The Library escrita por themuggleriddle


Capítulo 6
As Flores do mal


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigado, Elizabeth Stark, pela recomendação linda *-*



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Depois de ter estudado com tanta gente daquela família, eu não sabia o que esperar de Narcissa Black. Seu tio, Alphard, fora meu companheiro de infância, a pessoa com quem me lembro de ter passado a maioria dos dias quando era garoto. Sua tia, Walburga, era louca... Para não desmerecer muito nossa boa Walbie, posso dizer que ela era uma ótima anfitriã e posava como uma boa futura esposa, mas todos conhecíamos o seu lado instável, que, mais tarde, tornou-se bem aparente. Seu pai, Cygnus, sempre fora meio apagado entre os dois irmãos mais velhos: era inteligente, mas não tanto quanto Alphard, e carismático, mas não tanto quanto Walburga.

De certo eu imaginava que meu filho entraria com uma Walburga Black de braços dados com ele, principalmente depois de ouvir das outras duas sobrinhas de minha querida amiga: Andrômeda, que parecia ser mais filha de Alphard do que de Cygnus, graças à sua rebeldia, e Bellatrix, que pelo visto herdara a loucura de sua tia. Mas não, o que recebi em minha casa fora uma bela mocinha que parecia mais uma boneca de porcelana do que um ser vivo. Ela não tinha um traço sequer dos Black, a não ser, talvez, o nariz empinado que já vira em Walbie. A garota mantinha uma calma esplêndida, mesmo diante daqueles que muito provavelmente viriam a ser seus sogros, e nunca perdia a pose, sempre usando de palavras rebuscadas e uma educação maravilhosa. Não havia dúvida de que, das três filhas de Cygnus, Narcissa fora aquela que mais seguira as rígidas lições de como ser uma boa moça das quais os Black tanto gostavam.

Minha esposa gostou da garota no mesmo instante em que pôs os olhos nela. Delphine vira em Narcissa a moça que ela era quando nos casamos e logo decidiu que ela lhe seria uma ótima companhia. Antes de desaparecer, minha querida Sra. Malfoy tentou tornar-se um tipo de mãe ou melhor amiga para a menina que nosso filho havia escolhido para tomar o seu lugar como senhora daquela casa, um dia. Isso fez com que a garota Black ficasse desolada quando anunciamos a morte de Delphine, mas esse desespero pareceu desaparecer aos poucos, como se estivesse sendo lentamente esquecido. Até hoje não sei se Lucius contou a verdade à Narcissa, mas, se o fez, a moça ficara calada quanto a isso.

Essa amizade com minha esposa, esse quase monopólio que ela fazia da companhia da Srta. Black, fez com que a menina demorasse um bom tempo para se aproximar da minha pessoa. Acredito que eu assumi uma posição de chefe da família distante e autoritário – quanto ao distante eu não posso argumentar, agora, autoritário eu não era – o qual ela deveria respeitar e temer. Na realidade, Narcissa Black não fora a única que teve essa impressão sobre mim... Sempre me pergunto o que aqueles que me viam de tal forma pensariam caso tivessem me conhecido nos tempos de Hogwarts.

Quanto à Lucius... Nunca entendi realmente o que ela vira em meu filho. Ou talvez isso se deva ao fato de que eu conhecia meu próprio filho muito pouco. O que eu entendia, na época, era o seguinte: Narcissa Black era uma garota encantadora e educada, enquanto Lucius, apesar de educado e com um sangue tão nobre quanto o dela, não tinha nada de encantador. Mas, ainda assim, eles se gostavam e estavam arriscando aquela relação sem ter o compromisso de se casarem, como eu e Delphine tivemos. Narcissa, muito provavelmente, conhecia um lado de meu filho que me era completamente desconhecido e fora por tal lado obscuro que ela se apaixonara – porque, sim, ela era apaixonada por ele, isso era algo que se dava para ver no jeito como ela o olhava, como falava com ele, como segurava a sua mão... Era aquele pequeno detalhe que sempre parecia faltar entre eu e a minha esposa.

Lembro-me do casamento dos dois. Lembro-me de pensar em como aquela garota estava se embrenhando em um ninho de cobras sem saber, da mesma forma que Delphine o fizera. O Lorde das Trevas havia retornado e a execução de seus planos estavam a todo o vapor. Lucius fazia parte desses planos de uma maneira muito mais ativa e arriscada do que eu. Ele era um dos soldados de linha de frente, era ele quem invadia casas e torturava famílias em nome do seu mestre... E, ainda assim, ali estava ele, começando a constituir a própria família, sorridente e posando para fotos junto com sua bela esposa, que parecia viver em um mundo completamente diferente, um mundo onde a guerra e a tortura não existiam.

Mas, pensando bem, acredito que Narcissa já soubesse das coisas nas quais Lucius estava envolvido. Havia algo em seu olhar que mostrava que, apesar de estar ali, bela e elegante, ela estava pronta para enfrentar qualquer coisa que pudesse aparecer na sua frente depois do seu casamento. Só percebi isso depois, vendo fotos daquele dia, e tal suspeita se confirmou quando comecei a passar mais tempo com a garota.

