Eram mais ou menos três horas desde o acontecimento. Eu estava muito agitada e aflita com tantos pacientes quando ELE passa pelos corredores do “hospital” improvisado sendo carregado por amigos. Meu mundo inteiro desabou, comecei a chorar desesperadamente, minhas pernas já não suportavam o peso do meu corpo. Desabei no chão, não aguentaria mais isso. Ino veio me consolar e ela colocou a mão na minha testa.

–Sakura se recomponha! Você precisa fazer isso, você sabe. Só você é capaz de curá-lo. Eu sei que estamos em uma má situação agora, mas você tem que cuidar dele.

–Eu, eu sei Ino, mas é difícil pra mim - Eu dizia entre soluços.

–HARUNO SAKURA! VOCÊ VAI DESISTIR AGORA? JUSTO AGORA?!

–V-você tem razão – Eu dizia um pouco mais calma, mas ainda sim o medo que eu tinha de falhar era maior. Mas era meu dever ajuda-lo, pelo menos uma vez na minha vida deixar de ser um peso inútil em suas costas.

Levantei-me com certa dificuldade, graças à Ino.

–Essa é a Sakura que conheço. Eu estarei ao seu lado o tempo todo, pode ter certeza. –Ela sorriu. Não pude sorrir de volta, estava aflita.

Chamei minha equipe, ou pelo menos o que sobrara dela e entramos para outro cômodo. Eu não aguentei e me coloquei a chorar novamente quando olhei para aquele rosto, para aqueles cabelos, para ele inteiro. Tantas lembranças e momentos. Não acredito que eu o rejeitei a vida inteira. Eu sentia algo por ele. Agora eu sabia isso, afinal só se dá valor nas coisas que temos quando perdemos, ou quase perdemos. Ele não estava perdido totalmente, eu podia salvá-lo, mas minhas lágrimas não cessavam, eu precisava de Tsunade, precisava da presença dela para continuar. Eu estava desnorteada. Mas oque eu realmente queria era a presença dele. Era por ele que eu levantava todas as manhãs, era por ele que eu continuava a viver. Mesmo sem saber, era por ele que eu vivia. Todos meus sorrisos, lágrimas, tristezas, alegrias foram ao lado dele e eu nunca tinha percebido. Eu queria tanto e desesperadamente um abraço dele e ouvir sua voz, ao menos um pouco.

Sasuke talvez ocupasse ainda uma parte de meu coração, mas essa parte logo se perdeu ao meu olhar ir de encontro ao Naruto naquele estado. O que seria minha vida sem ele que esteve sempre lá me apoiando?

Minha visão logo falhou, meus sentidos não correspondiam, minhas pernas não se mexiam, meus braços simplesmente amoleceram, minha mente apagou e só se concentrou na imagem que nunca mais iria sair de minhas memórias. Estava tudo se apagando e se distanciando.

Naruto estava muito ferido e eu naquele estado não poderia ajudar, então Ino entrou, me acalmou e me levou para fora, eu acho. Não estava nem aí. Ela disse que poderia cuidar disso por enquanto.

Após algum tempo, Ino voltou da pequena sala de madeira, coberta de panos que havíamos construído para emergências.

–Ino, eu não aguento ver ele naquele estado... Eu, eu simplesmente não aguento ver Naruto assim... – Nessa hora eu já me agarrava a ela, aos prantos. –Perdão... Me... Perdoe. –Eu sussurrava. Minha voz falhava muito.

–Calma Sakura... Tudo vai ficar bem –Disse ela afagando meus cabelos – Ele vai melhorar, você vai ver. Ele é forte. –Ino sorriu bem confiante.

–Eu sei... é que eu... eu... –Não consegui terminar a frase. Estava entalado na minha garganta o que eu realmente queria falar. Chorei mais ainda.

–Tudo vai ficar bem, Sakura... Você pode dormir um pouco agora se você quiser, eu vou estar aqui. – Ino sorriu mais fortemente agora. –Afinal, quando Naruto te decepcionou?

NUNCA. Naruto nunca havia me decepcionado e eu nunca havia dado valor aquilo. Estas palavras me fizeram paralisar de emoção. Naruto nunca havia me decepcionado e eu só trouxe decepção para ele. Eu queria pedir perdão para ele agora mesmo. Queria sair correndo dali e pular em seus braços e pedir perdão. Eu o queria ali e agora.

