The Library escrita por themuggleriddle


Capítulo 1
epílogo


Notas iniciais do capítulo

Já é meia noite aqui, logo já é dia 07/01, logo já posso postar :)
E já coloquei isso no final, mas vou colocar aqui também: o NOME do prólogo é "Epílogo", da mesma forma que o epílogo de DH é "19 anos depois", ok? Eu sei muito bem que o epílogo vai no final e o prólogo no começo, mas vai fazer sentido depois.



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E lá estava ele, deitado em sua enorme cama, cobrindo a si mesmo com feitiços que esconderiam os sinais daquela doença horrível enquanto pedia para que eu lesse para ele um dos inúmeros livros de suas estantes. Papa mantinha os seus livros em seu quarto, longe dos olhos dos possíveis visitantes que pudessem entrar em nossa biblioteca. O motivo disso era simples: assim como meu avô, Septimus Malfoy, papa tinha um fascínio levemente constrangedor por trouxas. Nada ao nível de Arthur Weasley, é claro, mas o velho Abraxas Malfoy não conseguia se controlar quando via um livro trouxa. Meu avô tinha esse mesmo vício, mas relacionado à arte, pelas histórias que ouvia e pelos inúmeros quadros imóveis que tínhamos em nossa casa, todos adquiridos pelo velho Septimus.


Enquanto terminava de criar os encantamentos que tornariam invisíveis as pústulas arroxeadas em seu corpo, papa me ouvia falando os títulos dos livros, esperando que ele escolhesse um de uma vez por todas. A maioria daquelas histórias eu nunca havia sequer ouvido falar e, apesar de alguns títulos chamarem a minha atenção, eu não conseguia parar de imaginar o quão sem graça eles deveriam ser... Escritos por trouxas, sobre coisas comuns do mundo trouxa ou sobre aquela visão fantasiosa que eles tinham do nosso mundo.


“Esse,” papa murmurou após eu ler em voz alta o nome do autor de um livro relativamente pequeno. Suspirando, puxei o livro e encarei a capa marrom e velha. Poesia. Devia ter adivinhado.


“Maiakovsky?” perguntou, voltando para a cadeira que havia deixado ao lado de sua cama.


“Se pronuncia Maikôvsky,” ele explicou, respirando fundo. Papa não era um homem velho. Meu avô viveu até seus setenta anos e, ainda assim, aquela fora considerada uma morte precoce para um bruxo. Papa tinha cinqüenta e cinco anos e uma imunidade horrível para a varíola de dragão, o que resultara em uma forma quase fulminante daquela pestilência que o fizera ficar acamado e à beira da morte em um período menor do que seis meses.


“Alguma em especial?” perguntei, folheando o livro.


“Lilitchka!”


Encontrei o poema. Era um tipo de declaração de amor melodramática permeada de comparações indicando o quão importante a moça da história era para o poeta, tão importante que tirava-lhe até a vontade de acabar com a própria vida, pois “afora o teu olhar, nenhuma lâmina me atrais mais com seu brilho”. Era quase dramático demais para ser algo de que meu pai gostasse.


“Não sei como gosta disso,” falei, interrompendo a leitura antes dos últimos versos. “Além de trouxa, é tão carregado de drama que faz qualquer um ficar deprimido.”


“Me lembra alguém,” sussurrou papa, seus olhos fixos no nada, como se eu nem estivesse ali ao seu lado. “Todos os livros, praticamente, me lembram alguém. Isso dá uma beleza adicional à eles, essa associação... Talvez, se você se dignasse a ler um deles, iria compreender.”


“O senhor fala como se eu nunca tivesse tocado em um livro,” resmunguei.


“Não em bons livros.” Papa deu de ombros de uma maneira que eu costumava ver meus colegas insolentes fazer, na época de Hogwarts. “Agora, pare de reclamar e continue.”


Continuei. Estava quase no final, com o nosso amigo Maiakovsky falando para sua Lílitchka sobre como ela logo iria se esquecer dele, quando Narcissa bateu na porta, abrindo-a logo em seguida e enfiando a sua cabeça loira dentro do quarto. Seus olhos azuis estavam arregalados como se tivesse acabado de ver um dementador ou algo parecido.


“Lucius.” Era estranho ver a voz de Cissy falhar. Sendo uma Black, não era de se surpreender que minha esposa tivesse uma personalidade, no mínimo, forte. Não era exagerada como a de suas irmãs, a rebelde Andrômeda e a louca Bellatrix, mas era forte. Narcissa sempre mantinha o tom de voz firme e o rosto sério quando era preciso, sempre sendo a perfeita Sra. Malfoy que meus pais esperariam de minha esposa. “Ele está aqui.”


