P.O.V Rose Weasley, torre da Grifinória

-REPETE ESSA HISTÓRIA, DONA ROSE!- Dominique gritou, super discreta. Depois da nossa discussãozinha, ela milagrosamente apareceu arrependida e blá blá blá. O que não era normal para Dominique, mas convenhamos que nada está normal ultimamente. Eu estou tentando conquista o Malfoy, nada pode ser mais estranho que isso.

Lily estava sumida, então só restava contar para a escandalosa da Dominique.

-Hum, foi só isso.

Minha prima bateu palmas.

-Foi só isso mesmo?

-Foi. Eu perguntei, e ele sorriu e disse “tá”.

-Ele disse “tá”? E sorriu? Isso é ótimo!- ela continuou, prestes a começar um discurso no qual eu não prestei atenção.

Antes que vocês todos me matem, vamos ao flashback. Como o plano não saía do zero a zero, Lily tinha surgido com a ideia de que eu deveria jogar uma indireta.

-Lily Luna, eu não vou fazer isso. Isso é me jogar em cima dele.

-Qual é, Rose. Atualmente, é normal as garotas jogarem indiretas e até convidarem eles para sair.

Dominique ergueu os olhos das unhas que se empenhava em lixar.

-Rose, você devia fazer isso. O pior que pode acontecer e não colar.

-Quem não arrisca, não se belisca.

Eu joguei uma almofada nela.

-Quem não arrisca não pestica, Lily.

Ela mostrou a língua e me mandou ensaiar como eu faria aquilo.

Dois dias depois, eu estava na aula de Transfiguração, ao lado de Alvo, que estava ao lado de Scorpius.

-Vocês vão para Hogsmeade esse fim de semana?- perguntei, tentando não gaguejar e torcendo para Alvo continuar lerdo e não entender a parte do “vocês”.

Ele não notou.

-Claro que vou, Rose! E ainda carregarei o encosto do Malfoy comigo, porque aparentemente ele resolveu variar e não chamar nenhuma garota para se agarrar pelo vilarejo.- antes que eu pudesse, responder, Alvo cutucou Scorpius.- Rose vai para Hogsmeade com a gente. Não proteste, ela é minha prima e vocês precisam se dar bem.

Scorpius virou seus olhos cinzas para minha direção e sorriu.

-Tá.

E agora aqui estava eu, contando isso tudo para uma Dominique empolgada. O último passeio do ano para Hogsmeade estava chegando, e com mais duas semanas, teríamos as nossas merecidas e aguardadas férias de Natal.

Meu prazo estava se esgotando. Que ótimo (notem a ironia, por favor). Por isso, as duas loucas que eu chamo de amigas resolveram que tínhamos que “investir mais forte”, nas ditas como sábias palavras de Dominique.

E agora eu tinha uma grande chance nas mãos.

-Rose, você precisa fazer isso. Sábado. Esse sábado. É agora ou nunca.- Dominique frisou, com as mãos na cintura e toda sua pose autoritária.- Fala sério, Rose. Você já entrou nessa história, o mínimo que pode fazer é tentar terminar decentemente.

-Uau, Dominique, você ajudou- ironizei, sentindo uma dor de cabeça- Amanhã vai ser terrível, eu preciso me trancar no quarto e me preparar psicologicamente.

Dominique começou a pintar as unhas e provavelmente revirou os olhos.

-Não vai esperar a Lily, Rose?

Eu previa um mini ataque da parte da Lily, então a estava evitando. Ela ainda cismava que eu escondia minha paixão por trás do ódio. Românticas, hunf... Por isso, me esconderia até a hora de sair amanhã dentro do meu lindo quarto, salva de qualquer ataque de nervos e me preparando psicologicamente. Não que qualquer preparação fosse ajudar, mas...

P.O.V Scorpius Malfoy, dormitório da Sonserina

-Ela fez o que?- James perguntou, gargalhando enquanto jogava o Mapa dos Marotos no chão porque tinha perdido a coordenação motora.

