P.O.V Rose Weasley, algum lugar do castelo mais não lembra onde

A primeira coisa que passa pela minha linda cabeça ruiva é: onde. eu. estou?. Acrescente interrogações infinitas e talvez a minha própria voz gritando dentro da minha cabeça que parece que foi atropelada por um time de quadribol depois que dez trasgos montanheses dançaram sapateada com um remix de “Um caldeirão cheio de amor”. Tudo isso, em cima da minha linda cabeça ruiva.

Abro os olhos para a terrível claridade que vem de uma janela, e encontro Lily Luna parada, com as mãos na cintura.

-Francamente, Rose- ela diz, abrindo ainda mais as cortinas.

-Onde...

-Meu dormitório- Lily responde, antes que eu termine a frase- E já são duas e quinze da tarde. Você perdeu o café da manhã E o almoço.

-Duas e quinze da tarde?

Ela assente.

-Sabe como veio parar aqui?

Balanço a cabeça em negação, enquanto sento pesadamente na cama de Lily.

-Se eu dormi aqui, onde você dormiu?- pergunto, mas sou ignorada (oh, conte uma novidade).

Lily acabou de abrir as cortinas, sentando na cama em seguida.

-Você sumiu a festa inteira- ela deu ênfase no “inteira”- e aí quando eu fiquei pra arrumar tudo porque James e Fred, e Dominique, e Roxanne, e Molly e todos os outros tinham sumido e não deram sinal de que voltariam tão cedo, você estava dormindo num dos sofás. Não sei como foi parar lá.

Eu pisco, ainda tentando me acostumar com a luminosidade.

-Eu também não sei.

Lily revirou os olhos. Opa, ela tem passado tempo demais com a Dominique.

-Eu não pensei que isso fosse acontecer. Quer dizer, era sua primeira festa de verdade... –ela parou, fazendo um sinal de impaciência.- Deve estar com uma dor de cabeça horrível.

Eu faço que sim.

-Obviamente, Lily. Parece que atropelada por um time de quadribol depois que dez trasgos montanheses dançaram sapateada com um remix de “Um caldeirão cheio de amor” em cima da minha cabeça.

Lily ri, e pega um copo cheio de um líquido amarelado.

-Toma.

Provavelmente eu arregalei os olhos muito surpresa, porque ela respondeu logo em seguida.

-É pra ajudar, mesmo que tenha um gosto horrível. Você vai ficar nova em folha. Vamos, tem suas vantagens ser irmã de James Sirius Potter- ela brinca, fazendo sinal para que eu beba- Bebe tudo antes que pense no gosto, tá?

Como a alternativa é ficar morrendo de dor até que Merlin volte, eu reúno toda minha coragem e engulo aquilo tudo. Que tem gosto de lixo. Não que eu já tenha comido lixo, mas é uma mistura de lixo com o chili da minha mãe (e os chilis da minha mãe envenenam até mesmo meu pai e Hugo). Me preparei para cuspir tudo.

-Não!- Lily gritou, quase me sufocando com o travesseiro que ela tirou sabe se lá de onde e me forçando a engolir para respirar.

Ela bufa, balançando o travesseiro.

-Tem noção da mancha e do cheiro que isso aí ia dar no meu lençol?

Lily, sempre pensando nas amigas. Minha vez de ignorar o comentário.

-Então, algum avanço Lily?

Ela ri.

-Eu que te pergunto. Vocês conversaram ontem? Por que a parte de se divertir, você tirou de letra, Rose- ela pisca, ainda rindo.

Eu tento não pensar no que fiz na noite passada. Quer dizer, sou a menina que afirmou com convicção que nunca beberia firewhisky. E que nunca trocaria duas palavras amigáveis com Scorpius Malfoy. Olha onde estou agora.

-Ele só me disse que eu estava bonita, aquela hora. É melhor que nada, certo?

Lily meneia a cabeça.

-É, melhor que absolutamente nada. Mas agora tudo vai dar certo!- ela volta a se animar. – Vamos dar uma passada na cozinha, e depois encontrar a Dominique.

-Você espera que eu saia assim?- aponto para o vestido preto que ainda estou usando.

-Claro que não, Rose. - ela indica o baú- O mesmo de ontem, guardei aí.

-Aquele que a Dominique emprestou?- eu pergunto, desnecessariamente.

-Sem drama, Rose. Veste logo.

Como não adianta discutir isso de novo, eu vou resignada vestir lentamente o uniforme que ainda não é tão confortável assim. Meu cabelo está horrível, então eu prendo num coque malfeito. Lily torce o nariz para o cabelo, mas acho que resolveu ser boazinha comigo hoje.

-Vamos, eu sei um atalho ótimo que passa pelo corredor da Sala Precisa.

P.O.V Scorpius Malfoy, dormitório da Sonserina

-Como assim...- eu começo, sentindo água gelada escorrer sobre minha cabeça e se espalhar pela cama toda.- Nossa, Alvo, muito criativo.

Ele me lança um olhar mortal.

-Vamos, levanta logo daí, sr. preguiçoso- ele olha no relógio de pulso- Hum, você perdeu o almoço. Por sorte eu guardo uns sapos de chocolate aqui no quarto- Alvo diz, abrindo uma gaveta e me jogando sapos de chocolate- Isso deve servir até o jantar. Onde você estava ontem, cara?

