– Vamos lá - disse Danyel entrando no templo sem muita cerimônia. Ele foi acompanhado pelas duas amazonas.

Uma porta de madeira se abriu automaticamente permitindo que os visitantes indesejados pudessem ver o espaço. Não havia algo mirabolante demais como nos outros templos, apenas um tatame podia ser visto no centro do salão com quatro estátuas de Buda em cada extremidade da arena. A única coisa que lembrava Anúbis era o desenho dele no chão.

– Isto aqui não me parece tão espetacular como foi aquele palácio anterior - disse Jasmine.

– Concordo. Odiei lutar naquela complexidade toda do palácio quando de repente me deparo com essa falta de estilo.

– Não reclama, porque se não fosse por mim você tinha perdido, Sereia.

– É, mas fui eu quem derrotou a bichinha de Tebas...

– Calem-se! Olhem, o inimigo já está aqui.

Uma fumaça branca surgiu no salão assim que uma outra porta mais à frente abriu. A silhueta de um homem logo apareceu. Os três não tiveram muito tempo para observar o ambiente.

– Quem são vocês? Eu não costumo receber visitas de estranhos. Saiam já do meu templo antes que se machuquem.

– Nossa, o cara vive no ócio mesmo. Nem mesmo sabe quem nós somos - falou Sereia em tom de deboche.

– Espera, fiquem atentas. Ele pode ser muito mais forte que os demais e pode ter muitos truques - alertou Danyel.

A fumaça se dispersou até a visibilidade ficar melhor. Os três puderam ver melhor o homem que estava à sua frente. Ele trajava um casaco preto com capuz. Era impossível ver o rosto dele.

– Não temos tempo a perder aqui. Se não quiser lutar então pelo menos nos deixe passar - continuou o escorpião.

– Deixar passar? É claro que não. Pelo menos terá que enfrentar o guardião deste templo.

– E quem é? - perguntou Jasmine.

– Eu - o homem retirou o casaco e se apresentou. - Kim de Tigre Branco.

Tigre Branco possuía uma armadura cor de gelo com listras negras, garras logo acima do pulso que protegiam a mão do cavaleiro, um elmo com o formato de uma cabeça de tigre e uma capa branca atrás. A aparência dele era de um jovem coreano, cabelos curtos e castanhos, olhos pretos. Nada de extravagante em sua aparência.

– Pois eu serei o seu oponente. Deixe-as passar.

– Podem passar - ele falou com tanta tranquilidade que até assustou os cavaleiros. - É sério, podem passar. Afinal depois daqui fica o abismo de Babilônia, local onde Gretta administra e que será quase impossível passar. Depois daqui o verdadeiro inferno começa.

Danyel assentiu para que as amazonas passassem. Elas também concordaram e passaram pelo guardião. Depois disso ficaram apenas os dois adversários.

– Agora ficamos só nós dois. É assim que eu gosto e que é uma verdadeira luta. Dois oponententes sozinhos, um contra um, versus. Só lamento que os demais guardiões não sejam lutadores que respeitam essa regra. Enfim, cavaleiro de ouro, quando começamos o nosso duelo?

– Se quiser começar agora mesmo, pra mim tudo bem.

O cavaleiro de Tigre Branco subiu à arena. Os incensos que estavam ao redor se acenderam sozinhos. Danyel fez o mesmo. Kim segurou a sua capa, se enrolou e desapareceu. O dourado não conseguiu ver claramente como o rival desapareceu diante dos seus olhos. Logo depois ele apareceu bem na sua frente e, com a sua garra, tentou golpeá-lo. Dan desviou do ataque fazendo com que o inimigo atingisse o chão e assim causando uma pequena cratera.

– Agulha Escarlate! - ele atirou um raio que logo se dividiu em uma dezena. O guardião logo formou uma corrente de ar que serviu de parede. As agulhas nem sequer atravessaram. - Controlou o ar para assim formar uma parede de vento!

– Sou o Guardião do Vento, o responsável pelo bom tempo que estas terras têm. Manipulo o ar, se necessário.

– Então a minha estratégia terá que mudar.

O cavaleiro de Escorpião correu na direção do inimigo e apontou o seu dedo indicador na direção dele.

– Já disse que não adianta fazer isso. Controlo o ar... Hã?

