P.O.V Scorpius Malfoy

James Sirius me encarava com o olhar típico de reprovação dos Potters. Ele balançou a cabeça e voltou a se sentar a minha frente.

–Cara, você só faz burrada.

–Como se você tivesse moral para brigar comigo. E todas as merdas que fez com a Dominique?- eu respondi, e Alvo resolveu intervir.

–Eu não chamei ninguém aqui para brigar.

–Não, caro irmãozinho, você me chamou para aconselhar seu amigo sobre nossa prima, depois de ter me chamado semanas atrás para ajuda-lo a conquista-la. - James retrucou, com um sorrisinho de vitória. Ele realmente me irritava.

Eu passei a mão pelo cabelo.

–E você se arrepende, Potter?

–De ter te ajudado a conquistar Rose? Não. Essa história toda me ajudou com a Nique, de que eu podia reclamar?

Depois de ter voltado de Hogsmeade, e socado algumas vezes a parede por causa do encontro mais que fracassado com a Summers e por causa de Rose e seu namoradinho novo, Alvo apareceu com seus sorrisos suspeitos (ele é um péssimo mentiroso) e logo depois com seu irmão. Era três da manhã, e no dia seguinte todos tínhamos aula. Em pensar que eu podia viver sem essas complicações. Mas isso seria nunca ter tido a Rose. O novo eu romântico e apaixonado não conseguia aceitar.

E agora estávamos ali, discutindo.

–Eu posso falar?- Alvo disse, erguendo a mão.

–Já está falando.

–Deixa de ser ignorante- ele me respondeu, voltando ao tom sério de anteriormente logo depois. Eu de verdade acho que tudo que vocês precisam é de uma boa conversa. Sem gritos. Sem escândalos. Sem fugir dizendo eu preciso de um tempo e fazer burradas. Só conversar.

Contra a minha vontade, tive que concordar com ele. Todas as poucas oportunidades que eu tive, eu fugi, não querendo nem ao menos tentar. Sabia que precisava escutar o que Rose tinha a dizer, assim como ela precisava me escutar. Talvez... Pudéssemos voltar a tolerar um ao outro. E talvez, talvez com o tempo as coisa até se acertassem entre nós. De novo. Essa perspectiva me trazia um bom tipo de arrepio.

–Odeio dizer isso, mas acho que o Al está certo- James admitiu, olhando o relógio.

Eu balancei a cabeça, em concordância.

Amanhã seria um longo dia.

P.O.V Rose

Segunda- feira, 14h

Ele estava atrás de mim. Scorpius Malfoy, ou o carma loiro de olhos cinzas hipnotizantes que acaba com a minha vida. Esperava que depois de ontem nunca mais teríamos que olhar na cara um do outro. Tudo bem, ele tinha feito uma aposta também. E tinha sido hipócrita e escondido tudo. Mas seria contra meus princípios não conseguir olhar no rosto falsamente angelical dele e não conseguir odiá-lo? Garotas não deveriam odiar seus exs namorados? Todos não deviam odiar seus exs? Talvez o problema fosse eu, Rose Jean Granger Weasley.

Eu podia sentir o olhar dele queimando em minhas costas. Nós supostamente não deveríamos sentir olhares queimando, mas eu sentia. Não consegui controlar o impulso de olhar para trás, mas quando o fiz, tentei parecer série e talvez um pouco irritada. Como quem não quer nada.

Soube que não tinha funcionado quando um aviãozinho de papel veio em minha direção. Olhei para trás novamente e Scorpius fez um gesto me incentivando a abrir. Suspirei, a curiosidade me vencendo rápido até demais.

Encontre-me depois da aula. Sala vazia do terceiro andar. Dizia um lado da folha. Virei para ele e balancei a cabeça em negação. Scorpius não se abalou.

–Vire o papel- disse, apenas mexendo os lábios. Ai, como eu sentia falta dos beijos dele. Não, Rose. Não. Essa não é você.

Fingindo má vontade, eu virei o papel.

Sabia que diria não, então eu peço por favor. POR FAVOR. Só quero resolver tudo, Rose. Me dê a chance de apenas falar com você.

Peguei minha pena e respirei fundo antes de rabiscar logo embaixo e mandar para ele.

Te dou treze minutos para falar comigo. Depois da aula.

Parte de mim, a parte que eu tentava reprimir, não via a hora de acabar a aula.

*****

Scorpius já estava na sala do terceiro andar quando eu cheguei. Era uma antiga sala abandonada, depois que criarão um alçapão ali para esconder a pedra filosofal e um cachorro de três cabeças. Na verdade, Dumbledore decidiu desativar o lugar, depois de tentarem dar aulas ali no ano anterior e os estudantes não conseguirem conter o entusiasmo. Uma homenagem estranha ao tio Harry e meus pais. Ugh. Entende a pressão de ter esse tipo de pais?

–Não entendi. Qual a desculpa poética para escolher essa sala?- quebrei o silêncio, fazendo com que ele se virasse.

–Eu gosto dessa sala. Tem janelas legais. - Scorpius respondeu, com um sorriso torto.

Oh, droga. Por que razões sobrenaturais esse garoto tinha que ser assim? O cabelo loiro claro estava meio despenteado, o que era raro. A gravata solta que sempre me fazia querer correr e arrumar. Ele estava despretensiosamente apoiado numa mesa. Mentira. Scorpius era o pior tipo de gente bonita, já que ela sabia que era bonito e usava tudo isso ao seu favor. Ela continuou sorrindo para mim, parecendo me analisar dos pés a cabeça e parecendo estar gostando. Eu corei.

