Danyel e Helena subiram as escadas do Santuário em direção à mansão de Gêmeos. Após sair da casa de Touro, ela começou a falar da sua juventude.

— Então está determinado a se tornar um bom cavaleiro leal a Atena? Sabe o que isso significa? Defender Atena das mãos do inimigo custe o que custar.

— Dona Helena, disso eu já sei. Agora você me disse que ia contar sobre o seu passado.

— Sim, disse. Ainda me lembro quando eu era jovem como você. Tornei-me amazona por volta dos treze anos e consegui controlar o sétimo sentido um pouco tarde, aos dezesseis. O mestre Shion de Áries, na época o mestre do santuário, foi meu tutor e mestre. Aprendi muita coisa com ele. No entanto, eu... deixei o Santuário por motivos pessoais.

— Por quê?

Helena suspirou e olhou para o garoto.

— Tive motivos de sobra pra ter feito o que fiz. Foi uma decisão dura e infeliz. Arrependi-me sim, mas não me arrependi de tido uma vida normal lá fora. Tive um marido, agora falecido, uma filha e uma netinha. Trabalhei, fiz tudo o que uma mulher normal fez por aí. Bons tempos eram aqueles.

— Como a senhora voltou pra cá?

— Houve uma guerra santa anos atrás. Todos os cavaleiros de ouro anteriores morreram no mundo dos mortos. Seiya contou sobre a ida dele ao inferno de Hades?

— Sim, contou. Os cavaleiros de ouro morreram no Muro das Lamentações de Giudecca.

— O Santuário precisava de alguma proteção, e como eu já estava aposentada e sem fazer nada, resolvi vir pra cá. Falei com Atena e ela me aceitou de volta. Também concordou com que eu trouxesse a minha filha e minha neta. Há cinco anos, eu guardo a casa de Gêmeos e treino discípulos aqui no Santuário. Ficarei até surgir um sucessor jovem e vigoroso para usar a armadura.

Eles chegaram à mansão de Gêmeos.

— Bom, eu acho que eu já vou indo para a casa de Sagitário. Depois de um treino bem puxado, eu vou é tomar um banho e descansar.

— Menino Dan, você vai ficar aqui. Não me fará uma desfeita dessa ou vai?

— Não. Então ficarei pela senhora.

— Que ótimo. Eu vou trazer alguma coisa para nós comermos. Deixe eu te contar um segredo: esse longo tempo que fiquei fora me ajudou a ser uma cozinheira de mão cheia. Pode ficar à vontade. Só não mexa na armadura. Já volto.

Sol e Luna apareceram diante de Danyel e começaram a brincar. Sol era um labrador macho cor de creme e Luna era preta.

Danyel ficou olhando a casa melhor. Era a primeira vez que ele ficou na casa de Gêmeos desde que iniciou o treinamento. Percebeu que numa parede havia dois quadros de dois homens muito parecidos. Mais outro quadro onde havia duas meninas parecidas. Ele ficou notando por alguns minutos enquanto respirava o ar puro e cheiroso da casa tomada por flores margaridas.

Logo Helena e uma outra mulher vieram. A mais velha trouxe dois hambúrgueres e a mais nova um copo de suco de uva.

— Danyel, eu quero que conheça. Essa é a minha filha Eleonor, que está passando essa temporada comigo.

— Prazer em conhecer, senhora. A dona Helena já me disse sobre vocês, mas é a primeira vez que a vi pessoalmente.

— Prazer em conhecê-lo, Danyel. A mamãe já me falou uma vez de você, mas nunca me disse que era um rapaz tão belo. As meninas ficam todas em cima de você, aposto.

— Que nada. O treino toma todo o tempo que eu tenho. Quase não consigo visitar a minha mãe.

— Bom, senhor cavaleiro e senhora amazona, eu voltarei para o meu quarto. Fique à vontade Danyel.

Depois das apresentações, o rapaz não demorou muito e comeu o hambúrguer. Pouco depois, percebeu que a idosa mudara de roupa. Trocou o traje de treinamento para um vestido de tom azul claro. Ninguém imaginaria que ela fosse uma amazona naquele vestido. Como ele era muito curioso, perguntou quem eram as pessoas dos quadros que estavam na parede. Helena parou de regar algumas margaridas que tinham num jarro e sentou num banco defronte à parede. O assento era semelhante ao de uma praça, mas feita de ouro puro. Logo o jovem sentou ao seu lado.