Confesso que estou sendo bastante egoísta em querê-lo só para mim agora, justo agora neste momento. Afinal, Hinata já se mostrou para ele e disse que o ama. Eu vi claramente e, claro, me incomodou um pouco. Mas eu não sabia o que era aquilo! Quando disse que o amava, fora para protegê-lo, daí depois nunca tivemos tempo para conversarmos sobre o assunto. Eu queria realmente levar uma vida normal com Naruto. A nossa vida.

Eu estava realmente cansada, estava cansada de tudo. Eu, farta estava morrendo por dentro. Foram muitos acontecimentos em só um dia para uma garota normal. Muitos...

Quando acordei, estava no mesmo lugar. Olhei em volta, ergui a cabeça e senti uma dor na lateral. Me sentei e coloquei a mão de leve no local. Deu para ver Ino que estava do lado de fora e eu escutava uma voz vindo de algum lugar me chamando, achei tamanha semelhança com a voz de Naruto, mas ele estava inconsciente no momento, eu esperava. Eu estava mesmo delirando. Agora eu escutara a voz mais forte, mas um pouco cansada.

–Sakura... Sakura-chan?! –Dizia com dificuldade.

–NARUTO! –Eu gritei e corri tão rápido para checar se era ele mesmo que eu me assustei com tamanha velocidade. Há pouco tempo estava toda mole, dormindo, cansada. Isso tudo desapareceu só de escutar sua voz. Eu não acreditei quando entrei no cômodo correndo e vi aqueles olhos azuis me olhando como sempre olharam. Aqueles fios loiros que eu tanto amo. Aquela pessoa viva! Coloquei-me a chorar novamente. Olhei para ele, para aquelas faixas, para aquelas ataduras... Eu me arrependera de não ter matado Sasuke quando tive oportunidade. Limitei-me a ficar a porta observando como ele me olhava e chorando. Coloquei a mão na boca como um ato de surpresa. Meus olhos estavam totalmente arregalados. –Na-Naruto! Eu... Eu nem sei o que dizer – Eu falava entre lágrimas e soluços.

– Sakura-chan... –Ele se esforçara para dizer essas palavras. Naruto estava distante, um pouco inconsciente ainda. Só conseguia dizer meu nome não sei por qual razão, já que ele disse que Hinata que ficou ao seu lado este tempo todo. Não gostei muito de ouvir aquilo, mas não podia reclamar. Não agora.

Cheguei mais perto, e não sei o porquê me deu uma vontade enorme de abraçá-lo e dizer que tudo ia ficar bem. Cheguei um pouco mais perto e dei um abraço nele, um abraço com tanta vontade, um abraço mais do que fraterno. Ele sentiu isso e com muita dificuldade, retribuiu. Eu nem pensei duas vezes, nem nos seus ossos, nem em seus ferimentos. Só queria seu abraço. Naruto era quente e eu amava isto.

–Naruto, você não sabe o quanto estou feliz por você... Por todos nós. Estamos vivos! Você está vivo... Naruto, eu... – Eu sussurrava a essa altura. Não sei o porquê, eu não conseguia dizer mais nada.

Ele pouco a pouco recobra sua consciência totalmente e eu fico muito feliz por isso. Feliz até demais com o que ocorreu após ele recobrar inteiramente sua consciência.

–Shh, Sakura-chan... Não é necessário. –Ele me apertava agora. Eu sabia que ele estava chorando, eu sentia suas lágrimas caírem em mim. Eu também chorava. Chorava muito, por tudo, por Sasuke que havia sumido, por Naruto, por mim. Por nós.

–Naruto, eu... Eu estava tão preocupada com você. –Naruto tentava se afastar. Eu nunca o havia abraçado assim, ele estava constrangido. –Não, Naruto... Eu quero ficar assim... Não quero te deixar. Não quero te perder de novo.

Ficamos abraçados por um tempo, eu só sentindo a vibração do seu coração e ele sentindo a do meu, até Tenten aparecer. Ela chegou à sala falando alto, provavelmente não sabia que Naruto estava ali.

