Estava chovendo e o vento frio arrepiava a pele do garoto, o menino olhava em volta, o choque das lâminas era alto, o navio estava sendo invadido.

O poderoso Deus do Mar fora emboscado pelo Serpente, havia piratas por todo o lado.

Era a primeira caçada que acompanhava sua família, olhou em volta, seu tio lutava ao lado de seu pai, os dois se movimentavam de forma sincronizada, girando as lâminas, ora bloqueando o golpe inimigo ora atacando, o tio ainda era mais inventivo era capaz de alternar entre a espada e a luta corporal, enquanto seu pai usava duas espadas longas poderosas, mantendo a expressão seria e atacando com fulgor.

O menino via a tripulação lutar para expulsar os invasores, eles eram os caçadores e não a caça.

Seu sangue fervia, o ardor da batalha preenchia sua mente, ele empunhou a espada que carregava no cinto e se pôs a lutar.

Embora fosse uma criança, ele era um Uchiha e o peso do nome que carregava estava sempre em sua mente.

Nobre clã de caçadores de piratas...

Não percebeu quando um inimigo sorrateiro se aproximou.

O menino não viu a lâmina rápida acertar suas costas, gemeu de dor, mas não se renderia, virou-se em um movimento rápido e acertou seu agressor com sua espada, no mesmo momento em que o outro bloqueava o golpe.

Ouviu-se então uma risada de escárnio.

Kabuto Yakushi era ainda jovem e já possuía a posição de primeiro imediato de Orochimaru, o Capitão do Serpente.

–O que temos aqui? Se não é um filhote de Uchiha – Riu o Yakushi.

O menino sentia o líquido quente escorrer por suas costas, manchando sua camisa branca, tentava se manter na defensiva, trincou os dentes e cerrou os olhos.

Kabuto balançava a espada e sorria afetado, para ele era apenas divertimento.

O pequeno Uchiha balançava a espada tentando evitar os golpes, Kabuto investia sem piedade contra o garoto. Em um movimento rápido a lâmina do rival passou em seu braço, o menino mais uma vez gemeu de dor recuando alguns passos.

Ele sentiu o rasgo em sua pele feita pela espada de Kabuto.

Todo o seu corpo doía, a ferida nas costas ardia, e aos poucos a camisa branca ganhou a coloração vermelha.

Ainda sim, não iria recuar.

Ele girava o corpo e investia com toda a força que tinha contra o rival, que apenas bloqueava o golpe, fazendo pouco caso do esforço do menino.

Mas aos poucos seus movimentos perdiam precisão, estava ficando mais lento.

O pequeno sentia sua vida se esvair junto com o sangue que escorria de seu corpo. Sua visão estava embasada, piscou algumas vezes tentando focar no rival.

Ele não queria recuar, ele queria lutar, infelizmente o corpo não se movia.

O garoto viu o Yakushi se preparar para o “golpe de misericórdia”.

Em um movimento involuntário, fechou os olhos.

Esperou pelo golpe, este não veio. Ouviu então um grito e abrindo os olhos avistou um vulto negro que entrava em sua frente, protegendo-o.

Ele estava fraco, já estava no seu limite.

Seu irmão mais velho gritava e lutava, chamava por ele, mas para o menino eram sons distantes...

Acordou na cabine de seu pai, seu corpo inteiro estava coberto por ataduras.

Estava muito fraco, mesmo assim levantou-se da cama, cambaleando até o convés.

Não sabia o que tinha acontecido.

Avistou o Tio junto ao leme, que o olhou aturdido e foi ao seu encontro.

–Sasuke precisa voltar à cabine, você perdeu muito sangue, precisa ficar quieto! – Ralhava Obito, levando o garoto de volta para a cabine.

–Onde está o meu pai? Onde está o meu irmão? – Perguntava o menino, procurando por sua família.

Viu a expressão de seu Tio mudar, e os olhos de Obito ficaram ainda mais escuros do que de costume.

O Uchiha mais velho conduziu o menino de volta à cabine.

Sasuke deitou novamente na cama, estava ainda muito fraco e se sentia tonto.

Obito respirou fundo, era visível sua dor e seu nervosismo.

–Sasuke, eu sinto muito... – Começou falando Obito.

O menino não entendia o sentido daquelas palavras, mas entendia que algo estava errado.

–É tudo minha culpa, eu que insisti nessa caçada, sinto muito – O tio se engasgava com suas palavras, era doloroso para Obito.

O menino começou a ficar desesperado.

–O que aconteceu? – Perguntou entre dentes.

O Uchiha mais velho olhou para o garoto.

–Itachi está morto, Sasuke – Disse Obito com pesar.

