Eles se separaram quando sentiram falta de ar, se encararam confusos por alguns segundos. Arashi arfava ela pensava em dizer algo, mas as palavras morriam antes de saírem. Naruto não a encarava, levou a mão ao cabelo como sinal de frustração.

O capitão se levantou em um pulo, rápido saiu da caverna sem dizer nada. O Uzumaki respirava com dificuldade, sentia seu coração acelerado. Era só um beijo, nada de mais, mentia descaradamente pra si mesmo.

Olhou para fora da caverna, o tempo parecia ter virado, caia uma chuva fina, e ele podia ver o mar se agitar. Fitou por alguns minutos o vazio e decidiu seguir em frente.

A chuva começou a cair forte, estava fria, Naruto sentia a agua bater em seu corpo como agulhas perfurando a carne. Com dificuldade olhou procurando por Arashi, mas não a encontrou.

Ele caminhou pela extensão da praia, parou quando avistou uma garotinha.

O rapaz achou estranho, o que uma menininha estaria fazendo ali? Ela devia ter por volta dos 10 anos, chegou a essa conclusão pelo tamanho da menina, trajava um vestido branco com fitas cor de rosa e botas, estava de costas para ele, olhando para o mar, seus cabelos em um tom claro de rosa, passavam da cintura.

Ele se aproximou para ver melhor, seus olhos estavam meio embaçados pela chuva e pelo vento forte.

Não poderia ser ela...

Mas a confirmação veio quando ele parou ao lado da menina e a olhou, seus olhos eram grandes e verdes, ela chorava um choro baixinho, suas lágrimas se misturavam a chuva que caía.

Ela não percebeu sua presença. Aquilo era um sonho? Uma lembrança? Naruto não sabia, mas ele ouvia as ondas baterem com força na areia da praia, a chuva fria que chocava contra seu corpo e ouvia o soluçar baixo da menina.

Talvez fosse real...

A garotinha então começou a gritar, a cada grito que dava um relâmpago cruzava o céu, ela parecia alucinada. Chorava e ria ao mesmo tempo.

Naruto tentou dizer algo, acalma-la, mas ela não o via e não o ouvia.

A pequena Arashi então sentou-se na areia. Limpou os olhos e abraçou as pernas.

–Eu vou ser forte papai, preciso ser forte – As lagrimas voltaram a cair e ela novamente tentou seca-las – Mas me sinto sozinha... – Ela então começou a cantar, uma voz doce e triste.

O mar vê o início do mundo
E o mar conhece o fim do mundo.

É por isso que ele nos atrai para o caminho que devemos seguir.

É por isso que nos guia para mundo.

Envolvendo-nos na dor e no sofrimento
Com grandeza, nos envolvendo gentilmente.

O mar vê o início do mundo
E o mar conhece o fim do mundo.

Mesmo se eu desaparecesse,
O mar que sabe de tudo me guiara.

Eu não posso sentir medo, porque você está aqui comigo.
Eu não posso ficar assustado, porque meus amigos estão me esperando.
Temos que seguir em frente, rumo àquela vastidão azul.

Naruto fechou os olhos ao som da musica, ele conhecia aquela musica de alguma forma...

Quando os abriu o cenário mudara. Ele agora estava sentado na areia da praia do som, em um final de tarde, o céu ganhará um tom de laranja bonito e a maré estava calma, ele olhou para os lados procurando pelo Capitão, mas o que viu foi a garotinha correr, seu vestido e seu cabelo balançavam com o vento e ela tinha uma expressão curiosa no rosto.

Naruto se levantou quando a menina parou a poucos metros dele olhando curiosa para alguns pedaços de madeira que estavam na praia.

Ele se aproximou, parou quando viu o que a menina olhava.

–Não pode ser! – Ele estava em choque.

Era ele! Uma versão menor, mas era definitivamente ele.

Estava desacordado, com as roupas rasgadas, a marca da raposa em seu pulso esquerdo e um cordão estranho em seu pescoço. Devia ter a mesma idade da pequena Arashi que exibia uma expressão de curiosidade e felicidade enquanto olhava o menino.

Ela se abaixou e pousou uma das mãos no coração dele.

–Esta batendo! – Ela exclamou e abriu um sorriso largo - Será que está machucado? – Ela procurou algum ferimento, mas não encontrou.

Ela então viu os pedaços de madeira. Olhando melhor aquilo devia ser um bote pequeno e velho que fora destruído, mas o garoto sobreviveu.

A menina o segurou pela cintura e com dificuldade saiu arrastando o pequeno Naruto para sua caverna.

Naruto olhava toda a cena aturdido, não podia estar acontecendo...

Ficou alguns minutos pensando em tudo aquilo, estava confuso, aquilo não poderia ser real!

Por fim decidiu seguir em frente, ele correu até o final da praia, com dificuldade passou pelas pedras para chegar à caverna.

E mais uma vez a cena mudará, a menina estava com o cabelo um pouco maior do que dá ultima vez que ele a havia visto e o garoto estava em sua cama dormindo.

Ela estava sentada com um livro nas mãos encostada com a cabeça na cama.

–Então o príncipe beijou a bela adormecida e ela acordou, quebrou a maldição e eles viveram felizes para sempre. Que idiotice não acha? Como pode um beijo quebrar a maldição... – Ela se levantou ainda com o livro em mãos – Não faz sentido – Ela olhou para o garoto dormindo em sua cama.

Naruto acompanhava toda a cena na entrada da caverna.

