Naruto e Arashi permaneciam em silêncio no pequeno bote, evitando o contato visual.

Arashi olhava para a névoa espeça que ia diminuindo gradativamente quando deslizavam pelas ondas chegando perto da praia.

Naruto estava pensativo e apreensivo. O que essa garota tinha em mente? Seduzi-lo? Ele não era assim tão idiota, sem bem que ela parecia apenas se divertir as suas custas. Não achou realmente que fosse aquilo.

Se conheciam a dois dias apenas e a presença dela já causava reações “estranhas” nele. Claro que ele não gostava dela, isso era ridículo, ou pelo menos ele afirmava isso pra si mesmo.

–Não pretendo dormir com você – Arashi disse seria, encarando Naruto pela primeira vez desde que entraram naquele bote.

Naruto ficou surpreso, ele NUNCA pensaria em algo assim. Ele bagunçou seu cabelo nervoso. Ele não era esse tipo de homem.

Ele era do tipo que se casaria com uma boa mulher, teria filhos e amaria sua família acima de tudo.

–Nunca pensaria nisso – Respondeu convicto um pouco desconfortável.

Arashi olhou bem pra ele, seus olhos verdes eram penetrantes. As esmeraldas encaram as safiras.

–Você é um bom menino, por isso este é apenas um aviso – Arashi usava um tom superior.

Naruto irritou-se, entretanto manteve a pose.

–Você não faz meu tipo – Seu tom foi displicente, debochado.

O comentário irritou Arashi, que foi percebido pelo Uzumaki, que não conseguiu evitar soltar uma risadinha baixa.

–Como se o Senhor fosse um príncipe, Naruto Uzumaki – Arashi rebateu.

–Pois saiba “capitão” que sou muito disputado pelas donzelas – Naruto disse.

Arashi riu alto, então esse era o jogo. Bom, dois poderiam jogar.

–É mesmo? As mulheres de Konoha devem ter um gosto bastante “peculiar” – Arashi exibia um sorrisinho no rosto.

Naruto cerrou os olhos. Era assim, pois bem, ela teria o que merecia.

–E quanto a você “capitão”, é uma mulher que se veste de homem, e ainda é um capitão pirata. O destino de todos os piratas é a forca, não terá tempo nem mesmo de se casar ou ter filhos.

Nessa hora o sorriso no rosto de Arashi desapareceu e sua expressão se tornou indecifrável. Ela se levantou do seu lugar, largou o remo dentro do bote e debruçou sobre Naruto.

Eles estavam de frente um para o outro.

Naruto engoliu a seco, podia sentir a respiração dela pela proximidade de seus rostos.

Sua voz saiu baixa e cortante.

–É o que você acha Naruto Uzumaki?

A respiração de Naruto estava pesada, sentia o hálito quente de Arashi. Desejou não ter dito nada.

Naruto piscou algumas vezes tentando apagar esses pensamentos. Estava confuso e ela continuava ali, ao alcance dele.

–Eu perguntei se é isso que acha Naruto Uzumaki? – Arashi continuava inexpressiva.

Nesse momento uma onda bateu no bote, fazendo Arashi cair por cima do Uzumaki. Ela podia ouvir o barulho do coração acelerado dele, sua pele quente. Sua respiração começou a falhar. Tentou levantar, mas o barco balançava muito.

Outra onda atingiu o bote e Naruto segurou sua cintura para que o bote não virasse. A situação se tornou constrangedora. Os dois estavam praticamente abraçados, enquanto Naruto segurava sua cintura suas mãos estavam sobre os braços dele.

Arashi engoliu a seco, conseguiu se levantar apoiando-se no Uzumaki. Depois disso nenhum dos dois trocou uma palavra até chegarem a praia.

Arashi mordeu os lábios, eles haviam chegado à Praia do Som, ela precisaria encarar o Uzumaki.

O bote deu de encontro com a areia da praia e os dois desceram. Arrastaram o bote para a areia.

A Praia do Som continuava do jeito que ela se lembrava. Não era grande, mas era bonita, a água era de um azul escuro, a maré era muito forte, as ondas faziam um barulho alto ao se chocarem com a praia.

Havia algumas pedras e uma neblina espeça que protegia toda a extensão. O lugar era isolado não só pelos rumores, era difícil o acesso.

Naruto e Arashi se encaram por um instante, mas rapidamente desviaram o olhar.

O Capitão quebrou o silêncio.

–Me siga – Arashi começou a andar em direção ao final da Praia.

