Charlotte on

Não acredito. Primeiro dia de aula. Terceiro ano. O último ano acadêmico. Essas férias passaram tão rápido. Ainda mais que eu não me desgrudei da Annie um segundo... Ela é a minha melhor amiga desde... bom, sempre! Somos vizinhas ainda por cima. Quem eu sou? Meu nome é Charlotte, tenho 17 anos, cabelos castanhos liso com ondas nas pontas, olhos verdes acinzentados, míope, baixinha e, digamos, “nerd”. Só sei tirar 10. Se isso é bom? Sim, a não ser que você queira ser popular. A Annie diz que popularidade é uma coisa inventada pelos fracassados pra serem bons em alguma coisa. Eu apoio a boa vontade dela, mas ela só fala isso porque consegue falar mais do que gaguejos com “seres vivos”. Levantei e vi que acordei mais cedo, deve ser o nervosismo. Fui tomar banho e me arrumar, tinha essa roupa planejada faz dias. Uma pólo verde-mar, um cardigã cinza, jeans e meu tênis cinza. Annie me ajudou a escolher... Como disse, não nos separamos um segundo.

Desceipara a cozinha e meu pai já estava lá preparando nosso café. Meu pai parece o David Beckham de óculos e mais rugas de preocupação... mas ainda tem aqueles olhos verdes que conquistaram minha mãe. Que falta que ela faz. Morreu faz muitos anos e eu ainda não tinha superado direito, mas já estava me adaptando. Quando me viu abriu aquele sorriso que só ele sabe dar.

– Bom dia minha corujinha, dormiu bem?- ele sempre me chamou de corujinha, talvez por ser o animal favorito da minha mãe, ou sei lá. Simplesmente pegou.

– Oi pai, não muito, nervosismo a flor da pele. Ainda bem que tenho isso- e mostrei pra ele os brincos de coruja da minha mãe. Eu nunca os tiro. É a minha única lembrança dela, materialmente falando, além da foto do meu armário!

– Relaxa, vai dar tudo certo. Nenhum monstro vai incomodar minha filhinha...

– Pai!- ele adora diminuir minha idade em 40%. Sorri.

– Eu sou incrível mesmo- ele soltou uma risada- Fiz ela sorrir, palmas pra mim!- disse ele vindo me abraçar. Ele abraça parecendo um urso, mas é bom! Eu me sinto protegida.

Peguei um pêssego e fui encontrar a Annie, para garantir que não nos atrasássemos, porque se dependesse dela, ficaríamos o dia inteiroenrolarando. Bati nosso sinal e sentei na sua calçada, esperando. Ainda bem que tenho sempre um livro à mão! Como demora essa parvinha... Ri, mas logo fui interrompida por muitas lambidas. Thor, o pastor alemão dos meus vizinhos, me amava. Também, esses garotos quase não cuidavam do pobrezinho. Sempre em festa, apressados, nunca vi! Precisavam é de uma mãe naquela casa. Imagine, cinco garotos, na flor da idade, emancipados, lindos, perfeitos e com uma casa só pra eles...nem quero pensar em que acontece! Fiquei um tempo fazendo carinho nele, sempre tenho um biscoito pra ele na minha mochila. Meu pai me pergunta por que compravamos aquilo se a Cookie nem gostava. E toda vez tinha que explicar. Vou acabar adotando o Thor, porque ele e a Cookie se amam! Ri com vontade. Até a minha Golden Retriever tem mais pretendentes que eu! Quando percebi, tinha dois meninos olhando para mim...

Connor on

Acordei de manhã sem a menor vontade de ir para a escola, mas o nosso “responsável daddy Damon” chegou gritando e batendo nas portas. Só percebi o Harry e Chandler brigando pra ver quem chega primeiro ao banheiro. Harry demora demais, mas sempre é o primeiro. Sorri. Por quê? Não sei... Estava me levantando quando vi uma massa marrom em cima de mim.

– Thor!- ele ama lamber as pessoas – Para com isso, rapaz. Vai pra lá pra baixo, vai.

Ele foi mesmo, fiquei surpreso... Ele nunca me obedece! Mas escutei Mason gritando pra ele não sair. Tarde demais. Percebi que ele está vindo pro meu quarto, fingi que estava dormindo, mas ele percebeu a farça.

– Nem adianta, Connor. Sei que você está acordado e sei também que o senhor mandou o Thor pra fora! Vai busca ele.

– Mason, deixa eu dormir, vai. Daqui a pouco tenho que me arrumar pra escola, quero estar bem disposto- disse eu, tentando parecer convincente.

– Own, o neném ta se achando a estrela? Ta pensando que é especial é?- disse ele como se estivesse falando com uma criançinha- Pois não é... Agora vai lá antes que ele fuja e depois vamos ter que aguentar o Chandler chorando...

Dessa vez, nós dois rimos. Me virei pro outro lado e gemi. Não queria levantar por nada nesse mundo.

– Cara, levanta logo, senão serei seu pesadelo pro resto da sua vida!- disse ele pulando em cima de mim.

