Estava tendo um sonho muito bom. Ela andava por uma campina verde sentindo uma brisa refrescante bagunçar seus cabelos azulados. Banhava-se na luz quente e acolhedora do sol e, quando decidia parar de olhar para o céu azul, olhava para baixo e via um loiro deslumbrante dormindo como um anjo em seu colo. Uma cena tão simples, porém extremamente perfeita. O silêncio confortável do nada foi quebrado por um som intruso. Parecia que uma pessoa limpava a garganta com irritação. O barulho realmente não pertencia à cena e incomodava. Hinata franziu o cenho, não queria que o momento acabasse, mas quem quer que a estivesse atrapalhando não parecia disposto a desistir. Remexeu-se um pouco e começou a abrir os olhos contrariada, ficando incomodada com os raios solares que entravam pela grande janela de vidro.

Quando sua visão entrou em foco, deu de cara com uma enfermeira de feição irritada e braços cruzados. Levou um tremendo susto, de forma que caiu da cama com a bunda no chão. O barulho provocado pela queda fez Naruto acordar sobressaltado.

-HÃ? O que aconteceu? – o loiro definitivamente nem sabia onde estava.

-Ca-ham. – a mulher limpou a garganta pelo que parecia ser a vigésima vez, só sabia fazer tal coisa? Pensou Hinata enquanto se levantava e desamarrotava a roupa. – Posso saber o que a senhorita está fazendo aqui? O paciente deveria estar descansando. – a feição da enfermeira não poderia ser mais nojenta.

-Oras, eu estava descansando muito bem até você chegar. – o paciente disse com convicção, cruzando os braços e olhando para a intrusa dos pés a cabeça. A mulher ficou um pouco desconcertada. A azulada segurou um risinho.

-Bem... Eu peço desculpas se perturbei o senhor, mas estou apenas seguindo as regras do hospital, sua namorada não deveria ter dormido aqui... – a enfermeira se enrolou um pouco com as palavras e Naruto apenas arqueou uma sobrancelha em desprezo.

-Moça, minha namorada foi sequestrada, eu fiquei uma pilha de preocupação, levei um tiro por ela e você realmente acha que eu ficaria longe dela até você dizerem? Qual é.

-Se-senhor, eu entendo, mas... – ela continuou tentando.

-Blá, blá, blá! Sabia que você está me irritando? Onde está o médico? – a mulher empalideceu com a ideia de seu superior ouvir reclamações a seu respeito.

-Não é preciso! Mil desculpas, senhor. Eu já estou saindo... Irei mandar seu café da manhã, com licença... Desculpe-me mais uma vez... – ela se afastava para a porta a cada palavra dita apressadamente, estava até suando. No momento em que saiu do quarto, Naruto explodiu em gargalhadas.

-Ai! Ai, ai, ai! – parou de gargalhar ao sentir uma pontada em suas costas. Maldito buraco! Praguejou. Não podia nem rir enquanto não se recuperasse totalmente.

-Está tudo bem, Neko-chan? – a namorada se aproximou com preocupação, já verificando se os pontos do loiro não haviam aberto.

-Estou bem... Foi só uma pontada, nada para se preocupar! – exibiu seu sorriso Colgate, para logo depois depositar um selinho nos lábios da pequena, que corou com o ato repentino.

-Naruto-kun, não me beije agora, devo estar com um péssimo hálito... – disse tapando a boca com uma das mãos.

-Como se isso fizesse alguma diferença! Acho que até com mau hálito você é perfeita... – colocou os dedos no queixo fingindo um semblante pensativo. – Acho que isso quer dizer que eu te amo demais, certo? Talvez seja um sinal de que vamos ficar juntos pela eternidade! – abriu os braços para o céu em um gesto exagerado.

A Hyuuga colocou as mãos nas bochechas quentes e riu do namorado bobo que tinha.

-Eu te amo.  – as palavras saíram com tanta intensidade da boca da morena que Naruto perdeu a voz por uns instantes.

