estúpido era isso? Tinha medo do que poderia encontrar lá dentro. Respirei fundo mais uma vez, e abri a porta.

Sentada em cima de uma mesa, perto da janela, ela balançava os pés. Parecia ainda menor. Igualzinho como quando era criança, com um suéter de coraçõezinhos escorregando pelo ombro. Sem o uniforme de Hogwarts, ou sem suas roupas super produzidas, ela parecia ainda mais a minha Dominique. Não exatamente a mais bonita versão de si mesma, mas sim a mais verdadeira. O cabelo estava preso num coque desleixado, como sempre que ela usava quando estava sozinha e se irritava com o comprimento.

Eu devi ter batido em alguma mesa enquanto tentava chegar até ela.

-Tem alguém aqui?- perguntou, tentando fazer a voz sair confiante como sempre. Virou-se para trás, a varinha na mão, os olhos azuis faiscando. - O que está fazendo aqui, Potter?

Eu não disse nada, só me aproximei ainda mais. Ela não recuou quando me sentei à mesa ao seu lado, apenas ergueu uma sobrancelha, irritada e desconfiada. Levantei a mão e desfiz o coque dela. Nicki prendeu a respiração por alguns segundos e fechou os olhos.

-Eu não quero falar com você. Por favor. - foi o ”por favor,” que quase me fez ir embora. Mas mesmo assim não fui. - Potter...

Eu podia dar qualquer uma das minhas respostas engraçadinhas. Era realmente bom nisso, na verdade. Só que dessa vez, eu faria diferente. Eu faria aquela conversa dar certo, sendo para algo bom ou ruim. Era tudo ou nada.

-Eu só quero conversar.

-Você não tem o que conversar.

Peguei as suas mãos e ela olhou pela janela.

-Só me ouve, está bem? Se quiser me mandar embora depois, me mande. Eu até te deixo me bater. Mas por favor, Nicki, me escuta.

Dominique assentiu, vagarosamente, depois de um minuto tenso.

-Só não me machuque. - ela disse, quase que inaudível.

Foram mais aquelas palavras que me cortaram por dentro. Embaixo da armadura de confiança e beleza que ela se escondia, existia uma garota normal. Eu, mas do que todo mundo, devia saber.

-Nunca quis fazer isso.

-Apenas fale, James.

Ela encarou meus olhos por alguns segundos antes de puxar as mãos e cruzar os braços. Tudo bem. Eu consigo fazer isso.

-Eu sei que você não tem razão para acreditar em mim, não depois do que eu fiz.

-Não peça mais desculpas.

-Eu deveria ter feito tanta coisa enquanto podia. Acho que nunca parei de me culpar. Estou sempre pensando no que minha vida podia ser agora. É cedo, mas... esse ano nós dizemos adeus a Hogwarts. Às vezes eu penso que nada vai dar certo. E sempre tem você. Essa... esse sentimento. Eu não sei o que é, mas é o que tem me impedido de sair com outras garotas, como fiz por tanto tempo. O que tem me impedido de dormir, ou de pensar em qualquer outra coisa direito. Eu fiz tantas coisas erradas com você. Na verdade, fui todo errado com você, Nick. Eu só peço uma outra chance. Se eu estragar tudo, pode me mandar embora... De novo. Eu vou. Porque só quero você feliz, de preferência comigo, mas se não der... Só mais uma chance, Nicki. Só uma.

Ela ainda me encarava sem mudar nada na sua expressão.

-É, eu sei. Talvez nós sejamos simplesmente errados.

Eu respirei fundo mais uma vez. Já que estava na chuva, tinha que me molhar. Me aproximei dela e a beijei. Não como nas últimas vezes, escondidos em salas, cantinhos de festas ou até na Sala Precisa mesmo. Delicadamente, sem segundas intenções (algo que eu nunca achei que fosse capaz de fazer).

-Isso parece errado?

Ela riu, mordendo o lábio.

-Não, isso parece clichê.

-Ah, vamos lá. A vida é um clichê.

-Então talvez nós devêssemos reinventa-la- Dominique diz, começando a se levantar- Last shot*, Potter.- ela apontou para mim e mandou um beijinho.- Amanhã, nove em ponto. Nem pense em se atrasar. - começou a sair da sala e depois voltou- E só no Três Vassouras, nada de Madame Padfoot, James Sirius.