Dan atingiu as estátuas de Buda com as suas agulhas explosivas, assim ele causou muito fumaceiro por causa do fogo que praticamente saía do seu cosmo. Em pouco tempo parte do seu templo começou a pegar fogo. Tigre Branco usou o seu cosmo para apagar as chamas, mas Dan causava o estrago em outro lugar.

– Ora, lute como um cavaleiro e não como um moleque.

– Não estou fazendo isso pra nada, pelo contrário, estou queimando tudo para faltar oxigênio e assim você não poderá usar truques bobos.

Kim olhou bem para ele.

– Certo, entendo. Farei a sua vontade e lutarei no estilo antigo - ele retirou a sua capa e logo em seguida o seu elmo. - Nada como uma boa luta para relembrar o passado.

...

Enquanto isso, Akmer explicava sobre a sua vida antes de ser Nefertiti para Pietro.

– Não posso acreditar que você não desconfiou que fazer um acordo com deuses malignos significava vender a vida para eles. Tentou proteger os próprios pais e acabou os perdendo.

– Por favor, é uma página de minha vida que não gosto de ficar lembrando.

– E ainda por cima enganou a todos nós. Pegou essas nove pessoas para um simples capricho de dois deuses.

– Manter a farsa de Anúbis faria com que Atena se ocupasse inteiramente com isso. Funcionou, mas nunca pensei que haveria um levante contra mim por parte dos guardiões.

Ela ficou parada por um tempo até ver uma estante bem alta. Logo deduziu que o livro estaria lá. Ela não conseguia alcançar, por isso pediu a ajuda do rapaz para que pegasse. Pietro apenas empurrou a estante que caiu sobre as outras criando um efeito dominó. O acidente causou um grande barulho que foi ouvido por alguns soldados.

– Que foi isso?

– Veio da parte oeste do Santuário. O que faremos? O senhor Myhara não está agora.

– Vocês dois, o que houve?

– Senhora Amut, ocorreu um tremor no Santuário.

– Aconteceu outra coisa mais grave. Reúnam outros soldados para irmos aos quartos da ala oeste.

Enquanto isso...

– Quanto barulho. Isso vai chamar atenção!

– Não esquenta. Eu luto com os soldados e você vai salvar o Hathor.

Eles acharam um tipo de baú pequeno. Havia um cadeado preto que logo foi aberto graças ao cavaleiro. O Livro da Vida era exatamente igual a dos Mortos, mas tinha uma capa branca em vez de preta.

...

Depois do Templo do Vento havia uma estrada que dava para um desfiladeiro. Era o famoso abismo do purgatório ou da Babilônia onde ficava a prisão, as minas e o templo supervisionados por Gretta.Jasmine e Sereia finalmente conseguiram atravessar o vale que separava o resto da cidade com o abismo. Apesar de estarem longe, elas conseguiam ver perfeitamente a região.

– Tava demorando um lugar como este ter um ambiente de morte. Um deus cujo o objetivo é trazer a morte a todos... Não devemos esperar flores aqui.

– Já passamos por sete templos, Sereia. Pelos meus cálculos, nós estamos quase perto do templo de Anúbis e talvez faltam poucos guardiões. Há uma grande chance daqui ser guardado por ela.

– Está falando da amazona que aprisionou você?

– Claro. Irei lutar novamente com aquela mulher e prometo que ganharei.

– Mas já vi que não vai ser nada fácil - Sereia disse isso quando escutou barulho de pessoas.

– Precisamos ir com cuidado para não chamarmos a atenção indevida.

As duas pegaram um outro caminho, mas foram surpreendidas por várias rochas que caíam do topo do abismo. Elas correram para uma caverna que servia de porta principal para as minas. Uma mulher apareceu na frente das duas.

– Duas prisioneiras para a senhora Gretta. Vocês não passarão por mim, Sora de Baixo Nilo.

Ainda na luta do sétimo templo, Kim de Tigre Branco avançou para cima de Danyel e acertava golpes físicos com as suas garras. O cavaleiro de ouro desviava ou se defendia, mas rapidamente recebeu um chute. O coreano não parou por aí e usou o ar para acertar o rival. A parede do templo explodiu abrindo um buraco que dava para ver o lado de fora. Várias agulhas apareceram atrás dele. Este se defendeu com a armadura, apesar de receber um certo dano.

Agora era a vez de Danyel atacar o seu inimigo de luta. O cavaleiro dava vários socos, mas o guardião se defendia de todos eles.