Naruto continuava e silêncio, o lugar era familiar de algum modo e o acontecido de alguns minutos atrás continuava nítido em sua mente.

Naruto avistou o que parecia ser uma caverna escondida pelas rochas.

Arashi mostrou aonde teria que pisar para chegarem lá, passando por algumas pedras e por algumas poças, eles chegaram a caverna, o sol iluminava a entrada, mas ainda sim, ela parecia escura e sombria.

Naruto foi surpreendido pela voz do Capitão.

–Minha casa – O tom do Capitão era baixo como um sussurro, que se misturava ao som das ondas.

–Você mora aqui? – O Uzumaki estava surpreso.

–O que esperava Sr. Uzumaki, uma mansão? – Arashi foi áspera.

Naruto bufou.

–Não, só não achei que fosse em uma caverna numa Praia amaldiçoada – Rebateu.

Arashi não respondeu ao comentário, estava perdida em seus próprios pensamentos.

Olhava sua caverna, lembrava-se do tempo que passou ali quando criança, ela havia estado em muitos lugares, mas sempre voltava para lá.

Sua casa. Um lugar ao qual pertencia mesmo que fosse algo solitário e sombrio.

O lugar continuava como havia deixado.

Um escritório improvisado com mapas e cartas náuticas, sempre se interessou por isso, desde criança desenhava seus próprios mapas. Uma cama e alguns baús com coisas que ela costumava guardar.

Havia também um forno improvisado, ainda se lembrava de como foi difícil arrumar tudo aquilo. Mas, ela conseguiu.

O Uzumaki olhava tudo com curiosidade.

–Não parece tão ruim – Disse o loiro por fim, chamando a atenção do Capitão que por alguns minutos havia se esquecido da companhia.

O Capitão ignorou o comentário.

Arashi sentou-se na cama e fez sinal para que o Uzumaki sentasse ao seu lado.

Naruto meio desconfortável se sentou, mantendo uma distancia considerável do Capitão.

Arashi percebeu, mas não se importou, fechou os olhos e os abriu lentamente como se esperasse um momento certo para começar.

–Creio que esteja se perguntando o motivo de estar aqui? – A voz do Capitão era calma.

–Acho que tem a ver com o que disse ontem – Naruto olhava fixamente para um ponto imaginário da caverna.

–Exato, eu disse que o faria se lembrar e farei Falou convicta, respirou fundo e continuou - Ah alguns anos eu estava aqui, quando resgatei um menino no mar. Naquele tempo eu também era só uma criança – Os olhos verdes encontraram a atenção dos azuis.

–Eu não acredito em você – Naruto não podia acreditar, ele foi encontrado por Jiraya que cuidou dele, que deu um lar. Jiraya o criou como neto, sempre teve tudo o que quis, ele devia tudo a Jiraya.

Arashi se levantou, caminhou para mais adiante da caverna e pegou alguns pedaços de madeira.

–Isso é seu – Ela entregou os pedaços.

Eram destroços, pedaços disformes de madeira escura.

Naruto segurou e teve lampejos.

Sentiu a cabeça doer e sua respiração acelerar. Imagens invadiram sua mente.

Ele via um homem muito parecido com ele, sorrindo, havia um navio, sentia o vento e o cheiro de maresia, tão familiar. Ele não conseguia entender.

Quando acordou, Arashi estava sentado do outro lado da parede da caverna o encarando.

– Todas as vezes que você se aproxima do passado, você desmaia. Talvez suas memorias estejam lacradas – Ela falou.

Naruto se levantou da cama com dificuldade, ficando sentado.

–Eu não tenho passado – Falou sem emoção.

–Você quer ouvir o que eu sei? – Ela perguntou.

–Você me trouxe aqui para me convencer, não é? – Sua cabeça doía.

–Sim, vou convencê-lo a me ajudar. É uma troca justa, você encontrará seu passado, saberá quem você é, e eu, ficarei com o tesouro – O Capitão estava convicto.

–SÓ O OURO IMPORTA PRA VOCÊ? – Naruto bravejou.

–Quem lhe disse que eu quero o ouro? – A voz de Arashi era suave mas firme.

–O que você quer então? – O Uzumaki perguntou confuso.

–Isso é assunto meu. Então Sr. Uzumaki, você quer saber o que eu sei? – Arashi perguntou mais uma vez.

–O que você sabe sobre mim... – Naruto foi vencido pela curiosidade. Arashi deu um pequeno sorriso de canto.