POV Rose- Hogsmead,

Eu estava desconfortavelmente sentada naquele cantinho escuro do Três Vassouras, com o idiota do meu primo Alvo, me espremendo contra a janela. Estávamos nos escondendo de uma garota qualquer, com a qual ele tinha marcado um encontro e tinha esquecido. Pois é, a vida é muito legal comigo.

-Você queria o quê, dar uma de James Potter?- eu perguntei, emburrada, enquanto ele resolvia trocar de lugar e passava por cima de mim.

-Ah, Rose, não deixa isso pior. Pelo menos eu esqueci, não marquei com duas no mesmo dia e depois fui parar na Ala Hospitalar.

Ele se arrumou ao lado da janela e sorriu vitorioso.

-Ela está indo embora.

-Ainda não entendi porquê não quis sair com ela- eu disse, enquanto abria o cardápio e pensava no que ia pedir.

Alvo suspirou.

-Eu estou apaixonado, Rose.

-Ah, que coisa lindinha da Rô!- eu praticamente gritei e ele me encarou como se eu fosse à problemática ali. – Pelo menos agora nossos pais vão parar de encher dizendo que nós devíamos namorar.

Ele assentiu, olhando o cardápio na minha mão.

-Já decidiu?- perguntou, e eu dei de ombros.

-Pode pegar se quiser. - respondi, e Alvo agarrou o cardápio. Aquele ali é quase tão esfomeado quanto Hugo. Mas é, agora me restava curtir mais um super animado passeio a Hogsmeade. Sintam a ironia.

Mas infelizmente nossa insossa tranquilidade foi perturbada por uma figura loira, de olhos acinzentados e também conhecida como Doninha Jr. Eu juro que não sei como o Alvo aguenta. Não é questão de sobrenome, “Weasleys odeiam Malfoys e vice-versa”. O fato inegável é que Scorpius Malfoy é um babaca que usa as garotas e só não perde para James Sirius. Mas eu ainda acredito que James tenha salvação (e ela se chama “um estranho relacionamento estranho com Dominique Delacour”, mas não é assunto para agora) e quanto ao Malfoy... Ele é um caso perdido.

-Duas cervejas amanteigadas e... Weasley, você está aí! – ele gritou para uma garçonete, se jogando no banco à nossa frente com aquele sorrisinho colgate que ele pensava que derretia corações. – Estou fugindo da Summers.

-Summers? Alicia Summers?- Alvo pergunta, recolocando o cardápio na mesa- Pensei que tivesse vindo com a Georgia Hodges.

Malfoy riu, abaixando a voz.

-Eu vim com as duas! Mas uma amiga da Hodges apareceu, aos prantos por causa do Potter mais velho e nós marcamos alguma coisinha para mais tarde.

Eu fiz uma careta. Aquele era o tipo de conversa que eu aguentava por cinco minutos há seis anos por causa dessa obsessão do Alvo de fazer seus dois melhores amigos gostarem um do outro. O que geralmente acabava com brigas, duelos e muitos, muitos gritos.

-Já que você tem companhia, Al, eu vou procurar a Lily. Ela ainda deve estar atrás do Hugo.

Alvo arregalou os olhos.

-O quê? Não, Rose! Essa é a oportunidade perfeita para vocês agirem como pessoas civilizadas, já que estamos em um lugar público e...

-Eu e o Malfoy? Agindo como pessoas civilizadas? Nem pensar!

Malfoy se intrometeu, como sempre.

-Odeio concordar com a Weasley, mas... Nós nunca seremos civilizados.

Antes que eu pudesse responder, a festa tinha ficado completa. James Sirius apareceu, correndo até a mesa onde estávamos.

-Alguém viu o Fred? Ah, cara, precisamos ir embora...- ele disse, olhando freneticamente para os lados.- E aí, Malfoy?

-É aquela história com a amiga da Hodge?- Alvo perguntou, enquanto James sentava ao seu lado, no meu antigo lugar.

-Amiga da Hodge? Da Georgia Hodges? Que amiga dela? Não, não. - James disse, balançando a cabeça. – Eu estava com a... Qual é mesmo o nome dela? Ah, não importa. Parece que o Fred estragou o encontro da Molly, e a Dominique está louca atrás de mim achando que eu tenho algo a ver com isso. Vai entender.

O que eu disse sobre ser complicado?

-Então, tchau Alvo, tchau James. - eu disse, assim que ele acabou de falar. Ouvi Alvo gritar “espera aí!” e James “se vir o Fred, manda ele vir aqui!”.

Lá fora estava frio e nublado, como se fosse nevar mais tarde, apesar de ser começo de inverno. Me encolhi dentro do casaco, procurando por alguém conhecido em qualquer lugar. Mais precisamente, procurando por cabeças ruivas. Achei uma ao longe, em frente ao Madame Padfoot.

