A Filha de Poseidon e o Filho de Hades escrita por Rocker


Capítulo 14
Pegamos uma van emprestada


Notas iniciais do capítulo

[REESCRITO]



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Pegamos uma van emprestada

Acordei com os primeiros raios de sol batendo em meu rosto. Bocejei e pisquei os olhos para que se acostumassem com a claridade. Enquanto eles lutavam contra as lágrimas que queriam cair, por causa da luz, olhei em volta, tentando me lembrar de como vim parar no Central Park.

De repente, as lembranças da missão invadiram minha mente.

A profecia, as dracaenae, o quase beijo na Colina Meio-Sangue, eu ajudando James, a Porta de Orfeu, a voz de Poseidon em minha mente falando algo que agora me era incompreensível. E Nico, que dormiu comigo. Ao me lembrar deste último detalhe, olhei para a esquerda, já me xingando por não ficar acordada para vê-lo dormindo. Mas nem precisei me apedrejar. Nico dormia tranquilamente, a expressão serena. Podia ficar o dia inteiro vendo-o dormindo, mas como a sorte sempre está do meu lado, segundos de observação depois, as pálpebras dele começaram a abrir-se, revelando orbes negros como a noite.

– Bom dia, dorminhoco. – falei, tentando me levantar do peito de Nico, mas ele envolveu minha cintura com os dois braços, me impedindo de sair.

– Agora o dorminhoco sou eu?!

Fingir estar pensando e depois respondi.

– Sim.

– Não fui eu que dormi assim que Percy saiu...

– Tá zoando, é?!

Droga, nem tive a oportunidade de conversar com ele decentemente.

– Não, não estou. – riu.

– Ótimo – falei, ficando um pouco irritada e cruzando os braços. – Agora vou ficar com fama de dorminhoca.

– Na verdade, fama de que fala enquanto dorme.

Arregalei os olhos. Minha mãe já disse que falo enquanto durmo, mas nunca liguei muito para isso. Agora me arrependo profundamente por nunca ter procurado nada que me ajudasse a acabar com isso. E se eu tivesse falado alguma merda? Sobre aquele sonho, sobre o que eu sinto por ele, sobre o que eu queria que acontecesse, sobre qualquer coisa. Eram muitas as opções que poderiam me colocar numa situação extremamente vergonhosa.

Eu nunca vou me perdoar.

Fechei os olhos bem apertados e respirei fundo, preparando-me para o pior.

– O que exatamente eu falei?! – perguntei, abrindo os olhos e olhando diretamente para os dele.

– Quer saber mesmo?

Pensei por um segundo. Imagino que seria melhor eu passar por toda a vergonha de uma vez. Assenti.

– É, eu quero.

Ele sorriu.

– Meu nome.

Arregalei os olhos e, impulsivamente, soltei-me de seus braços, sentando-me. Tapei meu rosto com minhas mãos e fiquei balançando a cabeça, pensado que desse modo eu poderia retirar tudo isso. E, é claro, eu não posso. Senti Nico sentando atrás de mim, abraçando minha cintura com os dois braços e descansando a cabeça em meu ombro esquerdo. Sua respiração fazia cócegas em meu pescoço e sua aproximação fazendo meu coração disparar.

– Ai que vergonha! – exclamei.

– Vergonha por quê? – perguntou, tirando minhas mãos de meu rosto e voltando a me abraçar pela cintura, ainda segurando minhas mãos para que eu não voltasse a tapar meu rosto.

Fechei os olhos bem apertados para não ver sua expressão e mordi o lábio inferior, nervosa. Ele depositou um beijo na base do meu pescoço. Sentir seus lábios quentes na minha pele fria fez-me arrepiar por inteira. Senti-o sorrir sob minha pele ao perceber o poder que tem sobre mim. De repente, seus braços já não me envolviam mais e senti um vazio imenso em meu peito. Mas logo ele voltou a disparar quando ele apareceu em pé na minha frente, com a mão estendida para mim e um olhar amoroso. Pisquei os olhos, para ver se realmente vi certo, mas segundos depois sua expressão voltou a ser dura. Aceitei sua mão estendida e ele me puxou para cima, levantando-me e quase caí em cima dele.

– Poxa, você é levinha! – falou, abraçando-me pelos ombros e levando-me para perto da fogueira já acesa no meio das barracas.

– Não sou não.

Já estavam todos envolta da fogueira, comendo qualquer coisa que não consegui identificar. Aproximei-me e sentei entre Percy e Lannah, rezando para que não percebessem minhas bochechas coradas. Assim que me sentei, Lannah se virou para mim.

– E aí, Ronnie? Como foi a noite? – riu.

Bufei e percebi que Percy comia calmamente, mas com os ouvidos na nossa conversa.

– Não se preocupe, Percy. – falei diretamente para ele e vi seu rosto ficar um pouco vermelho, por ser pego ouvindo nossa conversa. – Dormi assim que você saiu.

– É bom mesmo! – falou.

Eu e Lannah rimos. Percy é muito protetor, por sermos mais novas e isso às vezes podia ser engraçado. Comemos e conversamos. Nico sentou-se ao lado de Annabeth e ficou conversando com ela, provavelmente sobre nosso próximo passo. Ela, depois de um tempo, levantou-se.