Eu pensei em fazer uma carranca, mas me rendi.

-Tudo bem, a senhorita que manda, Dominique. Fico feliz com o Três Vassouras, então.

-É bom mesmo.

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-Ela está atrasada. Dez minutos.- eu disse a Fred, quando ele veio me perguntar o que eu ainda estava fazendo ali. Ele estava levando alguma garota para Hogsmeade, mas pude captura-lo encarando Molly e seu namorado entrando numa carruagem e partindo. Sei bem no que isso vai dar.

Fred deu uma gargalhada e bateu no meu ombro.

-É de Dominique que estamos falando. Ela é a Rainha dos Atrasos. Gosta de ter todo mundo esperando por ela. Você devia saber disso.

-Eu sei disso, Fred. Mas não vou ficar acostumado com isso. - respondi, levemente irritado. - E se ela não vier?

-Então ela tem meu respeito- ele disse em tom de brincadeira, mas mesmo assim eu parei e o encarei, sério.- Tudo bem, James, eu estava brincando. Retiro o que disse. - ele ia dizer mais alguma coisa quando sua acompanhante deu um suspiro nervoso. - Tenho que ir. Paciência, meu caro Potter.

E, como sempre, ela chegou deslumbrante na hora errada.

-Então alguém estava nervoso, hum?

Fred sorriu para ela e saiu dali o mais rápido possível. É claro que eu continuei parado sem falar nada, então Dominique continuou.

-Isso quer dizer que você pensou que eu fosse te dar um bolo?- ela se apoiou numa das rodas. Não que eu geralmente reparasse nas roupas das garotas (a não ser que fossem bem curtas ou chamativas, sabe como é), mas ela era diferente. Dessa vez, usava uma saia clara, com meia calça e um casaco estilo high school. Não me pergunte como eu sei isso, só posso dizer que 10% do que Lily diz realmente chega ao meu cérebro. E Nicki estava sem salto, o que era uma surpresa.

-Mais ou menos- admiti, enquanto abria a porta.- Primeiro as damas.

Dominique me examinou por um longo tempo antes de entrar.

-Eu não ia te deixar esperando, James. Promessa é dívida, e eu gosto de cumprir as minhas logo.

-Então só está saindo comigo por obrigação, Domi?

-Na verdade, não. Mas essa será a resposta que eu vou dar a todo mundo- ela piscou, rindo.

-É bom saber disso- eu respondi, e ela deu um sorriso.

-É bom que seja mesmo.

-Você sabe que é, Dominique.

-No fundo, eu sei.

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P.O.V Dominique

O que eu era? Burra, estúpida, idiota. Depois de tudo, eu tinha aceitado dar a décima última chance para James. Tudo bem, dessa vez seria a última mesmo. A maior parte desse último ano tinha sido nós dois em encontros escondidos. No castelo, durante as férias, até mesmo em Hogsmeade. Iriámos nos formar e se tinha alguma mínima chance de dar certo, era agora.

Mas minha memória ainda lembrava-se de tudo que ele havia feito. Todas as desculpas, palavras bonitas, e então quando conseguia o que queria... Tinha que admitir que ele estava melhorando, mesmo depois do quase xingamento algumas semanas atrás. Nós éramos dois loucos, e essa era a última chance da loucura arrumar um jeito de dar certo.

Me atrasei de propósito sim. Queria que ele soubesse que podia me perder fácil daquele jeito, já que dizia que gostava tanto de mim. Além disso, hoje de manhã eu ainda tive que ajudar Rose. Se ela desse o passo principal hoje, que se resumia a um beijo, poderíamos continuar com meu livrinho de regras, e ela teria o Malfoy nas mãos até o ano-novo. Aposta ganha. E, no fundo, quem sabe ela não entendia que estava apaixonada por Scorpius? Quer dizer, juramentos de ódio? Brigas? Xingamentos? Eu faço isso sempre, baby. E nesse momento estou dando uma chance de verdade ao alvo de todo o meu dito ódio.

-Dominique? Você me ouviu?- James perguntou, passando a mão pelo cabelo. Ele era tão fofinho nervoso.

-Claro que eu ouvi.

-Ouviu mesmo?

-Não.

