A Filha de Poseidon e o Filho de Hades escrita por Rocker


Capítulo 20
Não sou um peixe de água doce


Notas iniciais do capítulo

[REESCRITO]



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Não sou um peixe de água doce

Mais uma vez fui inteligente o suficiente para não pensar em um plano B. É sempre assim, eu deveria já ter me acostumado, mas nunca pensei que queria tanto que Annabeth estivesse aqui comigo. Ela era sempre ótima nisso de conseguir uma alternativa correta ao plano inicial. Mas acontece que eu estava sozinha. Completa e ridiculamente sozinha. Jamais imaginei que eles se renderiam tão fácil ao meu plano de me sacrificar e mesmo que eu tivesse garantido que voltaria, não achei que eles simplesmente me deixariam ir.

Fiquei magoada, e muito. Principalmente pelo fato de que nem mesmo meus irmãos fizeram algo a mais para me impedir, algo que eu sei que eles poderiam fazer. Nem mesmo Nico. Ele não estava nem lá para se despedir de mim e isso certamente foi o que mais me doeu no coração. Era como se ele simplesmente quisesse me ver longe o mais rápido possível.

Senti uma segunda vibração no chão pavimentado. O basilisco me seguia pelos canos de esgoto, mas eu precisava chegar em meu destino antes que eu fosse completamente assassinada. Não seria nem um pouco legal se eu morresse antes de salvar aqueles que eu amo, mesmo que eles não tenham tentado me salvar. De longe, eu já podia ver o Monumento de Washington, que se estendia a 169,7 metros de altura no centro do Constitution Gardens.

Não sabia exatamente qual deveria ser o plano, mas tinha medo de que não conseguisse realizá-lo. Então algo simplesmente me veio à mente. Eu havia lido algo em um livro qualquer de mitologia grega, sobre basiliscos. Eles podiam ser mortos a partir do canto de um galo ou se olhar seu próprio reflexo num espelho. Poderia ser uma chance de eu sair viva, mas caso isso acontecesse, eu não teria aonde ir. Sim, eu sou melancólica, mas depois que todos eles simplesmente me abandonaram sem tentar ao menos me ajudar, eu não via mais para que realmente me manter viva. Mas eu havia prometo, e eu sempre cumpro com as minhas palavras.

Senti outra vibração no chão e tentei correr o mais rápido que podia. Mas não corri até o obelisco, pois sentia que seria atacada. Segundos depois de eu desviar meu curso para o Lincoln Memorial, o basilisco emergiu do concreto, assustando muitas pessoas ali, que corriam e gritavam. O monstro bateu de frente com o obelisco que, por ser feito de mármore, granito e arenito, só iria levar alguns arranhões. Corri o máximo possível toda a extensão do Espelho D'água que ligava ambos os monumentos e entrei no Memorial.

Podia sentir o monstro vindo atrás de mim e podia ver a sombra que ele formava sobre minha cabeça. Não sabia se era Edward e Hailley que faziam ao menos isso por mim ou se o tempo na capital estava realmente bom. Mas eu não tinha tempo nem cabeça para pensar nisso agora – eu precisava acabar com esse basilisco idiota que acabou com o meu dia. Fechei bem os meus olhos e apenas senti os movimentos do basilisco atrás de mim.

Pulei para fora do monumento, caindo sobre a grama, enquanto o basilisco atacava o local onde eu estava segundos atrás, possivelmente quase destruindo um dos maiores monumentos históricos dos Estados Unidos. Abri os olhos apenas o suficiente para enxergar onde eu deveria ir. Não ouvi sinal do monstro, o que me fazia acreditar que ele voltou para os canos de esgoto. Olhei ao redor, evitando ao máximo levantar meu olhar para não encontrar os olhos do monstro.

Ele não estava à vista, mas eu sabia que ele estava à espreita. Então, resolvi colocar meu plano em ação. Corri e pulei no Espelho D'água. Três segundos depois, me arrependi desse ato. Eu não respirava. É sério, eu não conseguia respirar naquela água, o que me fez pensar que eu só conseguiria respirar em água salgada, mas não era isso. O cloro daquela água me prejudicava e isso impedia-me de respirar. Tentei fazer uma bolha ali e consegui, mas não consegui colocá-la à minha volta, pois não havia motivo para tentar me manter viva. Fechei os olhos, sentindo uma estrondosa vibração nas paredes do Espelho D'água, denunciando a aproximação do basilisco.

Então eu esperei e aconteceu.

