P.O.V Rose Weasley, sala comunal da Grifinória, Domingo

–Tudo bem- eu digo, devagar e baixinho, depois que Dominique e Lily (ao que parece, elas brigam mais nem por isso deixaram de bolar estratégias malignas para me ajudar como Malfoy) explicam o novo plano infalível delas.

Dominique vira para mim. Ela estava observando o outro lado da sala comunal enquanto Lily tagarelava.

–O quê? Rose, você ainda tem álcool no seu sangue ou alguma coisa assim?

Eu me arrumo na cadeira, desconfortável com os olhos azuis que tentam me analisar.

–Não. Mas se eu preciso fazer isso... Bem, do que adianta gritar e reclamar com vocês?

–Oh, Merlin, abençoado seja por fazer Rose finalmente entender!- Lily dramatizou, colocando a mão na testa como se estivesse emocionada.- Você começa amanhã, tá? A única coisa estranha é porque o Alvo aceitou tão facilmente... Quer dizer, não acho que ele prefira sentar com Elle Kimberly do que com Scorpius Malfoy.

Dominique deu de ombros.

–Alvo é estranho, alguma vez alguém entende por que ele faz qualquer coisa?- ela olhou o relógio de parede da Sala Comunal.- Hum, eu tenho que ir.

–Para onde?- Lily perguntou, cruzando os braços- Porque eu vi James saindo daqui alguns minutos atrás.

Dominique deu seu sorriso falso. Isso está cada vez pior.

–O que eu tenho a ver com seu irmão, Lily?- respondeu, depois se virando para mim- E não se esqueça Rose: se divertir, e sem sentimentos.

–Sentimentos? Nunca- eu digo, e Dominique sorri. Ela parece que vai dizer algo mais, e desiste, andando até a porta e saindo.

Lily não diz muita coisa depois, apenas resmunga que está com sono e sobe para seu quarto às nove da noite, quando eu finalmente termino meu dever de casa. Desde quando eu, Rose Weasley, terminava o dever de casa horas antes da aula? Argh, isso tem que acabar o mais rápido possível.

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Eu tentei me arrumar sozinha. Podia usar a saia que Dominique deu (ou emprestou, vai saber), mas não a blusa. Seria demais. Prendi meu cabelo num rabo de cavalo, como sempre faço quando a tenho aula de Transfiguração, já que estamos trabalhando com animais e não quero repetir quando um besouro grudou no meu cabelo.

Quando desci, Lily estava esperando, impaciente.

–Demorou.

–As ordens de vocês me fizeram demorar.

Ela deu um meio sorriso.

–Mas até que você fez tudo direitinho.

Eu lancei um olhar irritado, e Lily riu, passando pelo retrato da Mulher Gorda e seguindo saltitante pelo corredor.

Nunca é bom quando ela está saltitante, mas não tive tempo para pensar nisso, porque Sasha Brown apareceu me implorando pelo dever de casa de Feitiços, e eu tentei ajuda-la enquanto caminhávamos até o Salão Principal.

Dominique acenou para mim, enquanto empurrava James para longe dela. Sentei ao seu lado, e Lily a minha frente. Minha prima loira fez uma careta.

–Solte esse cabelo- ela disse, já soltando e dando uma bagunçada. – Isso. Assim. - ela apertou os olhos, me analisando- Onde está a blusa que eu dei?- completou, falando mais baixo.

Lily para uma torrada a meio caminho da boca.

–Dá um tempo, Dominique.

Dominique dá de ombros, continuando a tagarelar com Molly sobre alguém que eu não conhecia (ou no mínimo não lembrava). Acabei de comer com pressa.

–Lily, eu tenho que ir. Tenho adivinhação agora, você sabe como é longe.

Lily sorri.

–Claro, Rose. - e pisca.

Droga. Eu estou ficando nervosa. Caminho vagarosamente pelos corredores do castelo, enquanto os quadros conversam a mesma coisa de sempre quando quase todo Weasley passa. “Meu Merlin, mais um dos ruivos” e coisas assim. ÁS vezes eu desejo que os quadros não falem. Pode ser terrivelmente chato. O pior é quando eles acham que nós devemos escutar suas histórias de vida, como foram pintados, as dificuldades de ser um quadro... Isso é sério!