–Não faz sentido você estar a um mês dormindo, não faz sentido... – Ela pousou o livro em cima da mesa improvisada e caminhou até a cama – E ainda tem essa marca estranha no pulso. Quem é você “Bela Adormecida”, por que não acorda? – Ela sentou na cama ao lado dele e passou a mão em seu cabelo.

O Uzumaki se aproximou dos dois, e então ele viu um meio sorriso brotar no rosto da menina. E ele teve certeza que Arashi não mudara nada de sua infância a vida adulta.

Naruto sorriu.

A menina olhava o garoto dormir sua mão ainda estava em seu rosto.

–Não gosto de felizes pra sempre, mas quem sabe eu sou o seu “príncipe encantado” – Então ela se inclinou e depositou um beijo cálido nos lábios do menino. Naruto foi pego de surpresa, ele virou o rosto meio envergonhado.

A menina riu ao ver que seu beijo não acordara o menino. Que dormia tranquilamente, não parecia arrependida pela ação, entretanto parecia envergonhada.

–“Princesa” eu irei até a vila que tem aqui perto, estou cansada de comer peixe, me espere eu voltarei logo – Ela disse calçando as botas e pondo uma fita vermelha no cabelo. Ela estava quase na entrada de sua “casa” quando voltou correndo e o beijou novamente.

E então desapareceu pela entrada da caverna. Naruto ficou lá, sozinho com seus próprios pensamentos.

Quando olhou para fora, o céu mudava rápido de cor e logo estava do lado da menina, ela parecia olhar algo, sua expressão era indecifrável. Ele, movido pela curiosidade, olhou na direção em que a menina olhava e viu.

Era ele mesmo de pé muito a frente com um sorriso fraco e mais adiante Jiraya com uma expressão de indiferente.

Ela cerrava os punhos, estava com raiva. Ele percebeu que ela queria correr, mas algo a continha.

Jiraya levantou a arma e apontou para ela, mas não atirou. Naruto não entendeu porque havia desistido. O velho fez um sinal para o garoto e ele o seguiu e os dois desapareceram pelas pedras que cercavam o lugar.

Arashi ficou sozinha.

Naruto sentia a cabeça doer, a menina cerrava os punhos com força parecia que iria desmoronar.

Então ele ouviu sua voz.

–Ninguém, ninguém virá até aqui. Eu ficarei sozinha, este lugar é meu, minha casa. E, eu proíbo todos de virem até aqui! – Havia um ódio contido em sua voz, e o Uzumaki pode ver o mar se agitar, e uma névoa expeça se formar por toda a extensão da praia, a agua da praia escurecia conforme ela andava de volta para a caverna.

A maldição da Praia do Som era a dor contida de uma criança, pensou ele.

–Quem é você Arashi? – Ele perguntou para si mesmo.

Estava agora no porto, havia muitos embarcações de vários tamanhos, pessoas riam e conversavam.

Havia vendedores, viajantes e pescadores. Todos que ganhavam a vida a partir do mar.

Ele era um garotinho, deveria ter uns 5 anos, estava no colo de sua mãe. Ela era linda, possuía olhos azuis gentis e longos cabelos vermelhos.

–Naruto, pare de mexer no meu cabelo – Ela riu e fez que não com a cabeça para o menino. Que sorriu um sorriso largo.

–Gosto do seu cabelo mamãe, é bonito – Ele disse sorridente.

–Seu pai também o acha bonito, ele foi a primeira pessoa a elogiá-lo, sabia? – Ela ficou meio envergonhada ao dizer isso.

Ela iria lhe dizer algo mais, mas foi interrompida por um jovenzinho de cabelos castanhos e cicatriz no rosto.

–Senhora Kushina o Raposa logo vai chegar, mas temos um problema, parece que há pessoas de Kuroro aqui – Ele falou em tom baixo a ultima parte – O que faremos? – O rapaz parecia nervoso.

Kushina desceu Naruto do colo e segurou firme em sua mão.

–Não sei, isso não é nada bom – Ela parecia nervosa.

Naruto não prestava a atenção na conversa dos adultos, ele olhava tudo aquilo, navios, pessoas, o mar, ele seria um capitão igual ao seu pai. Seria o maior pirata do mundo.

Ele riu com o próprio pensamento. Sua atenção só foi desviada quando um vulto cor de rosa passou por ele.

Usava um vestido branco e uma fita vermelha no cabelo.

–Me espera Sakura! – Gritou uma garotinha loira logo atrás da primeira.

–Você é lenta Ino – Ela disse virando-se para aquela que se chamava Ino. A primeira tinha cabelos róseos e olhos brilhantes verdes.

Naruto sentiu algo estranho, queria ir atrás dela, ele queria correr junto com ela.

Mas sua mãe o segurava com firmeza pela mão.

Ele estava preso, ele a via cada vez mais se afastar.

E em um descuido, acabou se soltando da mão de sua mãe.

A imagem da menina correndo e de sua mãe chamando por ele foi desaparecendo e ele acordou.

Quando abriu os olhos estava na cama de Arashi e ela estava sentada do outro lado da caverna o encarando.

– Todas as vezes que você se aproxima do passado, você desmaia. Talvez suas memorias estejam lacradas – Ela falou.

Naruto se levantou da cama com dificuldade, ficando sentado.

–Eu não tenho passado – Falou no automático como se as palavras simplesmente brotassem em sua boca.

E então ele soube que essa conversa já havia acontecido antes.

O que realmente estava acontecendo?