Eu bufei.

-Não é como se ela estivesse me convidando para sair.

-Então você queria um convite direto?- James riu mais ainda, se é que isso era possível. Eu me segurei para não jogar um feitiço nele, era irmão do meu amigo, apesar de tudo. Me contentei em ignorar.

Foi a vez de Alvo dar sua opinião.

-Eu acho que isso é tudo que precisávamos- ele disse, cruzando os braços e sorrindo.- Porque o seu prazo, senhor Malfoy, está acabando.

Uma parte de mim estremeceu. Meu prazo estava acabando. Será possível que eu não iria conseguir? Não. Nenhuma garota resistia a mim, e se eu tinha conseguido a Delacour (mesmo que ela tragicamente tenha me dado o pé na bunda por causa de alguém que ninguém sabe quem é), a Rose não podia ser tão difícil. Não era natural.

-Ou a Rose vai se render aos meus encantos, ou ela não é um ser humano normal e precisa de tratamento. - eu dei um sorrisinho de canto e pisquei.

Alvo dramatizou.

-Oh, céus, o que eu fiz para merecer isso?- ele apontou para mim e se jogou na cama.

Eu usei a varinha para jogar uma almofada nele, tamanha a preguiça de me levantar. James parecia recuperado, sentado no chão e encarando atentamente o mapa. Talvez ele estivesse procurando por alguém. Vai saber.

-Então, James?- Alvo provocou- Qual a brilhante dica de agora?

James levantou o olhar, como quem sabe mais do que nós.

-Agora? Nada. Apenas seja tão incrível quanto consiga, e ganhe a garota.- ele olhou para Alvo- Hum, o Scorpius entende. Vocês me deem licença.- ele começou a sair do quarto, e depois mudou de ideia.- E, Malfoy- chamou, e eu levantei o olhar.  - é agora ou nunca. Essa é sua melhor chance. Vejo vocês amanhã, aprendizes!

Depois de ter certeza que James já tinha ido, e enquanto as palavras de Potter giravam repetidas vezes na minha mente (“agora ou nunca, essa é sua melhor chance.”), Alvo suspirou.

-Eu sinceramente não sei quem é pior, você ou meu irmão.

Provavelmente demorei muito tempo para esboçar uma reação.

-Scorpius? Scorpius Hyperion Malfoy? Olááá?- Alvo agora estava na minha frente, estalando os dedos. - Você tá bem, cara?

-Claro! Claro que estou. Eu sou Scorpius Malfoy.

Ele ergueu uma sobrancelha, e eu revirei os olhos.

-Boa noite, Alvo.

Por mais que eu quisesse, não conseguia dormir. Tudo bem, a ideia tinha sido minha. Ou quase isso. Mas, por alguma razão, algo no meu interior se revirava incontáveis vezes quando pensava no pseudo encontro com Rose Weasley. Era uma sensação boa e ruim. Eu não sabia o que estava acontecendo, nunca tinha sequer chegado perto de ficar nervoso. Devia ser a pressão para ganhar essa aposta. Só podia ser a pressão para ganhar essa aposta. Não tem outra explicação, tem? A não ser que... Não. Isso nunca aconteceria, eu devia ficar tranquilo. Eu devia é dormir.

Talvez até conseguisse se não ficasse imaginando o dia seguinte, Rose e seus incríveis olhos castanhos...

******

-Anda logo. Acorda. Acorda. - Alvo me cutucava com a ponta da varinha como se eu tivesse uma doença contagiosa- Eca, Malfoy. Você baba. Meu Merlin, isso é nojento. Anda logo, temos quarenta minutos para estar dentro de uma carruagem, a caminho de Hogsmeade e do seu fracasso.

-Uau. Que bom jeito de acordar. – eu ironizei, jogando a coberta para o lado. –E quase todo mundo baba enquanto dorme. Melhor do que você, que ronca.

