Sakura ficou paralisada, as palavras do loiro ecoaram em sua mente. Ela piscou os olhos algumas vezes tentando focar o olhar no rapaz que parecia preocupado.

–Sakura? – Chamou o loiro meio incerto.

A rosada se soltou do Uzumaki e o olhou aturdida.

–Você enlouqueceu? – Falava encarando o rapaz a uma distancia razoável.

–Não. Entenda eu sempre estive sozinho, me esforcei todos esses anos tentando fazer com que eu fosse aceito. Quando eu finalmente me lembro de algo, me lembro de você. Quero mais do que alguns momentos, quero uma família, quero algo para proteger – Naruto tentava se explicar, sua voz saia com intensidade e seus olhos estavam fixos nos dela.

–Você não sabe o que está dizendo – Arashi tentava manter a compostura, mas era uma tentativa vã.

–Sei exatamente o que estou dizendo – O rapaz ficou serio.

Arashi balançou a cabeça em negativa.

–Eu sei que você está com medo, isso é novo para mim também – Naruto estava determinado e estava sendo sincero, ele tinha certeza de que Sakura era a mulher de sua vida.

–Não estou com medo eu não tenho medo – Foi incisiva, mas desviou o olhar do rapaz.

–Então qual é problema?

–Eu sou um Capitão Pirata! – Ela dizia seria e um pouco alterada.

–Eu tenho consciência disso! - Disse igualmente serio.

–Então como pode pedir tal coisa?

Os dois já estavam se alterando, ambos eram geniosos e teimosos. Eles eram muito parecidos em alguns aspectos e muito diferentes em outros.

–Assim que acharmos o tesouro, nós poderemos ter nossa própria vida - Naruto voltou a falar tentando manter a calma.

–Você não faz ideia do que está falando. Eu deixei tudo para estar aqui. Não posso e não vou recuar agora! – Sakura respirava com dificuldade tentando puxar o máximo de ar e manter a calma.

–Não estou pedindo para você abandonar nada! Eu tenho consciência da sua posição e da minha, tenho consciência de que não estamos em uma viagem a passeio. Mas EU AMO VOCÊ, é tão absurdo assim pensar que podemos estar juntos? Que poderemos ter uma família?

Dizendo isso Naruto simplesmente se levantou e saiu do cômodo.

Escorou-se na borda no Navio, encheu o peito de ar.

–AAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHH!

Precisava aliviar a tensão que sentia, antes que explodisse de vez.

–AAAAHHHHHH!

Naruto virou o rosto surpreso ao ver Sakura ao seu lado, gritando junto com ele.

–Sente-se melhor? –Perguntou encarando o rapaz ainda irritada.

–AAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH! – Gritou de novo – Agora sim, estou um pouco melhor!

Seus olhos se encontraram, esmeraldas contra safiras.

–Ótimo – Disse ela.

–Ótimo – Disse ele.

Eles pareciam duas crianças birrentas, mas de alguma forma se entendiam.

A moça suspirou, ela sabia que teria que levar a situação com calma, mesmo que a calma não fosse uma de suas características, sentou-se no beiral na nave colocando os pés para fora do navio, vendo o mar escuro logo abaixo, sendo iluminado apenas pela lua e as estrelas.

O movimento foi repetido pelo loiro.

Ficaram em silêncio por alguns minutos até que ela tomou a iniciativa.

–Eu sei que é difícil pra você, eu também queria que fosse diferente. Mas eu não posso mudar o que eu sou – Sua voz era suave, a moça estava sendo sincera.

–Ás vezes eu acho que alguém me odeia muito. Porque eu tenho tanto azar que chega a ser desumano – Comentou frustrado com um sorriso triste.

–Não você, o seu pai – Falou em um sussurro que não passou despercebido pelo rapaz.

–Como assim? O que você sabe que eu não sei? – Perguntou com a sobrancelha erguida.