— Aqueles dois primeiros nos quadros foram Saga e Kanon de Gêmeos respectivamente. Foram leais a Atena, sacrificando suas vidas por ela. O Saga foi uma pessoa misteriosa. Tão bom quanto um anjo e tão mau quanto um demônio. Com o seu lado mau falando mais alto, ele matou o meu mestre e tomou posse do Santuário se autointitulando o Mestre do mesmo. Ele fez muitas atrocidades, mas conseguiu reverter a situação e se arrependeu de seus crimes. O Kanon, por outro lado, era maligno por natureza. A face má dos irmãos. Instigou Saga a tomar posse do Santuário, depois quis tomar o poder de Poseidon e governar o mundo, mas acabou falhando. Depois se arrependeu e lutou ao lado de Atena contra Hades e seus espectros. Foram pessoas que se redimiram dos crimes que cometeram.

— Caramba, o cara tinha duas faces. Uma boa e outra má. Será que existem outras pessoas com isso? Acho que não, né? A não ser que sejam bipolares.

Helena olhou atentamente para o rosto de Saga e ficou por alguns instantes assim. Até que retornou a si.

— Saga possuía uma maldição, um demônio apoderador em sua alma, que deixou o homem quando Seiya expôs o escudo nele. Mas quem sabe, garoto? O bom e o mau andam lado a lado. Enfim, você conheceu os dois mais poderosos cavaleiros do século passado. Agora sou a única que restou. Esta velhinha aqui que daqui a pouco põe o pé na cova.

— Que é isso, dona Helena?!! A senhora é muito mais forte que muita gente por aí. Disso eu tenho certeza. E quem são essas duas meninas no outro quadro?

Nesse momento, a mulher começou a se emocionar e começar a chorar. Ficou olhando para o quadro das meninas.

— Desculpa se fiz alguma pergunta inconveniente. Eu juro que não era a minha intenção.

— Não precisa se desculpar. É que todos os dias eu venho pra cá olhar para os quadros e cuidar das minhas plantas. Aí de vez em quando eu me emociono ao ver esse quadro.

— Aqui é a senhora? E quem é a outra garotinha? — Dan percebeu que as duas eram exatamente iguais.

— Sim, sou eu. E a outra era a minha falecida irmã gêmea, Clitemnestra. Ali somos nós aos onze anos de idade — o quadro mostrava duas meninas loiras se abraçando.

— Então a senhora tinha uma gêmea? Que pena que ela morreu.

— Na verdade, ela também era amazona e treinávamos juntas. Também era pupila de Shion e conseguiu despertar o sétimo sentido antes que mim. Ela o fez aos quatorze anos. Seria a primeira amazona a conseguir a patente de amazona de ouro se não fosse pela sua morte, que eu lamentei muito. E foi por isso que saí do Santuário, pois, sem a minha irmã, a minha vida aqui não teve mais sentido.

— Que triste. Deve ser muito triste perder alguém da família. Mas como ela... desculpe. To sendo muito intrometido.

— Não, eu vou te contar. Clitemnestra e eu éramos mais do que irmãs, éramos cúmplices. Um dia, ela me contou algo que eu não sabia. Disse que iria ser nomeada amazona de ouro de gêmeos pelo mestre Shion. Eu nem me importei muito visto que não tinha interesse em obter a armadura. Daí aconteceu algo que nunca me esquecerei. Minha irmã e eu conversamos a noite toda no nosso alojamento. Ela disse o que faria quando fosse ser amazona de ouro e as suas futuras boas ações. Depois dormi no nosso quarto, pois dormíamos juntas em camas separadas. Ela ficou numa mesinha escrevendo algo enquanto eu dormia. Foi o sono mais ruim que tive. Foi um pesadelo horrível. Até que... Desculpa estou muito emocionada. — Ela limpou as suas lágrimas com um lenço branco.

— O que houve?

— Eu acordei e vi a minha irmã morta, sentada na cadeira. Um punhal estava encravado em suas costas. Fiquei desesperada e comecei a gritar pedindo ajuda a todos, mas foi tarde demais. Ela morreu e foi enterrada no cemitério de cavaleiros. Até hoje ninguém soube do assassino. Depois o mestre me escolheu pra ser a amazona de Gêmeos, mas recusei. Foi nesse momento que saí do Santuário. Mas, apesar de longe, eu tinha contato com o Santuário e sabia exatamente o que acontecia por aqui, inclusive a usurpação de Saga. Mas não o culpo, pois o bondoso Saga foi tomado pelo lado mau — Helena não parava de olhar para o retrato de Saga. — Bem, então eu me desabafei. Sinto-me muito melhor agora.