Ele olhou para a namorada e se sentiu o homem mais sortudo da face da terra. Sorriu abobadamente. Ela era linda, meiga, atenciosa, inteligente... Na verdade, ele simplesmente não conseguia achar defeitos nela e sabia que se já tivesse achado algum tinha simplesmente ignorado, pois nada poderia ofuscar o brilho que Hinata possuía. Ela era o amor de sua vida. Nunca pensou que um dia teria essa certeza, mas agora sabia, quando duas pessoas nasceram para ficar juntos, o sentimento é tão real que é quase palpável. Nunca entendera o que seu pai dizia ao se referir a sua mãe, contudo tudo havia ficado cristalino como água desde a primeira vez que seus olhares se conectaram.

Enlaçou seus dedos com os dela e a puxando para próximo de si enterrou a cabeça em sua barriga.

-Não tem palavras que possam descrever o que sinto por você, Hinata... Eu tomaria um tiro por você um milhão de vezes se fosse necessário, tudo para não precisar viver um único dia sem você.

Os olhos perolados ficaram marejados com tais palavras. Hinata se sentia extramente feliz, porém ao mesmo tempo estava incomodada. Naruto provava o amor que tinha por ela constantemente e a cada vez com mais intensidade, enquanto ela não conseguia transformar o que sentia em algo visual ou palpável. Amava o loiro mais do que qualquer coisa, mas sabia que aos olhos de qualquer um ela seria tida como a que amava menos na relação. Esse fato a irritava. Deixou ele se afastar quando deveria ter insistido em ficar ao seu lado, deixou-se ser sequestrada e não conseguia falar nem metade das coisas maravilhosas que ele falava. Era péssima como namorada. Sabia que também estava longe de satisfazê-lo por completo sexualmente. Era patética. Sem perceber, deixou lágrimas grossas rolarem por sua face.

Naruto sentiu algo molhar sua bochecha e afastou-se do abraço para encarar a morena. Surpreendeu-se ao perceber que ela estava chorando. O que tinha falado havia a deixado extremamente feliz ou algo do tipo? Indagava-se. Só tinha certeza de uma coisa: odiava vê-la chorar.

-Ei, Hina-chan, por que está chorando? – começou a acariciar o cabelo azulado e sedoso.

-Não é nada... Eu só... Nada... – ela limpava as lágrimas inutilmente. Por que diabos estava chorando? Perguntava-se.

-Hina-chan... Não chore... – o loiro limpou a água salgada com beijos delicados, finalizando com um terno beijos nos lábios da pequena.

-Eu estou bem, é só bobagem... – ela chacoalhou a cabeça enquanto enterrava os dedos nos macios fios loiros.

Naruto a olhou com carinho, todavia podia sentir que algo estava errado com a expressão da azulada. Ela parecia aflita, porém com que poderia estar aflita? O pior já havia passado e agora os dois poderiam aproveitar cada momento juntos como um casal normal, sem problemas com memórias ou possíveis assassinos. Então por que ele sentia que ela ainda não estava completamente segura e confiante? O toque do celular retirou o jovem Uzumaki de devaneios. Ele olhou para o aparelho e decidiu ignorar a chamada.

-Pode atender, eu vou ao banheiro.

Hinata andou para longe e o namorado não teve outra escolha a não ser atender ao celular.

-Alô?

-Naruto! Você é maluco, não é? – ele reconheceu a voz intensa e irritada. Só então se deu conta de que havia se esquecido completamente de Sakura.

-Sakura-chan! Puxa vida, parece que faz uma eternidade!

-Eu que o diga, cretino! Só quer saber da sua namorada agora e que se dane a melhor amiga! – ele riu nervosamente.

-Que isso, Sakura-chan! Você sabe que não é bem assim, só que tudo estava uma bagunça tão gigantesca! – e ele não mentia. Uma hora estava se preocupando com memórias e em seguida com manter todo mundo, ele incluso, vivo. Havia visto a rosada em sua festa de aniversário, porém não se lembrava dela, por isso acabou não falando com a amiga. Depois, quando lembrou, só conseguiu pensar na confusão em que havia se metido.

-Sei bem! – ela tentou se manter brava, mas acabou com a encenação com um suspiro. – Está tudo bem, só estava preocupada mesmo, se você quer saber, nem notei muito sua ausência, porque estava ocupada com meus próprios problemas...

-Que problemas? – arqueou uma sobrancelha. Acreditava que Sakura era a pessoa mais livre de problemas do mundo.

-Eu meio que me envolvi com o Sasuke...

-O QUE? – berrou. – Tipo, então você não está mais com o Itachi? – nesse momento Hinata saiu do banheiro e se sentou no sofá.

