O que estava acontecendo?

Era a pergunta que rondava a cabeça do rapaz, Naruto havia visto muita coisa, aquela praia o estava enlouquecendo.

–Por que me olha desse jeito Sr.Uzumaki? – Perguntou Arashi o olhando com uma curiosidade comedida.

O rapaz arfava, sua mente trabalhava rápido tentando ligar fatos e criar teorias. Ele a encarava aturdido.

–Você está bem? – Ela voltou a perguntar se levantando e caminhando até ele.

Foi parada de súbito, Naruto a segurou pelos ombros para que não avançasse.

–Parada. Eu preciso entender... Por que você me trouxe até aqui? Que espécie de maldição tem nessa praia? – Sua voz saiu baixa e rouca.

–O que você viu? – O Capitão desviou o olhar ao fazer essa pergunta.

–Você sabia que isso iria acontecer, não sabia? – Ele continuava a encara-la.

–Sabia que aqui você poderia se lembrar de algo, mas nem mesmo eu sei o que você viu – Arashi não ousava encara-lo.

–Eu vi você, vi você... Qual é o seu objetivo? Você quer me enlouquecer?

Silêncio...

–Responda SAKURA? – Seu tom de voz era inquisidor e cheio de raiva.

Ela o encarou pela primeira vez, seus olhos arregalados contrastavam com os olhos confusos do rapaz.

–Você viu as minhas lembranças... Não as suas – A rosada dizia com a voz falha.

–Lembranças, então eram lembranças – Ele dizia mais para si mesmo.

–Não achei que isso fosse acontecer, achei que só se lembraria do seu passado – Disse nervosa, tirando as mãos dele de seus ombros e tomando uma distância “segura” do loiro.

Ele parou e respirou fundo, passou a mão no cabelo e voltou a olha-la mais calmo dessa vez.

–O que é essa maldição da praia? Eu sei como começou, mas quero saber o que ela causa – Sua voz saiu extremamente calma.

–Ela não me afeta, então não me causa nada – Foi objetiva - Mas qualquer um que se aproxime desse lugar enlouquece, medo, dor, desespero e morte – Ela mantinha a postura, embora ainda estivesse nervosa.

–Ela me afeta? – Perguntou, fitando a saída da caverna.

–Não, creio que não – Respondeu, tentando ver o que ele via.

–Então porque vivi suas lembranças?

Ela parou para pensar sobre aquilo, levaram apenas alguns segundos, o que para Naruto parecia uma eternidade, até que ela se pronunciou.

–Porque você voltou – Disse com um sorriso triste no rosto.

–Não entendi – Naruto estava estranhamente calmo.

–Ela esperava por você, então ela queria que você entendesse – Sakura falou sentando-se encostada na parede, aquela conversa a estava deixando sem forças.

Ele agora voltava sua atenção para a jovem.

–Ela? Por acaso ela e você não são a mesma pessoa? – Quis saber.

–Sim e não. Eu abandonei parte de mim aqui, então “ela” ainda é uma garotinha solitária e “eu” sou um capitão pirata – Fechou os olhos ao dizer isso encostando a cabeça na parede.

–Como fez isso? – O Uzumaki sentou ao lado do capitão repetindo o gesto de encostar a cabeça na parede e fechar os olhos.

–Existem coisas que é melhor você não entender – Ela abriu os rapidamente os olhos e vendo-o ali tão perto voltou a fecha-los.

Ele riu.

–Quantos mistérios “capitão” – Naruto a empurrou de leve, ela não desequilibrou, mas estranhou bastante a conduta do Uzumaki.

–Ela é apenas vento. É tudo que precisa saber – Disse por fim.

–Até que conseguimos sustentar uma conversa “amigável” – O Uzumaki falou em tom de brincadeira. Mudando o rumo da conversa.

–Você está me assustando Sr.Uzumaki – Arashi falou pela mudança súbita de humor do rapaz e ele apenas riu.

–Vi algumas coisas, eu senti muita raiva, mas também pude entender que você não é tão ruim quanto eu pensava... – Ele parou para analisar o que tinha dito e depois continuou – Pude ver a minha mãe, entende isso, minha mãe – Ele sorriu aquele sorriso largo de menino que não cresceu.

–E como ela era? – Perguntou curiosa.

–Linda e gentil. Ela tinha longos cabelos vermelhos e parecia amar muito o meu pai, Kushina Uzumaki – Respondeu ainda com um sorriso no rosto.

–Assim voltamos à questão principal. Você vai me guiar até seu tesouro Raposa de Nove Caudas? – Arashi virou-se para o rapaz.

Os olhos azuis se abriram rápido com o movimento da jovem ao seu lado. As esmeraldas encaram com expectativa as safiras.

Ele desviou o olhar fixando-o na tatuagem em forma de redemoinho em seu pulso esquerdo.

Sua voz saiu suave e baixa, Arashi prestava atenção em cada movimento e cada palavra.

–Eu acordei um dia em uma cama grande com lençóis brancos. Eu era só um menino, não me lembrava do meu nome, não lembrava nem mesmo como falar. Não havia nada... Até que apareceu uma senhora que me olhou assustada, ela desapareceu pela porta do quarto, e quando voltou um velho a acompanhava, sorriu ao me ver e me chamou de Naruto... Jiraya cuidou de mim, me criou, devo tudo a ele... Mas eu sempre pensei em tudo que havia deixado pra trás, e se havia de fato algo em meu passado. Eu sei o que quero fazer, mas não sei se devo fazer – Ele riu sem humor.

–Jiraya tem mais segredos do que imagina. Ele é pai de um pirata e não qualquer pirata, Minato Namikaze era o imperador. Ele é o seu avô, e provavelmente queria reparar algum dos seus muitos erros – Havia raiva implícita em sua voz.

–Você o odeia, não é? – Perguntou já sabendo a resposta.

–Odiar, eu ainda irei cravar minha espada nele e vê-lo sangrar por seus pecados – Disse.

Naruto não gostou daquelas palavras, ele não iria deixar que Arashi matasse seu avô, mas preferiu se calar.

Quando olhou para fora, viu que o sol já estava se pondo, já havia passado meio dia desde que deixaram o navio.

–Tenho lamparinas aqui, e provimento, deve ter uma tina em algum lugar para tomar banho. Infelizmente, só há uma cama, então boa sorte Sr.Uzumaki ao procurar um lugar para dormir – Ela deu um sorriso de canto.

...

O dia amanheceu e Arashi sentiu os primeiros raios de sol invadirem a entrada da caverna.

Ela estava dolorida e sentia um peso sobre seu corpo.

Abriu os olhos lentamente... Estranhou fios loiros de cabelo perto de seu rosto, um cheiro inebriante de canela que a deixava tonta, levou alguns segundos até que entendesse a situação.

Naruto estava deitado ao seu lado, eles estavam na mesma cama. Seu rosto estava no vão dos ombros da rosada, uma das mãos em sua cintura e uma das pernas por cima da moça.

Sakura sentiu seu rosto esquentar com a respiração quente do rapaz em seu pescoço.

“O que esse idiota estava fazendo”