Ele não pareceu chateado, só deu um sorrisinho e se inclinou para a frente abrindo a porta.

-Eu disse que chegamos.- James desceu primeiro, e ergueu a mão para me ajudar a descer. Eu aceitei, mesmo sem precisar. Também deixei que ele andasse bem mais próximo que o de costume, mas sem colocar as mãos pelos meus ombros ou algo assim. - Um galeão pelos seus pensamentos?

-Um galeão? Muito pouco. - eu reclamei, fingindo um biquinho de irritação e abrindo a porta do Três Vassouras, que ainda estava vazio.

-Ainda não sou um milionário jogador de quadribol, mas quando for, compro o mundo pelo que você está pensando.

Me sentei a mesa, levantando o cardápio.

-Sabe, bem lá no fundo eu gosto dessas suas cantadas baratas.

Foi a vez dele se fingir de ofendido, e começar um daqueles discursos engraçados e cheios de si. Um assunto levou ao outro, até que Rose e Scorpius entraram, sorridentes. Isso a gente não vê todo dia. O Malfoy olhou nada discretamente para cá e James fez sinal de positivo. Rose olhou furtivamente para mim e eu pisquei.

-Qual é a dessa dança, James Sirius?- perguntei, enquanto ele fazia uma dancinha estranha- Pare com isso!- dei um soco leve no seu braço e ele parou.

-Bleh, sua violenta. - ele respondeu, enquanto passava a mão pela área vermelha.

-Mas agora me conte, qual foi a da dancinha? Nunca soube que você e o Scorpius fossem tão amigos assim. - eu perguntei, mexendo no que restava da minha típica cerveja amanteigada.

James bagunçou os cabelos, de novo. Hum, isso quer dizer que ele estava nervosinho. Isso quer dizer fofoca. Tudo bem, Dominique, aquela não era hora de ser curiosa de sempre.

-É hum uma longa hum história. - ele respondeu. - Acho que devíamos pagar a conta.

-O que? Eu disse que seria só o Três Vassouras!

-Vamos lá, Nicki. Só uma voltinha pela vila. Uma passada na Casa dos Gritos, e aí nós voltamos ou vamos embora. –ele fez uma daquelas carinhas fofas para as quais eu não conseguia dizer não.

Eu bati na bochecha dele, porque sabia que ele odiava.

-Tudo bem, James. Só porque você está sendo bonzinho.

Ele levantou e pagou a conta, enquanto eu pegava nossos casacos. Nós rimos enquanto comentávamos sobre o campeonato de quadribol (eu posso ser meio patricinha, mas sou uma jogadora e tanto) e o desespero dos loucos torcedores do Chuddley Cannons, aka Tio Rony e Rose.

E então o assunto Rose/Scorpius voltou quando duas meninas comentavam, chocadas, que haviam visto os dois se beijando. Contive minha vontade de dar pulinhos. Sim, Rose conseguiu. Eu e James estávamos comentando sobre como seria legal ir até a Casa do Gritos, e é óbvio que ele pensou besteira, então eu tentava corrigi-lo enquanto ria.

-Ei, você não disse que era uma longa história?- perguntei, me aconchegando no casaco no caminho de volta as carruagens. Estava bem frio, então deixei que ele me abraçasse de leve.

-Eu... Não acho que seja uma boa ideia, Dominique.

-Qual é, eu sei guardar um segredo quando eu quero.

Ele, como sempre, se aproveitou da situação, dizendo bem no meu ouvido.

-E o que me garante que não vai contar?

-Eu garanto.

-Não acredito.

-James!- eu gritei, mas ele continuou irredutível. Agora mesmo que eu precisava fazê-lo falar.- Tudo bem, não queria ter que tomar uma atitude drástica.- comecei, subindo e me sentando em um dos bancos enquanto ele fazia o mesmo e a carruagem começava a andar.- Se você me contar, eu juro que não conto a ninguém...- mas ele não me deixou terminar.

-Olha, eu realmente tenho que contar para alguém. Mas tem uma condição, Dominique.

-O que é?

-Esse segredo por um beijo. É pegar ou largar.

Minha vontade foi bater nele até tirar aquele sorrisinho do seu rosto.

-Você está se aproveitando disso, James! Não vale!