–Por que treze minutos?- ele perguntou e eu pisquei. Tomara que ele não tenha percebido nada.

–Dez seria muito clichê. Ou cinco. Ou um. - respondi, largando minha mochila num canto. - Vamos lá. O relógio está correndo. Fale.

Scorpius sentou-se em cima da mesa e suspirou.

–Primeiro, calma. Eu não quero brigar. Pelo amor de Merlin, nós temos dezesseis anos. Vamos agir civilizadamente. Sem gritos. Sem brigas.

–Não entendi o que você quer- menti nervosa com o que viria a seguir. Seria eu capaz de ter força suficiente para isso?

–Entendeu sim. Por favor, Rose. Só quero arrumar as coisas.

–Acho que estamos além de conserto. - olhei para o outro lado, cruzando os braços.

Pude saber pelo tom de voz que Scorpius sorria.

–Eu sou um Malfoy. Nada está além do conserto para nós. Vem aqui. Juro que não vou tentar nada.

Meu cérebro disse fique parada!, minhas pernas disseram ande, logo, bunda gorda, vá até lá!.

–Estou aqui- disse, ainda de braços cruzados. Fale.

Ele respirou fundo.

–Você não faz ideia de como isso é difícil.

–Tic-tac.- eu disse, quando ele voltou a ficar em silêncio.

–Então você estava falando sério? Tempo cronometrado? Tudo bem. É tudo culpa minha. - Scorpius disse e eu contive meu impulso de me inclinar para escutar melhor. Desculpe, Rose. Eu não deveria ter feito nada disso. pensei em interrompe-lo, mas ele parecia mesmo disposto a falar. Era melhor não interferir. Eu não sei se você sabe, mas... Eu fiz a droga de uma aposta também. Com o Alvo. Ele pode ser meu melhor amigo, mas talvez tenha sido hipocrisia da minha parte ter ficado tão chateado com você.

–Hipocrisia? Eu quis usar todas as maldições em você quando descobri!- eu respondi, revirando os olhos e ele piscou, surpreso.

–Você sabia? Desde quando?

–As meninas me contaram. - disse, vagamente. Não queria admitir que só soube ontem. E que mesmo assim, ali estava eu sendo uma babaca apaixonada e ouvindo o que aquele sonserino idiota tinha a dizer.

Rose Weasley, a senhorita é ridícula mesmo.

Scorpius assentiu.

–Não sou orgulhoso disso. Agora eu acho que no fundo foi uma desculpa, sabe? Uma desculpa para começar a falar com você. Ridículo, eu sei.

Abri a boca para responder.

–Não, Rose, eu falo agora. Não devia ter pedido um tempo. Podia ter brigado com você, mas não isso. Muito menos, eu devia ter aceitado sair com a vagabunda da Alicia Summers. Ou ter feito todas essas ceninhas patéticas. É clichê, mas eu me arrependo. Eu teria feito diferente. Teria relevado. Porque pode ter começado como uma aposta, mas eu nunca devia ter duvidado do que eu sentia. Que eu acho que posso estar apaixonado por você.

Eu fechei os olhos enquanto ele pegava minha mão, descruzando meus braços, e me puxava mais para perto, meu coração batendo tão rápido que eu podia escuta-lo.

–Scorpius... Eu fui errada em aceitar essa aposta. É tão... Não Rose. Foi ideia da Lily, é claro. Eu só não devia ter aceitado.

–Fico feliz que tenha aceitado essa loucura- ele respondeu, com um sussurro, e eu soube na hora que a frase abrangia mais do que as apostas todas. Ele falava sobre nosso namoro de mentira não tão de mentira assim, por eu ter ido até ali.

Eu estava muito perto dele agora. De pé, e com ele sentado, a altura seria perfeita para um beijo.

–Não faz isso. - eu protesto- Scorpius, é sério. Eu não vou conseguir me controlar. Eu... gosto de você. É tão agridoce quanto parece. Mas eu gosto.

Eu o empurrei, por mais que não quisesse, e comecei a falar mexendo as mãos, como acontece quando estou nervosa.

–E eu só não quero estragar tudo de novo. Agora eu peço por favor. Se você realmente quis dizer isso... Seja meu amigo primeiro.

Scorpius riu sem humor.

–Eu não sei ser só seu amigo.

Eu sentei ao seu lado, devagar. Havia perdido o controle de tudo naquela situação há muito tempo, mas ainda sentia que um passo em falso e tudo ia desabar. Eu ainda sentia como se estivéssemos caminhando em gelo fino.

–Então nós somos indefinidos. Só porque eu meio que gosto de ter você na minha vida.

Scorpius sorriu como se estivesse com alguma ideia em mente.

–Então isso quer dizer que eu posso te beijar?

É claro que ele nem me esperaria responder. Por que eu ainda insisto em resistir? Isso era tudo que eu queria. Como eu tinha sentido falta.

Nós nos separamos, com sorrisos no rosto. Patético, na verdade.

–Talvez dê certo dessa vez. - Scorpius diz, como se estivesse lendo minha mente. O que eu não duvido que ele seja incapaz de fazer.

–Só não coloque uma coisa na frente da outra. Vamos ver onde vai dar, ok?

–Quem é você e o que fez com Rose Weasley?

–Ah, cale a boca. Estou sendo mais do que legal com você. respondi, me levantando. Rose Weasley tem um compromisso. Mas pelo amor de Merlin, diga oi se me vir no corredor.

Scorpius riu, e eu sai da sala antes que ele pudesse me alcançar. Deixe estar, Rose. Quem sabe assim não dá certo?