Automaticamente, pulei da cadeira e arrumei minhas roupas. Ouvi papa resmungando alguma coisa, mas o ignorei enquanto tentava tirar de minha pessoa aquela aparência de quem não havia saído de casa nos últimos dias. Narcissa logo sumiu, muito provavelmente espantada pela imagem de nosso visitante.


Eu já conhecia o Lorde das Trevas, mas era quase instintivo sentir um calafrio percorrer o meu corpo cada vez que o via. A cada dia que passava parecia que sua aparência se modificava um pouco. Agora, ao entrar no quarto de meu pai, o bruxo que vi era uma mistura de poder e fraqueza. Qualquer um podia sentir a magia que exalava dele, era quase intoxicante, mas também era possível ver o quão frágil ele parecia. Voldemort era mais baixo do que eu e muito mais baixo do que meu pai, de tal forma que parecia quase cômico ver os dois parados lado a lado. Ele também tinha um porte pequeno, magro, apesar de elegante e firme. O rosto, apesar de não apresentar as rugas típicas de um homem da sua idade, tinha a pele pálida e de aspecto seroso esticada por sobre os ossos de seu crânio de uma maneira quase macabra, como se ele estivesse dias e dias sem comer e muito doente. Os cabelos escuros, apesar de bem penteados, pareciam ir perdendo a cor progressivamente, mas, ao invés de ficarem grisalhos, assumiam uma cor que eu nunca conseguia distinguir exatamente. Parecia algum amarelo esverdeado, um loiro escuro e sujo, como se a cor de seus cabelos fosse algum tipo de tinta que, lentamente, era enxaguada para longe.


Mas quem precisava de uma aparência mais forte quando se tinha o poder que o Lorde das Trevas tinha? Só um olhar com aqueles olhos escarlate era o suficiente para fazer qualquer um se calar. Uma palavra dita da maneira correta com aquele tom de voz sombrio que ele sempre usava fazia com que o melhor dos homens se aliasse à ele. Um aceno da varinha e o mais forte dos bruxos se via quebrado aos seus pés.


“Milorde.” Abaixei o rosto, imitando a reverência que papa há tanto tempo havia me ensinado. ‘Sempre demonstre respeito ao Lorde das Trevas,’ ele dizia. ‘Nós vivemos para servi-lo.’ “Peço desculpas por não tê-lo recebido...”


“Você está cuidando do seu pai moribundo, Lucius.” Ele ergueu uma mão pálida e magra, pedindo silêncio. “Não sou um homem tão terrível que o puniria por isso.”


Observei enquanto Voldemort se aproximava da cama de papa, que simplesmente ergueu a cabeça e encarou-o por um tempo, antes de soltar uma risada baixa e debochada. Em resposta, os lábios do Lorde das Trevas simplesmente se repuxaram em o que parecia ser algum tipo de sorriso.


“Você não vai ver outro nascer do sol.” Enquanto eu arregalei os olhos e senti um vazio em meu estômago. Papa simplesmente riu novamente ao ouvir o sussurro do outro bruxo.


“O que foi que te contou isso?” Papa ergueu uma sobrancelha. “As cartas ou a bola de cristal?”


“Ambas,” ele respondeu, esticando uma mão e deixando os dedos finos e compridos tocarem à mão de meu pai que repousava ao lado de seu corpo. “E a sua magia. Ela está mais elevada do que nunca. Ela o está mantendo vivo, um último esforço do seu corpo para sobreviver. Logo ela vai se cansar.”


“Você sempre foi bom em entender magia,” sussurrou papa. “Não irei discutir com você em relação à isso.”


O Lorde das Trevas o encarou por um longo minuto, antes de virar o rosto para ver o livro que havia deixado em cima da cama. Para a minha surpresa, uma risada no mínimo satisfeita escapou de seus lábios.


“Maiakosvky.” O seu murmúrio fora quase inaudível enquanto alcançava o livro e acariciava-lhe a capa como se fosse algum tipo de animal de estimação muito querido.


“Russos,” disse papa. “Você sabe como gosto deles. Tão dramáticos e poéticos que chega a doer por dentro quando os lemos.”


“O que você esperava de gente que vive naquele país? O frio congela o coração deles, Abraxas, e só há duas coisas que conseguem quebrar essa camada de gelo...”


“Vodka e palavras.”


De repente, senti-me um intruso em minha própria casa. Eu conhecia aquele quarto como a palma de minha mão, havia passado dias e dias de minha infância ali dentro. Eu deveria conhecer o homem estirado naquela cama mais do que qualquer outra pessoa nesse mundo, afinal, ele era meu pai. E, ainda assim, senti-me um intruso, como se aquele mundo que se estendia à nossa volta pertencesse apenas ao meu pai e ao Lorde das Trevas.


