The Library escrita por themuggleriddle


Capítulo 5
O Grande Gatsby




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Apesar de a chegada de Lucius ter significado o lento fim de nossa vida agitada, meu filho ainda cresceu naquele pequeno mundo de extravagância no qual eu e Delphine vivemos por um determinado tempo. Aquele mundo de festas, jantares, presentes, vestes ricas e vestidos brilhantes. Talvez tenha sido isso que fez Lucius virar quem acabou virando, ou talvez essa transformação tenha sido inteiramente culpa de seus pais, eu e minha esposa.

Como já foi explicado, depois do nascimento de meu filho, Delphine tomou por cumprida a sua parte do nosso contrato de casamento. Ela havia dado um herdeiro digno para a família Malfoy e agora não havia mais nada para fazer. Logo, com a mãe ocupada em voltar para os seus antigos círculos sociais e o pai passando mais tempo no Ministério da Magia do que em casa, Lucius foi praticamente criado por governantas. A maioria destas bruxas prestativas foram indicadas por amigos e familiares – os Black, em especial, tinham uma longa de lista de mulheres que poderiam servir para cuidar de uma criança, afinal, eles precisaram de algumas para cuidarem da nossa doce Walburga quando esta era mais nova – e elas tinham toda a liberdade dentro de nossa casa.

Ainda me lembro do menininho que corria pela casa, vestido com as melhores roupas que uma criança poderia usar e com uma risada que parecia encher todos os cômodos. Na realidade, é dessa época que eu mais me lembro quando penso em meu filho, talvez porque tenha sido nesses anos, antes de ele embarcar para Hogwarts, deixando eu e Delphine para nossa vida solitária outra vez, que nós nos parecemos mais uma família propriamente dita. Lembro-me das cenas, dignas dos quadros de meu pai, envolvendo meu filho e minha mulher nos jardins de nossa casa, ambos muito bem vestidos, saudáveis, elegantes e tudo mais que alguém esperaria de dois membros da família Malfoy.

Apesar de lembrar dessas coisas, reconheço que meu papel como pai para o meu filho acabou quando ele tinha três anos. Quando Lucius não passava de uma criaturinha rechonchuda e loira que mal conseguia dar alguns passos sozinha, vi-me voltando para o que eu considerava ser o significado de minha vida. Minha família poderia esperar um pouco, assim como o Ministério e as festas e tudo mais, eu tinha mais o que fazer, tinha outra pessoa a quem atender. Lucius tinha a mãe e as governantas à sua disposição, eu poderia estar um pouco ausente.

E, como que em um passe de mágica, meu filho não era mais uma criancinha que tentava ficar agarrada nas vestes dos pais durante o dia inteiro, mas um menino que já embarcava para o seu primeiro ano em Hogwarts. Nessa época, eu estava envolvido até o pescoço na causa do Lorde das Trevas, o que fez os anos de colégio de Lucius passarem voando por mim. Houve três eventos que me puxaram novamente para a realidade nesse meio tempo.

O primeiro foi quando meu filho anunciou estar namorando com a filha do pequeno Cygnus Black, a mais nova, para o meu alívio – ouvira falar que a mais velha era uma espécie de Walburga Black e a do meio se envolvera em um escandaloso caso com um sangue-ruim. A moça parecia ser normal, sem a loucura que aparecia no resto de sua família, além de ser bonita e, pelo que pude perceber com o pouco que convivemos, educada e gentil. Era também um alivio, apesar de não ter percebido aquilo na época, ver que Lucius não iria precisar de todo aquele arranjo de casamento ao qual eu fui submetido. Com dezesseis anos ele encontrara uma garota da qual gostava e que vinha de uma boa família. Não havia mais nada que pudéssemos pedir deles.

