A Lenda Dos Amuletos Dos Sonhos Livro I escrita por Nah


Capítulo 4
Capítulo 4 - A chave do baú


Notas iniciais do capítulo

oii gente, mais um capítulo para vocês, boa leitura ^^



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Botamos as coisas na mesa e logo que as coloquei não pude conter um ataque de espirros por causa da poeira. Quando tudo já estava na mesa vi que era surreal a quantidade de livros, pergaminhos, de pó e outras coisas que ali havia. Solana e Norick se sentaram dando grandes bocejos, Valentina, Reiko e eu ficamos de pé e pelo que pude ver em seus rostos a expressão era de muitas perguntas. Quem começou foi Valentina:

         –Onde vocês estavam?

         Solana que estava com a cabeça abaixada e com as mãos nos olhos, levantou a cabeça tirando as mãos dos olhos e a olhou. Seu rosto era sem dúvida o de uma pessoa cansada que não dormia há dias, percebia-se pelas suas escuras olheiras. Norick também estava com elas.

         Solana levantou vagarosamente e foi até Valentina, botou suas mãos em seu rosto e falou com sua voz suave:

         –Iremos explicar tudo a vocês, mas não agora. Estamos cansados. – com isso deu um beijo na testa de Valentina foi até Reiko e fez o mesmo, depois se abaixou, pois eu sou muito baixinha, e também me deu um beijo na testa. – Agora vamos dormir, está tarde.

         Norick também nos deu boa noite, e subimos todos para os quartos.

         Segundo o que Valentina havia me contado essa viagem repentina de Norick e Solana tinha sido para, também, descobrir um modo para que eu retornasse a Terra, mas eu sabia que esse não era a única razão por terem feito isso.  Nos seus olhares pude ver um vislumbre sombrio, eu sempre fui boa em sentir quando as coisas ao meu redor não andavam bem, e, infelizmente, eu sentia algo de ruim pairando no ar.

         Já fazia muito tempo que eu estava em Suddon e nunca senti o que sentia agora. O que mais me perturbava era o silêncio de Norick e Solana, pois já haviam se passado três dias desde seu retorno e nada diziam, e não era eu a única a ficar perturbada com isso: Valentina e Reiko também estavam assim. Via que Valentina tentava falar com seus pais a respeito, mas eles sempre mudavam de assunto com um breve “agora não, depois falamos sobre isso”. Afinal, o que havia acontecido naquela viagem para fazerem tal suspense? Sentia que eu não era a única a me fazer essa mesma pergunta, pois por mais que não mostrasse, Reiko se fazia a mesma pergunta.

         No quarto dia de sigilo absoluto sobre a viagem misteriosa, Solana e Norick nos abordaram com algo inusitado: treinar-nos.

         –Mas por que isso agora? – perguntou Reiko. – Já sabemos como nos defendermos.

         –Pode ser, mas Ângela não. – respondeu Norick. – E, além disso, vocês estão muito enferrujados.

         Norick tinha razão, eu não sabia me defender e a primeira vez que segurei numa espada foi algo realmente muito cômico de se ver. Norick começou primeiro a me treinar na esgrima.

         –Segure a empunhadura com força. – me explicou, mas era muito difícil porque a espada era pesada, então no começo eu usei ambas as mãos para segurá-la, mesmo ele me explicando que era uma espada para ser segurada por apenas uma mão.

         Tentei alguns movimentos que ele me ensinara, como golpes de cima para baixo e de baixo para cima. Ele se defendia e se esquivava sem problemas dos meus golpes. “Mantenha o foco”, falava ele. Seus movimentos eram leves e precisos e eu tentava imitá-lo, até conseguir segurar a espada com uma única mão.

         Ele era realmente bom, me explicava os movimentos básicos com a ajuda de Reiko. Fiz par com Reiko e tentei fazer algum golpe, todos maus sucedidos. Quando pensei que eu o tinha acertado, ele fez um movimento bem rápido que me faz cair com tudo no chão, ele deu uma risada e ajudou-me a levantar.

         Depois da esgrima veio o arco e flecha e Solana me ensinou a postura de um arqueiro e também a como dar um bom tiro:

         –O tiro ideal é aquele onde a corda não acerta o braço, porque ao acertar o braço o arco irá receber um desvio e isso irá afetar a trajetória da flecha. – explicou-me Solana.