-Não... Eu meio que... Ele meio que... Me pegou na cama com o Sasuke.

-PUTA MERDA! – a namorada se sobressaltou com o grito do loiro. – Como eu sou o último a saber dessa coisas? Ei, Hinata, você sabia que o Itachi pegou a Sakura com o Sasuke?

-Hum, sabia sim... – a morena respondeu distraidamente. O queixo do Uzumaki caiu.

-Isso é um absurdo!

-Tudo bem, Naruto, chega disso! Outra hora a gente conversa a respeito da minha vida amorosa. Só me diga se está bem?

-Estou ótimo. – disse já com um imenso bico nos lábios.

-Fico feliz. Até mais! – e a rosada simplesmente desligou o telefone, deixando o amigo ainda mais abismado.

Naruto encarou o celular. Tudo estava tão bagunçado ultimamente! Pensava. Parecia que tudo havia virado de ponta cabeça de uma hora para outra. Em um dia todos estavam vivendo suas vidas tranquilamente. Sakura estava com Itachi, ele com Shion e tudo seguia calma e tranquilamente em uma rotina imutável. Num outro dia, tudo muda, Sakura não está mais com Itachi e sim com seu irmão mais novo, quem por acaso acaba virando seu amigo por ser amigo da mulher por quem se apaixona após ter misteriosamente perdido a memória. Descabelou-se.

Hinata não percebia o conflito interno do loiro, porque estava concentrada respondendo uma mensagem de Hanabi, que queria sair a qualquer custo para comemorar. A caçula só pensava em festa, porém a azulada não podia evitar sorrir perante as maluquices da irmã. De certa forma, fazia bem para a sua saúde. Suspirou e terminou de responder, então ouviu uma batida na porta.

-Pode entrar. – a voz da Hyuuga despertou o namorado dos devaneios.

-Com licença... Olá, Naruto!

-Itachi-nii-san! – o jovem quase pulou da cama quando viu o moreno Uchiha sorridente colocar o corpo para dentro do quarto, porém depois sua expressão ficou confusa ao ver os machucados e hematomas no rosto do homem.

-Vejo que já recuperou as energias... – riu. – Eu só vim para ver como estava, Sasuke me contou sobre o que aconteceu... Desculpe-me por não estar presente, mas eu estava com uns problemas... – a voz suave e simpática de Itachi tentava cobrir todas as preocupações e ansiedades que batiam e rebatiam em sua cabeça.

-Até você? Meu Deus! Todo mundo anda com problemas ultimamente! – o loiro descabelou-se mais uma vez.

-Hã? O que quer dizer? – O Uchiha olhou para o sofá e cumprimentou Hinata com uma aceno de mão e um sorriso, que foram devidamente retribuídos.

-Não, nada. É que eu acabei de ouvir sobre você e Sakura... Não me diga que são esses seus problemas? Você não brigou com o Sasuke, né? – coçava a nuca, estava mais perdido do que cego em tiroteio no meio de tantos acontecimentos e “problemas”.

-Como? – surpreendeu-se com a pergunta, mas então se lembrou do estado de seu rosto. - Não, na verdade isso já está praticamente para trás agora... Eu me enrolei mesmo com minha nova namorada...

-MAS JÁ? – outro berro. – Ah! Certo, enfim, é muita coisa para meu cérebro mal desenvolvido processar... – suspirou e deslizou pela cama deitando novamente.

O Uchiha riu um pouco embaraçado.

-Desculpa, nos afastamos depois que você teve amnésia, mas agora tudo irá voltar aos eixos... – ele se aproximou do amigo e repousou uma mão em seu ombro, exibindo um sorriso confiante.

-É, eu também acho que vai. – o loiro sorriu abertamente. – Mas, o que aconteceu com você? – gesticulou para os machucados.

- Outra hora te explico... – fugiu das explicações, porque não sabia quais daria. - Eu tenho que ir, minha namorada vai ter alta... – percebeu que Naruto fez uma cara confusa, mas resolveu ignorar por hora. – Se recupere logo, ok?

-OK! – Itachi riu novamente. Era incrível como o Uzumaki conseguia passar pelas piores situações e ainda assim sorrir e estar extremamente animado no dia seguinte. Ele era o exemplo vivo da filosofia de “o que passou, passou”. Queria conseguir ser assim de vez em quando.