-Lily?- perguntei, quando estava próxima o suficiente para ela ouvir. Era mesmo Lily.

Ela deu um sorriso que misturava tristeza e raiva. Eu juro que tenho medo da minha família ás vezes.

-A Scamander. Você consegue acreditar que ele está com a Scamander?- ela praticamente gritou, balançando a cabeça- Ela é da idade do James! Isso é pedofilia!

Eu não pude deixar de rir.

-Nós já sabíamos que ela não prestava, Lils. Vamos sair daqui. - eu disse, puxando-a antes que a gritaria continuasse. Se ela ia gritar, é melhor que gritasse bem, bem longe dali.

Por mais quinze minutos, eu tentei prestar atenção no que Lily Luna dizia, sobre como Hugo era um idiota (isso é verdade), como ele podia acreditar que ela gostava mesmo dele e etc. Por mais que fosse praticamente minha única amiga, eu não podia negar que aquele papo estava muito chato e meu cérebro se desligou em algum momento durante o monólogo dela.

-Hum, Lily, vamos ali comprar umas penas?

Ela suspirou, colocando o cabelo ruivo atrás da orelha.

-Você não ouviu nem metade, ouviu?

-O-ouvi... - respondi, virando a cabeça. –Eu realmente preciso de uma pena nova.

-Você não tem jeito, Rose! Sempre pensando na escola!- ela riu, me empurrando de brincadeira. – Vamos, vamos comprar penas!

Já disse que o humor dela é tão estranho? Tenho sérias suspeitas que ela é bipolar, mas tudo bem.

-Sabe, eu poderia furar os olhos da Lysander com uma pena.

Retiro o que disse. O humor dela não mudou nem um pouquinho. Eu revirei os olhos, enquanto ela marchava à minha frente, pensando em voz alta sobre teorias de tortura para Lysander Scamander.

A porta da lojinha de penas abriu com o típico barulho de sininhos, e eu me arrependi de ir até lá. A sonserina mais detestável e sua amiga corvinal um pouco menos detestável estavam ali, com todas as seguidoras, lotando a loja e acabando com o estoque de penas de pavão albino.

-Pensei que esse lugar fosse mais bem frequentado- Alicia Summers disse, com sua voz ácida.

Lily bufou e eu apenas ignorei, puxando-a para o canto oposto e observando penas. Mas a fala de uma das seguidoras chamou minha atenção.

-Eu a vi no Três Vassouras, com o Scorpius.

Alicia piscou.

-Como o... Scorpius? O que ele estaria fazendo com Rose Weasley?

-Os Potters estavam lá também... - a garota disse, os olhos arregalados.

-Isso explica tudo- Camila Belle, a amiga corvinal, interrompeu, jogando os cabelos pretos para trás- O fofo do Alvo deve ter arrastado o Scorpius para lá e...

-Shhh- Alicia disse, quase batendo na amiga ao pedir que ela fique quieta. – Eu sei. O que um garoto como ele iria querer com... Rose Weasley? – ela riu. – Ela nem tão inteligente é, apesar de ser meio bonitinha. Rose Weasley não é nada.

Lily deixou uma linda pena cair no chão.

-Retire o que disse!- ela gritou, enquanto avançava para cima de Alicia. Eu já mencionei que tenho medo dessa família, e repito.

-Lily- eu a segurei, enquanto Alicia dava um passo para trás, assustada- Eu não ligo.

Alicia deu sua risadinha irritante.

-Você ouviu, Potter. Ela não liga. Ela sabe que é verdade. Então, por que você vai ligar?

Lily se soltou, me encarando como se dissesse “nós vamos conversar depois” e se virou para Alicia.

-Ah é? Por que eu acho que Rose é muito melhor que vocês.

-Sério? E qual é o namorado dela?- Belle indagou, as mãos na cintura- Os livros são?

-Rose não precisa de um namorado para ser alguém, diferente de vocês. - Lily berrou em resposta, e depois seus olhos brilharam como se tivesse tido uma revelação.

-Lily, chega- eu tentei terminar com aquilo. De qualquer jeito que acabasse, não seria bom para mim.

-Eu aposto que ela poderia ter qualquer garoto nessa escola.

Camila abre a boca para responder, mas Alicia a corta, enquanto eu penso na besteira que Lilian Luna acabou de dizer. Eu tinha dezesseis anos, meu primeiro beijo tinha sido com meu primo (Alvo, se quiserem saber) num jogo de verdade ou desafio no último verão e eu com certeza me vestia mal.

-Quer... apostar?- ela disse, os olhos brilhando de pura maldade.

“Diga que não, diga que não...”.

-Quero!- droga de Lily! Ela levantou a cabeça. – Com quem você quiser.

Será que nenhuma delas percebeu que estavam falando sobre mim, decidindo minha vida como se eu nem estivesse ali?