–Sakura, estamos prec... –Ela notou a cena e logo disfarçou – Bom... É, eu volto outra hora... Hehe... –Ela disse coçando a cabeça. Eu logo me separei de Naruto, o que não era minha vontade. –Estou atrapalhando e...

–Pode falar Tenten. –Eu estava roxa de vergonha a essa altura, e eu podia dizer o mesmo de Naruto.

–Bom, é que precisam de você no quarto ao lado, chegaram mais feridos. Mas, se você quiser, eu dou um jeito e vou lá, sem problemas - disse ela a me ver olhando para Naruto. Eu estava realmente preocupada.

–Se você puder, ficarei grata. Vou dar uma atenção especial à Naruto, e... –Ele me interrompeu. É o jeito hiperativo dele.

–Sakura-chan, eu não mereço atenção especial, sou igual a todos aqui. –Ele estava sério.

–Mas, Naruto, eu...

–Pode ir, Sakura-chan, eu vou ficar bem.

Eu sorri para ele, e ele sorriu de volta. Mas não foi aquele sorriso radiante de antes, foi até um pouco forçado. Seu olhar não tinha mais aquele brilho cativante de antes, nada mais fazia sentido.

–Ok, se você diz. –Sorri novamente, me virei e sai com Tenten. Esbarrei em uma pessoa cuja não vi o rosto, mas ignorei o fato, como de costume.

Realmente a sala precisava de ajuda. Haviam muitas pessoas, muitos feridos. Demoraria mias ou menos umas três horas, pois só haviam cinco pessoas especializadas como eu e Tenten na sala, então começamos o mais rápido o possível, as pessoas precisavam mesmo de ajuda.

Após três horas e meia na sala, enfaixando, curando, cuidando das pessoas, eu pude ver Naruto novamente. Eu estava ansiosa esse tempo todo só para vê-lo de novo. Então, lavei minhas mãos, ajeitei minha roupa e fui entrar na sala. A cortina de entrada estava fechada. Ele estaria em alguma consulta, talvez. Confesso que fiquei chateada, então saí um pouco para esfriar a cabeça.

Fui até o bosque, sozinha. Estava um pouco devastado por causa das batalhas, mas fui um pouco mais adiante e cheguei ao riacho que tinha ali perto. Sentei, tirei meus sapatos, e relaxei. Eu merecia aquele descanso, precisava relaxar, mas aquele olhar de Naruto me deixara perturbada, eu não conseguia ver brilho nos seus olhos. Tentei me concentrar na vista de lá, para relaxar. Fechei os olhos, respirei fundo, mas tudo que me via na mente era aquele olhar. “Será que Naruto está bem?”, isso não saía de minha mente... Não sei o porquê. Tinha um mau pressentimento quanto à isso. Olhei para frente e vi algumas tulipas brancas, alguns lírios. Sinceramente, não sei como eles haviam sobrevivido... Elas estavam bem escondidas.

Me levantei então e fui observar mais de perto, lembrei de Naruto novamente. Peguei minha kunai e cortei algumas flores com a intenção de levá-las para ele. Achei que com isso ele poderia melhorar um pouco, ou eu fantasiava isto.

Eu julgava ser mais ou menos três horas da tarde. O céu estava bem estranho para uma tarde, não sei o motivo. Estava meio avermelhado e as nuvens um pouco negras, começou a chover em alguns instantes. Seria ironia?

Tive um pensamento absurdo na hora. Achei que fosse culpa dos lírios! Mas que bobagem, veja bem estes lírios tão indefesos e inocentes não poderiam ser a causa daquela tarde tenebrosa. Eu os ergui para os céus, afim de alguma resposta, mas a única coisa que pude pensar foi na cara de Naruto ensanguentada por causa da triste batalha contra Sasuke.

Desabei novamente ao chão. Eu era muito fraca e apenas mais uma criança novamente, indefesa e impotente contra tudo àquilo que estava ocorrendo na minha frente. Eu não podia resolver e isso me sufocava por dentro. Não podia ajudar, não podia fazer nada, apenas interpretar o papel de uma mera espectadora.