-Hinata-chan, foi um prazer revê-la... Cuide dele, está bem? – a morena, quem ainda trocava mensagens com a irmã, foi pega de surpresa e teve um leve sobressalto.

-Ah, sim, com certeza! Até mais, Itachi-san. – sorriu doce e timidamente. O homem sorriu de volta, deu uma batida leve no ombro de Naruto e saiu do quarto.

A azulada voltou a se concentrar nas mensagens, enquanto o namorado voltava a refletir sobre a quebra da normalidade para criar uma nova normalidade. O café da manhã não demorou a chegar. Hinata decidiu voltar a sua casa para tomar um banho e cuidar do gato, além de telefonar para a biblioteca, deixando o loiro comendo um pouco revoltado a comida de hospital. Deu-lhe um beijo de despedida e prometeu voltar pela tarde.

Hinata estava aliviada por o telefonema e Itachi terem distraído Naruto do fato dela ter começado a chorar do nada, por razões desconhecidas. Na realidade, só queria de um tempo para descobrir o que faria do momento em diante para ser uma excelente namorada.

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Ao passar pela porta, ficou surpreso ao ver Ayame já trocada, observando a vista pela janela. Ela tinha um olhar longe e seus cabelos eram bagunçados pela suave brisa que entrava no quarto. Ele se aproximou vagarosamente. Não havia falado com a namorada desde que ela contara sua história e não sabia como abordá-la ou o que falar. Repousou a mão em cima da dela no parapeito, mas a jovem puxou mão e olhou para outro lado. Aquele simples gesto foi como uma facada no peito de Itachi.

Ela iria afastar-se dele? Tinha revelado tudo só para entrar em uma concha e se trancar? Ele não podia deixar que a pequena fizesse isso, pois se fizesse ele nunca conseguiria ajudá-la. O moreno só queria conseguir fazê-la entender que ele a amava, por isso não se importava com seu passado, apenas com o futuro que dividiria com ela. Só que Ayame recusava-se a ouvi-lo, toda vez que tentava expressar tais sentimentos ela fugia, desviava de assunto. Suspirou pesadamente e passou a mão pelos cabelos. Teria paciência e não desistiria de Kurumizawa, alcançaria seu coração e a ensinaria a ser feliz, nem que fosse a última coisa que fizesse.

-Ayame, não vai mais falar comigo? – perguntou em um tom suave, mas a jovem continuou a evitar seu olhar penetrante e intenso. – Sabe que para mim nada mudou, não é? Ainda te vejo da mesma forma...

A morena mordeu o lábio inferior e segurou lágrimas. Já estava cansada de chorar. Queria abraçar Itachi, beijá-lo e aceitar todo o amor que ele poderia dar, mas não conseguia, uma parte de seu ser simplesmente não se achava digno de corromper uma alma tão pura quanto a do Uchiha. Poderia parecer idiotice, mas o que ela podia fazer se sentia podre? Não sabia nem como havia conseguido trocar beijos e carícias com ele por tanto tempo, provavelmente havia sido pega em uma fantasia e se esquecido da realidade momentaneamente, porém, quando viu o corpo de Hiruzen desfalecer em frente aos seus olhos, tudo voltou como uma enxurrada, ela era amaldiçoada e havia amaldiçoado o homem que amava mais uma vez. Não poderia continuar dando preocupações e fazendo com que Itachi dedicasse atenção para uma pessoa quebrada como ela. Ele merecia alguém melhor.

-Eu acho que vou... – começou a falar em um tom extremamente baixo, mas foi interrompida.

-Não. Eu já sei o que você vai falar e a reposta é não. Você não vai fugir, Ayame. Você vai voltar para casa comigo e eu vou cuidar de você. – falou com convicção, pois estava decidido a não deixá-la fugir novamente, nem que fosse necessário prendê-la em seu quarto até desintoxicá-la dos próprios medos.

-Mas... Seus pais... – ela ainda tentava achar uma desculpa, algo para fugir novamente e libertar o Uchiha, o que achava ser o único jeito de fazê-lo feliz.

-Danem-se meus pais, eu não sou uma criança mais, não dependo deles. Eu irei cuidar de você e você irá ficar comigo. Olhe para mim, Ayame. – Pegou o queixo da jovem com delicadeza e com firmeza, forçando-a a parar de ignorar seus olhos negros decididos. – Eu te amo, entenda e aceite isso.