Senti uma explosão na parede à minha frente e eu senti que ele estava prestes a me engolir. Botei o plano em ação, congelando toda a parte de água que estava à minha frente, apenas o suficiente para criar um espelho reflexivo. Abri os olhos, preparada para caso fosse o meu fim. Mas não havia mais nada, apenas a poeira cinza deixada pelo basilisco, dissolvendo-se na água.

E então eu soltei o ar, sentindo a água invadindo todo o meu sistema e me levando para a escuridão.

~*~

– Vamos, Ronnie, acorde. Eu preciso de você!

Eu ouvi alguém me chamando. Senti alguém socando meu peito, por cima dos pulmões e senti a água subindo pela traqueia e sendo expulsa pela boca. Eu sentia todo o meu corpo dolorido, mas nada ardia mais do que que minha garganta e meu peito. Abri os olhos com certa dificuldade e rolei os olhos de um lado ao outro, procurando focalizar a minha visão.

– Ronnie, por favor, não me deixe! Eu preciso de você comigo.

Finalmente abri os olhos e consegui ver quem estava me salvando.

Nico.

Ele estava ali, debruçado sobre mim, totalmente encharcado com os olhos vermelhos e inchados. Poderia ser disfarçado pela água que o envolvia completamente, mas eu sabia que ele estava chorando.

– Jamais imaginei que iria viver para ver Nico di Angelo chorando. – eu disse e percebi que tinha certa dificuldade para respirar e por isso minha voz saiu falha e rouca.

Nico viu que eu acordei e rapidamente me envolveu em um abraço forte. – Nunca mais faça isso comigo!

– Se você me apertar desse jeito não terei nem chance de tentar. – eu resmunguei, sentindo meus pulmões falharem, mesmo que eu não quisesse me separar dele.

Nico se afastou um pouco, apenas o suficiente, para que eu pudesse recuperar o fôlego, mas não me tirou de seus braços. Ele fungava, como se não quisesse que eu soubesse que estava chorando, mas era meio impossível.

– Nunca mais faça isso comigo. – ele repetiu, levando uma mão ao meu rosto e acariciando minha maça do rosto, deixando ali um rastro de calor que somente ele conseguia.

Eu tossi, expelindo mais água do meu sistema respiratório e imaginei o quão fraca eu estava parecendo perto dele. Sou filha de Poseidon, como é possível que eu me afogue num simples Espelho D'água em Washington?!

– Vou tentar. – eu respondi depois que me recuperei parcialmente.

– Não vai tentar, eu não vou deixar. – ele disse seriamente e depois que encarei-o confusa, ele continuou. – Não vou mais sair do seu lado, nem que seja para distrair os guardas por ordem de Percy.

Revivi o momento em que eu me separei do grupo, quando vi que Nico não estava por perto.

– Se eu soubesse que você viria sozinha se sacrificar e ser morta por um monstro lendário, posso te dizer que eu te drogava, te arrastava, te deixava inconsciente, mas jamais deixaria você vir. – ele disse e eu forcei um sorriso, mas que logo sumiu. – O que foi?

– Os outros... eles não... – eles não me impediram, tentei dizer, mas as palavras simplesmente não saiam.

E ele riu. – Acha mesmo que eles iam te abandonar?! Tivemos uns problemas com a segurança do Pentágono, já que éramos muitos. Mas eles não aceitaram simplesmente te deixar para trás.

– Então onde...

– Logo ali num estacionamento. Eles viriam, mas como eu estava desesperado e eles estavam te sufocando, mandei eles esperarem na van que eu te encontrava.

– E encontrou. – eu disse, acariciando seu rosto delicadamente.

– Vamos. – ele disse e eu tentei me levantar, mas assim que ele viu o que eu pretendia, rapidamente me segurou no colo. Mesmo reclamando, envolvi meus braços envolta de seu pescoço, para não cair. – Nem pensar que você vai andar, não está em condições.

Dei-me por vencida, sabendo bem que eu estava para desmaiar a qualquer segundo. Então simplesmente apoiei minha cabeça em seu ombro, fechando os olhos e sentindo seu cheiro misturado ao meu.

– Eu te amo. – eu disse, assustada comigo mesma.

Eu queria dizer apenas um “obrigada”, mas mesmo assim essas três palavras não deixavam de serem verdadeiras. Não abri os olhos para ver sua reação, mas senti seus lábios em minha testa, e ele sussurrou ao meu ouvido um "eu te amo também" depois de alguns passos.


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