Minhas pernas, sucumbidas pela agonia, aflição, medo, terror, não conseguiram se mover. Eu estava completamente perturbada. Eu sabia que Naruto ia morrer cedo ou tarde, mas eu queria ir com ele por egoísmo MEU!

Tudo ficava turvo à minha frente e o que eu via eram os pequenos lírios em minhas mãos. Naruto em minha mão. Eu precisava fazer o meu melhor. Rastejei até uma árvore próxima e me encostei. Chorei muito, Naruto ia me deixar. Eu não suportava esta ideia e nem queria suportar. Ó céus, como eu iria aguentar olhar para Naruto sem chorar?

Fiquei ali durante alguns instantes até que adormeci, na chuva em meio aos meus pensamentos embolados, confusos e egoístas. Quando enfim acordei, estava toda suja de terra, grama, folhas. A chuva não havia cessado e eu precisava de um banho, já que ia ver Naruto. Pode parecer besteira, mas queria agradá-lo e fazer algo de bom para ele ao menos uma vez na vida.

Me levantei, dei uma ajeitada em meus cabelos, como se fosse adiantar de alguma coisa. Ajeitei minhas roupas. Estava me esquecendo de algo. Ah, sim, os Lírios. Estavam todos intactos! Sem ao menos estarem molhados. Mas na hora, ignorei o fato. Já estava tarde, eu precisava ir.

Eu voltava para onde estávamos quando vi Hinata lá perto.

–Oi Hinata! –A cumprimentei.

–Oi, S-Sakura-san! –Ela estava batendo os dedos. –Lindas flores! São para quem?

–Obrigada, são para Naruto. –Olhei para as flores. Eram realmente belas. –Você acha que ele vai gostar?

–Claro q-que sim... Quem não gostaria?

–É verdade... –Sorri para ela- Até mais, Hinata.

–Até mais, Sakura-san.

Eu não aguentei e me virei para perguntar.

–Hinata... Você ama Naruto até que ponto? –Eu mesma me surpreendi com a minha pergunta. Hinata estava absurdamente séria.

–Até o ponto de deixá-lo ficar com você, Sakura-san. Ele te ama muito e isto está estampado em sua cara... Eu nunca estaria feliz se ele estivesse comigo. Ele não me ama e vê-lo comigo sabendo que ele te ama, Sakura-san... Eu não sou capaz. –Ela fez uma pausa. Eu realmente me surpreendi com a resposta. Não é do feitio de Hinata estar séria. –Mas por que a pergunta agora?

–Eu... Eu não sei Hinata. –Eu realmente não sabia. Foi puro instinto.

–Sakura-san, só não o engane. Por favor. –Ela sorriu gentilmente, se virou e foi embora. Fiquei um tanto incomodada com aquele pedido. Eu não seria capaz de enganá-lo.

Eu fui até onde Naruto estava. Eu estava confiante que aquelas flores iriam ajudá-lo a melhorar seu humor. Eu estava confiante até demais, no fundo eu sabia que aquilo não iria ajudar nada. Mas era reconfortante pensar desse jeito.

Chegando lá, Naruto já estava sozinho novamente então pude entrar. Ele ficou feliz em me ver, mas seu humor mudou repentinamente. Ele parecia triste.

–Olá, Naruto! –Eu disse animada tentando contagiá-lo. – Eu vim aqui mais cedo, mas a porta estava fechada... Achei melhor não incomodar. –Eu sorri para ele, e ele retribuiu - Então eu fui dar uma volta e encontrei essas flores e trouxe para você. Elas estavam em bom estado. Eu consegui animar ele um pouco, mas essa animação logo sumiu.

–Sakura-chan... Muito obrigado. –Ele disse pouco animado.

–Oque houve? Quando estavam com a porta fechada, eles estavam te consultando? –Ele sorria um pouco para mim. Aquele mesmo sorriso, só que havia algo estranho em seu rosto. Naruto estava com cara de doente, estava pálido, mas não era isso. –Naruto?!? Me fala alguma coisa? –Nesse minuto milhares de coisas passaram por minha cabeça. Será que Naruto iria morrer? Não, não poderia acontecer isso. Eu estava desesperada e comecei a chorar. Naruto deu um sorriso reconfortante, mas aquele sorriso fraco, só para reconfortar alguém. –Naruto... O que eles estavam fazendo aqui? –Eu sussurrava de espanto. Minhas lágrimas rolavam em meu rosto, e eu desabei no chão. Chorei muito, não queria que ele morresse!