-Tudo bem, vamos por partes, velha tagarela- eu respondo, mal humorado- Eu não lembro de muita coisa- completo, franzindo a testa- Acho que saí cedo, não estava muito bem.

-Quando eu cheguei, você já estava dormindo- Alvo deu de ombros, girando a varinha entre os dedos- Como sempre, todos vocês sumiram no meio da festa.

-Como assim “todos”?

Ele faz uma expressão que deve acreditar ser de indignação.

-Meus primos também, oras.

Eu esfrego os olhos, depois de afastar o cabelo.

-Hum, Alvo, ninguém mais usa a expressão “oras”.

O Potter me ignora (quanta novidade).

-Você sabe da Rose? Do nosso plano?

-Por que eu tenho que saber de tudo? Não, não sei. Ouvi Lily no café da manhã hoje, parece que Rose estava na maior ressaca.

-E isso é bom?

-Sei lá, Scorpius. O que eu posso deduzir é que você a verá nas próximas festinhas do meu irmão, pode ter certeza. Falando nele, levante daí e vai tomar um banho, James falou para nos encontrarmos para outra ”aula”- ele fez aspas no ar, revirando os olhos- Daqui há uma hora.

Resmungando e xingando mentalmente James Potter por pensar nisso em um dia pós festa, eu me arrasto para o banheiro, tentando lembrar de algo mais do que flashes da noite anterior. Ás vezes as memórias vão voltando aos poucos. Tudo que eu lembro agora é de um vestido preto, um armário, e um beijo. O problema é que eu não lembro quem foi. Só sei que ela saiu correndo logo depois e Alicia apareceu de novo, me puxando para dançar (blergh, garota grudenta) antes que eu pudesse achar a tal garota. E pronto. É tudo que eu lembro.

Depois de um revigorante banho quente, encontro Alvo impaciente no quarto.

-Por Merlin, Scorpius, você é pior que as minhas primas para tomar banho! Parece uma garotinha.

-Eu estou de ressaca, Alvo.

Ele não responde.

-Vamos logo, você comeu meus sapos de chocolate, a fome Weasley está atacando novamente. Vamos passar na cozinha antes.

-Não sei como você é magro assim comendo tanto.

-Ah, cale a boca.

Seguimos conversando qualquer coisa no caminho nem tão longo assim até a cozinha. Mas assim que chegamos lá, descobrimos que não éramos os únicos a ir comer no meio da tarde. Alvo fez sinal para os elfos ficarem quietos enquanto observávamos a briga. James Sirius e Dominique, gritando um com o outro como sempre, e com as mesmas roupas de ontem. Hum.

-Nada disso teria acontecido se você não tivesse tido essa brilhante ideia!- ela berra, passando a mão pelo cabelo e fazendo gestos exagerados.

-Ah, agora a culpa é minha?

-A culpa é sempre, sempre sua, Potter!

-Agora eu sou “Potter”?

-Melhore seus argumentos, Sirius, não dá nem pra discutir com você! Agora eu tenho que lidar com a Lily e...

-Nada seria assim se você acreditasse em mim, Nique!- ele responde no mesmo nível de altos decibéis.

-Não me chama de Nique! Como, como você quer que eu acredite se continua agindo que nem um babaca?

-E você não continua agindo que nem uma vad...

Ops. James Potter não fez isso. Nunca, nunca na sua vida chame (ou tente chamar) Dominque Delacour pela “palavra com v”. Geralmente isso acaba muito, muito mal.

Os olhos azuis dela se encheram de lágrimas rapidamente escondidas, e plaft! James levou um belo tapa. Alvo segurou o riso enquanto os elfos olhavam chocados para Dominique vendo ela sair dali, deixando um rastro de raiva e nem percebendo que eu e Alvo estávamos parados num cantinho perto da porta.

James leva a mão ao rosto, enquanto um elfo volta correndo trazendo gelo. Esperamos um minuto antes de aparecer.

-James?- Alvo pergunta com falsa surpresa. Ele pisca discretamente, e eu entendo.

-Por que Dominique saiu furiosa daqui?

James olha do irmão para mim, deixa o gelo na mesa e faz uma careta de dor para perguntar a última coisa que eu esperava.

-Pra que lado ela foi?

Alvo dá de ombros.

-Não prestei atenção.

James olha a porta.

-Droga. Droga, droga, droga.- é tudo que diz antes de ir embora também.

Eu encaro Alvo.

- O que aconteceu aqui?

Ele ri, sentando numa das mesinhas e um elfo doméstico vem correndo lhe atender.

-Presenciamos secretamente uma briga entre o burro do meu irmão e a Dominique- ele diz, como se respondesse tudo. Na verdade, não responde nada, mas estou com dor de cabeça demais para continuar indagando.

-Quero um café- digo a um dos elfos, que volta correndo com uma xícara. “Aqui, senhor”. Comemos em silêncio, o que é ótimo para minha cabeça ainda mais colorida depois de todos os gritos.

-Acho que a “aula” do James não vai acontecer.

Alvo engole um pãozinho antes de responder.

-Não mesmo. Nos resta comer e tirar um dia de folga disso tudo.- ele diz, jogando um croissant pra mim.

É, um dia de folga não parece ruim.