The Library escrita por themuggleriddle


Capítulo 7
o hobbit




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Dorea era uma menina adorável desde pequena. Sendo a caçula de Pollux Black, ela sempre fora criada como algum tipo de princesinha: sempre tinha os melhores tutores, usava os melhores vestidos, trazia no pescoço as correntinhas mais caras, brincava com os brinquedos mais refinados... Todos esperavam que, um dia, ela viesse a se casar com o herdeiro de alguma família tão respeitável quanto os Black: um jovem Lestrange, um Avery, um Malfoy, um Rosier ou talvez até alguém de fora da Inglaterra, e, assim, continuaria sendo uma princesa junto ao seu marido puro-sangue tradicionalista.

Para que tenhamos um pequeno retrato dessa criatura: Dorea Black era pequena, sempre fora, e tinha um sorriso discreto que conseguia fazer qualquer pessoa se derreter por ele. Diferente da sobrinha, Walburga, a beleza de Dorea era mais discreta, tímida. Walbie Black era o poder e a elegância dos Black encarnada em uma pessoa só, enquanto a pequena Black trazia em si toda aquela essência em uma dose mais moderada. Como seu sobrinho, Alphard, ela também tinha em si aquela generosidade e gentileza que conquistava muito mais gente do que a beleza e elegância. Dorea poderia viver de cabelos despenteados e com cara de quem ia dormir tarde, mas sempre conseguia arrancar um sorriso de quase todos os que a conheciam com o seu jeito meigo.

Apesar de ser próximo de Alphard, foi apenas quando entrei para Hogwarst que tive a oportunidade de me aproximar de Dorea. Ela, como uma boa Black, caíra na Sonserina e logo no primeiro dia já teve que ouvir Walburga lhe dar um discurso sobre como ela deveria se manter distante de certas pessoas como aquele Weasley, cuja família era tão pobre que eles tinham que comprar uniformes de segunda mão, ou aquele menino Potter que, de acordo com os rumores, era amigo de trouxas. Dorea ouviu todas as instruções da sobrinha, quieta enquanto concordava com tudo, apenas para, logo no dia seguinte, ver-se sentando ao lado de Septimus Weasley na aula de Feitiços, rindo das piadinhas dele. Aquilo deixou Walbie furiosa e, a partir daquele dia, ela desistira de guiar a ingênua Dorea através dos anos em Hogwarts.

Sem a companhia de sua família – Walburga se revoltara contra ela e Alphard andava sempre com rapazes -, Dorea começou a passar mais tempo com outras meninas da Sonserina, garotas mais quietas e que evitavam sair por ai com o nariz empinado como os Black, o que a fez ser ainda mais isolada pela sobrinha, mas isso não a afetou nem um pouco. Apesar de estar na lista negra de Walburga, Dorea ainda era muito bem vista na Sonserina. Ela era ambiciosa e tinha uma boa cabeça para criar esquemas, mas ainda assim conseguia não cair no estereótipo de garotas sonserinas no qual o resto de Hogwarts – e até alguns próprios sonserinos – normalmente acreditavam. Ela tinha amigos em outras casas, tinha amigos mestiços e nascidos trouxas, era gentil com quase todo mundo e conseguia fazer até a criatura mais isolada daquele colégio ser gentil com ela. Dorea Black era algum tipo de pequeno milagre dentro daquele antro de cobras que era a nossa casa.

Foi no nosso sexto ano que a pequena Dorea decidiu falar mais comigo. A princípio eu achara que era por pura simpatia dela, afinal, simpatia era algo que não faltava naquela garota, mas logo percebi que aquilo era um plano bem bolado daquela mente sonserina que se escondia por detrás daquela gentileza toda e daquele rostinho bonito. O que aconteceu era simples: Dorea Black, filha mais nova de Pollux Black e uma das herdeiras da mui antiga e nobre família Black, estava apaixonada por ninguém mais, ninguém menos que Charlus Potter, o herdeiro da família Potter que, apesar de pura e rica, era considerada como estando quase nos limites que, ao serem ultrapassados, fariam com que eles fossem considerados traidores do sangue. E o que a pequena Black queria que eu, um Malfoy, fizesse a respeito disso? Depois de muitas palavras gentis – “Você é diferente, Brax” ou “Você não é como Avery, Lestrange ou até mesmo Orion” -, a garota confessou que queria a minha ajuda para se aproximar de Potter. Ora, ela já era conhecida dele, mas não poderia simplesmente chegar perto dele já demonstrando todas as suas intenções... Principalmente porque ela tinha um certo medo daquela menina McGonagall que estava sempre do lado de Charlus. Logo, ela queria que eu arranjasse um encontro dos dois. Ora, eu era capitão do time de Quadribol da Sonserina e Potter, o capitão da Grifinória, eu poderia falar com ele a qualquer momento e dar uma desculpa idiota sobre como precisava discutir a reserva do campo para treinos ou coisa parecida. Dorea, Dorea, Dorea, quem a conhecesse por seus cumprimentos e sorrisos simpáticos não saberia o que se passava nessa sua cabecinha de cobra engenhosa. Talvez fosse por isso mesmo que eu gostasse tanto dela.