— Que história triste, dona Helena. Eu me emocionei com isso.

— São águas passadas. Lembranças de uma juventude conturbada. Faz muito tempo que não a vejo, mas isso já passou. Agora olha a ironia. Eu aqui, depois de velha, voltando para cá depois de muitas décadas. Guardando um lugar que era da minha irmã. Mas isso é apenas temporário, pois quando surgir alguém capaz de ser o guardião desta casa, eu passarei o bastão. Infelizmente eu não poderei ficar aqui por muito tempo. Então é isso. Esta é minha história. Agora podemos ir?

— A senhora vai sair para algum lugar? Eu voltarei para Sagitário.

— E eu para Capricórnio. Acompanhe-me, garoto Dan.

Assim eles foram para as outras mansões. Danyel ainda não se esqueceu da triste história de Helena. Mesmo tendo esse fardo, a mulher nunca demonstrava estar triste em nenhum minuto. O sorriso estampado em seu rosto era a sua marca registrada. A marca registrada da mulher que é considerada a mais boa de todas.

...

Dias se passaram e Danyel estava preparado para aprender sobre o controle do cosmo. Seiya o preparou bem para que esse dia chegasse. Ele explicou tudo sobre o cosmo e sua função nos seres vivos e explicou sobre a aura que cercava cada humano na Terra.

— Danyel, aqui será uma aula teórica. Mas terá uma prática. Vamos treinar a queima do cosmo e o controle do mesmo. Eu percebi que, mesmo não controlando à sua maneira, você conseguia liberar seu cosmo de um jeito quase involuntário.

— Mestre Seiya, nunca aprendi sobre isso na escola. A única vez que soube sobre o cosmo foi quando a minha mãe contou sobre o meu tio. Desenvolvi o meu cosmo sozinho, lutando por dinheiro nas noites da capital.

— E foi por isso que Atena te escolheu como meu discípulo. Talvez você seja o próximo cavaleiro de ouro.

— Quê? Eu ainda nem comecei a queimar o cosmo direito e já acha que eu posso me tornar um cavaleiro de ouro?

— Acho não, tenho certeza. Você será um prodígio, rapaz. Vai conseguir queimar o cosmo mais rapidamente do que qualquer um. Agora sente-se e pratique o seu cosmo. Você tem que ficar numa posição relaxada para conseguir controlá-lo e deixá-lo na forma de aura.

Danyel sentou no chão e cruzou as pernas. Logo ficou concentrando-se. Uma aura vermelha começou a aparecer em volta dele num instante assustando Seiya.

"Não posso acreditar. Esse rapaz conseguiu despertar o sétimo sentido mesmo sem saber de nada. Sozinho conseguiu queimar o cosmo a ponto de controlar sem problema algum." — Seiya pensou.

— Danyel, quero que fique assim até eu dar a segunda ordem. Eu irei ao meu quarto e depois eu venho. Espero que não desobedeça.

— Não, mestre. Pode ir, eu fico aqui. Tá até bom ficar assim.

Mais alguns dias depois e os dois treinavam numa luta mais rápida ainda. Envolvia usar o cosmo para os golpes e a velocidade. Logo, o discípulo conseguiu atingir a velocidade de um cavaleiro de bronze e ainda controlava a rapidez.

— Você está progredindo muito bem, mas ainda precisa aprender muita coisa — disse Seiya enquanto desviava dos socos do mais novo.

— Estou bem melhor do que antes. Esse tempo que fiquei treinando aqui me ajudou muito. — Danyel socava utilizando seu cosmo.

Seika e Tuílio batiam palmas. Ambos serviram como espectadores.

Golpes e mais golpes eram feitos pelos dois. Ambos ora atacavam, ora se defendiam, ora se esquivavam. Danyel já estava muito rápido. Seu mestre teve que aumentar a velocidade para não ter nenhuma surpresa de seu discípulo. Foi quando o mais novo foi para cima de Seiya e fingiu que ia dar um soco, mas logo ele pulou por cima do mais velho e parou atrás dele numa velocidade ainda maior que a de um cavaleiro de bronze e aplicou o golpe Agulha Escarlate para acertar seu mestre. No entanto, o cavaleiro de ouro desviou rapidamente e deu uma versão mais fraca do Meteoro de Pégaso no aluno. Este se defendeu com os dois braços e apenas foi empurrado por alguns metros, mas saiu ileso.