“Papa,” chamei, antes de me virar para o outro bruxo e fazer outra reverência. “Milorde... Vou... Irei ver se Narcissa está precisando de mim. Caso precisem de qualquer coisa...”


“Lucius.” Papa ergueu a mão em minha direção e, hesitante, fui até ele, sem conseguir não me encolher um pouco sob o olhar escarlate de Voldemort. O Lorde das Trevas tinha razão, a magia de meu pai escapava-lhe por entre os dedos de forma abundante e, logo, se cansaria. Apertei-lhe a mão e tentei retribuir o sorriso cansado que ele me direcionou. “Diga à Cissy... Para não dar o nome do filho de vocês de Septimus, caso vocês tenham outro. Havia um Weasley chamado Septimus quando eu estava em Hogwarts. E nem de Scorpius, pelo amor de Merlin.”


“Direi isso à ela," murmurei, mesmo sabendo que a possibilidade de termos outro filho além de Draco era mínima.


“Bom.” Ele deu um leve aperto em meus dedos, antes de soltá-los. Eu sabia muito bem que aquela seria a última vez que meu pai seguraria a minha mão, mas sabia também que, naquele momento, o Lorde das Trevas queria ficar a sós com ele, logo, teria que conceder tal desejo.


Mais uma reverência rápida, antes de me arrastar para a porta. Ao chegar lá, dei uma última olhada na direção dos dois bruxos, vendo Voldemort com o livro de poemas na mão. Quando estava saindo do quarto, hesitando levemente em deixar ali dentro meu pai que logo estaria morto, consegui ouvir a voz, agora baixa e estranhamente não tão perigosa, do Lorde das Trevas:


“À todas vocês que amei e que eu amo...”


Papa morreu na primeira hora do dia 12 de Junho de 1981. Uma vez o ouvira dizer que em algum país ao redor do mundo era nesse dia no qual as pessoas comemoravam o seu equivalente do Dia de São Valentino e, enquanto esperava a notícia fazer efeito dentro de minha cabeça, percebi o quão ideal aquele dia era para o meu pai. Abraxas Malfoy fora, em vida, um romântico incurável, qualquer um podia perceber isso, mesmo que amor fosse a última coisa que existisse entre ele e minha mãe. Mas ele tinha outros amores, era fácil de perceber isso pela paixão expressa em seus olhos quase que vinte e quatro horas por dia... Ele amava aqueles pavões brancos que criava nos jardins. Amava seus livros e sua casa. Amava a sua magia... E amava a sua posição ao lado do Lorde das Trevas, acima de tudo.


Papa morrera com duas coisas pelas quais nutria uma paixão insaciável: o mestre que sempre admirara e os versos daquelas poesias que quebravam e suturavam seu coração de tal maneira que, a cada novo ferimento, maior se tornava o seu amor por elas. Nunca entendi por completo esse amor e, talvez, nunca fosse entender. O único que sabia por certo como tudo aquilo funcionava era o próprio Abraxas e ele não estava mais ali para explicar isso à alguém.


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Notas finais do capítulo

Fic para um concurso de shortfics de HP no FB ( https://www.facebook.com/photo.php?fbid=494889730544009&set=a.455897204443262.106727.455884594444523&type=1&theater )... Realmente, não tenho idéia se essa fic ta boa para o concurso, porque eu fiz um malabarismo para enfiar o casal que precisa (LuciusCissy). LuCissy está ali, enfiado no meio e um pouco escondido, mas está, acreditem em mim! Ehehe. Bom, levando em conta que o Lucius e a Cissy não são geração Marotos, entendi que essa primeira categoria meio que engloba todo esse povo dessa época marotos+antes, então...
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Outra coisa, antes que digam alguma coisa, eu sei que o Prólogo vem antes do Epílogo. O nome do prólogo é "Epílogo" por uma certa razão que vocês vão entender... quando chegar o epílogo (é que certa vez eu vi uma fic que tinha o epílogo no lugar do prólogo, mas não era nenhuma jogada de línguagem e nada, a autora só se confundiu mesmo, então, melhor explicar).
Sobre essa fic: esse primeiro capítulos vai no POV do Lucius, os outros... Vocês vão ver. Todo capítulo tem uma capa própria dele.
Bom, espero que tenham gostado. Estou com essa fic já faz mais de um mês e, realmente, é um amor escrever ela :) por favor, digam o que acharam por meio de reviews, eles são sempre lindos.