Filipe estranhou a presença da mulher naquele lugar. Para uma ilha deserta, até que era esquisito encontrar alguém ali. Percebeu que os túmulos estavam abertos, indicando que os deuses haviam sido libertados. Ela continuou parada à frente dele.

– Responda-me de uma vez - disse sem paciência.

– Sou Nêmesis, uma semideusa. Estou aqui a mando dos meus mestres Phobos e Deimos - o cavaleiro continuou confuso. - Escute, aqui neste local estavam presos os deuses do medo e do terror; inimigos da deusa Atena.

– Você os libertou?

– Sim, e eles pretendem transformar a Terra num paraíso. Para isso, primeiro, eles querem retirar a influência de Atena no planeta. Um humano que nem você, mesmo cavaleiro, não faz ideia de como a sua deusa age. Sob a influência dela existem crimes, mortes, fome, guerras e tudo o que há de ruim.

– Sabe com quem está falando? Eu sou um dos cavaleiros de ouro...

– Câncer, meu querido, não tente enganar ninguém porque bonzinho você não é. Assim que o vi, percebi que era diferente dos outros - ela andou ao redor do homem. - Ah sim, você tem dúvidas sobre a querida Atena e isso é tão perceptível. Quando olhei para você, eu logo vi que estava aí o agente infiltrador que poderia nos dar informações valiosas sobre o Santuário.

Filipe olhou para ela e deu um leve sorriso.

– O que quer de mim?

– Eu sabia! Seu coração é corruptível. Por enquanto continue com a sua vidinha de sempre naquele Santuário. Quando chegar o momento certo, nós te chamaremos. Bem-vindo ao grupo dos que servem a Phobos e Deimos - ela começou a rir e depois desapareceu na frente dele.

Alnath foi até o seu companheiro e o vê parado. Chamou-o, e o Câncer acordou do seu transe.

– Tudo bem, cara? - perguntou o taurino.

– Sim, ficará tudo melhor - deu um sorriso.

...

– Meteoro de Pégaso! - Ninrode foi atingido em cheio pelo ataque. Aparentemente ele foi pego, mas logo descobriu-se que era apenas uma ilusão, e que ele estava em pé encostado num pilar.

– O antigo cavaleiro de Pégaso e atual Sagitário consegue fazer só isso? Lamentável.

– Ria da sua própria cara, imbecil. Agulha Escarlate! - Dan correu e liberou o seu ataque, multiplicando-o. Ninrode entrou no pilar e não recebeu o ataque. - O quê?

Um raio vermelho apareceu no teto quase atingindo Dan em cheio, se ele não tivesse desviado. Ninrode os observava com a parte do corpo para fora do teto. Seiya ficou impressionado com a habilidade desse cavaleiro.

O vilão deu um salto e caiu em pé no solo. Apesar de ter uma técnica invejável, não era páreo o suficiente para derrotar dois cavaleiros de ouro. Ele propôs um acordo, deixando um deles passarem enquanto lutaria com o outro. A princípio, Dan quis lutar, mas foi impedido por seu sensei que decidiu ficar na luta. O jovem aceitou e prosseguiu correndo.

– Um ato nobre da sua parte em deixá-lo passar, sagitário. Porém, ele terá que enfrentar as consequências numa luta contra o meu subordinado.

– Desgraçado. Eu pensei que...

– Pensou errado. Nós, os cavaleiros de Anúbis, não somos bons com os nossos inimigos. Sim, deixei ir; contudo, não será tão fácil assim - o vilão aumentou o seu cosmo. - Agora eu posso muito bem brincar nesta luta.

O homem abriu os braços e seus olhos começaram a brilhar. Todo o templo de Abu Simbel mudou com a ilusão e dessa vez estavam no deserto do Saara com um oásis bem no meio. Várias árvores e areia formavam o cenário da luta. Seiya andou lentamente entre as palmeiras até que foi surpreendido por um ataque e logo em seguida, um chute. O homem colidiu contra uma árvore e, antes de ser novamente golpeado, se esquivou.

– Não adianta sair deste lugar. Aqui sou mais forte hehe... O quê?

Um raio na forma de cometa veio na direção dele. Ninrode se afastou, todavia foi pego de surpresa pelo Sagitário. Seiya o pegou por trás e mostrou quem era o mais forte dos dois. Ninrode não conseguiu se soltar.

– Vamos, mostre-me sua força - dizia se divertindo.