-Claro que vale!- ele respondeu. –Quer saber ou não?

Eu suspirei e tirei a franja do rosto.

-Você sabe que eu quero.

-Então...- ele começou a falar e eu assenti. Tudo bem, eu topava. - O beijo primeiro.

-O que? Claro que não. O tal “segredo” primeiro.

-Beijo.

-Potter...

-Delacour.

-Eu te odeio- disse, enquanto sentava no banco ao lado dele e começava um beijo. Antes que ele pudesse aprofundar, eu me afastei. - Se quiser mais um pouquinho, fale agora.

-Eu também te odeio. - ele disse, mas sorria. Ah, como senti falta de “eu te odeios” com significados trocados. - O Scorpius e o Alvo fizeram uma aposta valendo a reveleção da paixão secreta ridícula do meu irmão, se o Malfoy conquistasse a Rose. E não só um beijo, sabe, um pequeno “namoro” e pronto.

Se eu estivesse em pé, com certeza ia cair. Me afastei involuntariamente de James.

-Ah, meu Merlin. - disse, pausadamente, com a boca aberta de surpresa. Ele parecia igualmente surpreso com a minha reação.

Era por isso que estava sendo tão fácil, que as oportunidades estavam sendo tantas. Era por isso. Quase como se estivessem trabalhando em conjunto sem saber. Meu Deus. Aquilo era insano. Talvez eu até passe a acreditar em destino depois dessa.

-James.- eu o sacudi de leve.- Acho que temos um problema.

E então contei tudo.

(....)

Estávamos no meu quarto agora, as meninas ainda em Hogsmeade. James não sabia se ria ou se ficava preocupado, sentando na minha cama e brincando com um ursinho de pelúcia.

-O que vamos fazer agora?- ele perguntou, depois de um tempo.

Eu fiz que não sabia, balançando a cabeça. Tínhamos acabado de concordar que devíamos nos afastar, eu sentada na cama de Roxy e ele sentado na minha, antes que aquele amasso de alguns minutos atrás virasse algo mais.

Foi aí que minha cabeça loira resolveu me apresentar sua genialidade novamente. Eu dei um sorriso enorme enquanto a ideia se formava na minha mente.

-James, eu sei o que vamos fazer.

Ele parou de mexer no ursinho, me encarando como se dissesse para que eu continuasse falando.

-Está todo mundo cansado dos dois, não é? As briguinhas, os feitiços idiotas, os gritos, os monólogos sobre como odeiam um ao outro... Nós não vamos contar para ninguém. E vamos fazer os dois ficarem juntos. Muito ódio é sempre amor reprimido.

-É, nós somos a prova disso- ele deu um sorriso quase que malicioso.- Eu não sei se vai funcionar, mas... Vale a pena tentar, minha loira.

-Wow, eu disse para irmos de devagar. Você tem que sair daqui, James. - eu respondi, apontando para porta.

-Por quê? Nós podemos...

-Não podemos nada!- joguei uma almofada nele, e depois corri para empurra-lo da minha cama. - Você quer que dê certo? Então, diminui o ritmo. Por favor. Hoje foi incrível e eu... Eu não quero brigar com você de novo.

James arrumou a camisa, e foi em direção a porta, comigo logo atrás.

-Aceito, só por você, Dominique. Mas nos vemos amanhã?- ele pediu, com uma nova rodada de carinha fofa.

-Ahãm. Sim. Nós vemos amanhã, James. - eu fiquei na ponta do pé para o beijar levemente, mas ele agarrou minha cintura me dando um beijo de verdade.

-Até amanhã, então. - disse, com outro sorriso de fazer meu estúpido coração dar piruetas- E pense mais nessa ideia maluca aí. Se nós podemos tentar dar certo, eles tem chance também.

Eu assenti, e fechei a porta depois que James saiu, correndo para arrumar as camas. Cinco minutos depois, uma Lily pulava enquanto batia com força pedindo para entrar. Rose estava com ela, completamente vermelha e pediu para ir ao banheiro antes de conversarmos. Lily me encarou longamente e disse baixinho.

-Quero saber de tudo sobre um certo Potter. E, espera, conheço essa cara. O que está aprontando, Domi?

Eu sorri para Lily, enquanto Rose voltava.

-Em breve, Lily Luna. Em breve.