Ayame podia sentir o olhar do namorado dominá-la. Aquela profundidade e intensidade acalmavam seu espírito mesmo que superficialmente. Podia morrer ali, nos olhos dele. E aquelas três palavras ditas com tanta certeza deixaram suas pernas bambas. Ele não devia amá-la, mas ela não conseguia evitar ficar feliz por ouvir a frase. Era egoísta e fazia coisas erradas. Criava laços quando deveria estar sozinha, quando já deveria ter deixado o mundo, mas nunca teve esse tipo de coragem, de acabar com o sofrimento das pessoas com as quais se envolvia e até mesmo o próprio sofrimento.

Itachi começou a acariciar sua bochecha e ela fechou os olhos involuntariamente, sentindo o toque que tanto amava. Podia sentir a respiração quente do moreno se aproximar lentamente. Sabia que ele iria beijá-la e, mesmo sabendo que não devia, não conseguia não desejar sentir sua boca mais uma vez, perder a razão, ser mandada para longe do chão. E inevitavelmente seus lábios se uniram.

O Uchiha não envolveu o corpo da pequena, pois estava com medo de causar-lhe dor, de tal forma que deixou as mãos no rosto delicado dela, acariciando levemente a pele alva. Começou com calma, apenas fazendo pressão nos lábios carnudos, pois não queria ser rejeitado. Depois de perceber que ela correspondia, aprofundou o beijo. Estava com saudade, queria tê-la beijado logo que perdeu as amarras naquela casa abandonada, contudo não tinha pressa, fazia movimentos compassados, aproveitando cada segundo. As pequenas mãos dela haviam agarrado o tecido de sua camiseta e ele podia perceber o tremor delas.

Depois de um tempo razoável saciando a saudade que tinham do toque um do outro, separaram-se. Ayame evitou o olhar do namorado mais uma vez, concentrando-se no piso branco do quarto.

-Vamos para casa, certo? – ele murmurou e depositou um beijo carinhoso na testa da jovem.

-Ok... – sussurrou. Não tinha como lutar contra o que seu coração gritava por. Ele queria o calor do corpo de Itachi.

Os dois saíram do quarto e o Uchiha pagou o que devia ao hospital na recepção. Kurumizawa não abria a boca e continuava evitando os olhos negros e dominadores do moreno, pois sabia que se abaixasse a guarda desabaria nos braços dele e entregaria todos suas aflições para que o homem cuidasse. Não queria isso. Sem contar que os hematomas no belo rosto do patrão eram um lembrete gritante do que ela havia provocado em sua vida.

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Já havia passado em casa e dormido por algumas míseras horas. O despertador havia tocado, pois ele havia se esquecido de desativá-lo quando decidiu faltar à aula. Amaldiçoou-se milhares de vezes quando o maldito aparelho começou a tocar freneticamente. Decidiu levantar de uma vez e tomar um banho gelado. O choque dado pela água fria o fez acordar de imediato e ajudou a sua dor de cabeça a se dissipar um pouco. Os dias ainda estavam frios, porém a temperatura havia subido um pouco. Trocou-se e foi para a cozinha, como esperava sua geladeira estava vazia. E Hinata ainda deveria estar no hospital ou coisa parecida. Suspirou. Não iria para a faculdade mesmo tendo acordado, simplesmente não tinha saco para isso no momento.

Era por isso que agora batia na porta de Sakura. Nem Sasuke sabia muito bem por que havia ido para o apartamento da rosada, talvez por ter prometido dar uma passada. A Haruno abriu a porta ainda de pijama e telefone na mão. Ficou um pouco surpresa em ver o jovem Uchiha com suaves olheiras parado na sua frente.

-Sasuke? O que faz aqui nesta hora?

-Perdi o sono e resolvi dar uma passada... – deu de ombro e foi entrando.

Deu um beijo um pouco estalado na bochecha de Sakura, que a fez corar dos pés a cabeça, afinal não esperava uma atitude parecida. Ela paralisou com a porta ainda aberta, enquanto o moreno se jogava no sofá e começava a passar os canais de filmes. Ele tinha mesmo dado um beijo em sua bochecha? Perguntava-se. Ainda podia sentir a queimação no local em que os lábios dele haviam tocado. Levou a mão involuntariamente ao local e sorriu feito uma adolescente.