Mesmo colocando muita força, o cavaleiro de Abu Simbel não conseguia se desvencilhar. Seiya colocou o braço em volta do pescoço do outro num "mata leão".

– Ainda pode desistir, filho. Se desisitir, eu te deixo viver.

Ninrode, apesar de acuado, não quis fazer isso; então teve uma ideia.

– Déjavu!

Foi a única coisa que ele disse; assim o cenário desértico desapareceu. Seiya se assustou ao perceber que estava suspenso sobre trevas, pois não havia nada debaixo de si. Era como se estivesse no espaço sideral!

– Onde estou? - depois que olhou à sua volta, percebeu que segurava um esqueleto. Largou-o imediatamente e esperou o que aconteceria.

...

A luta de Jasmine ainda persistia. Eles estavam no meio do lago de fogo e para complicar a situação. Quéfren não os deixava em paz.

– Fogo de Quéfren - o golpe atingiu o barco em que a garota estava, queimando uma parte dele. A qualquer momento afundariam no lago escaldante e não seria nada bom.

– Eu tô farta disso - ela pediu que Pietro remasse mais depressa e assim os barcos ficaram emparelhados. Quando ficaram, ela pulou imediatamente para outro lado e usou seu poder congelante. O pó de diamante atingiu o vilão congelando sua armadura. Ele foi arremessado no ar e caiu no próprio barco, todo congelado. A garota segurou o remo.

– Agora sim podemos navegar até o fim.

Pietro saiu do barco em que estava e foi ao outro. Durante meia hora, remaram até a margem do outro lado. Claro que ficaram impressionados com o tamanho do templo, mas não deram muita importância. Pietro resolveu ir na frente sempre observado com desconfiança por Jasmine.

Quéfren acordou e se assustou ao perceber o seu fracasso. Tentou entrar no templo, contudo foi impedido por Gretta, que havia chegado no lugar para vigiar a aquariana. O homem ficou muito temeroso.

– Senhorita Gretta! O que faz aqui?

– Vi de perto os passos dos cavaleiros. Percebi que fracassou em derrotar a amazona de ouro. Não vou tolerar isso.

Quéfren ficou com tanto medo que não pensou duas vezes e correu para dentro do templo. Gretta continuou parada. Segundos depois, o homem caiu no chão no mesmo segundo que suas costas foi cravada por um punhal. A mulher caminhou um pouco e retirou a arma do corpo da sua vítima para depois em seguida lamber um pouco do sangue.

– Kalih de Quéfren, hein? - em seguida foi embora.

...

Danyel corria pelo longo templo, aproveitava-se da sua saída da luta anterior. Contudo, por mais que não quisesse, estava demorando muito a passagem daquele lugar. De fato, Abu Simbel era grandioso tanto por dentro quanto por fora. Em um certo trecho, o chão de mármore foi substituído por areia. O rapaz se aproximou na intenção de passar por ali, mas o chão começou a sugá-lo; ao perceber isso, ele retornou imediatamente.

– Areia movediça!

– É claro que sim - disse uma voz. - Foi feita para impedir a passagem de invasores como você.

– Quem está aí?

Um homem, com armadura branca e amarela, surgiu debaixo da areia. Era um subordinado de Ninrode.

– Sou Chade de Saara, guardião secundário deste local. Em nome do deus Anúbis e do chefe Ninrode, eu acabarei com você.

– Veremos. Agulha Escarlate! - o raio vermelho se multiplicou, mas atingiu uma estátua de areia.

– Nunca vai me atingir. Tempestade de Areia! - Chade surgiu atrás do cavaleiro e se transformou numa tempestade de areia que se colidiu contra o escorpiano. Danyel ficou soterrado por um tempo, porém conseguiu se levantar nervoso por estar de calça cheia de areia.

– Droga, quanta areia! - disse sacudindo-se. - Você vai ver, seu filho de uma égua... diabos. Quanta areia!

– Quer mais areia na boca? Hehehe.

– Cale-se. Agulha Explosiva! - esse novo ataque é igual o anterior, só que com uma diferença. Saara entrou na areia que depois foi atingida pelo ataque e assim ocorreu uma explosão. Muita areia foi espalhada e atingiu o dourado. Dan ficou doido da vida e se sacudiu mais uma vez.

O dourado teve uma ideia. Apesar de ser superior sobre o seu oponente era difícil derrotá-lo naquele local. Então, aproveitou-se que o inimigo estava distraído e correu sobre a areia.

