[Minato]

A casa dos Uzumaki estava especialmente barulhenta naquela manhã. Isso porque Naruto tinha o dia de folga, e, portanto, estava ajudando Kushina a escolher uma roupa para a festa de aniversário de uma amiga.

Minato divertia-se sentado no sofá ao lado do pai. Os dois tinham a tarefa de concordar ou não com a combinação escolhida pela garota, e algumas vezes eles sequer notavam a diferença entre uma roupa e outra.

“Quer saber, estou cansado disso.” Naruto foi o primeiro a explodir, como esperado dele. “Vá com a primeira que colocou, é a única que lembro.”

Minato assoviou quando Kushina foi para o quarto, batendo a porta com força. “Sabe que ela vai ficar ressentida, não sabe?”

“Faço ideia.” Ele massageou as próprias têmporas. “Por falar nisso, está em casa há tempo demais. Não vai sair com a Rin?”

“Já disse que não tenho nada sério com ela.” Minato pontuou.

O fato de que todo mundo os colocava na caixinha do relacionamento sério o incomodava bastante, uma vez que não era isso o que ele e Rin tinham um com o outro. Minato gostava da companhia dela, a achava bonita, e os dois se viam com frequência por serem colegas de time. O envolvimento entre eles era natural, mas não estável. Minato não era apaixonado por ela, e depois de quatro anos convivendo com a garota percebeu que nunca seria.

“E eu já ouvi isso. Estou perguntando se não vai sair com ela, como amigos, seja lá o que vocês são um do outro.”

“Não, não vou. Asuma está vindo ai, ele quer dar uma volta.”

E, como se tivesse escutado a conversa, a campainha tocou. Foi Minato quem abriu a porta, e não se preocupou em deixar Asuma entrar, simplesmente fechando a porta atrás de si. 

"O que foi?" Asuma estranhou a atitude. "Estou proibido de entrar?"

"Bom, sim. Até que pare de jogar charme para cima da minha irmã, quero que fique longe dela."

"Eu já disse que não tenho culpa alguma se ela se apaixonou por mim! Sabe que é algo natural. Ainda mais na idade dela, poderia ter sido qualquer outro amigo seu."

Sim, Minato concordou, poderia ter sido qualquer outro menos você. Ele tinha muito amor e apreço pelo amigo, mas sabia o quão babaca o mesmo conseguia ser. Se preocupava com a sua irmã, e, se pudesse escolher, jamais deixaria que Kushina se envolvesse com alguém como Asuma Yamanaka. 

[Mikoto]

Não muito longe dali Mikoto Uchiha já estava no território de Konoha, os batimentos cardíacos acelerados, e o cabelo bagunçado, como se tivesse corrido com todas as suas forças até ali. A verdade era que ela de fato havia corrido, mas apenas para manter as aparências. Quando chegou ao portão principal da Vila, os vigias se assustaram ao vê-la gritando por ajuda. 

"Socorro! Preciso de ajuda!"

"O que está acontecendo?!" Um deles quis saber, se colocando em posição de defesa. O outro correu pela direção de onde ela viera, procurando por qualquer coisa suspeita. 

Mikoto forçou as lágrimas, e elas deixaram os seus olhos, traçando um risco de água por suas bochechas pálidas. O vigia a encarou, esperando por respostas, e, ciente do estado dela, fez uma pergunta mais fácil. 

"Como posso te ajudar, menina?"

"A minha família. Preciso encontrá-la." Disse entre soluços. 

Ele franziu as sobrancelhas. "Sabe onde estão?"

"Aqui, estão aqui."

O outro ninja retornou para o seu posto, tocando o ombro do companheiro e sussurrando alguma coisa. Os dois olharam para a floresta, e então para Mikoto. 

"Pode nos dizer um nome? Para que possamos chamar alguém para te buscar."

Perfeito, ela pensou, agora vem a parte divertida. 

"Sasuke Uchiha."

O nome teve o seu peso imediato posto sobre os ombros daqueles vigias. De repente eles sabiam exatamente quem ela era, e o quão importante seria levá-la até o Hokage de Konoha. Um deles se encarregou de escoltá-la até o prédio principal, e o outro foi chamar seus pais, mesmo sem a autorização de Naruto Uzumaki. 

Seria questão de tempo até estar reunida com todos os seus inimigos. Sabendo disso, Mikoto vestiu sua melhor máscara, ciente de que não seriam admitidos erros. Ela tinha de convencê-los, ou então seu plano, quer dizer, o plano de Itachi, seria comprometido desde o começo. 

[Minato]

Saindo do Ichiraku, Minato e Asuma caminhavam tranquilamente pelas ruas, discutindo se deveriam ou não ir até a casa de Ryuuji para chamá-lo para sair. Era difícil reunir os amigos atualmente, pois os times quase sempre tinham missões em tempos diferentes. Basicamente só conviviam uns com os outros na maior parte do tempo. 

