POV Wendy

 Os dias estavam passando rapidamente, antes que eu pudesse perceber já haviam se passado uma semana desde que havia vindo para a Terra do Nunca. Ainda não tinha me decidido a respeito da proposta de Gancho, e o pior era que cada vez mais os meninos perdidos desconfiavam que algo estranho estava acontecendo, e minhas histórias estavam cada vez mais diferentes. O por quê de eu tê-las mudado? Bom, não achava certo contar histórias onde piratas eram vilões frios e que não se importavam com nada nem ninguém. Queria começar a retrata-los como eu os via, ou seja, incompreendidos, e magníficos, um grande mistério ao olhar dos outros, e que escondem segredos. Sim, eles eram impiedosos ao matar, mas ou eles matavam ou seriam mortos. Não sei explicar mas tentava ao máximo pensar como eles faziam, e o pior era que estava conseguindo.

 – Venham, ouçam, acabo de descobrir uma informação sobre Gancho – Peter falou adentrando a casa. Os meninos perdidos assim como Miguel e João correram para perto de Peter e eu os segui. Assim que cheguei mais perto ouvi do que se tratava – Acabo de escutar a conversa de dois piratas. Parece que eles tem uma nova tripulante, mas não uma qualquer, eles aceitaram uma mulher – Peter falou rindo e fazendo todos rirem com ele. Olhei-o indignada

 – O que tem eles terem aceito uma mulher?

 – Vamos Wendy, uma mulher pirata? Aposto como ela acabará morta por seus companheiros antes mesmo de nós a vermos – Peter falou ainda rindo, o único que havia parado era João que entendera meu lado.

 – Aposto como ela destruiria todos se quisesse e ainda estaria sem muitos ferimentos – Falei irritada mas Peter me ignorou

 – O que será que ela faz? Limpa o convés? Faz comida? – Um dos meninos perdidos falou e quase todos riram. Empunhei a espada que Peter havia me dado quando cheguei e apontei para eles

 – Por que não testam as habilidades dela – Falei reunindo minha coragem deixando apenas a raiva assumir – Eu sou a nova pirata. Sou a Bucaneira Djil – Falei e os meninos me encararam espantados – É verdade, fui convidada à pirataria – Disse com uma pontada de orgulho na voz e vi Peter se aproximar de mim segurando sua espada, no instante seguinte só pude me desviar pois sua lâmina ia ao meu encontro. Consegui me desviar por pouco e logo depois estávamos duelando. Só se ouvia o barulho das espadas, os meninos assistiam tudo com uma feição assustada, não sabendo se era seguro atrapalhar ou não.

 Consegui defender todos os ataques de Peter, mas não conseguia ataca-lo, o que eu precisaria fazer se não quisesse morrer. Será que ele me mataria? Ele teria coragem de me machucar apesar de tudo? Eu que comecei, é verdade, mas eu nunca conseguiria machuca-lo, a culpa me corroeria. Depois de mais alguns instantes finalmente vi minha chance de ataca-lo porém não o fiz. Juntei sua espada na minha em um ataque dele para que ficássemos cara a cara. Encarei seus olhos e tudo que consegui ver era raiva e decepção em suas feições

 – Desculpe – Falei com a voz um pouco embargada. Queria abraça-lo e dizer que era mentira, mas não era. Eu realmente fui convidada e queria aceitar ser uma pirata. Peter tirou seus olhos do meu e saiu voando raivoso.

 – É verdade Wendy? – João perguntou quebrando o silencio e eu desviei o olhar do lugar onde Peter estava antes e encarei meu irmão

 – É sim João

 – O que ainda faz aqui então? – Outro menino perdido falou. O encarei tristemente e ele prosseguiu – Peter não precisa de mais decepções, por que acha que ele fugiu?

 – Fugiu? – Perguntei ainda não entendendo

 – Por que acha que ele saiu de casa e veio parar na Terra do Nunca? – O menino perguntou raivoso. Deu um passo em minha direção e me encarou – Eu fui o primeiro depois de Peter a chegar aqui e o encontrei. Não queira saber como ele estava, mas desde então ele tem sido brincalhão, tem sido feliz, cuidou de todos nós – Falou olhando para os outros meninos perdidos – Você não devia ter se juntando ao Gancho, Wendy. Não sabe como será tratada por ele. Aposto como ele só está te usando porque quer algo do Peter

 – Você não o conhece – Falei me irritando

 – Nem você – Ele me respondeu e se virou – Acho melhor pegar o que queira e ir para sua mais nova casa, o navio – Falou e saiu da casa acompanhado por todos os meninos, inclusive Miguel e João. Meus olhos instantaneamente se encheram de água e eu chorei enquanto pegava algumas coisas na casa. Assim que estava com o que queria peguei minha espada, enxuguei meus olhos e sai da casa vendo os meninos reunidos ao lado de fora, sentados de costas para mim. Entendi o recado e corri floresta a fora me esquecendo que eu não sabia nem onde era o caminho para o navio. Apenas deixei meus pés tocarem o chão cheio de folhas e o vento cortar meu rosto enquanto minhas lágrimas escorriam por meu rosto e minha mente tentava não pensar em nada

POV Gancho

 Eu a havia seguido aquele dia que meus piratas a deixaram no meio da floresta, porém ninguém sabia. Eu agora sabia onde era o esconderijo que sempre quis saber, mas não adiantava de nada. A única coisa que queria era vê-la sorrindo, contando histórias e dormindo. Sempre passava para observa-la de longe e sinceramente achava que ela nunca aceitaria a proposta que eu a havia feito. Quem iria querer trocar o conforto de uma casinha por um navio? A companhia de meninos por velhos piratas acabados? E principalmente quem trocaria Peter Pan por James Gancho? Ninguém seria tão estúpido e por isso a surpresa quando um dos piratas bateu a minha porta falando que Wendy estava pela floresta procurando o navio no mar. Me levantei e voltei a usar minha “mascara” sorrindo friamente.

 – Agora a tragam para mim, tenho muito a lhe ensinar ainda – Falei ao pirata e ele deu um sorriso amarelo saindo em seguida. Coloquei meu chapéu e minhas botas e peguei meu casaco. Assim que estava pronto fui até onde minha mais nova prisioneira estava. Peguei a pequena caixa de vidro que estava com Sininho dentro e ela me olhou vermelha de raiva – Te deixaria sair, mas se fizer isso você irá contar para Peter. Mas pense assim, você não irá morrer ai dentro e prometo não acabar com Peter antes de você vê-lo – Disse sorrindo para ela. Esta tentou empurrar a caixa para o chão e quebra-la, porém era muito pesada para a pequena criatura. Me virei de costas e saí para esperar minha nova hóspede