– Ei, pra onde vai?

– Bobão, eu não tenho tempo a perder aqui contigo.

Chade usou o seu poder para avançar contra o oponente e formar um paredão de areia. Dan parou de correr quando viu o rosto feio do vilão na areia. Previu o que iria acontecer e retrocedeu. Saara causou uma onda enorme de areia que foi atrás dele. O cavaleiro corria para não ser golpeado e subiu num dos pilares do local.

– Ei, psiu! - Dan olhou para cima e Chade o atacou com areia, bem na sua cara.

– Merda! - resmungava o jovem. Foi o momento certo para o inimigo atacar, pois havia pisado na areia movediça. - O quê?

– Adeus, cavaleiro de ouro - ria Chade ao ver o oponente afundar.

...

Filipe e Alnath retornaram ao Santuário para darem as informações encontradas no local. Pelo menos o cavaleiro de touro agia com honestidade, porque o câncer estava visivelmente tentado pela proposta de Nêmesis.

O mestre foi o único que pôde atendê-los naquele momento. Segundo ambos, as entidades que estavam presas foram soltas por alguém desconhecido, para Alnath. Enfim, eles foram dispensados com o taurino estranhando o seu colega.

Antes de receber a informação, Atena já estava ciente do que se tratava. Apesar de ser uma deusa poderosa, ela vacilou quando deu muita atenção ao Egito e esqueceu das outras ameaças. Mesmo lamentando isso, ela ainda estava focada no Egito e no fim da missão dos seus cavaleiros.

...

Sereia acordou atordoada depois que foi sugada pelo portal do labirinto. Ela se levantou e olhou tudo em volta. Era um palácio árabe igual do Aladin. O chão era todo decorado com desenhos, além das paredes e do teto. Ela só percebeu que ali se tratava de um castelo quando olhou tudo em sua volta. Andou alguns metros até ir numa grande porta vermelha. Ela abriu sozinha e quando passou pela porta, esta se fechou sozinha.

– Onde diabos é isso? - perguntou-se.

Um grande salão com um altar, com muitas flores ao redor, além de um lago artificial bem no meio e uma flor de lótus gigante no centro do lago. A pisciana pensou que aquilo tudo fosse uma ilusão, até que a flor começou a abrir.

– Bem-vinda, querida - falou uma voz bem fina.

– Quem é?

A pessoa que apareceu de dentro da flor era um homem bastante andrógino; com cabelos loiros lisos, formando um penteado alegórico em forma de candelabro; usava um vestido branco que mais parecia um de noiva, usava muitos ornamentos nas mãos, pescoço e orelha; além de cílios postiços enormes. Sereia não se conteve e riu da criatura.

– Prepare-se queridinha, porque aqui será o último lugar que você vai ficar viva - disse a pessoa que na verdade era um homem andrógino.

– Ui, gente. Quanto recalque! Meu amor, agora que estou cara a cara com uma "homa", fiquei mais confiante. Pensei que esta missão fosse ficar sem graça, mas olha... meus parabéns pela criatividade - disse Sereia rindo. - O carnaval vai começar.

...

Enquanto isso, Mikenos chegou em casa mais de meia noite. O homem estava abalado emocionalmente por vários acontecimentos nos últimos dias. O nervosismo tomou conta principalmente quando estava para se explicar a uma esposa enfurecida.

Colocou o casaco sobre o sofá, retirou os sapatos e desabotoou alguns botões da camisa. Foi de fininho à cozinha beber algo, comer algo. Por sorte havia comida requentada no forno e suco na geladeira. Ele comeu e bebeu tudo, e ficou assistindo na sala algum noticiário. Escutou alguns ruídos oriundos do quarto, mas estava cansado para sair dali. Teve uma surpresa ao escutar a voz da esposa.

– Finalmente chegou. Como foi o trabalho? Cansativo?

– Ah, foi sim. Espera que eu vou acender a luz - o homem acendeu a luz da sala e viu Nice vestindo uma longa capa preta. - Querida, tá vestida assim por quê?

– Porque eu preciso punir uma pessoa pela ausência dela, preciso mostrar a essa pessoa quem manda nesta casa - ela retirou o casaco revelando algo que o deixou perplexo.

– O QUE SIGNIFICA ISSO?! - gritou ao vê-la usando uma roupa ultra sexy de tiazinha com direito a chicotezinho e lingerie preta.