Mas eu sei. Estou me distraindo com esses pensamentos idiotas. Entro na sala, torcendo para estar sozinha, mas, de novo, seria pedir demais da misteriosa energia cósmica que guia o universo. Scorpius Malfoy estava lá, tamborilando os dedos numa mesa.

Ele deu um meio sorriso.

–Weasley.

Sentei na mesa ao lado, estreitando os olhos.

–O que faz aqui?

Ele se reclinou na cadeira.

–Bom dia pra você também- disse, e eu revirei os olhos- Não é nada da sua conta, mas... Quebrei uma bola de cristal na aula passada. Estou apenas cumprindo minha penalidade de estar aqui uma hora antes do horário para ajudar a preparar a sala. - ele bufou e eu ri. - Não tem graça, Weasley.

–Weasley?- a professora (pois é, acreditam que ainda é a velha Trewloney) apareceu, com os olhos esbugalhados. - Ah, sim, sim. Já que está aqui tão cedo, pegue aquelas xícaras ali.- ela apontou para um armário e desapareceu.

Eu olhei na direção que ela foi, rindo. Bem que minha mãe avisou que Adivinhação seria a aula mais estranha da minha vida.

–Eu estou tão adiantada assim?- falei comigo mesma, olhando meu relógio e depois o relógio da parede. Meia hora de diferença. MEIA HORA! Eu vou matar Lily Luna. Ou Dominique. Ou as duas. Seria me livrar de dois problemas de uma vez.

Ele deu um daqueles sorrisinhos superiores.

–Pelo menos eu não vou ter que fazer tudo sozinho.

Fuzilei Scorpius com o olhar, enquanto abria o armário. Sem xingar, Rose, sem xingar. As tais xícaras com desenhos azuis e rosas (N/A: queeem lembra do Neville quebrando umas dessas? Ahaha) estavam na prateleira mais alta. Ótimo, Merlin realmente me ama. Peguei minha varinha, mas a cabeça da professora apareceu novamente.

–Ah, não, querida. Não use a varinha, essas xícaras são muito sensíveis, sim?- ela disse, e voltou a desaparecer, cantarolando.

Por que eu ainda não desisti dessa aula, mesmo?

Bufei e peguei uma cadeira.

–Isso não vai dar certo, Weasley- Malfoy disse, agora em pé encostado à parede e parecendo segurar o riso.

–Por que não?

–Porque você não tem nenhuma coordenação motora e nunca conseguiu ao menos subir em uma vassoura.

Eu bufei.

–Consigo fazer isso- disse, subindo na cadeira com força. Senti meu estômago apertar um pouquinho sem motivo. Você consegue, repeti em meus pensamentos. Scorpius ria despreocupadamente, como se estivesse vendo apenas uma criança fazendo algo que ele sabia que daria errado. Aquele sorrisinho de canto me irritava mas do que eu gostava de admitir, mas era bem charmoso também. Droga, Rose. Concentre-se.

Desci as xícaras azuis primeiro, porque a professora preferia as rosas e eu estava me sentindo bem mais seguras quando comecei a pega-las e colocar na mesa.

Sorri e girei a penúltima entre os dedos.

–Viu? Eu disse que conseguia.

Me abaixei para colocar a xícara na mesa, mas como se alguma força invisível estivesse me empurrando, eu desequilibrei para frente. Pela visão periférica, percebi algo loiro correr, e em pouco tempo eu estava com o rosto a centímetros do chão. Infelizmente, tinha total consciência da mão dele me segurando e a outra na minha cintura. A xícara estava um pouco lascada. Ele me virou, e minhas costas bateram na parede, ao lado da prateleira. O que estava acontecendo? Os olhos cinza geralmente frios estavam inquietos, e eu não conseguia ver para onde olhavam. Mas não conseguia desviar. Ele foi se aproximando e surpreendendo a mim mesma não o empurrei. Não fiz nada. Os milésimos segundos se arrastavam, parecendo durar uma eternidade. Eu sabia que estava respirando rápido, e que minhas mãos estavam sem seus ombros. Ele se aproximou mais. Estávamos tão perto que eu podia ver os pontinhos azulados no cinza dos seus olhos.