–Digamos que a história é bem mais complexa do que você imagina – Falou mirando em um ponto distante no mar.

–Tenho todo o tempo do mundo para escutar – Incentivou o rapaz.

A moça passou a mão no cabelo rosa.

“Dizem que o Raposa de Nove Caudas foi o maior navio pirata de todos. Seu capitão era Minato Namikaze, o quarto imperador dos mares, ele se tornou tão poderoso que desafiou o mar. Então, uma forte tempestade o aplacou e seu precioso navio nunca mais foi visto”.

–Essa é a versão que contam, mas não foi exatamente isso o que aconteceu – Falou em voz solene ainda mirando a imensidão azul escura a frente.

–O que aconteceu então? – Naruto estava intrigado, como Sakura poderia saber tanto?

–Contarei o que eu sei e a parte da história que me cabe – Ela olhou para ele - Minato Namikaze roubou o um grande tesouro, talvez o mais precioso de todos e como punição o poderoso Raposa de Nove Caudas se perdeu, sem rastros, pistas ou sobreviventes, ou era isso que se pensava, afinal você esta aqui.

–Qual é o tesouro do Raposa de Nove Caudas? O que foi que o meu pai roubou? – O rapaz olhava a moça, aturdido.

–O Livro do Destino – Foi incisiva.

Foi como se Naruto tivesse um estalo.

–Isso é impossível! – Naruto sentia sua cabeça doer, era um dor insistente que o fazia trincar os dentes, aquela seria uma péssima hora para um dos seus desmaios.

O rapaz pendeu o corpo para lado encostando-se em Arashi que apenas o abraçou numa forma de não deixar que ambos acabassem caindo na água.

–No fim do mundo existe um livro, ele é guardado pela Deusa do Caos, nele está gravado toda a história bem como sonhos, segredos e o futuro de quem o tocar – A voz dela era melodiosa e suave – Um livro perigoso demais para um mortal, imagina o poder de reescrever o seu próprio destino, seria um sonho e um pesadelo.

–Como você sabe disso Sakura? – Quis saber o loiro, erguendo-se para encarar a rosada.

Ela sorriu um sorriso triste e as esmeraldas de seus olhos tornaram-se escuras.

–Meu destino é devolver o Livro.

[...]

Ino estava no convés do Sombra do Vento, olhava para em direção ao mar que iluminava-se pela luz da lua e das estrelas. Uma imensidão azul escura com pontos brilhantes.

O navio seguia de volta para Konoha, os reparos já haviam sido feitos a muito e agora era a hora de retornar e reportar as notícias.

Sentiu uma brisa suave em seu rosto.

–O vento está mudando – Sussurrou a moça.

–Acha que virá uma tempestade?

A moça se assustou ao perceber o jovem ruivo olhando-a esperando uma resposta.

–Talvez – Respondeu meio sem jeito.

Gaara percebeu o desconforto da loira e se recriminou internamente por estar ali.

Ino olhou de canto de olho e o viu bagunçar os cabelos desalinhados cor de sangue, parecia nervoso aos olhos da moça.

Não conseguiu evitar rir, pôs instintivamente a mão na boca. Nesse momento o rapaz ficou ainda mais sem jeito.

Gaara se sentia um idiota, era sempre assim quando estava muito perto da Yamanaka.

–Desculpe, só fiquei um pouco surpresa pela pergunta – A donzela tentou contornar a situação.

–Eu que peço desculpas se a assustei – Falou voltando a postura seria.

–Aprendi a entender o vento, desde criança faço isso – Ela disse com um sorriso doce estampado na face e seus olhos mirando um ponto qualquer no horizonte.

–A senhorita é realmente única. Até mesmo os marinheiros mais experientes tem dificuldade em entender o vento ou prever uma tempestade – Ele falou com convicção e não percebeu quando a moça corou.

Única...

Ino Yamanaka estava um pouco envergonhada, não por causa do elogio, mas pela pessoa que estava a elogiando.

