Naruto : Next Generation escrita por MarieClaire


Capítulo 2
Cap.2 - Trazendo o passado a tona


Notas iniciais do capítulo

Esse capitulo pode estar um pouco dramático , mas eu preciso mostrar que a Mikoto pode ter um pouco do jeito do pai ... e alguma coisa tinha que despertar esse lado dela.



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[M.H.]

 

 

Naquela noite, como em muitas outras, Mikoto sentou-se nos primeiros degraus da varanda de sua casa, aguardando o retorno de seu pai. Ela gostava de comprar alguns biscoitos no centro, quando achava moedas pela casa, e havia feito isso hoje. Aparentemente, Sasuke havia se esquecido de alguns trocados no fundo da sacola com o café da menina, o que foi bastante conveniente quando ela passou pela porta do mercadinho.

Alguns minutos depois ela o viu se aproximar pela trilha de terra,  em meio às árvores do bosque que cercava o clã dos Uchiha, tão abandonado pelo tempo e pelos seus membros já mortos. Era um lugar imenso, que parecia quase amaldiçoado, quando visto de dentro. Casas e mais casas vazias, sem herdeiro se não eles três. Sempre tão isolados e solitários, como todos os exilados hão de ser.

Sasuke não havia sido exilado de verdade, mas socializar com a família Uchiha restante era quase proibido em Konoha. Eles não era bem vistos por ninguém, portanto Mikoto nunca interagiu com as outras crianças. Sakura teve de se afastar de seus amigos, uma vez que estes não perdoaram Sasuke por suas traições. E assim viviam os Uchihas. Sozinhos, mas juntos. Apenas os três.

Ciente de que a menina queria a sua atenção, Sasuke sentou-se ao lado dela, realmente interessado no que ela tinha a dizer. Muitas das conversas dos dois eram monólogos de Mikoto narrando detalhes de sua rotina, e Sasuke raramente a interrompia no meio de um desses. Não era tão paciente com Sakura, mas quando se tratava da filha, podia ouvi-la tagarelar por horas. “Como foi?”

“Melhor do que eu esperava.” Ela empolgou-se. “Fiz até um amigo.”

“Um amigo, é?” Sasuke parecia impressionado. “Sua mãe vai gostar de saber disso. Vamos entrar para você contar a ela também.”

“É que...” Mikoto assoprou a franja de seus olhos, parecendo frustrada “okaa-san está fazendo o jantar.”

A explicação fez Sasuke rir seco, rapidamente, logo se recompondo. Mas naquele breve segundo ela o divertiu, e tinha orgulho de si mesma quando o fazia. O pai era muito pouco bem humorado, embora quando se tratasse dela, a coisa mudasse de figura.

Pai e filha entraram em casa, acomodando-se na cozinha para observar, temerosos, o processo de Sakura com as facas e legumes. Ela parecia muito habilidosa assim, apenas cortando os alimentos, mas quem a conhecia sabia que o resultado sairia horrível de qualquer modo.

“Sakura.” Sasuke chamou a atenção da mulher de cabelos rosas, que o encarou por cima dos ombros, surpresa por ouvir a sua voz. “Mikoto quer te contar como foi hoje.”

Essa parecia a frase certa a ser dita. Sakura virou-se com velocidade, com um sorriso que quase lhe rasgou o rosto, encarando a filha enquanto cortava os tomates. “Oh, querida, me diga!”

Mikoto trocou um olhar cúmplice com Sasuke. “Bom, no geral as aulas são bem chatas... mas fiz um amigo, acho.”

“Um amigo!” Ela ecoou, maravilhada com a ideia. “Posso saber quem?!”

“Akira Inuzuka.”

“Kiba...” Sakura repetiu, parecendo agora distraída. Ela riu consigo mesma, sendo observada por Sasuke em seus devaneios. “Kiba Inuzuka, pai?!”

Mikoto olhou na direção do pai, exigindo respostas, mas ele a ignorou. Esperaram até que Sakura recuperasse o foco. “Enfim, o que mais aconteceu?”

“Ah, nada de muito interessante. Cheguei atrasada, mas o Iruka-sensei chegou junto comigo, então pude entrar tranquilamente. Ele se lembrou de você, mãe. Foi bem gentil comigo. Ai tiveram as aulas, que foram um saco, embora não pareça que nenhuma das matérias vá ser um problema. É bem fácil, até. Enfim, a melhor parte foi conversar com o Akira mesmo.”

“Sabe quem é a mãe dele?” Sakura perguntou, muito pretensiosamente.