E então eu deixei a xícara cair.

Empurrei Scorpius, e ele piscou, parecendo tão atordoado quanto eu. Ele se abaixou e pegou a xícara rosa.

–Tá meio lascada- disse, como um idiota.

–É- eu concordei, como uma idiota. - Acho que hum esqueci meu livro.- eu acrescentei- Até outra aula.

Ele balançou levemente a cabeça.

–Até.

Eu caminhei rápido até a porta.

–Weasley- Scorpius chamou. Ele deu um meio sorriso. - Você não foi tão ruim assim.

Eu sorri um pouquinho também e acenei com a cabeça. Surpreendendo a mim mesma de novo, respondi.

–Depois dessa, pode me chamar de Rose.

E saí correndo dali.

P.O.V Scorpius Malfoy, Sala de Adivinhação

–Depois dessa, pode me chamar de Rose- ela disse, antes de sair correndo mais rápido do que eu jamais poderia acompanhar. Quem diria que a atrapalhada da Weasley, ops, Rose podia correr tão rápido?

Girei a xícara rosa na minha mão. Se Merlin estivesse do meu lado, e claramente ele não estava, se pararmos para pensar no que acabara de acontecer. Coloquei as xícaras na mesa e saí de fininho. Tinha alguma vomitilha em algum lugar, podia usa-la e faltar essa aula. Ou todas as aulas. Eu precisava pensar.

Por um lado, era ótimo que isso tivesse acontecido. O plano avançara noventa e três milhas (N/A: 93 million miles from the sun, people get ready get ready… lol) só naqueles segundos. Mas havia algo terrivelmente errado.

Eu tinha gostado. Tinha gostado de estar perto daquele jeito, tinha achado encantador como os olhos dela pareceram confusos, e como não conseguia se mexer. Tinha gostado de estar a um passo de beija-la... E teria o feito, se ela não tivesse deixado à maldita (ou seria bendita?) xícara cair. Merlin... Eu não podia ter gostado de quase beijar Rose Weasley.

Não sabia nem para onde estava ainda, mas aparentemente acabei em um dos pátios do castelo, que estava vazio, a não ser por Fred Weasley, Michael Jordan e James Sirius, que conversavam num canto.

–Aha! Eu disse que a Sonserina mandaria um espião!- Michael gritou, dando soquinhos no ar.

James levantou a cabeça.

–Ah, Scorpius.

Eu precisava contar para ele. Quer dizer, não é como se fôssemos garotinhas animadas que lavam a mão no banheiro com um novo tipo de sabonete e precisam falar com a amiga. Mas isso poderia ser crucial no plano.

–James, posso falar com você?

Ele pareceu levar um segundo para entender.

–Depois acabamos de discutir as táticas, meninos. - ele disse, e Fred riu, batendo no seu ombro ao sair, arrastando Michael.- Faltando aula, Malfoy?- ele completou, divertido.

Eu cruzei os braços. Podia responder algo do tipo “isso é sério” ou dar uma desculpa, mas tinha que parar de rever aquela cena repetidas vezes na minha cabeça. Talvez ajudasse se eu contasse logo.

–Quase beijei Rose.

James quase caiu para trás.

–O quê? Agora?- perguntou, e eu assenti. - Cara, isso é ótimo! Avançamos muito no plano, é claro. Só precisa transformar esse “quase”.

Ele não entendeu a gravidade da situação. Continuei.

–Só isso?

–Sim. - ele respondeu, parecendo confuso. Depois me encarou de novo, e respirou fundo, como se fosse contar algo importante. - Olhe... Foi só um quase beijo. E em breve, só um beijo. E aí isso tudo terá acabado, antes que as coisas comecem a se complicar. Quando se trata de garotas Weasley, nunca deixe um protótipo de sentimento aparecer.

Eu que tinha ficado confuso. Não com o que ele disse, como se soubesse das coisas, mas com o uso da palavra “protótipo”.

–Desde quando você fala “protótipo”?- perguntei, rindo e ele se fingiu de ofendido.