– Tri-Ataque do Tigre Branco - um cosmo igual a um tigre pareceu atrás dele. Depois um choque elétrico, um raio de gelo e de fogo se juntaram nas garras dele. Logo depois ele soltou na direção de Danyel. Uma outra explosão aconteceu e Danyel foi acertado com violência caindo logo em seguida.

Danyel não conseguia ver quase nada. Kim teve poucos segundos para dar um golpe traiçoeiro pela retaguarda do cavaleiro de ouro. Porém não fez isso e preferiu que ele se levantasse.

– Vejo que é muito forte, garoto. Talvez não tenha muito tempo de treinamento, mas mesmo assim se mostra superior.

– Você estava aí o tempo todo e não me acertou. Por quê?

– Pode não acreditar, mas eu tenho espírito de luta. Sei que é muita deslealdade atacar alguém por trás. Os outros guardiões não têm a mínima ideia do que é uma luta verdadeira.

– É inacreditável que ainda não usou a sua força por completo...

"Será que esse homem está sendo honesto comigo ou é apenas um truque para eu baixar a minha guarda? Mas se for um truque então por que não me atacou?"

Kim correu mais uma vez na direção de Danyel. Este preferiu ficar parado aguardando o golpe. O guardião preparou as suas garras para golpear, porém parou muito perto do rosto do outro.

– Por que você não se mexe logo - ele continuava com o punho fechado, porém começou a tremer.

– Olhe para mim e tente deduzir se sou idiota. Sou um cavaleiro há pouco tempo, mas não sou burro. Por que não me atacou e quem é você?

– Certo. Você é mais inteligente do que imaginei. Bom, como pode ver eu não te ataquei porque não quis. Eu descobri a trama de Anúbis.

– Percebi desde quando hesitou em me atacar.

– Sim eu deveria tê-lo matado quando tive a chance, mas não estou atrás de uma batalha covarde. Estou atrás de um oponente para que eu possa lutar dignamente.

– Por que tanta insistência nisso? Afinal você é um servo de um deus injusto.

– Nem todos são injustos, nem todos são iguais. Qualquer inimigo que enfrente será diferente do outro. Por exemplo, eu sou muito diferente do jeito que o Myhara age. Também não preciso de subordinados para enfrentar alguém.

Danyel ficou ouvindo.

– Há algum tempo eu era um experiente lutador de artes marciais da Coreia do Sul. Sempre lutava com glória e com honra para representar o meu dojo nos campeonatos regionais. Foi então que surgiu um homem chamado Wu-Yang, que era o herói do dojo inimigo. Mas ele nunca foi leal com as regras, sempre distorceu a velha arte do ninjitsu. Éramos inimigos mortais, estávamos para travar a nossa luta nas finais e eu venci. Só que no dia seguinte tramaram uma armadilha pra mim. Mataram o meu sensei e depois colocaram a culpa para cima de mim. Fui condenado à pena máxima do país e passei a viver na penitenciária. Foi na prisão que a tal Nefertiti me procurou para fazer parte do time dos 9 guardiões de Anúbis. Libertei-me e pude me vingar matando ele, mas hoje me arrependo disso.

– Que história triste. Mas você não faz ideia de que Anúbis é um deus maligno? Ele quer espalhar o terror no planeta e acabar com Atena.

– Eu sei disso, mas não estou preocupado com isso. O que mais quero é lutar com um hábil oponente sem me importar o que vai acontecer em volta. Não me interessa se Atena vai morrer ou não, se Anúbis é mau ou não... eu lutarei.

O homem retirou a sua própria armadura do corpo e ficou apenas com a roupa de treinamento. Depois pegou duas espadas e voltou à arena.

– Tome. Se for mesmo um bom lutador então me enfrente sem o cosmo. Apenas com a sua força física - entregou a outra espada para o cavaleiro.

Danyel também retirou e se preparou para lutar.

Seiya ainda estava correndo antes do quinto templo. Deu uma parada assim que viu o palácio de Tebas em ruínas. O caminho mais fácil estava selado. Agora teria que pegar uma outra rota para poder prosseguir com a sua missão. Ele subiu no muro e correu sobre ele em volta do palácio.