Mikoto forçou a memória. “Bom, não vou lembrar o nome. Mas o sobrenome é Hyuuga. Ao que parece ele devia ter o byakugan, mas não foi o que aconteceu.”

De repente, Sakura largou a faca, apertando a beirada do balcão com certa força. O móvel fez um som sob o seu agarro, e Sasuke se aproximou dela antes que o mesmo se quebrasse. Segurou-a pelos braços, puxando-a para trás. Ele não a abraçou, e Sakura virou-se para ele com uma fúria que não era típica dela, quando se tratava do marido.

“É tudo culpa sua!” Ela cuspiu as palavras, tapando a boca logo em seguida. Sasuke olhou de esgueira para a filha única, preocupado.

“Aqui não.” Declarou apenas.

Os dois sumiram na casa, provavelmente rumo ao quarto deles, deixando Mikoto para trás com muitas dúvidas e incertezas. Ela nunca antes havia considerado a hipótese de que sua mãe fosse infeliz com o isolamento deles, pois a própria Mikoto lidava facilmente com isso. Mas sua mãe era uma flor sociável, que tinha de ser regada com conversas e atenção. Talvez o pouco que Sasuke e Mikoto davam a ela não fosse o bastante.

Imaginou como teria sido sua mãe quando mais nova, e sentiu-se mal por nunca ter perguntado muito a respeito. Talvez assim tivesse notado a sua tristeza antes.

Temendo ouvir mais do que devia, ela sentou-se outra vez na varanda. Não impediu os gritos de sua mãe de a alcançarem. Eles transbordavam de rancor, remorso. “Eu sempre fiz tudo por você, Sasuke! Quando você retornou, jamais devia ter dito aquelas coisas! Naruto jamais nos perdoará, e eu não o culparia por isso! Perdi meus melhores amigos, deixei tudo por você!

Ela não ouviu o que o pai disse, pois o mesmo mantinha o tom baixo, mas pôde imaginar perfeitamente. Sasuke não era o tipo do homem que pedia desculpas. Ele arranjaria um jeito de fazer com que Sakura se sentisse culpada, e ela se sentiria, mais cedo ou mais tarde.

“Talvez ir embora seja o melhor a fazer mesmo! E vou levar Mikoto comigo!”

Assustada, Mikoto encolheu-se na varanda, abraçando os próprios joelhos. Ela também não ouviu o que o pai respondeu, mas teve certeza. Quase podia ouvi-lo dizendo. “Ela não sai dessa casa.”

“Eu vou voltar para buscá-la, e você não vai me impedir!” Ela gritou ainda mais alto dessa vez.

Pela primeira vez desde o início da discussão, Mikoto percebeu que ela era definitiva. Aquilo estava acontecendo com ela, e ela não fazia ideia do que fazer. Desesperada, correu para dentro da casa, voando pelos corredores até o quarto dos pais. A porta estava aberta, e ela entrou por ela, vendo a mãe arrancar as roupas do armário, enfiando-as numa bolsa.

Sasuke a encarou, no canto do quarto, desafiando-a a fazer o mesmo. Havia raiva em seu olhar, e ele parecia bastante assustador assim.

“Você vai deixar ela ir?!” Mikoto tomou coragem, aceitando o desafio dele. Sabia que isso diminuiria a sua moral com Sasuke, mas não se importava. Estava com medo, muito dele. “Okaa-san, você vai embora?! Vai me deixar aqui?!”

“Eu volto por você, Mikoto. Quando puder te trazer comigo.” Ela esclareceu, lágrimas nos olhos, incapaz de olhar nos olhos da filha. “Eu prometo, meu amor.”

“Mas, okaa-san...” Dessa vez, Mikoto não se impediu de chorar também. Estava arrasada com a possibilidade. Aquele lugar era muito grande para os três, mas viver apenas com Sasuke seria um pesadelo. Ele nem ao menos passava o dia ali. Ela não gostava da solidão, embora fosse bastante sozinha.

“Mikoto, sua mãe está indo embora porque quer.” Sasuke afirmou, perdendo a paciência e puxando a menina pelo braço. “Não vamos impedi-la de fazer o que quer.”

E a arrastou até o quarto dela, trancando-os ali. Mikoto chorou, culpou Sasuke, chorou mais um pouco, e então apenas desmaiou de exaustão, algumas horas depois de ouvir os passos se afastando no corredor. Eles não hesitaram, e Mikoto culpou Sakura também.

