A Busca do ídolo de Ouro escrita por Fizban


Capítulo 2
Viagem ao Brasil




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Os cafés, em Paris, não eram mais como os de antigamente. Agora vários turistas passeiam pelas praças à procura dos famosos bares franceses. Aquela calma e beleza que tinham no passado se foram com os flashes e vozes escandalosas.


As cafeterias eram famosas na capital francesa, assim muitos turistas adoravam visitá-las. No entanto, aquele não era um café como o incrivelmente conhecido Les Deux Magots na St Germain des Prés, um dos chamados monumentos da cidade.


A jovem arqueóloga Eleanor LeBeau estava no Montecrisco Café e este não era tão famoso assim, apesar de ser um dos mais lindos de Paris. Podia ver, de sua mesa posta debaixo de um aconchegante toldo vermelho, o Arco do Triunfo, atrás das arvores que compunham a paisagem da grande Avenida Champs Élysées.


A linda francesa olhava para os turistas com desdém, quase não admitindo que em meio àquela confusão que provocavam, sua alegria contagiasse a todos, incluindo ela mesma. Eleanor acompanhava com os olhos um casal apaixonado, podia ver o amor que eles irradiavam um para o outro, e pensava qual fora a última vez em que estivera apaixonada assim. Foi provavelmente na faculdade, quando ainda estava no segundo ano, mas não fora por um jovem aluno, e sim pelo professor Beto.


 Doutor Fernando Roberto Vilela, que possuía a cadeira de História do Brasil na Université Paris. Trabalhava no campus conhecido como Panthéon-Sorbonne no qual ficavam as disciplinas de ciências humanas, como Arqueologia, Artes, Filosofia, Geografia e História.


 Ninguém precisava conhecer o Dr. Vilela para saber de sua competência, pois era muito difícil um estrangeiro ser do corpo docente da Faculdade de Paris. No entanto, os estudos acadêmicos dele eram famosos em toda França, sendo autor de vários livros, não apenas sobre Arqueologia e História. Também um autor de romances históricos, Fernando fez uma pequena fortuna escrevendo livros de personagens em várias épocas. Logo foi chamado de mestre da narrativa histórica e, embora isso não fosse bem visto entre os outros historiadores, ele era um dos nomes mais bem vendidos tanto na Europa quanto em todo continente americano. Era um homem cativante e não seria estranho que Eleanor ficasse apaixonada por Beto. No entanto, ela não entendia porque ele não a amava, o porquê de não ter conseguido conquistá-lo.


Eu sou uma mulher bonita, pensou. LeBeau realmente era bonita. Seu tamanho era bem pequeno e era muito magra, mas o corpo era formoso e bem desenhado. Tinha os cabelos negros e a pele branquinha, que contrastava com os olhos verdes e sedutores. Aqueles olhos já tinham conquistado muitos dos alunos da Sorbonne, mas apenas um homem a encantara, justamente aquele que Eleanor não conseguira ter...


Aquele sentimento há muito esquecido, há muito tempo enterrado, invadia de forma avassaladora a sua mente. Suas mãos suavam frias e ela sentia a mesma emoção de quando ainda era aluna. Aquela mesma emoção que tantas jovens sentiam pelo amor impossível. Um amor ingênuo e infantil que ela acabara de perceber que ainda não o tinha superado totalmente. Como pode algo ter acontecido há tanto tempo provocar as mesmas sensações?


Perdida em seus pensamentos, ela não percebe o Citroën preto estacionando na calçada ao lado. Eleanor não nota os dois homens saindo do automóvel e se aproximando dela. Estavam vestidos de terno preto e quase se podiam confundir um com o outro de tão parecidos que eram. Quase assustando-a, eles dizem:


- Mademoiselle LeBeau?


- Sim! – disse ela com um certo receio.


- Nós somos do GIGN, gostaríamos que a senhorita nos acompanhasse até nosso escritório, por favor!


- Por quê?


Eleanor estava achando tudo aquilo muito estranho, aqueles eram agentes do Groupe d'Intervention de la Gendarmerie Nationale, a famosa força especial da França. Famosa por ser o serviço secreto que menos utilizava a força da violência entre todas as outras agências do mundo. Mas o que aqueles homens poderiam querer com ela? Como se estivessem lendo seus pensamentos os policiais responderam:


- Não é nada demais, não se preocupe, apenas o Département de Archéologie, Histoire e Muséelogie do governo quer falar com a senhorita.


- Desconheço a existência de tal departamento!