Não ouvi a resposta, apenas corri pra o banheiro para me arrumar. Vinte minutos depois, encarava meu reflexo no espelho. Bom. Se eu fosse uma garota, com certeza sairia comigo. Acabei de bagunçar propositalmente me cabelo e sai do banheiro, para encontrar um Alvo impaciente.

-Vamos logo. Não temos nem tempo para o café da manhã.

Ele me arrastou para fora, enquanto nós conversávamos um assunto qualquer, mas meu cérebro não conseguia se concentrar em nada daquilo. Ignorei os cumprimentos animados de Alicia Summers (oh, meu Senhor, ela nunca vai sair do meu pé?). Minha falta de atividade mental tinha nome, sobrenome e fazia parte de uma missão.

Não preciso dizer que fui afetado pelo que nos esperava. É claro que eu havia notado uma diferença em Rose, desde que ela passou a andar mais com a Dominique, por motivos desconhecidos. Mas as surpresas estavam só começando. Fiquei completamente paralisado quando vi Rose Weasley, despreocupadamente encostada numa carruagem, fazendo carinho em um testrálio. Ela estava linda com um suéter de estrelas comprido, uma calça jeans justa e escura e botas. Ela levantou o olhar quando chegamos.

-Demoraram, hein?- um sorriso brincou nos lábios dela, enquanto começava a subir na carruagem.

-Onde está a educação, Rosinha?- Alvo respondeu, subindo atrás dela. Eu fui por último, me sentando encostado a uma janela.

-No mesmo lugar que a língua do Malfoy. - ela brincou, e Alvo riu.

-Viu? Rose está tentando ser sociável, você devia tentar também- ele frisou a mensagem contida nessa frase e eu pisquei.

-Ah, certo. Desculpem. Acho que eu deveria dizer... Bom dia? Eu ainda tenho minha educação...

Rose jogou o cabelo ruivo para trás.

-Vocês são mesmo uns chatos. Bom dia, sonserino menos detestável do mundo- ela disse, apontando para o Alvo- e hum Malfoy.

Eu sorri pela primeira vez naquela viagem.

-Pode me chamar de Scorpius, Rose. Eu não mordo.

-Tecnicamente, escorpiões picam. - ela respondeu, com um meio sorriso. - Mas só quando eles querem.

Alvo ergueu uma sobrancelha para mim, nada discreto, e eu lhe dei uma cotovelada. O resto do caminho foi preenchido por conversas bem mais leves, sobre Hogwarts, o que faríamos nas férias de fim de ano, se eu iria novamente passar o ano novo na casa dos Potter/Weasley (para desgosto eterno do meu querido papai).

Quando a carruagem finalmente parou, e nós descemos, um atrás do outro. O lugar já estava lotado de estudantes ansiosos para tomarem uma cerveja amanteigada ou comprarem doces, como sempre.

Alvo nos fez parar na Gemialidades Weasley, para reabastecer seu estoque de fogos. Ou essa devia ser a intenção. Depois de dez minutos esperando em silêncio, Rose disse.

-Eu acho que ele sumiu de propósito.

-Você acha?- eu ri.- Tenho certeza. Meu Merlin, o que eu faço com esse garoto?

Ela franziu a testa, mas riu também.

-Ah, sabe com é o Alvo. Só espero que a Lily não esteja colocando as ideias malucas dela na cabeça dele... Isso seria ruim.

-Lily Luna? Que ideias?

Rose corou descontroladamente, e de algum jeito isso a deixava fofa. Espera, fofa? Ah, não, eu tinha mesmo que parar com isso. Que se dane, eu tinha que parar de me repreender tanto assim. Pelo menos, hoje.

-N-nada.- ela gaguejou- E então, senhor Malfoy, o que nós vamos fazer?

Pisquei diversas vezes. Tem como voltar alguns segundos e... repetir?