–Não sou tão burro quanto vocês pensam- piscou, também rindo. – E, ah, conte isso pro Alvo. Ele vai adorar saber que está quase sendo obrigado o contar quem é sua tão famosa paixão.

E então ele foi embora.

Não, contar não tinha ajudado em nada. Eu ainda estava confuso. O que diabos estava errado comigo? Eu queria fazer de novo. E talvez ter um desfecho diferente dessa vez... Não. Isso só pode ser... orgulho ferido. É isso. Não consegui beijar a Weasley, eu sempre beijo as garotas. Assim que eu o fizer, vai passar.

Essa é uma daquelas horas em que os péssimos conselhos do vovô Lucius vêm a calhar. Um dos mais repetidos.

–Não pense muito em nada do que não consegue chegar a uma conclusão, meu jovem.

Talvez ele tenha razão nisso.

***

–Como assim?- Alvo perguntou em voz baixa, tentando não rir- Você quase beijou a Rose?

Estávamos na aula de Feitiços, e eu segurava o rato que devíamos transformar. Rose não estava em nenhum lugar a vista, e uma de suas companheiras de quarto, Amber, havia acabado de dizer a Alvo que ela estava trancada porque não se sentia muito bem.

–Eu sei exatamente o que ela tem- Alvo cochichou para mim- Trauma pós quase beijo. - ele gargalhou, e o professor nos encarou com cara feia, batendo a varinha em nossa mesa, e eu murmurei o feitiço, transformando o rato em uma caixinha quase perfeita.

–Não tem graça- eu respondi, cruzando os braços. Não era tão legal fazer aquela aula sem a corrida entre mim e Rose para ver quem conseguia dominar o feitiço mais rápido. Girei a varinha nos dedos. Oh não. Isso estava ficando cada vez pior. Afastei esse pensamento e lancei um sorriso de canto a Kayla Rodriguez, que sorriu de volta.

Alvo revirou os olhos.

–Você não tem jeito mesmo.

Mas enquanto eu olhava para Kayla, eu ainda não parava de pensar em Rose e em como quase beijei Rose. Mas qual era a regra número um mesmo? “Se divertir”. Não está tão mais divertido assim agora.

P.O.V Rose Weasley, Sala Precisa

Dominique anda de um lado para o outro, o sapato fazendo barulho no chão da Sala Precisa. É, Sala Precisa. Desde que James disse a Fred, que disse a Molly, que disse a Roxanne, que disse a Dominique, que disse a Lily, que disse a mim, que nós estávamos sempre conversando aos sussurros agora, mudamos nosso ponto de encontro. Agora é aqui.

Minha prima loira abre um sorriso enquanto ela anda impaciente e eu conto a história. Depois que acabo, completamente transtornada, ela coloca as mãos na cintura, e eu evito olhar nos seus olhos enquanto ela dá um grito. Prefiro encarar suas unhas pintadas de vermelho e branco.

–Ah meu Deus Rose! Por que você não deixou que ele...

–Eu ia deixar- respondo, e minha voz é um sussurro. Posso ver o sorriso de Dominique sem nem olhar para ela.

–Isso é ótimo! Quer dizer, acho que é hora da fase dois.

–Dominique, eu estou aqui tendo uma crise porque meu inimigo e agora alvo de conquista quase me beijou, e eu não deveria ter gostado e eu não deveria estar pensando nisso no repeat e eu não deveria estar com vontade de...

Dominique me sacode pelos ombros.

–Espera. Volta à fita. Deixa-me ver se meu cérebro loiro entendeu. Você gostou? Rose! Você queria que ele tivesse te beijado? Não. Creio.

Ela me solta, e bate palmas.

–Se não fosse você contando, eu juro que não acreditaria nem se a pessoa estivesse a base de Veritaserum.

Dessa vez, não faço piadinhas sobre ela saber o que é Veritaserum ou não. Fico quieta.

Dominique se afasta, e dá um sorriso muito grande. Mas grande mesmo. Ela se senta e cruza as pernas.

–Não vamos esperar Lily- diz, depois de olhar no seu relógio. - Acho que é hora da lição número dois.