-Hey, você já tomou café da manhã?

A rosada quase foi parar no teto de tão alto que pulou. Gaguejou um pouco e fechou a porta, ficando um pouco desconcertada com a visão de Sasuke jogado em seu sofá olhando para ela com a cabeça pendida para trás, o que fazia seus cabelos saírem do lado de sua testa e permitia observar cada linha perfeita de seu rosto. Corou mais um pouco.

-Na verdade não... Está como fome?

-Estou sim.

-Ok. – deu um risinho um pouco forçado e foi para cozinha. Por que havia ficado tão nervosa com algo tão banal? Por Cristo! Ela já havia desbravado cada curva do corpo sensual do Uchiha, não tinha por que ficar desconcertada com um simples beijo na bochecha. Idiota! Praguejava mentalmente enquanto separava algumas coisas em cima da pia.

-Como você está? – a voz rouca soou perto demais, fazendo a rosada levantar o olhar. Ela deu de cara com o rosto bem desenhado de Sasuke a uns cinco centímetros do dela. Ele estava apoiado por cima do balcão que interligava cozinha com sala de jantar.

-Você diz, em relação a minha doença? – tentou não gaguejar e manter a respiração estável. O rapaz apenas concordou com a cabeça. – Estou bem melhor, o médico receitou um novo medicamento e estou considerando fazer uma cirurgia... – ele ainda continuava debruçado e a proximidade fazia Sakura suar nas mãos.

-Ah, ótimo...  – Qual era o problema dele? Como podia mudar de personalidade e atitudes de um dia para o outro tão facilmente? A Haruno indagava em pensamentos.

-E quanto a você? Como está depois dessa bagunça toda? – perguntou e começou a fazer um pouco de peixe, cortar fatias de pão integral e abrir uma conserva de legumes.

-Não sei bem... – deu de ombros e começou a prestar atenção no que a rosada fazia. – Foi uma loucura tão grande que acho que não deu para perceber o quão perigoso foi... Mas meio que fez pensar...

Sakura arqueou uma sobrancelha para o Uchiha devido a sua última fala.

-Pensar em que?

-Nada, deixa para lá. – ele corou levemente e a rosada percebeu. Sorriu de cantou o achando extremamente fofo envergonhado. Sasuke não queria dizer em voz alta que quando viu Naruto tomando um tiro por Hinata sentiu que seria legal ter um relacionamento tão intenso quanto o deles. – Enfim, acabei encontrando Itachi no hospital e nós meio que nos acertamos. – mudou de assunto bruscamente, pois sabia que a jovem não desistiria de saber a continuação de sua oração anterior.

-Sério? – olhou para o moreno extremamente surpresa e logo em seguida já começou a colocar algumas tigelas e hashis na bancada.

-É, ele meio que tá namorando de novo e acho que também está de boa quanto a você. – deu de ombros e começou a comer.

-Ah... Que bom... – a notícia fez Sakura se sentir mais leve. Estava aliviada por Itachi não guardar rancor e já ter conseguido seguir em frente. Sorriu com o pensamento e então bateu com o hashi no de Sasuke, que queria comer seu pedaço de peixe. – Ei, olho gordo, esse pedaço é meu!

-Não estou vendo seu nome nele. – disse já levando o pedaço a boca.

Em um movimento impensado a rosada levou a boca para frente e abocanhou o peixe, que já estava metade para dentro da boca do moreno. O ato acabou fazendo os dois encontrarem os lábios em um selinho. Ambos coraram, arregalaram os olhos e se separaram apressadamente.

-Quanta violência para um pedaço de peixe... – O Uchiha fingiu despreocupação, mas no fundo havia ficado desconcertado com o toque repentino, algo que também não fazia sentido, afinal ele nunca se importara com tal tipo de coisa.

-Ninguém mandou você ser guloso. – Sakura continuou comendo para disfarçar seu embaraço.

Os dois continuaram fazendo a refeição mais silenciosamente. Ainda comentavam algumas coisas uma vez ou outra, contudo ambos estavam perdidos em indagações e a principal era: “Por que estou agindo feito um adolescente?”. Tanto um quanto outro sabia que a resposta era evidente, mas se recusava a aceitar assim tão facilmente.