A medida que a guerra avançava e o trabalho de Lucius aumentava, Narcissa não tinha outra opção a não ser isolar-se no canto da casa onde eu também me escondia. Eu fazia parte da primeira geração dos seguidores do Lorde das Trevas, antes mesmo de eles se chamarem os ‘Comensais da Morte’. Eu era um Cavalheiro de Walpurgis, minha contribuição fora mais sutil, apesar de fundamental para a sua ascensão... Mas eles não precisavam mais de cavalheiros, precisavam de servos, criaturas que se alimentavam do caos que o Lorde das Trevas levava para onde quer que fosse. Por isso eu me recusava a ficar por perto quando Lucius e seus companheiros se reunião. Era deprimente ver como aquela idéia brilhante de anos atrás parecia estar entrando em decadência.

Era nesses momentos nos quais acabei ficando íntimo de minha nora. Demorou um bom tempo para que Narcissa parasse de ter medo de mim, parasse de tentar me agradar o tempo inteiro, mas quando o fez, vi ali aquela mesma determinação que vira nas fotos. Narcissa Malfoy estava disposta, completamente disposta, a ir atrás do marido aonde quer que ele fosse.

Disse isso à ela uma vez. Acho que foi nesse dia que a garota viu que eu não era nenhum tipo de mistura de Ebenezer Scrooge e algum nazista – apesar de eu achar que ela nem sabia o que eram nazistas. Disse-lhe, quase sem pensar, que era incrível ver como uma criatura tão jovem como ela conseguia “se pavonear atrás de um homem que decidia se exibir no palco onde a loucura atua”. Ela riu, baixinho, dizendo-me que aquelas não eram palavras que ela esperava ouvir de mim. Tive que lhe explicar que aquilo não era eu falando, é claro. Não era, não posso tomar como minhas as palavras que outro homem escreveu há muito tempo. Ela meio que se surpreendeu ao saber que o velho Abraxas Malfoy se interessava por coisas como poemas e livros. Livros trouxas, aliás, detalhe para o qual ela torceu o nariz de início.

O que importa, realmente, é que, enquanto meu filho se afastava – apesar de que não fosse culpa dele o fato de nós nunca termos sido muito próximos -, Narcissa se aproximava. Era ela quem agüentava as minhas excentricidades, os livros que eu insistia que ela lesse, as conversas sobre animais fantásticos, as histórias sobre os pavões albinos – dos quais, aliás, eu me certifiquei que ela cuidasse muito bem depois que eu me fosse -, minhas velhas fantasias para com o mar e viagens, entre outra coisas.

Mas a vida de Narcissa, dentro daquela casa, não se resumia à poesias bonitas, histórias de um velho ranzinza e dicas de como cuidar de bichinhos de estimação peculiares. Havia vezes em que ouvia ela e Lucius discutindo, naqueles momentos em que ela percebia no que eles estavam metidos, mas essas discussões nunca acabavam em algo útil... Normalmente, depois de uma hora gritando um com o outro, ambos se desmanchariam em lágrimas, se abraçariam e dormiriam para tentar esquecer a situação na qual se encontravam. No dia seguinte, tínhamos um Sr. e uma Sra. Malfoy novinhos em folha para qualquer um que viesse bater na nossa porta.

Havia também aqueles dias nos quais uma boa noite de sono não servia para acalmar as preocupações da garota. Quando Lucius ficava fora por muito tempo ou quando Bellatrix vinha nos importunar com suas conversas permeadas de fanatismo e loucura... Nessas situações, Narcissa ficava cabisbaixa até mesmo na luz do dia, onde, normalmente, ela se recusava a se mostrar sendo qualquer coisa que não fosse a Madame Malfoy que todos esperavam que ela fosse. Eram nessas horas, quando a mulher de meu filho aparecia de olhos baixos e rosto entristecido, que eu me sentia na obrigação de fazê-la sentir-se bem. Fazia muito tempo que não tinha essa necessidade – e, da última vez que o tive, fora com uma pessoa completamente diferente -, mas era quase bom conseguir fazer aquela menina rir com alguma palhaçada que eu havia feito quando adolescente ou, ao menos fazê-la ficar menos preocupada com a realidade por meio de histórias antigas sobre meus amigos cabeças-duras e as besteiras que eles faziam.

Naquela época, já estava mais preocupado com o bem estar da sobrinha da louca da Walburga Black do que com o do meu próprio filho. Como havia chegado naquele ponto era uma pergunta para a qual nunca consegui uma boa resposta.

***

O Possesso
Charles Baudelaire

Cobriu-se o sol de negro véu. Como ele, ó Lua
De minha vida, veste o luto da agonia;
Dorme ou fuma à vontade; sê muda e sombria,
E no abismo do Tédio esplêndida flutua;

Eu te amo assim! Se agora queres, todavia,
Como um astro a emergir da penumbra que o acua,
Pavonear-te no palco onde a Loucura atua,
Pois bem! Punhal sutil em teu estojo esfria!

Acende essa pupila no halo dos clarões!
Acende a cupidez no olhar dos grosseirões!
Em ti tudo é prazer, morboso ou petulante;

Seja o que for, escura noite ou rubra aurora;
Uma por uma, as fibras do meu corpo arfante
Gritam: Ó Belzebu, meu coração te adora!


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Notas finais do capítulo

Agora sim, LuCissy propriamente dito. Esse foi o capítulo mais difícil de entrelaçar com literatura... Era Baudelaire, mas eu não sabia qual poema, então ficou só um, O Possesso, do livro "As Flores do Mal", sendo só levemente mencionado pelo Abraxas, apesar de que eu tentei fazer o resto do capítulo seguindo a temática do poema.
Espero que tenham gostado (:
Reviews são sempre bem vindos :D



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