– Nem me importo, você já é, Sherlock!- eu estava empurrando ele de cima de mim.

– Também quebrarei seus espelh...- o interrompi, pois ele sabia da minha incansável obsessão por me olhar em espelhos.

– Já to indo...- levantei num pulo, fazendo Mason cair da cama- Só você mesmo pra me fazer levantar, Mr. Holmes!

Fomos descendo e rindo... Levei um pescotapa por ter demorado tanto. Eles poderiam ser mais normais, não? Mas acho que não seriamos tão amigos se fossemos normais... Eles são como irmãos pra mim! Depois que começamos a conviver mais, nossa amizade aumentou.

Saímos porta afora quando vi que Thor esta com aquela vizinha anti-social. Não, não tenho nada contra ela, ela é até legal. E bonita. Mas não fala muito, sempre quieta, só tira notas boas e fica sempre com aqueles amiguinhos metido a besta... Espera aí,Connor Harrison, você esta com ciúmes? Não, não, não, não... Porque teria ciúmes de uma menina que mal conheço? Você precisa sair, urgente! Mason interrompeu meus pensamentos, ainda bem!

– Cara, o Thor ama ela... Mais do que nos ama, pelo menos... Também, ela é tão fofa e inteligente. Quem não gostaria dela?

Mason e seus comentários super do momento!

– Estáapaixonadinho por ela agora? Vai lá então, senhor Pego Todas As Minas!- Connor, você esta com ciúmes! Mas por quê?

– Uii, meu Deus cara, o que aconteceu contigo hoje?- Mason disse rindo. Que sem consideração.

– Nada, vamos pegar logo o Thor...

Fomos nos aproximando devagar, e eu me martirizando por estar pensando tanto nela! Ela não é nem importante pra mim... Ou será que é? Não Connor, não é. Você nem lembra o nome dela. Mas não era assim antes... Num passado distante. Mas, passou. Ela esqueceu. Você deveria esquecer também. Para de pensar assim! Foco cara, foco... Quando chegamos a alguns passos dela, Thor pulou em cima do Mason. Literalmente. Mason pegou ele no colo... Não sei como ele consegue! Ele vai ter que me ensinar o exercício. Sorri vendo aquela cena. Estou rindo a toa hoje! Quando olhei para ela, seus olhos estão vidrados em mim e encontram os meus. Os olhos dela eram os mais bonitos que eu já tinha visto em toda minha vida! Eram meio verdes, meio cinza dependendo da luz que se olhava! Ficamos assim, nos encarando por longos minutos... Ela corou e baixou a cabeça. Sorri como um idiota. Ela parecia feita de porcelana, tão delicada, como se ao menor toque fosse quebrar... Comecei a rir alto... Que pensamento mais gay! Ela levantou os olhos e me olhou. Deve estar me achando um maluco, mas ela sorriu. E que sorriso mais lindo. Em meu turbilhão de pensamentos, escutei um barulho atrás dela... Sua amiga, aquela que eu também não lembro o nome, saiu correndo pela porta de sua casa. Estava muito produzida para o primeiro dia de aula, mas linda! Não tanto quanto... Ela... Meu Deus, como é o nome dela mesmo? Ainda bem que a “produzida” me salvou.

– Ai Charlie, desculpa mesmo. Deve estar me esperando ai há muito tempo!- Charlie! Charlotte, isso mesmo! Esse era o nome dela! Como eu fui me esquecer de um nome tão lindo? De novo Connor, precisa sair!

– Então era esse seu nome...- disse eu quase num sussurro, mas parece que a produzida ouviu!

– Oi? Tudo bem?- ela estendeu a mão com unhas muito bem-feitas. Céus, por que eu comentei isso?- Annie... Annie Coulson.

– Connor, Connor Harrison...e Mason “Sherlock” Holmes- levei um beliscão. Como se fosse mentira...

Nós apertamos a mão da produz... quer dizer, da Annie, mas nem deu tempo de puxar assunto, porque aqueles amiguinhos sem graça delas apareceram na esquina e correram até nos alcançar. O nome deles eu lembrava, já que eram do time de futebol da escola. Um deles, Carter, era o capitão inclusive, e o outro, Leo, era seu melhor amigo e “fiel escudeiro”. Eles eram bem populares, mas nunca deixavam as amigas de lado. Eu até me perguntei por que elas também não eram populares, já que eram tão bonitas e os amigos delas estavam incluídos nesse grupo.

– E ai?- disse Carter acenando com a cabeça.

– Vocês tem ideia de quanto agente está atrasado?- disse o Leo, e como ninguém respondeu, ele mesmo falou. - Muito!

Eu sabia que ele estava exagerando um pouco, já que a escola era tão perto que em três minutos agente chegava lá, mas eu fiquei tão distraído que nem tinha reparado que ainda estava de pijama e nem tinha tomado café. Resisti à tentação de ficar e puxar assunto e entrei em casa para terminar de me arrumar.