-O garoto mais desejado de Hogwarts.- Camila completou, trocando um olhar cúmplice com Alicia.

-James?- uma das seguidoras perguntou. – Ele é primo dela.

-Não. – Alicia respondeu- Ela quis dizer o Malfoy. Agora, se nos dão licença... - ela nos empurrou para passar. – Ah, quase me esqueci. O prazo é até o fim do ano.

Ela arrumou os cabelos brilhantes e saiu rebolando. Era hora de encarar o nosso grande problema.

-Eu não vou fazer isso!- gritei para Lily, enquanto pagávamos minha nova pena.

Lily foi pagar as compras dela.

-Eu fiz uma aposta, Rose! E acredito em tudo que eu disse. - ela afirmou, enquanto voltávamos para a ventania.- Nós só precisamos... fazer umas mudanças.

-Não, não e não!- eu insisti, falando mais alto que o normal por causa do vento- Argh, vamos embora.

Lily suspirou.

-Se você quer mesmo deixar Alicia e suas cópias ganharem de novo... Acho que você que pensa que não consegue.

Eu me contive para não revirar os olhos de novo. E pelo sorriso de Lily, ela já sabia que tinha me convencido. Ninguém desafia uma Weasley e fica em paz. Eu vou fazer Alicia Summers engolir cada palavra.

P.O.V Scorpius- Hogwarts

Depois que a Weasley saiu dali correndo, eu ainda tive que aguentar a falação de Alvo, sobre como nós não tínhamos mais idade para aquela mesma briguinha infantil.

-Eu já disse milhões de vezes que, pra mim, isso tudo é amor reprimido- ele afirmou se sentindo o dono da verdade.

Nós (e por nós eu quero dizer eu, Alvo e James) resolvemos voltar para o castelo sem o pobre coitado de Fred Weasley, que deve ter encontrado a fúria loira em forma de garota, Dominique. Eu tenho muito medo das mulheres Weasley, mesmo que ela assine com “Delacour”. Alvo diz que eu nunca superei o fato de que ela meu deu o fora, e não o contrário. É isso aí, o lindo maravilhoso e gostoso Scorpius Malfoy já levou um fora épico. De Dominique Delacour. Mas não é um assunto que eu goste de lembrar.

-Eu já disse milhões de vezes que você é um maluco que não tem mais o que fazer da vida. - respondi, enquanto brincava com uma bolinha, deitado na cama.- Não me diga que a sua intuição te diz isso.

Alvo parou de andar pelo nosso quarto nas masmorras.

-Bem, se eu tivesse uma intuição ela diria isso. - ele disse, agarrando a minha bolinha.

Eu ri, levantando da cama para tirar a minha bolinha da mão dele.

-Só se for da parte da Weasley. Você sabe, é o meu charme irresistível. -  eu pisquei e Alvo riu, me empurrando.

-Ah, claro- ele disse irônico. – Você pode ter todas as garotas dessa escola, menos a Rose. Ela é muito durona para você. Todas as Weasleys são. Não se esqueça daquele fora do ano passado e...

Eu cruzo os braços.

-Temos mesmo que falar sobre isso? A Dominique foi uma exceção...

Alvo, aquele filho da mãe, teve uma crise de risos como sempre acontece.

-Cara, você estava mesmo apaixonado por ela?

Eu encarei Alvo, que estava com expressão de quem segura o riso.

-Foi só uma coisinha, sabe? Ela era Dominique Delacour, A veela, A garota. Toda população masculina de Hogwarts já sonhou com ela.

Ele estreitou os olhos, como se estivesse me analisando.

-É uma explicação plausível.

-Plausível? Alvo, pare de andar com a Weasley.

Ele revirou os olhos (outra mania da Weasley, não que eu fique notando).

-Voltando ao assunto... Ela é uma que eu duvido que caia na sua, Scorpius.

-Você está duvidando da minha capacidade de sedução?- eu perguntei, e Alvo assentiu.

-Sim, eu estou.

Nesse momento, eu precisava fazer a decisão mais difícil da minha vida e... Nossa, eu tenho que parar de ouvir os monólogos do Alvo. Não era uma decisão difícil. Eu iria provar para aquele garoto com uma paixão secreta (eu sei, muito gay da parte dele, mas é meu amigo, fazer o quê) que eu podia ter todas que quisesse. Inclusive Rose Weasley.

-Eu vou provar que está errado.

-Isso é uma aposta? Valendo o que?- Alvo perguntou.

-O que nós quisermos. Se eu vencer, o que vai acontecer, você me diz sua paixão secreta. Se você vencer...

-Você admite para toda a escola o quão chateado e com o orgulho ferido ficou no ano passado. - Alvo sorriu vitorioso- É pegar ou largar, esses são os termos.

-Essa vai ser fácil. - eu disse, enquanto apertava a sua mão.

Estava valendo.