"Ah, por falar nisso..." Asuma começou, e Minato já sabia que o rumo da conversa seria de seu desagrado pessoal "quero saber quando vai pedir a Rin em namoro. Na verdade, ela também quer saber isso."

"Nunca."

Asuma arregalou os olhos, virando-se para o amigo. "Como?"

"Não vou pedir ela em namoro, Asuma. Ela já devia saber disso, e não vem comendo pelas beiradas pra botar pressão. Já avisei ela que não vai acontecer. Sei que foi ela quem te pediu para ter essa conversa comigo, mas nem tenta."

"Se não gosta dela, então pare de dar esperanças. Ela acha que vão ser um casal um dia, acha que você está hesitando porque são do mesmo time. Para ser honesto, eu também achei."

Minato suspirou, incapaz de conter seu tédio diante da discussão.

"Não quero mais tocar nesse assunto. Se quiser ter algo com ela, vá em frente. É até melhor, ai você desiste da Asami finalmente."

"Asami?" Asuma repetiu. "Corta essa cara, embora ela seja a mais bonita da vila é muito sem sal. Acho que preferiria alguém como..."

Minato está distraído com seus pensamentos, mas nota quando o amigo para de falar. "Alguém como...?"

"Como ela."

Ele não esperava pelo que veria a seguir. A cena toda devia ter durado segundos. Minato se virou, olhando por cima do ombro de Asuma, tentando ver a quem o amigo se referia. E, quando viu, só se lembra de ter permanecido estático. As pernas tremeram, o coração ameaçou saltar pela boca. Mesmo seus olhos tiveram de se arregalar. 

A garota que se aproxima é linda, e está sendo escoltada por um dos vigias de Konoha. Mas não foi a beleza dela que o assustou, e sim o fato de que, mesmo quatro anos depois, ele tinha a certeza de quem ela era. 

Jamais se esqueceria daquele rosto. 

Seus lábios sibilaram o nome dela, em reconhecimento, e ela foi capaz de lê-lo. Estava olhando para ele também, talvez porque o reconhecia. Mas apenas se olharam. Quando passou à frente dele, seus olhos o abandonaram em indiferença. Ela não parou, e Minato tampouco foi capaz de ir atrás dela. O mundo dele estava congelado.  

[Mikoto]

Os corredores do prédio do Hokage pareciam infinitos, e ela sabia que era a sua ansiedade que estava dando essa impressão ao lugar, de ser infinito. A espera estava se tornando insuportável, e ela só pôde respirar outra vez quando bateram à porta do escritório de Naruto Uzumaki. Seu corpo e sua mente se prepararam para tudo o que se seguiria, e ela sabia que teria de fazer uma bela performance. Uma convincente. 

Ela esperou do lado de fora quando o vigia a pediu que o fizesse, e observou pela fresta da porta o homem se dirigir à mesa do Hokage. 

"Hokage-sama." Cumprimentou formalmente primeiro. "Tenho notícias importantes."

"Diga logo, eu estou morrendo de dor de cabeça e tenho uma pilha de..."

"A filha de Sasuke Uchiha e Sakura Haruno está aqui, senhor. Está atrás dessa porta."

"Como é que é?!" O grito do Hokage ecoou pelos corredores, e Mikoto sorriu bem discretamente, pelo canto dos lábios. Ele continuava o mesmo escandaloso e imaturo de sempre, como Itachi disse que seria. 

"Por que infernos ela já não está aqui dentro?! Onde estão Sasuke e Sakura?! Mande chamá-los agora!"

"Vou buscá-la, senhor. Sinto muito.Já estamos informando-os do retorno dela."

Mikoto coça os olhos antes de entrar na sala, sem esperar que o vigia retorne para buscá-la. Sua paciência é curta com formalidades e, quando abre a porta, faz questão de olhar diretamente nos olhos de Naruto Uzumaki. 

"Hokage-sama." Se curva suavemente, apenas para demonstrar respeito. O loiro a observa atentamente, parecendo incrédulo com toda a situação. Até agora, tudo estava sob controle. Lidar com pessoas com as quais nunca tivera intimidade era fácil, não teria de se esforçar tanto para convencê-lo. 

"Você cresceu." Ele disse, visivelmente incapaz de dizer qualquer outra coisa. "Sente-se, por favor. Fique à vontade."

Ela ocupou um dos lugares no sofá próximo da mesa dele, pondo as mãos em cima do colo, e brincando com os dedos, como se estivesse nervosa. Linguagem corporal também poderia ser bem persuasiva. 

"Onde estão meus pais?" Perguntou, o tom soando meio embargado, como se estivesse prendendo o choro. 

Naruto engoliu em seco. "Eles já estão chegando, prometo. Quando chegarem... receio que vá ter que falar sobre o que aconteceu, Mikoto. Você sumiu por quatro anos."

"Não sumi." Ela o corrigiu, soando até mesmo ofendida com a sua acusação. "Eu fui levada."