–Sakura-chan, eles estavam aqui para me falar o que há de errado comigo... -Ele tossiu, mas foi uma tosse rouca.

–E, e oque há de errado, Naruto? –Eu ainda não havia parado de chorar. –Oque aconteceu?!

–Sakura-chan... Eu vou morrer logo. Não posso mentir para você... Mas está tudo bem. –Ele quase deixara uma lágrima escorrer. Mas ele parecia já convencido pelo fato.

–NÃO! NARUTO, NÃO! –Corri para abraçá-lo. Perdi meu chão, meu ar. Perdi tudo, não poderia estar acontecendo aquilo comigo. –Tudo vai ficar bem, eu prometo Naruto. Vou fazer tudo que eu puder. –Eu sussurrava em seu ouvido. Naruto não poderia morrer daquela forma. Eu não poderia perdê-lo.

–A vida é assim, Sakura-chan... Já me conformei com isso. Não se preocupe Sakura-chan... Ainda tenho alguns meses.

–Naruto... –Não conseguia falar, minha garganta estava entalada com vento, eu não conseguia me mexer de tanto terror. Lágrimas saiam de minha face sem expressão alguma. –Como... Como você pode dizer uma coisa dessas? Você não pode me deixar, Naruto. Você vai desistir assim? –Finalmente, após dois minutos de terror, conseguia falar, mas eu não mostrava nenhuma expressão. Eu estava perplexa.

–Eles disseram que não tem jeito, Sakura-chan - Ele tossia muito.

Eu me afastei dele.

–Prometo fazer tudo que é possível, Naruto. Prometo fazer tudo além do meu alcance. –Limpei as lágrimas. Ele ficou calado, então me chamaram do lado de fora do quarto.

–Sim? –Eu dizia limpando ainda minhas lágrimas. –Algum problema?

–Você já deve estar sabendo, Sakura. Naruto não vai durar mais que três meses. -Parece que uma faca havia me atingido na barriga.

–Mas oque ele tem? –Eu segurava o choro – É tão grave assim? –Eu estava sem respirar.

–Ele teve lesões em vários órgãos internos, inclusive órgãos vitais para a sobrevivência. Fígado, pulmões, estômago, rins. Foram pequenas as lesões, mas vão se agravando ao longo do tempo.

–Mas vocês não podem fazer nada?! –Eu estava irritada.

–É impossível curá-lo. E se por ventura conseguirmos curar ele, ele deixará de ser um shinobi.

–Como...? Eu...

–Senhorita, aconselho-lhe a esfriar um pouco à cabeça. Vá dar uma volta lá fora... Me desculpe, mas –Eu a interrompi.

–Não! Eu não posso deixá-lo... Não agora.

Me virei e entrei no quarto. Abaixei a cortina.

–Sakura-chan, não se preocupe comigo.

–MAS COMO VOCÊ DIZ UMA COISA DESSAS? Naruto, por favor! –Eu chorava, soluçava. Debrucei-me sobre ele. –Nunca mais fale isso comigo, por favor. Ele afagou meus cabelos e então eu sentei ao seu lado. Eu estava cansada e já era tarde. –Naruto... Prometo que farei tudo o possível para te ajudar. Não quero te deixar um minuto sequer.

–Se você acha que é o melhor a fazer, Sakura-chan. –Ele esboçou um sorriso.

Eu me levantei, então e fui buscar meus pertences. Peguei vários livros que Tsunade havia me dado, guardei-os dentro de uma bolsa qualquer e levei um colchonete para o quarto. A noite estava fria e então levei duas cobertas. Quando eu voltava para o quarto onde se encontrava Naruto, vi uma mulher logo à frente. Não sabia quem era então me aproximei.

–Oh, S-sakura-san! –Ela parecia estar chorando, mas estava muito escuro para perceber- Como está N-naruto-kun?! –Ela passou a mão nos olhos.

–Ainda não posso confirmar nada, Hinata. Mas estou fazendo o possível...

–Espero que fique tudo bem logo...