Mikenos andou pra trás, tropeçou na mesinha e caiu; Nice se aproximou dele bem devagar e, com o chicote, golpeou-o três vezes; daí ela foi recompensá-lo com carinho. O homem se levantou, ficou perto dela e a beijou. Já estava se entregando quando ela deu uma ajoelhada bem na sua virilha, fazendo-o gemer.

– Droga... Porra, essa doeu! Droga Nice, tá louca? Eu não gosto de violência. Acho que você é outra pessoa. Cadê a minha mulher?

– No caralho! Hoje você vai provar do que o meu outro ego é capaz.

– Se quer me provocar... conseguiu - ele a segurou nos braços, foi até o quarto, jogou-a na cama e... fechou a porta.

...

Kiki abriu os olhos e viu que estava sobre uma grama. Ele olhou para os lados e viu um camelo comendo algo que ele não identificava. Levantou-se para ter uma visão melhor de onde estava; um jardim ou um oásis. Os pássaros cantavam e dava para escutar barulho de água. Ele caminhou até achar um rio com águas bem límpidas. Lavou o rosto e bebeu do líquido. O camelo também estava bebendo. Viu a área desértica ao fundo e um castelo mais ao horizonte. Ele conseguiu ultrapassar o tal castelo e já estava, pelos seus cálculos, na quinta ou na sexta casa. Resolveu se sentar às margens do rio para descansar.

– Como será que estão os outros? - perguntou-se. Foi só depois que notou uma ponte cortando o rio. Talvez ali fosse a passagem daquele castelo para aquele oásis.

Depois de descansar um pouco, ele voltou sua atenção à sua missão. Caminhou na pequena floresta, deparou-se com um esfinge. Ele olhou com desconfiança, pois poderia ter algum inimigo.

Dentro do local, um homem observava a movimentação do lado de fora. Assistia, pelos monitores, à invasão do ariano.

– Quem é esse? - correu a fim de chamar reforço.

...

Seiya retornou ao seu passado. Apesar de ser algo absurdo à mente humana, não era impossível. A prova disso era que o cavaleiro de sagitário havia voltado ao passado. Ele levou um susto quando acordou do transe e percebeu que assistia Atena levando uma flechada bem no peito. Depois foi levado até o salão do mestre e pôde assistir à luta de Saga contra si mesmo. Olhou-se e viu que estava jovem no auge dos seus treze anos e vestia a armadura de Pégaso. De repente, viu o seu eu do passado entrar no salão e encontrar Saga chorando antes da transformação.

– Como pode chorar depois das maldades que fez?! - perguntava o Pégaso do passado enquanto o verdadeiro Seiya tentava falar algo, mas sua voz não saía.

– Ele não vai te ouvir, Seiya - disse Ninrode.

– O que fez comigo? Estou mais novo e com a minha armadura antiga!

– Trouxe você ao déjavu, ou seja, ao passado. Todavia, eles não conseguem nos ver; pois são imagens do passado. Para eles somos fantasmas. Entretanto, podemos interferir no passado.

– O que quer dizer com isso?

– Ah Seiya, o que me diz se aquele escudo que salvou Atena da morte for retirado por mim? Se Saga conseguir te matar e matar a Deusa? Eu posso muito bem retirar aquele escudo da estátua só para ver o que acontece.

– Nem se atreva a fazer isso. Eu não vou permitir. Meteoro de Pégaso! - Ninrode segurou o ataque com facilidade. - Impossível! Segurou o meu golpe com uma só mão!

– Aqui você está com o cosmo tal como era na sua época de cavaleiro de bronze. Aqui eu sou mais poderoso.

Seiya tentou se controlar o máximo, pois a situação era complicada. Ele ficou jovem e com um cosmo inferior. Além disso, ele viu Seiya do passado perdendo os cinco sentidos. A situação era crítica.

...

Nice perdoou o marido depois do momento que tiveram. Claro que ela ainda estava chateada com ele por causa da sua negligência.

O homem observava o teto enquanto a mulher conversava. Estava um clima romântico até que ela resolveu contar a verdade.

– Amor...

– Quê?

– Se eu te contar uma coisa... você não fica chateado?

– É claro que não, conte.

– Estou grávida.

Mikenos caiu da cama arrastando a mulher junto. O clima romântico virou um réquiem. Claro que para isso acontecer, o disco arranhou, tudo brochou e o Mikenos... se ferrou!