Era como se uma espada atravessasse seu coração, seu irmão estava...

Não...

Não...

Não...

O menino se negava a acreditar naquelas palavras.

Itachi era o orgulho da família Uchiha, não poderia estar morto!

Obito pôs a mão na cabeça do menino, em uma forma de acalma-lo.

–Sasuke, todos nos sentimos do mesmo jeito – Suspirou – Nós quase perdemos você também, foi por muito pouco que você sobreviveu... Eu, eu nunca, nunca vou me perdoar.

O Uchiha mais novo olhava para o Tio.

–Como aconteceu? – Perguntou já sentindo as lágrimas em seus olhos, tentava se manter forte, mas a dor da aceitação o invadia.

–Eu não sei direito – Obito balançava a cabeça como sinal de frustração - Quando seu pai foi atrás de Orochimaru eu procurei por vocês dois. Cheguei a tempo de ainda ver Itachi lutar com Kabuto, mas minha preocupação era com você – O mais velho respirou fundo e voltou a falar - Você estava caído em meio a uma poça de sangue, carreguei você meio morto para a cabine de seu pai, o deixei com Shisui e voltei para ver Itachi...

Obito passou a mão no cabelo e depois abaixou a cabeça, sua voz saiu carregada, Sasuke sabia que ele estava chorando.

–A espada daquele miserável tinha atravessado o corpo do seu irmão, eu não pude fazer nada. Quando eu cheguei perto Itachi ainda respirava, mas ele não iria aguentar... Eu fiz tudo o que pude para estancar o sangue, para tentar ajuda-lo – Nesse momento Obito voltou a olhar ara o menino que tentava secar as lágrimas.

Voltou então a falar o mais velho.

–Itachi sorriu antes de morrer e suas últimas palavras foram “Cuidem do meu irmãozinho tolo” – Obito deu um sorriso triste - Eu sinto muito, porque a culpa foi minha, ao menos eu pude salvar você, então ao menos Itachi está em paz – O Uchiha mais velho dizia mais para si mesmo do que para o menino.

Sasuke abaixou a cabeça, tudo o que poderia fazer era chorar, pela morte de seu irmão.

Depois de algum tempo Fugaku apareceu na cabine, ele estava visivelmente destruído, seu semblante sempre serio estava carregado de dor, um filho morto e o outro por pouco escapara das garras da morte.

Todos os Uchihas sofreram pela morte de Itachi.

O bando da Serpente conseguiu escapar, com algumas baixas, mas tanto Capitão quanto imediato haviam sobrevivido.

Sasuke soube que havia dormido por três dias, não vendo o corpo de seu irmão ser lançado ao mar, como um enterro digno.

Assim, desde aquele dia Sasuke Uchiha fez um juramento silencioso. Ele mataria o homem que tirou a vida de seu querido irmão.

...

Sasuke estava ali, parado em frente à porta da cabine do Capitão, havia certeza em seu olhar.

–Entre Senhor Uchiha eu acredito que temos muito a conversar – Arashi parecia segura, era como se entendesse o sentimento que o moreno carregava.

O Uchiha adentrou o cômodo, sentando-se de frente para o Capitão. Percorreu os olhos pela mesa e viu o a rota marcada no mapa.

O destino daquela expedição era a cidade de Sora, uma cidade distante, longe da proteção da marinha.

Arashi sorriu ao ver os olhos do moreno estavam.

–O que acha? – Perguntou.

–Arriscado – Respondeu.

–Me disseram a mesma coisa, as vezes eu acho que eles tem pouca credibilidade em mim – Queixou-se Arashi como se estivesse ofendida.

O Uchiha revirou os olhos e voltou a adotar uma postura séria.

–Capitão, eu pretendo permanecer em seu navio – Disse convicto, mudando o rumo da conversa.

–Já esperava por isso Senhor Uchiha, mas eu gostaria de ouvir o motivo pelo qual tomou esta decisão – O capitão tomou uma postura inquisidora.

–Meu irmão foi morto por um pirata, e depois de um tempo este pirata se transformou em um corsário estando sobre a proteção da coroa, ele não poderia ser caçado – O tom de voz de Sasuke era fria, havia ódio contido em cada palavra.

Os olhos de Arashi ganharam um tom de verde escuro e sua foz saiu perigosamente assustadora.

–O pirata que matou meu pai também se transformou em um corsário – O Capitão fez uma pausa e logo voltou a falar – Acredita no destino Senhor Uchiha?

Novamente ela lhe fazia aquela pergunta.

Sasuke lembrou-se do que Konohamaru havia lhe dito, estava na hora de arrancar algumas verdades do Capitão.