De qualquer maneira, sendo o bom amigo que eu era – estava mais para colega do que outra coisa, mas Dorea sempre fazia parecer que era amiga de alguém mesmo só conhecendo por alguns minutos –, lá fui eu falar com Charlus Potter. Agora, deixe-me falar sobre esse rapaz: Charlus era jogador de Quadribol, era um grifinório e sorria demais. Ah, sim, ele também não gostava da minha pessoa, o que fez com que a nossa conversa fosse levemente constrangedora. Ele achou que eu estivesse fazendo graça com ele e foi só depois de alguns bons minutos de algumas palavras certas que consegui convencê-lo de que Dorea Black havia mesmo pedido para que eu fosse falar com ele. Depois disso eu virei um tipo de cupido sem asas e alto demais. Era eu quem carregava as cartinhas apaixonadas e prolixas de um amante para o outro, era eu quem ouvia Dorea falar por minutos e mais minutos sobre como Charlus era um amor, era eu quem tinha que inventar desculpas bobas sobre a razão de eu estar me esgueirando para dentro do vestiário da Grifinória no campo de Quadribol. Ou seja, se algum dia os filhos de Dorea e Charlus tiverem que agradecer à alguém pela sua existência, assim como seus netos e bisnetos, eles têm que agradecer à mim. Mas é claro que nenhum filhote de Potter iria, algum dia, saber que fora um Malfoy quem juntara o Sr. e a Sra. Charlus Potter.

Foi em Potter que Dorea encontrou o seu príncipe... Ou não, pois Potter estava longe de ser um príncipe aos padrões dos Black. Ele era mais como a figura de algum aventureiro que chegava e levava um personagem pacífico para algum tipo de aventura inusitada. Como Gandalf, quando este tirou Bilbo do seu buraco de Hobbit e o levou para uma jornada através da Terra Média. A diferença, é claro, é que Charlus não era um velho bruxo barbudo e que Dorea não era uma criaturinha mínima de pés peludos – apesar de que ela era quase um Hobbit: era pequena e calma, quieta, como aquelas coisinhas. Sem contar que as aventuras dos dois não envolviam trolls famintos, elfos bêbados, anões guerreiros, anéis encantados, dragões apaixonados por ouro e coisas parecidas, mas sim algumas coisas piores, como uma família tradicionalista, as fofocas ardentes do mundo bruxo, os olhares feios da alta sociedade, as maldade sussurradas por muita gente e nomes queimados em uma tapeçaria antiga.

Dorea foi deserdada da família Black assim que aceitou o pedido de casamento de Charlus. Foi Walburga quem queimou o seu nome na tapeçaria dos Black, assim como, mais tarde, iria fazer com o nome do próprio filho e do irmão mais velho. Ela tinha alguma paixão secreta por queimar coisas, a velha Walbie. De qualquer jeito, apesar de não ser mais considerada uma Black, Dorea continuou sendo uma Black. Ainda tinha o porte de sua família, ainda falava como a Black que seus pais haviam criado, ainda contava histórias de seus irmãos e sobrinhos como se os visse todos os fins de semana. Em outras palavras: um nome queimado em uma tapeçaria não significava nada para ela. Dorea estava vivendo a sua aventura com o rapaz Potter e não fazia diferença se ela perdera o seu lugar dentro do conforto da família Black, pois ela sabia que não conseguiria se sentir em casa mesmo se fosse aceita lá novamente. Ela experimentara o gosto de ser livre de tudo aquilo e gostara disso. Não havia mais volta. No futuro, Dorea Potter iria se retirar para o conforto de uma casa novamente, teria um filho e cuidaria dele da mesma forma que sua mãe havia cuidado de si, envelheceria ao lado do marido e viveria uma vida pacata como uma boa bruxa, mas, ainda assim, teria sempre em sua mente a memória daquelas vezes em que desafiara a família quando secretamente namorara Charlus por meio de cartas entregues por aquele rapaz loiro e alto – um Malfoy? Talvez, apesar de ser improvável, pois os Malfoy nunca seriam gentis o suficiente para fazer esse favor à alguém – ou quando aceitara se tornar a Sra. Potter.

Dorea Black morreu antes do marido. Apesar de quase nunca mais ouvir falar dela, ainda tinha mais notícias da princesa dos Black do que da ovelha negra, Alphard, e logo soube quando ela faleceu. Charlus ainda está vivo, pelo que ouvi dizer, mas não tenho idéia do que está fazendo da vida. Dorea morreu mais nova do que todos esperavam, mas acho que não me sinto mal por ela ter ido. Eu sei muito bem que aquela garota aproveitara tudo o que a vida lhe oferecera. Ela ousara sair do seu conforto e abraçar tudo o que poderia ser alcançado se, ao menos, ela pisasse fora das grades da casa de sua família, algo que muitos puro-sangues tinham medo de fazer, eu incluído. Ela e minha mulher, Delphine, foram duas pessoas que não tiveram medo de escapar assim que viram a oportunidade. E eu, Abraxas Malfoy, que sempre fora tão desinibido quando mais novo, acabei por ficar aqui, trancafiado nesse mundinho de tradições e adulações. A aventura que me foi oferecida foi recusada pela minha pessoa quando eu disse que tinha um dever para com a minha família, mas, no fundo, acho que sempre soube que aquilo era puro medo de sair da minha pequena toca de Hobbit – toca grande demais, aliás. Se eu estivesse dentro daquele livro, eu seria um Bolseiro, muito respeitável e confortável em minha toquinha, vivendo muito bem, obrigado, enquanto Dorea seria uma Took, com aquele sangue de fada que lhe dava aquele comportamento inesperado. E, como bom Bolseiro, eu torceria o nariz para as coisas que Dorea faria, mas, no fundo, invejaria toda aquela coragem que ela possuía e me perguntaria como teria sido se eu tivesse feito as mesmas escolhas que ela e estivesse, agora, lá fora, em algum tipo de aventura, ao invés de enfiado em uma mansão enorme e confortável, rodeado de pessoas que eu não conhecia muito bem apesar de eles serem a minha própria família.


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Notas finais do capítulo

Dorea linda ♥ Espero que tenham gostado, digam o que acharam :)



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