– Gente, precisamos de uma van. – disse.

– Uma van?! – perguntou Edward, tentando tirar Guilherme do cochilo que tirava em seu ombro.

– Isso – disse Nico, se levantando e ficando ao lado de Annabeth. – É o único modo de chegarmos a Los Angeles a tempo. Poderemos passar por Washington D. C., Louisville, St. Louis e Denver e nos encontrar com o outro grupo em Los Angeles.

– Mas eles passarão por onde? – perguntei, ainda sentada.

– Bradley disse que passarão mais ao norte. – falou Hailley. – Filadélfia, Dover, Pittsburgh, Chicago, Lincoln e seguir pelo norte de Nevada, mas vão descer para Vegas.

– E por que dar essa volta toda? – perguntou Lannah. – Não seria mais fácil vir por baixo de uma vez não?

Eles riram. Eu e Lannah ficamos um pouco sem saber o que fazer. Eu também não havia entendido bem.

– O que? – perguntei. – Mas não é mais fácil não?!

– Ronnie, eles conseguiram informações que os semideuses estão pelo norte. – falou James.

– Ah tá, desculpa por sermos desinformadas! – falei, abaixando meu rosto já corado.

– Até aí tudo bem, mas como vamos conseguir a van? – perguntou Evanlyn.

– Teremos que ir numa concessionária. – respondeu Annabeth.

– Mas, Sabidinha, como vamos conseguir a van? – indagou Percy. – Não temos dinheiro.

– Daremos um jeito. – respondeu ela, sorrindo.

~*~

Três horas depois, as barracas já estavam de volta em forma de moeda, dentro da mochila de Annabeth, e nós já nos encaminhamos para a concessionária de veículos usados mais próxima da saída da cidade. Fomos eu, Nico, Percy, Annabeth e Hailley para dentro. Já havíamos visto uma van grande e preta, mas o único homem que havia ali, estava muito desconfiado.

– Vocês não têm idade suficiente. – disse.

– Eu já tenho dezenove! – exclamou Percy.

– Sério?! – perguntou o homem, cinicamente. Ele era baixinho e gorducho. E feio igual à medusa. – Não parece...

– Quer saber?! – exclamou Nico, sua expressão ficando irritada e uma aura negra se formando envolta dele.

O feioso que não queria alugar-nos a van começou a tossir, sufocando.

Aproximei-me de Nico, reunindo toda a coragem que eu tinha mesmo aquela aura negra assustando-me. Coloquei a mão sobre seu ombro, sentindo sua camisa preta gelada sob meu toque. Vi Nico fechando os olhos e respirar fundo. Arrastei minha mão até a sua, sem que meus dedos deixassem de ser contato com sua pele gelada.

– Hailley. – falou Nico, já mais calmo, mas parecendo cansado. Como se toda a tentativa de autocontrole tirasse a maioria de suas energias. – Todo seu. – completou, dando um passo atrás e me puxando junto, passando o braço por meu ombro e me abraçando.

Ainda abraçada a Nico, vi Hailley se aproximar do homem baixinho e seus olhos ficaram totalmente azuis, da cor do céu. Vi o ar envolta do cara se condensar e depois voltar ao normal. Depois que os olhos de Hailley também voltaram ao normal, Percy correu para ampará-la antes que caísse.

– Você nos dará a van preta de graça. – disse Annabeth, como se fosse uma ordem.

– Eu darei a van a vocês de graça. – respondeu o homem, entregando-lhe as chaves. Seu olhar era vago, como se estivesse fora de si.

Enquanto Annie, Hailley e Percy iam na frente, já em direção à van, Nico me levava, ainda me abraçando e tentando me impedir de olhar para trás, para aquele homem que ainda tinha o olhar vago.

– Não se preocupe, ele volta ao normal. – falou Nico, um pouco triste, ao perceber que eu ainda olhava pra trás. – Hailley só controlou a Névoa, mais nada. Daqui a pouco ele volta ao normal.

Assenti.

– Nico. – chamei-o. Quando ele olhou para mim, percebi que seu olhar ainda exalava tristeza. – Mais calmo?

Ele sorriu. Mas um sorriso falso e cansado ao mesmo tempo.

– Graças a você, sim.

– Por que está tão triste?

Ele suspirou, derrotado.

– É por essas coisas que todos têm medo de mim.

– Mas você não é o único filho de Hades! – reclamei.

– Não, não sou. Mas eu sou o único com bons motivos para me estressar facilmente e matar alguém.

Abaixei a cabeça, mas sussurrei. – Não vi esse seu lado ainda.

– E nem vai ver, no que depender de mim. – falou e quando levantei a cabeça, vi um sorriso leve em seus lábios. Olhou para mim com os olhos brilhando. – Apenas se alguém quiser te machucar. Aí não vai sobrar nem a língua para contar história.

Estremeci um pouco ao imaginar. Saímos em direção à van, onde todos se encontravam, sorrindo, sabendo que ele me protegeria de qualquer coisa. Ele me apertou mais contra si, num gesto de proteção e meu sorriso aumentou tanto que pensei que poderia rasgar minhas bochechas.


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