— Você me pegou de surpresa com o seu poder e ainda aguentou meu meteoro. Está se saindo bem, garoto — disse Seiya.

— Verdade, mestre, eu nunca pensei que chegaria onde cheguei agora. Agradeço muito ao senhor pelos ensinamentos e os treinos.

— Até conseguiu me enganar por pouco e quase me acertar com seu golpe. Tá ficando forte, hein? — disse Seiya dando um cascudo na cabeça do mais jovem.

— Ai ai mestre, porque fez isso? Doeu.

— Hahahaha! Garoto, eu to muito contente por seu progresso. Realmente quem te ver agora não acreditaria que há mais de um mês não sabia nada. É um prodígio, moleque. Danyel, você é um menino muito especial, já te considero o filho que nunca tive. — disse o mais velho pondo a mão sobre o ombro do jovem.

— Valeu, mestre. Eu disse que me esforçaria e estou me esforçando. Também já o considero como um pai que também nunca tive.

— O treino de hoje foi muito bom. Porém já acabou. Preciso treinar o Tuílio, pois daqui a algum tempo ele receberá a armadura de bronze dele. Com licença.

Danyel voltou ao seu quarto e tomou um banho para tirar o suor do corpo. Logo depois, enxugou-se e vestiu a sua roupa. Em seguida saiu e desceu as escadas — os discípulos tinham permissão pra fazer isso — para sair do Santuário e ir visitar a sua mãe. No caminho, na casa de Câncer, o rapaz foi surpreendido pelo cavaleiro de ouro dessa casa.

— Aonde pensa que vai? — Filipe ficou parado na entrada da mansão.

— Ah, eu vou passar. Eu tenho permissão de fazer isso, por favor. Com licença que estou atrasado.

— Eu não deixarei você passar. Eu não gosto muito de seguir os ideais de Atena no que se refere a essa liberdade a reles discípulos, dou privilégio aos meus. E se digo que você não passa, não passa.

— Como disse? Você é um cavaleiro que serve à Atena. Como pode dizer que não está totalmente de acordo com ela?

— É isso mesmo o que você ouviu. Caia fora e volte para a casa de Sagitário. Vai logo, seu trouxa.

— Eu não tenho tempo pra ficar ouvindo bobagem.

Quando Danyel ia passar, o Câncer se movimentou na velocidade da luz e ficou na frente do discípulo.

— Eu disse que não vai, ou está surdo? Agora se tentar ultrapassar esta casa mais uma vez, serei obrigado a usar a força bruta contra ti. Que tal um passeio no Yomotsu?

Uma gota de suor caiu da do rosto de Dan. Ele não poderia fazer nada contra um cavaleiro de ouro, mas também precisava passar por ali de qualquer maneira.

"Que cara mais mesquinho e rude. Ele é uma pessoa muito ruim. Se eu tivesse poder suficiente, dava uma lição nele agora"

— O que está havendo aqui?

Eles olharam para a entrada da casa de Câncer e viram Jasmine e seu pequeno discípulo vindo.

...

CAIRO, EGITO

Na capital egípcia, um homem dormia debaixo da ponte quando acordou com uma luz forte e de coloração avermelhada. O rapaz era jovem com feições de árabe. Ao acordar, viu uma mulher negra com cabelos lisos que iam até abaixo da cintura e olhos vermelhos. Ela trajava um longo vestido de seda vermelho e com muitos detalhes de pedras preciosas ao longo dele. A moça segurava um cálice dourado com diamantes ao redor do mesmo. Ela se aproximou do rapaz.

— Q-quem é você?

— A pergunta não é essa. A pergunta mais importante: o que você é? Um indivíduo bárbaro que adora destruir as pessoas ou um pobre coitado que vive de esmolas por causa da sua posição de terrorista? Vim trazer-lhe a libertação de tudo isso. Se vender a sua alma para mim, eu te darei sentido à sua vida medíocre. Poderá ter tudo se servir a mim.

— C-como faço isso? Eu quero.

— Qual é o seu nome?

— Myhara...

— Myhara, é só beber o licor que está neste cálice e sua vida terá sentido. Amanhã se tornará um novo homem.

— Pode me dar, eu quero muito.

O rapaz bebeu o licor e deu o cálice para a mulher. Logo depois, ela desapareceu numa fumaça roxa. O jovem começou a passar por uma transformação misteriosa no corpo. De franzino passou a ganhar músculos. Sentiu como se uma força sobrenatural tomasse conta da sua alma. Também desapareceu.

Continua...