O Sabaku era sério, centrado e quieto. Três boas qualidades para um marinheiro de alta patente. Não parecia um conquistador, ele parecia sincero e isso a assustou.

Ela poderia lidar com conquistadores, ela saberia lidar com a situação, ela poderia sair de uma conversa indesejada sem grandes esforços e se por ventura o homem insistisse ela mostraria suas “garras” e o faria recuar.

Entretanto o homem ao seu lado não era desse tipo, ele era sincero e corajoso, o episódio de seu “salvamento” ainda estava muito nítido em sua mente, a deixando confusa.

Gaara percebeu o silêncio e o rubor da moça, pigarreou tentando aliviar o desconforto.

–Desculpe-me acabei me perdendo em meus próprios pensamentos – Disse a moça, alternando entre a firmeza e a suavidade.

Gaara resolveu se esforçar um pouco, não que ele fosse o mestre das brincadeiras. Não. Ele definitivamente não era, mas passou anos ao lado do senso de humor debochado de Naruto e o sarcástico de Sasuke, alguma coisa ele tinha que ter aprendido.

–Uma moeda de ouro por cada pensamento seu – O rapaz soltou um leve sorriso de canto.

–O senhor certamente ficaria pobre – Riu a moça.

Ino pensou que ele ficava ainda mais bonito quando sorria, mesmo que não fosse um sorriso aberto, ainda sim, ele era muito bonito.

Gaara pensou no que dizer em resposta, mas seu cérebro se recusava a pensar estando tão próximo da bela senhorita que lhe sorria.

–Está uma noite bonita, acredito que chegaremos cedo em Konoha – Disse como forma de quebrar o silêncio que se instalara entre os dois.

A expressão do ruivo de repente se tornou dura e franziu o cenho.

–Sim, chegaremos de manhã – O rapaz falou sério.

Ino se sentiu desconfortável ao perceber e expressão do ruivo, por certo ele estaria preocupado pelos acontecimentos, por isso achou melhor encerrar a conversa.

–Neste caso, como é tarde irei me deitar. Boa noite – A moça fez um leve aceno com a cabeça.

Ino sabia que logo quando chegassem a Konoha os problemas dos dois começariam, ela tinha plena consciência disso.

Gostava da companhia do ruivo, ele a salvara, se arriscara por ela, o rapaz era forte, corajoso, gentil, ela poderia listar intermináveis adjetivos sobre o ruivo.

Mas a verdade é que estavam em lados opostos...

–Boa noite – Respondeu o rapaz meio desconfortável, ele não queria encerrar a conversa assim.

Ele queria ouvi-la mais e desfrutar de sua companhia, ela era inteligente, linda e corajosa, bem diferente das donzelas que conhecia.

Mas a moça lhe deu um sorriso singelo e rumou para sua cabine, e o que sobrou foi vê-la se afastar.

–Eu sou um imbecil! – Sussurrou pra si mesmo bagunçando ainda mais seus cabelos desalinhados.

O rapaz ouviu um som de risos atrás de si, e lá estava Hatake Kakashi, apoiado na borda do navio com um sorriso zombeteiro nos lábios.

–Velho irritante! – Bufou o ruivo.

–Homens apaixonados costumam perder boa parte da inteligência. Eu já lhe disse rapaz, cuidado com belos olhos e sorrisos doces – Dizendo isso o espadachim levantou-se rumo a sua cabine.

Gaara ignorou o mais velho, ele apaixonado? Não, isso seria ridículo.

Mas resolveu ficar de olho no Hatake, ele de fato estava lhe instigando a duvidar da conduta da bela senhorita.

Ino Yamanaka lhe parecia um anjo, e embora fosse gentil ela era forte, doce e ao mesmo tempo decidida, qualidades contrapostas que fascinavam o rapaz e nada mudaria a visão que tinha sobre a moça.