O segundo evento fora o sumiço de minha esposa. Lucius fora o único que ficara sabendo que a mãe fora embora, deixando-nos naquela mansão, e não morrera como o resto do mundo acreditava. Ele encarou bem toda essa história, meu filho, aprendendo cedo a mascarar alguns fatos de sua vida com mentiras tão convincentes que, logo, virariam verdades em sua cabeça. A morte de sua mãe virara algum tipo de assunto polêmico em Hogwarts, na época em que estivera lá, afinal, de que morrera Delphine Malfoy? Alguns diziam que fora alguma doença mágica fatal, outros comentavam que ela acabara com a própria vida por não agüentar mais viver trancafiada na Mansão Malfoy e alguns poucos chegavam ao ponto de dizer que eu havia acabado com sua vida. Tal qual Gatsby parecia se perder no meio dos inúmeros rumores sobre quem ele era, Lucius se perdia em meio aos palpites sobre o que acontecera com sua mãe. Ele simplesmente dizia que ela havia morrido, não dava nenhuma explicação mais detalhada do que essa, como se tal mistério o enaltecesse da mesma maneira que um mistério deixou a figura de Jay Gastby muito mais interessante aos olhos dos outros.

O terceiro e último caso que pareceu ancorar-me à realidade outra vez fora o dia em que Lucius chegara em casa, de Hogwarts, cabisbaixo e, sem delongas, puxou as mangas de suas vestes, mostrando-me a imagem da caveira e da cobra, que eu tanto conhecia, marcada em sua pele, avermelhada e até em alto relevo devido ao pouco tempo que se decorrera desde que a adquirira. Senti como se tivesse sido socado na boca do estômago por uma mão bem conhecida enquanto ouvia a risada clara e familiar de seu dono ecoar em meus ouvidos. Ele já havia previsto isso, já havia previsto que levaria minha família para o fundo do poço e eu sempre lhe dissera que, mesmo assim, o seguiria até lá. Mas uma coisa era falar isso quando se tem seus dezessete anos, outra é ver sua família ser lentamente arrastada para esse lugar sombrio. Mas não havia nada que eu pudesse fazer... O Lorde das Trevas era impiedoso, eu sabia muito bem disso, e já havia acabado com a vida de muitas famílias puras até aquele momento. Eu podia ter a sua confiança mais do que qualquer outro, mas meu filho e, além dele, sua mocinha, Narcissa Black, ainda não o tinham.

Mas, assim como a Marca Negra aparecera em seu braço subitamente, ela pareceu sumir. Assim que saiu de Hogwarts, Lucius submergiu naquele mesmo mundo onde eu e Delphine nos afundamos assim que nos casamos. Muito brilho muita extravagância, muita elegância, muitos favores trocado e muita bajulação. Eu já estava muito velho para isso, acredito, e já me irritava com aquela gente nova que chegava tentando me agradar com palavras bonitas e favores baratos. Lucius, por outro lado, estava vivendo no meio de toda aquela gente e se tornando um deles: ele agora era todo sorrisos falsos – falsos mesmos, nem dava para fingir que eram verdadeiros – e cumprimento exagerados. A única pessoa com a qual parecia trocar algum afeto verdadeiro era com Narcissa.

Minha casa virara um salão de festas para jovens bruxos e bruxas que achavam que estavam fazendo a coisa certa. Já havia visto alguns rostos conhecidos entre eles, velhos conhecidos de Hogwarts, como Avery e Lestrange, mas também havia a nova geração: a irmã de Narcissa, Bellatrix, que sempre parecia algum tipo de assassina contratada de filmes trouxas, sempre com aqueles olhos que brilhavam com malicia e loucura; o filho de Avery que, assim como o pai, não passava de um babaca cuja maior ambição era ter um nome conhecido; o filho da querida Walburga, Regulus, que parecia completamente perdido no meio de toda aquela gente – ouvira falar do mais velho de Walbie, um rapaz grifinório que fugira de casa... Não pude culpá-lo, qualquer um que tivesse a chance fugiria dos olhos e dos nervos de Walburga Black -... E até mesmo um mestiço esquisitinho que parecia mais um morcego se espreitando pelos corredores de nossa casa, Severus Snape. Aquele garoto sempre me pareceu estranho, mas eu sabia muito bem que não era bom subestimar mestiços esquisitinhos.