      Na verdade Eleanor conhecia o Departamento de Arqueologia, História e Museologia muito bem. Já tinha ouvido falar dele várias vezes e sabia que Beto tinha participado do grupo, mas tudo eram rumores não confirmados. Com certeza um brasileiro não estaria em algo tão secreto para a França e não havia motivo para haver um departamento secreto que tratava de História. Aquilo poderia ser apenas boato, lenda urbana de faculdades. Bom, era o que pensava, mas estava enganada...

 

 - Bem, como dissemos não é nada demais, por favor, nos acomp...


- Está certo, está certo, vamos logo com isso!


Assim ela foi ao escritório do misterioso Departamento de Arqueologia, História e Museologia. Lugar que não passava de um pequeno gabinete em um prédio comum na esquina da Rua Henri Chevreau e a Couronnes, perto da entrada do Parque Belleville.    


No escritório se encontrava um homem velho, mas enorme. Não tinha os cabelos brancos ainda, apenas a barba. Possuía óculos simples e redondos bem colocados em seu grande e chamativo nariz, que lhe dava toda uma personalidade própria. Vestia roupas comuns e tinha a aparência de muito cansado.


- Dra. LeBeau, eu sou o Dr. René Bourdeaux, chefe do Departamento de História, e vou direto ao assunto, espero que meus homens não a tenham assustado...


- Bem, poderia começar perguntando como um diretor do Departamento de História do governo, algo, aliás, que achava que não existia, emprega agentes do serviço secreto, mas enfim... – respondeu Eleanor. – Se o senhor me disser por que estou aqui, já estarei satisfeita!


- Estou com e seu currículo em mãos, e ele é fenomenal, a senhorita sabia que é a única especialista em História Brasileira da Université Paris?


Não, isso não era verdade, afinal ela não era a única aluna daquela classe, havia outros 30, pensando apenas naquele ano. O Brasil sempre teve boas relações com a França e suas histórias várias vezes se encontraram. Era natural uma matéria sobre Brasil naquele país e a procura era relativamente grande. O porquê de eles a quererem era a questão. Só poderia ser por outro misterioso motivo.


- Não sou especialista e têm vários outros doutores que fizeram o curso de Brasil na Sorbonne!


- Sim, mas a senhorita é a única arqueóloga a estudar civilizações pré-cabralinas, não estou certo?


- Pode ser, mas como já disse não sou especialista, por que os senhores não chamam o Dr. Vilela? Ele é o especialista!


      Falar o nome dele novamente era estranho. Ainda não acreditava como aquela história tão antiga ainda poderia mexer com ela. Eleanor teve que se conter para não demonstrar nenhuma reação ao Dr. Bourdeaux, que voltou a falar:


 - Sim, Dr. Fernando Roberto Vilela, ele está no Brasil, parece que virou político ou algo assim! De qualquer forma, não podemos entrar em contato com ele!


Era realmente incrível que depois de tantos anos ela se lembrasse dele casualmente, e justamente naquele dia ele fosse mencionado. Seria uma simples coincidência? Não, ela não acreditava nisso! Não acreditava em coincidências, e foi justamente ele que a fez pensar assim...


- Continuem! – Disse Eleanor.


- Como assim? – Respondeu René.


- Continuem! O que exatamente vocês querem de mim?


- Ah sim! Como você sabe, foram descobertas civilizações antigas no Brasil.


- O quê? Fala dos vestígios de colônias fenícias achadas pelo coronel Percy

Harrison Fawcett? Isso já foi desacreditado pela academia, Doutor, são

apenas boatos! Nada realmente comprovado...


- É justamente isso que a senhorita vai provar, achamos a possível

localização de um templo, muito antigo, em algum lugar do Vale dos Acritós

na Serra da Mantiqueira, estado de Minas Gerais.


- Como vocês sabem disso?


- Nós, bem... Encontramos uma mensagem de um arqueólogo americano

que vivia aqui, e está indo para lá, costeado por Harvard.


Não, não poderia ser ele, isso já era coincidência demais, ela pensou. Não poderia ser o estadunidense que estudou com ela na Sorbonne. O mesmo canalha que arruinou a vida de sua melhor amiga. Ah, querida Fabienne, isso simplesmente não pode estar acontecendo comigo novamente. Seus pensamentos foram interrompidos pela voz de René:


- O nome desse arqueólogo é...


- Alex Michael Carter! – Interrompeu Eleanor.