-Bem, já que Alvo nos deixou aqui... - ela continuou, como se fosse a coisa mais natural do mundo.- Olha, eu sei que nunca nós demos bem. Você pode ser uma pessoa realmente horrível, mas já que estou aqui... Por que não provar o quanto é detestável e ninguém mais diz que eu nunca tentei?

Saindo do meu transe paralisante, eu abro outro sorriso para ela.

-Concordo plenamente.- começo a andar, com Rose logo ao meu lado.- E, a propósito, nunca me chame de “senhor Malfoy”. Isso me faz me sentir como meu pai, e ele é, bem... velho.

Rose abriu a boca, fingindo estar chocada.

-O que? Você acha seu pai velho? Ele é da idade dos meus!

-Eu sei.

-Mas eles não são velhos.

-Claro que são. Estão até naqueles livros de história!- eu protestei. - Não que, você sabe, eu tenha lido algum desses.

Rose me empurrou de leve, abrindo a porta do Três Vassouras. Eu tinha certeza absoluta que Hogwarts estava chocada com nós dois entrando juntos, mesmo que não, você sabe, juntos. James discretamente fez um sinal de positivo para mim, junto com uma dancinha. Fiquei feliz de ver a companhia dele. Parece que teríamos que dividir a atenção com James Sirius e Dominique Delacour sentados juntos. Ela bateu nele, sem nem ao menos ligar para mim e Rose. Ou se ligou, não demonstrou nada. Típico. Ela só parecia ser alguém com sentimentos (bons ou ruins) perto de James, o que era estranho. Mas esse papo todo está muito gay.

Ela pediu uma cerveja amanteigada e qualquer coisinha para comer, e começou a falar. Apesar de tagarela e completamente nerd, eu tinha que admitir com dificuldade que Rose Weasley não era insuportavelmente chata. Ela era até divertida, na verdade. E sorria bastante quando queria. Era um sorriso legal.

Enquanto dizíamos qualquer coisa que passasse por nossas cabeças, o tempo foi voando. O Três Vassouras havia esvaziado quase que completamente. Eu sabia o que estava acontecendo. Com a vista a Hogsmeade acabando, os casais encontravam cantinhos ou iam para o Madame Padfoot. Os grupos de amigos brincavam na neve, aproveitando. Os professores iam a área reservada. E alguns poucos ainda estavam por ali, como nós.

Ela havia saído da cadeira a minha frente, e estava sentada no banco ao meu lado agora. Encarava a janela com uma careta.

-Odeio inverno.

-Como assim? É a melhor época do ano!

-Melhor como?- ela pergunta, se virando para mim. Fico tenso com a proximidade repentina, e ela também, porque se afasta. - É gelado. E não podemos fazer nada. E neva o tempo todo. E é nublado.

-Wow. Nunca pensei que você, entre todas as pessoas, estaria falando algo assim, Rose. - eu respondo, rindo- Parece uma criança falando assim.

-Tem muita coisa sobre mim que você desconhece. - ela diz, enigmática. - Nossa, isso nem parece eu. - ela ri, balançando a cabeça. - Mas eu realmente não gosto de invernos.

-Eu acho que até gosto dessa tal Rose- disse, tomando coragem e colocando o cabelo dela para trás. - E talvez poderia te mostrar como inverno pode ser divertido.

Rose não me afastou, para minha surpresa. Ela olhou bem nos meus olhos, com aquelas íris chocolate, me dizendo silenciosamente para continuar a falar.

-Dizem que é a melhor época do ano para beijar.

-Eu nunca tentei.

E então eu a beijei. Não foi aquela coisa de cinema, e ela demorou a responder. Mas mesmo assim, eu não ligava que alguém estivesse olhando. Era bom. Não tinha pressa. Se eu pudesse, diria que foi o beijo mais “puro” da minha vida. E ao mesmo tempo, um dos melhores. Quando ela se afastou, tinha um meio sorriso.

-De repente, invernos não me parecem tão ruins.