Quando acordou no meio da madrugada, reparou que o pai dormia no chão ao pé da cama, tão cansado quanto ela. Não havia traços de choro, de forma que ela soube que ele não se importava tanto assim. Ao menos não com Sakura.

 

[M.U.]

 

 

 

Naquela manhã, Minato saiu antes mesmo de sua mãe chamá-lo. Ele não estava tão ansioso quanto no dia anterior, na realidade estava apenas cansado da atmosfera dentro de casa. Seus pais estavam brigando bastante, e com uma frequência que não era normal. 

Hinata era um anjo em forma humana, doce até o último fio de cabelo azulado. O grande problema era que Naruto estava se dedicando mais do que o normal à sua função, e isso estava lhe custando a relação com os filhos. Kushina nem ao menos dirigia a palavra ao pai de uns tempos para cá. Minato e Hinata se alternavam na tarefa de entreter a menina, mas aquela ausência da figura paterna era desnecessária. Konoha precisava de Naruto, mas seus filhos também. 

Com os pensamentos longe, caminhou sem pressa até a Academia Ninja. A névoa do amanhecer ainda pairava sobre Konoha, e o silêncio também, este absoluto. Minato só reparou na figura sentada no balanço da entrada porque estivera olhando para ela no dia anterior, de forma que foi capaz de reconhecer a sua figura e silhueta. 

Aproximou-se dela devagar, imaginando que ela também devia ter seus motivos para ter se adiantado tanto. "Olá."

A Uchiha ergueu os olhos esmeralda para si, surpresa. "Oi."

"Com medo de chegar atrasada de novo?" Minato brincou, usando uma estratégia menos complexa para iniciar uma conversa. Mikoto riu fraco, sacudindo a cabeça em negativa. 

"Acho que perdi o sono." Ela disse apenas, indicando que não gostaria de falar sobre o assunto. 

"Akira falou bem de você ontem, quando voltamos juntos. Ele raramente se dá bem com alguém, então fico feliz por isso." Minato não sabia se aquele era um terreno seguro, mas o explorou mesmo assim, apenas para confirmar. "Somos primos e acredite, já tentei com diversos dos meus amigos, mas nunca deu certo."

"Se diversos dos seus amigos incluem Asuma Nara, então o entendo perfeitamente por não se encaixar muito bem."

Esse comentário era venenoso, de fato, mas fez Minato rir mesmo assim. Ela soava muito como o primo. "Asuma não é tão ruim quando você o conhece." Assegurou, soando incerto mesmo para si. 

Mikoto não se convenceu. "Não consigo acreditar nisso. Mas, quanto a Akira, também fico feliz. É bom ter alguém para conversar. Além do mais, vocês já parecem se conhecer. Não você e ele, e sim a classe como um todo."

Minato assentiu. "É, a maioria já se conhecia. Konoha é meio pequena, sabe. E nossos pais se conhecem, então não foi difícil saber quem era todo mundo. Bom, não todo mundo. Você é novidade." Ele disse, sentindo as bochechas corarem sob o forte olhar dela. 

Mikoto riu, se mostrando divertida pela primeira vez na conversa. "Queria dizer que me mudei recentemente, mas acho que ninguém acreditaria. O clã Uchiha é bastante reservado. E, bom, a situação do meu pai com o Hokage não ajuda muito."

Os dois ficaram em silêncio por algum tempo, cientes de que seus pais tinham bastante rancor um do outro, e cientes de que a situação podia até repercutir sobre eles, mas não impedi-los de ter uma amizade caso assim desejassem. No caso de Minato, em específico, ele não conseguia imaginar Mikoto como sua amiga. 

Ela era muito bonita para ocupar esse tipo de posição. 

"Me desculpe por isso."

"Não é culpa sua." Mikoto garantiu, sorrindo de lado. "Meu pai fez por merecer, acho. Mas queria ter tido mais contato com as outras crianças. Teria sido legal."

"Posso te apresentar o pessoal, se você quiser." Ele sugeriu, coçando a nuca um pouco sem graça. "Pode ser que faça mais amigos."

"Veremos. Mas agradeço mesmo assim."

Logo os outros alunos chegaram, de forma que Mikoto e Minato seguiram para locais diferentes. Ela juntou-se à Akira, e Minato ao seu grupo de amigos. Pensou até em tentar apresentá-los antes da aula, mas parecia pouco provável que a interação inicial fosse ser agradável. Asuma faria o possível para torná-la mal sucedida, então ele teria de começar aos poucos. 

 


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