         Até escurecer fiquei treinando arquearia, o tempo passara tão rápido que nem havia notado, então fomos para dentro jantar. Valentina ainda estava curiosa para saber sobre a misteriosa viagem dos pais, parecia que, durante o jantar, ela iria perguntar a qualquer momento, mas não fez isso. Reiko também estava inquieto, mas seguiu sua irmã e nada perguntou também.

         Depois do jantar andei um pouco pelo bosque, pensando. Certamente não descobriram nada, por isso não dizem nada, pensei. Será que ficarei aqui para sempre? Não. Acho que não, sempre é uma palavra muito forte, mas mesmo assim eu precisava de alguma resposta e Solana e Norick eram a resposta. A brisa noturna suave batia em meu rosto, aquele lugar era reconfortante. Deitei na grama e observei o céu com as mãos na nunca, infelizmente não estava uma noite bonita como sempre havia, as nuvens ocultavam as estrelas e as luas, era bem deprimente.

         Fechei os olhos, sem saber ao certo o porquê, um turbilhão de coisas passou pela minha mente, coisas recentes, não tão recentes, etc. O tempo começou a passar vagarosamente, me senti leve. O que era aquela sensação? Acho que era sono. O dia hoje tinha sido muito cansativo e a partir do momento que fechei os olhos comecei a dormir. E eu estava certa, pois acordei com alguém sacudindo o meu ombro, abri os olhos e vi Reiko e Valentina.

         –Há quanto tempo está aqui? – perguntou ela.

         –Não sei. Não faz muito tempo. – respondi meio zonza de sono e dando um bocejo, mas eu sabia que ainda era cedo.

         Valentina se deitou ao meu lado e Reiko do lado dela.

         –Pena que não dar para ver as estrelas – lamentou-se Valentina.

         –E nem as luas – comentou Reiko.

         Ficamos em silêncio algum tempo, depois de alguns minutos Valentina quebrou o silêncio:

         –Eu não aguento mais. – disse ela ficando sentada e se encostando na árvore atrás de nós. Eu e Reiko fizemos o mesmo.

         –Não aguenta o quê? – perguntou ele.

         –Esse silêncio todo do pai e da mãe. Eles simplesmente fizeram uma viagem do nada e voltam sem nenhuma explicação? Isso não é justo. – finalizou meio cabisbaixa.

         –Se acalma. – disse Reiko. – Uma hora eles vão falar alguma coisa.

         Eu também não gostava daquela situação, mas fazer o que. O jeito era esperar até que eles dissessem algo.

Continuamos a praticar esgrima e arquearia nas duas semanas seguintes. Minha mira já estava ficando realmente boa e o peso da espada não incomodava. Nos duelos que tinha com Reiko sempre ficava no empate. Isso me deixava feliz, pois eu estava evoluindo cada vez mais.

         Um dia Valentina e Reiko me chamaram para um canto de uma árvore enquanto eu andava pelo bosque, na verdade é até educado dizer que eles me "chamaram", pois Valentina puxou meu braço quando passei.

         –O que foi? – perguntei assustada.

         –Shh. – disse ela e, ainda segurando o meu braço, nós três agachamos. – Temos um plano.

         –Plano? Para quê? – questionei.

         –Fala baixo. – sussurrou Valentina.

         –Por quê? – perguntei.

         –Vamos entrar no sótão hoje. – respondeu Reiko.

         –Que sótão?

         –Onde eles guardaram os livros que trouxeram da tal viagem.

         –Hum... Então vocês querem ver se descobrem algo, não é? – falei olhando para eles.

         Valentina e Reiko assentiram.

         –Você vai, não é? – perguntou-me Valentina.

         –Claro. Quando?

         –Hoje à noite. – respondeu-me Reiko. – Assim que eles dormirem.

         Então ficamos combinados assim. Quando Solana e Norick foram dormir subimos bem devagar as escadas, sem fazer quase nenhum ruído, o mais trabalhoso foi abrir o sótão, pois estava bem fechado e fazia muito barulho para abrir. Nunca tinha entrado naquele sótão e era bem grande, não parecia bem um sótão, não tinha bagunça nenhuma e havia janelas para clarear e arejar o lugar. Parecia uma biblioteca particular com muitas estantes abarrotadas de livros e uma grande mesa no centro da sala, mais para o fundo tinha baús perto de algumas estantes.

         Valentina se agachou em frente de um desses baús. Ela analisou por algum tempo e disse:

         –Os livros estão aqui.