- Sim, ele mesmo! Como a senhorita sabe? Claro que sabemos que estudaram juntos, mas achávamos que não tinham mais contato!


- Estão me vigiando?


- Não! Longe disso!


- Bem, só podia ser o Mike! Agora o senhor me convenceu, eu vou para o Brasil!


- Ótimo, a senhorita terá ao seu dispor recursos do estado francês. Temos alguns dos melhores escavadores à sua...


- Eu sei como fazer meu trabalho, Dr. Bourdeaux, por isso me contratou.


- Sim, é claro, Dr. LeBeau! No entanto – disse René – temos também algo que possa ajudar muito!


- O que seria isso?


- Há um diário escrito por alguém que esteve próximo ao Templo, isso em meados do século XVII.


- E nós o temos? – Disse ela.


- Não, infelizmente! O diário foi misteriosamente roubado, acredito que tenha sido pelo Dr.Carter.


- Isso com certeza!


- Mas felizmente o diário estava em português. Logo tinha que transcrevê-lo em francês para entendermos. Entretanto o português não é meu forte, ainda mais arcaico. Assim nós temos apenas uma página do diário, acho que pode ajudar! 


Falando isso René entrega uma folha fotocopiada de suas anotações sobre o diário, sua escrita era péssima, mas para Eleanor que já tinha decifrado os códices astecas do México, aquilo não seria nada!


O pequeno texto dizia:


 

“Dor e desgraça! Todos os meus sonhos se foram! Escrevo este diário mais para não enlouquecer que por qualquer outro motivo. Devo relatar o que houve, talvez este diário chegue às mãos de algum homem que possa usá-lo contra esses selvagens. Só me resta orar pela Providência Divina para que tal venha a acontecer”.

 


LeBeau pensou sobre aquilo por um breve momento. Era totalmente inútil o texto, ela pensou. Não percebeu o conteúdo agourento daquelas palavras. Na verdade não se importava. Não sabia de todos os perigos terríveis que passaria e que teria as mesmas sensações do homem que escrevera aquilo há tantos séculos. Assim, voltou a falar:


- Isso não ajuda muito! Sim, mas eu já li o conteúdo do diário, ele fala do Templo e de um Ídolo.


- Ídolo?


- O Ídolo de Ouro, uma pequena estátua de algum pássaro que cura...


- Uirapuru! Um pássaro que cura com o canto. Eu não conheço bem as lendas indígenas daquele país, mas acho que era mais ou menos isso! O pássaro existe realmente, dizem que tem um canto lindíssimo.


- Sabíamos que era a senhorita a melhor para essa busca! Queremos que o encontre e traga qualquer prova da existência do templo para o Louvre! Sigilo é muito importante.


- Sim, claro. Quando será minha viagem? Eu tenho algumas coisas para preparar ainda, mas posso partir ainda nessa semana.


- Não, senhorita, você irá hoje à noite, a passagem já está comprada em seu nome, boa viagem!


- Bem, parece que há certa urgência nisso...


- Lembre-se, senhorita, que o americano já está lá e tem o diário completo!


- Mas ele não tem o que eu tenho, Dr. Bourdeaux!


- Como assim?


- Eu tenho o Dr. Vilela!

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Nota do Autor:
Os agentes são do GIGN (Groupe d'intervention de la gendarmerie nationale), um grupo real francês que combate o terrorismo. Coloquei-os para dar uma característica secreta à missão e porque eles são considerados os mais eficientes do mundo. Diferente do Departamento de Arqueologia, História e Museologia, este não existe realmente.

Realmente existe uma cadeira de História do Brasil na famosa faculdade de Paris, até onde sei é dada pelo Historiador Luiz Felipe Alencastro e ele é mencionado em outro capítulo. Resolvi colocar que o Fernando seria o professor antes dele, mas realmente não sei de quando a quando Dr. Alencastro lecionou. Era importante que Eleanor fosse especialista no Brasil, não só pra ela ser chamada, mas também para explicar várias informações no decorrer da estória.

O Vale dos Acritós é uma criação dos autores do RPG O Desafio dos Bandeirantes e resolvi usar como pano de fundo em minha estória, mas realmente alguns fatores foram mudados, incluindo sua localização. O trecho do diário vem do RPG e transcrevi na estória.

O nome Alex Michael Carter vem de outra estória minha que aproveitei, sempre achei um bom nome e acaba fazendo referência ao arqueólogo Howard Carter, embora esse realmente seja um bom arqueólogo, diferente da minha personagem.



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