É claro que com a guerra esticando as pernas e caminhando por nosso mundo, cada vez mais altiva, Lucius e Narcissa começaram a se acalmar. As festas viraram jantares, que viraram pequenas reuniões regadas à chá. Narcissa agora se retirava quando os Comensais se reuniam, preferindo não ficar enquanto eles discutiam seus planos, e, aos poucos, os convidados começaram a adquirir feições cansadas e arrependidas. Não eram mais o grupo festeiro a falso de antes, agora, ao menos, tinham um resquício de verdade neles: todos estavam cansados e arrependidos de terem se jogado naquela aventura enganadora. Todos viram que as glórias prometidas pelo Lorde das Trevas exigiam muito esforço, muita dedicação... E como poderiam eles se esforçar e se dedicar tanto à alguém que nunca aparecia? Mas também não havia como voltar atrás agora.

Para piorar a situação do casal, cujo casamento, apesar de elegante, fora aquietado pela situação da guerra, um filho chegou. Não conheci muito de Draco, apenar o suficiente para ver que ele seria parecido com o pai, apesar de ter tido a sorte que Lucius não tivera: o menino tinha Narcissa para cuidar dele e a moça valia por um pai e uma mãe. O filho não mudara o comportamento de Lucius, pelo menos não até onde eu enxergava. Gostava de acreditar que, na privacidade de seu quarto, ele era um pai melhor do que eu fui.

Quando adoeci, vi mais de meu filho do que havia visto nos últimos anos. Em compensação, seus companheiros sumiram de minha casa e ele raramente falava deles. Quando perguntava, dava qualquer desculpa sobre como Bellatrix estava ocupada com algum trabalho – sabia muito bem que tipo de trabalho Bellatrix Lestrange fazia – ou sobre como o mestiço, Snape, corria atrás de informações para suas pesquisas com poções... Além da falta dos companheiros, Lucius perdeu a presença do filho naquela época. Era perigoso deixar uma criança de um ano perto de um velho com varíola de dragão, logo o mandaram para ficar com alguma tia ou governanta ou qualquer coisa que fosse cuidar do bebê, enquanto ele e Narcissa ficavam na casa para me auxiliar.

Sentado ao lado do meu leito de morte, eu vi Jay Gatsby, depois de morto, sem a companhia de ninguém. Todos os amigos e convidados de suas festas, até seus companheiros de trabalho, sumiram naquela época, da mesma forma que ninguém aparecera no funeral de Gatsby. Perguntava-me se Lucius um dia iria sair daquele estado abandonado... Muito provavelmente, sim. Iria erguer-se novamente em algum tipo de esplendor artificial como o que aproveitara durante os anos após Hogwarts, antes de, irrevogavelmente, cair naquele abandono outra vez. E eu temia que a próxima vez fosse definitiva.


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Notas finais do capítulo

Então, é aqui que começa a aparecer os resquícios de LuCissy, nesse e no próximo capítulo, que são referentes ao Lucius e a Narcissa. É sutil, eu sei, mas baah... é tudo visto pelo Abraxas e pra ele só o fato do Lucius e da Cissy terem se casado sem todo aquele arranjo de casamento já é uma coisa grande.
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Então, O Grande Gatsby de F.Scott Fitzgerald foi o livro escolhido para o Lucius. Vai sair o filme com o Leo DiCaprio esse ano e tals, logo, eu recomendo lerem o livro antes de verem o filme, porque ele é muito bom com toda a extravagância dos anos 20 nos EUA e toda a temática da falsidade, etc. :)
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Muito obrigado para quem deixou review até agora, espero que tenham gostado desse cap. :)



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