–Vai ficar tudo bem Hinata. –Não sei por que fui indelicada, mas eu estava cansada e realmente queria estar com Naruto naquele momento. –Até mais.

–Cl-claro! Até m-mais, Sakura-san.

Após o ocorrido, entrei no local, haviam alguns pacientes ainda, mas Tenten e Ino estavam ajudando. Eu me foquei em Naruto. Cheguei ao quarto onde ele se encontrava, e arrumei minhas coisas. Ele estava dormindo, mas parecia com febre. Peguei uma compressa e coloquei em sua cabeça.

Coloquei-me a estudar, estudei de tudo. Procurei incansavelmente achei algumas coisas que poderiam ser usadas no tratamento de Naruto. Mas eu precisava estudar mais, já eram mais de duas da manhã, eu necessitava de descansar. Deitei um pouco, mas estava muito atordoada com a ideia de Naruto morrer.

Naruto tossia sem cessar pela noite. Eu acordava, levava para ele água, xarope para tosse, tudo o necessário para ajudar os pulmões danificados, mas se passavam das quatro da manhã quando eu acordei com Naruto tossindo muito, me assustei e levantei para ajudá-lo.

–Naruto, oque houve?

–Nada, Sakura-chan... É só a tosse incomodando... De novo. –Ele tossiu novamente, mas um pouco mais forte. Dessa vez saiu sangue, Naruto estava tossindo sangue.

–Naruto! Calma, calma, eu sei o que fazer. –Fiquei aflita durante alguns instantes, mas depois consegui fazer todos os procedimentos necessários.

No dia seguinte, foi a mesma coisa, os médicos trabalhavam incansavelmente para tentar curar Naruto. Foi assim durante um mês, eu pesquisando, dormindo ao lado dele, e sempre cuidando dele. Sempre sem resultado, mas eu não desistia. Não iria desistir de Naruto por nada nesse mundo. Eu estava ficando desesperada e deprimida, não saia daquele quarto por nada, eu queria estar do lado dele. Ele às vezes apresentava melhoras, mas eram poucas. Todos os dias eu levava lírios, já virara um ritual. Aqueles mesmos que eu achei. Ele também recebia visitas de várias pessoas. Hinata, Tenten, Ino, Temari, Gaara, Shikamaru, Neji... Mas quem mais o visitava era Hinata, ela realmente se importava com ele. Eu estava tão preocupada com Naruto que esqueci de mim. Eu não era mais vaidosa, eu não cortava mais cabelo, eu não me preocupava nem com a minha saúde. E ainda não conseguia dizer o que eu sentia para Naruto.

Não sei por que me deu uma súbita vontade de chamar Naruto para sair. Coisa que eu nunca havia aceitado quando ele me pedia.

–Naruto... Eu estava pensando e se a gente desse uma volta no campo? Seria bom para seus pulmões e você pode andar um pouco. –Sorri para ele.

Ele retribuiu o sorriso.

–Sakura-chan, você tem razão. –Ele tentou se levantar, sem sucesso.

–Deixa que eu te ajudo. –Eu disse de boa vontade.

–Eu dou conta. –Ele falou gravemente.

Ele tentava se levantar sozinho várias vezes, sem sucesso. Ele estava muito fraco para isso, e não aceitava.

–DROGA! –Ele já chorava a essa altura. –POR QUE VOCÊS NÃO SE MEXEM?! Porque vocês não se mexem?! –Ele também tentava dar murros em suas pernas. –Porque?... –Ele chorava.

–Naruto, é normal... Você está fraco. Mas isso vai passar... Você vai ver. –Dei um sorriso animador- Vamos lá, eu te ajudo.

–Não, Sakura-chan. Não vai passar. Eu vou morrer logo, é o que todos acreditam.

–Naruto... Eu não aguento você falar desse jeito. Por favor... –Eu chorava também. –Não fale assim comigo, Naruto.

–Desculpe, Sakura-chan.

–Não! Eu não vou te desculpar. Não é justo, não é. –Limpei as minhas lágrimas e fechei a cara.

Fiquei alguns minutos o encarando.

–Bom, nós vamos sair ou não? Não quero morrer nesse quarto. –Ele já exalava um pouco de animação.