Kim correu e usou a espada para atacar Danyel. Ele usava várias vezes a arma para acertar o dourado. O grego apenas se esquivava ou se defendia dos golpes. O coreano encostou a espada no chão e deu dois chutes no outro. Logo depois ele tentou acertá-lo, mas o jovem cavaleiro colocou a espada entre si e a outra arma. A disputa agora era ver quem era o mais forte. Por alguns instantes era o guardião quem estava no controle, mas Danyel começou a sobrepujar o outro.

– Não é possível. Eu passei a minha vida toda treinando. Não posso perder para um iniciante - disse enquanto perdia a força.

Danyel empurrou o oponente, conseguiu derrubar a espada dele e dar um chute em sua cara. A sequência agora era de vários socos e chutes muito rápidos. O guardião não conseguia acompanhar e caiu no chão com o grego apontando a espada para a sua garganta.

– Não pense que só porque sou novo e porque na maioria das minhas lutas uso o cosmo, que não sei lutar. Passei um ano treinando duro para lutar em favor a minha deusa - ele largou a espada.

– Pietro tinha razão quando disse que vocês são incríveis - ele se levantou. - Myhara enganou a todos, Anúbis nunca foi uma esperança para um mundo melhor. Agora sei que deveria ter apodrecido naquela prisão em vez de ter aceitado uma vida melhor fazendo mal.

...

A tempestade deu uma parada no Santuário de Atena. Já era madrugada na região. Mesmo assim alguns raios insistiam em cair.

A deusa Atena dormia quando entrou em transe. Era como se ela tivesse numa sala branca com uma outra pessoa. Um homem alto, vestido de preto, mas não dava para ver de modo algum o seu rosto. Era como se fosse uma sombra, um espectro.

– Você?

– Sim, sou eu. E vim para atormentá-la depois de vários séculos. Eu estou voltando e quando eu voltar será a sua ruína.

– E estarei sempre aqui para aguardá-lo...

A imagem do homem desapareceu e Atena conseguiu dormir em paz.

Na casa de Gêmeos, Helena estava tendo um pesadelo terrível. Horas antes teve que deixar o seu posto com a sua filha para ir ao hospital. Foi diagnosticada com uma doença grave, apesar de não deixar transparecer. Preferiu esquecer e voltar ao seu posto. Agora sonhava com o que mais doía: a morte da sua irmã. De repente acordou com um susto.

– Por Atena. Eu matei a minha irmã!

...

Anúbis não esperou por muito tempo para começar a rogar as dez pragas sobre as terras do Egito. O seu cosmo expandiu sobre toda a região do país. Nuvens pesadas formaram-se com muitos raios e trovões. Quaisquer que ainda estavam na cidade puderam perceber a mudança no tempo. Amut e os outros soldados ficaram temerosos porque o templo começou a tremer.

– O que foi isso? - perguntou um soldado.

– De fato é a força do nosso deus. O processo de expansão está começando.

Seiya percebeu alguma coisa errada. Sentiu a ascenção de um poderoso cosmo.

Anúbis mudou de aparência. O seu corpo saiu de crioulo para um acinzentado como de um cadáver.

Já na entrada do Templo do Vento, Gretta de Babilônia e Merick de Tuntancâmon chegaram juntos para um importante evento que aconteceria ali. Myhara chegou logo depois carregando duas bolsas pretas e deu uma para o seu colega.

– Chegamos pontualmente como você pediu. E o que faremos agora, Myhara? - perguntou Gretta.

– Digamos que vamos resolver algo bombástico neste lugar. Merick, quando chegar, você vai na outra ponte e coloque essa bolsa lá e depois volte.

– Quero saber o que vai aprontar no templo do asiático metido.

– Com o tempo, Merick. Com o tempo.

– Pois então vamos - disse Gretta. Os três últimos guardiões de Anúbis caminharam juntos até chegarem na entrada do templo.

...

Kiki acordou de um profundo sono que teve . Depois da luta no sexto templo, ele foi lançado para um outro lugar. Mesmo assim não se distanciou muito, pelo contrário, ficou até mais próximo.

– Onde estou... - levantou-se e logo percebeu que estava num belo jardim. Apalpou o seu próprio corpo e sentiu que usava a sua armadura. - Que lugar é este?

O ariano percebeu ao fundo uma grande pirâmide com um brilho intenso no topo. Olhou para trás e só agora descobriu que foi parar diretamente no Santuário de Anúbis.

Continua...