         –Como você sabe? – perguntou Reiko surpreso.

         –Porque está trancado. – respondeu forçando o baú para abrir. Deu mais uma olhada nas laterais e na fechadura. – Onde será que pode estar a chave?

         –Não faço idéia. – respondeu Reiko. – Deve estar com eles.

         –Isso torna inútil nossa vinda aqui. – disse ela se levantando.

         Paramos um pouco e pensamos. Era óbvio que a chave do baú estava com Solana e Norick, com certeza no quarto deles. Então falei:

         –Por que não entramos no quarto deles então?

         –Agora? – perguntou Reiko.

         –Não necessariamente agora, mas precisamos encontrar a chave e o mais provável é que esteja no quarto. – falei.

         –Ângela tem razão, assim que eles acordarem vou entrar lá e procurar. – finalizou Valentina e então fomos dormir.

[Valentina]

Assim que meus pais acordaram acordei junto, Reiko e Ângela ainda estavam dormindo. Olhei pela janela um tempo depois e os vi do lado de fora, era agora ou nunca. Sai devagar e fui até o quarto de minha mãe, como sempre divinamente arrumado. Eu precisava procurar a chave, mas sem deixar nenhum vestígio de bagunça, pois ela perceberia.

         Comecei pelo armário, sempre atenta a qualquer barulho. Infelizmente não consegui achar nada no armário, tentei então o baú nos pés da cama, o que fora o mais difícil, pois tinha muita coisa que eu não podia tirar do lugar porque daria para reparar. Procurei, procurei, procurei e não achei absolutamente nenhum sinal da chave. Onde será que pode estar?, pensei.

         Então ouvi um barulho de alguém subindo. “Droga! Minha mãe!”. Olhei para os lados procurando um lugar para me esconder, os passos foram aumentado, então me enfiei debaixo da cama. Minha mãe entrou no quarto, por baixo da cama observei os seus passos e foi então que aconteceu o que não podia de jeito nenhum acontecer, algo caiu no chão e ela se agachou para pegar.

         O que poderia acontecer se ela me visse ali? Eu queria evitar o mínimo de perguntas, ainda mais que ela era uma pessoa extremamente desconfiada em situações assim. Solana agachou-se e pegou o objeto caído, nessa hora vi um objeto brilhante em pescoço, era o pingente de seu colar, mas esse pingente era diferente tinha o formato de uma... Chave!

         Por sorte ela não me viu e logo que pegou o objeto saiu do quarto. Saí do quarto imediatamente e subi para o meu.

         Assim que Ângela e Reiko acordaram contei o que fiz e vi.

         –Droga. – disse Reiko. – E agora? Como vamos conseguir a chave?

         –Podemos entrar no quarto a noite quando dormirem, ela pode tirar o colar para não incomodar. – disse Ângela.

         –É uma possibilidade. – eu falei pensando. – Vou entrar lá de novo à noite.

Assim que meus pais foram dormi demorei uma hora para adentrar no quarto deles, esperando que caíssem em um sono mais profundo. Foi então que entrei devagar para que não acordassem, atenta a qualquer movimento, então minha mãe se mexeu e vi em seu pescoço a chave. Droga, ela não tirara para dormir. E agora?, pensei, eu não iria fazer viagem perdida.

         Fiquei parada no quarto observando a situação, precisava pegar aquela chave o mais rápido possível e dar o fora dali logo. Fui até a cama bem devagar, aproximei minha mão para pegar a chave, mas logo desisti, pois me veio a dúvida: Como é que eu vou pegar a chave sem acordá-la e tirá-la da corrente?. Foi então que eu notei que não era uma corrente muito forte e se eu cortasse não iria fazer esforço nenhum. Peguei uma faquinha que sempre carregava comigo, para cortar algumas frutas e plantas que eu encontrasse, com isso fui até perto da corrente, segurei a chave com a mão direita e com a mão esquerda tentei cortar o fio. Nessa hora eu já nem estava respirando de tão nervosa que estava. Assim que cortei o fio ele deslizou e caiu nos cabelos da minha mãe e ela nem acordou, mas o melhor era que a chave estava na minha mão. Saí devagar do quarto, meus pais se mexeram um pouco e fechei rapidamente a porta, fui ao encontro de Ângela e Reiko que já me esperavam no sótão.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Deixem review ^^