–BAKKA! Nem assim você para de fazer piadas?! –Eu o ajudei a levantar. Ele não aguentava ficar de pé, então lhe dei muletas. Ele não conseguia andar sem meu auxílio, então o ajudei.

–Pra onde vamos?

–Você vai ver.

Nós então fomos para a floresta aonde eu achava os lírios. Eu gostei realmente daquele lugar, esses lírios me davam esperança, então comecei a cultivá-los. Eu regava, cuidava com todo meu carinho. Eles me davam esperança porque eles eram uma vida. Uma vida que estava em minhas mãos, era a mesma coisa que eu fazia com Naruto. Eu cuidava dele, a vida dele estava em minhas mãos. E os lírios cresciam, floresciam, viviam e no meu subconsciente, era o que aconteceria com Naruto. Eu estava realmente ficando louca.

Ajudei Naruto a sentar e me sentei ao lado dele. Nós dois ficamos olhando a água, ficamos olhando as flores, o brilho do Sol. Estava tudo perfeito e eram mais ou menos três horas.

–Sabe, Naruto... Esses dois meses, eu venho querendo lhe dizer alguma coisa. –Eu estava um pouco tímida.

–Sakura-chan, eu não quero que você se sinta obrigada a dizer o que não sente por mim. –Ele estava frio. Igual àquela vez. Eu não gostava do jeito dele assim.

–Naruto! O que eu sinto é verdadeiro, sei que fui egoísta durante todos esses anos, mas quando eu te vi naquele estado, não aguentei! Eu iria perder você! Depois daquele dia, percebi que você que todos meus momentos bons foram ao seu lado, que você nunca me abandonou. Estou sendo egoísta agora também, sei que Hinata gosta de você. Ela seria bem melhor para você. Ela gostou de você esse tempo todo enquanto eu te rejeitava. Eu sou uma péssima pessoa! Eu me odeio por isso, todos os dias da minha vida. Não quero que você morra Naruto, não quero... -Eu chorava. –Naruto... Eu te amo.

Ele recebera um choque. Ele estava pasmo, mas eu estava mais em choque que ele. Eu acabara de dizer o que eu vinha engolindo esse tempo todo. Me agachei e lhe dei um abraço e eu deixava minhas lágrimas rolarem.

–Sakura-chan, eu também te amo. –Ele sussurrou no meu ouvido. –E sempre vou amar e estar te esperando. Pra sempre... –Ele chorava também.

Estávamos abraçados sentindo os nossos corações, quando de repente, parei de sentir o dele. Levei um susto na hora. Me desesperei.

–NARUTO! NARUTO! –A cabeça dele estava entre minhas mãos. Ele já havia perdido os sentidos, ele apenas sorria e chorava. –NARUTO! EU ESTOU AQUI! FIQUE CALMO, VOCÊ VAI FICAR BEM.

–Para sempre... –Ele repetiu.

–NARUTO! NARUTO! –Eu tentava ressuscitá-lo, sem êxito. Eu gritava desesperadamente por alguém. Ninguém ouvia. Eu gritava dolorosamente e incansavelmente. Naruto estava morto, em minhas mãos e eu não podia fazer nada. –NÃO, NARUTO! –Eu o abraçava fortemente e chorava. –Volta Naruto! –Eu estava sem forças para gritar, só conseguia abraçá-lo.

Fiquei lá com o corpo de Naruto. Eu simplesmente não poderia deixá-lo ali. Não conseguiria. Esperei ali, até nos achar. Não me lembro de muita coisa mais.

Com o passar dos anos, eu já não me importava com nada. Meu olhar se tornou vazio, minha alma também. Eu não dormira de noite pela imensa dor que eu sentia, Naruto se fora. Eu o perdi, e me odeio cada dia da minha vida por isso. Ninguém tinha uma dor igual à minha. Eu passei a cultivar lírios que eu colocava sobre o túmulo de Naruto todos os dias.

Me dedicava inteiramente à eles.

Passaram-se dez anos e era um domingo de manhã. Fui trocar as flores do túmulo de Naruto, como sempre. Estava um dia ensolarado e eu podia ouvir sua voz dizendo “Está um lindo dia, não, Sakura-chan?”.