"E eu estou sangrando
Estou sangrando por você (por você)"

Bleeding Out - Imagine Dragons

Depois da nossa conversa, há 2 dias, Sirius parecia outra pessoa. Ele vivia sorrindo para mim e fazendo piadinhas. Isso tornou muito mais confortável - para mim - ficar perto dos marotos. Conheci muito mais de cada um deles, especialmente Peter, que, eu admito, eu não sabia muita coisa. Descobri que Peter era filho único, assim como Remus e James, e que Peter também era engraçado e fofo (algumas horas). Mesmo ele, eu estava começando a ver como um amigo.

E Remus... Ele era tão inteligente e gentil, ele sempre me fazia corar com os seus elogios (o que irritava James e divertia Sirius e Peter). Ele era o mais normal do grupo.

Claro que eu também nunca me afastei de Dorcas e Lene, que pareceram aceitar a aproximação dos marotos. Estranhamente Lene nem reclamava mais sobre Sirius Black. Aliás, eles estavam quase parecendo um casal.

– Lene, tem alguma coisa acontecendo entre você e Sirius? – perguntei, enquanto andávamos sozinhas pelos corredores.

– Sim – respondeu sorrindo e eu me virei para ela – Eu queria contar, Lily, mas eu não conseguia. Eu achava que vocês iriam me achar uma idiota por achar que Sirius Black tem chances.

– Você está apaixonada por Sirius Black? – perguntei incrédula. Ela assentiu nervosa - Lene, isso é ótimo – a abracei – Quem diria que você se apaixonaria?

– Ninguém – sorriu.

Encarei-a.

– Eu acho Sirius uma boa escolha – afirmei – Se ele também gostar de você, tenho certeza que ele será perfeito.

Sorri e caminhamos em silencio, até eu me dar conta de uma coisa.

– Não era só isso, era? - perguntei. Sabia que Lene não ficaria assim se nada mais sério não tivesse acontecido.

– Não. Nós nos beijamos – falou e virei minha cabeça na mesma hora.

– Quando?

– Antes de você virar melhor amiga de James Potter. Eu estava estudando na biblioteca, e só tinha um livro sobre o assunto de Poções e Sirius chegou. Deixei-o ficar na mesma mesa que eu. Quando terminamos a tarefa, ele me agradeceu. E estávamos tão próximos... E ele me beijou – contou.

– Vocês fariam um casal perfeito.

Chegamos no Salão Comunal da Grifinória. Fiz a minha mala. Quando eu terminei, olhei para Lene.

– Lene? Eu... – respirei fundo – Eu estou apaixonada por James Potter.

Ela sorriu.

– Eu sei.

– Como?

– Ninguém fica tão próximo, feito vocês, se não estiverem apaixonados - murmurou.

Primeiro, pensei que isso era fofo. Depois percebi que isso significava que era aparente que eu gostava dele.

– Será que ele sabe que eu gosto dele?- perguntei em pânico.

– Provavelmente - respondeu Lene.

Oh Merlin, o que eu iria fazer? James já sabia e agora iria me tratar de jeito diferente, e...

– Quer dizer, pensando bem, não - corrigiu Lene e eu fiquei um pouco mais calma - Se ele soubesse, já tinha te chamado para sair.

– Ao não ser que ele não goste de mim - falei triste.

Lene me encarou incrédula.

– Lily, eu tenho certeza que ele gosta de você. Eu e qualquer pessoa que estude em Hogwarts. Ele passou anos tentando te conquistar - murmurou.

– Mas ele pode te mudado de ideia, agora que eu só amiga dele e não sou mais tão diferente das outras. Agora que não odeio ele - repliquei, irritada.

– Lily, ele gosta está a fim de você - falou Lene.

– Não, ele não tá - murmurei deprimida.

Ela me olhou irritada.

– Se não quer ver a verdade, que é boa para você, eu não posso fazer nada - falou.

Controlei meu temperamento, porque sabia que, no fundo, Marlene não queria me atingir. Ela só era prática demais e provavelmente está com TPM.

– Vamos procurar Dorcas - sugeri.

E foi isso que fizemos. Já estávamos ficando cansadas e sem ideias, quando avistamos ela, saindo do banheiro. Por um instante sua palidez me assustou. Até os fantasmas de Hogwarts pareciam melhores do que ela.

– Dorcas, por que você está tão pálida? - perguntou Marlene.

Dorcas no encarou, como se só agora percebesse a nossa presença.

– Eu estou bem - falou e desmaiou.

– Dorcas! - gritamos eu e Marlene juntas.

Foi apavorante. Nós não sabíamos, o que fazer. Por um momento, só assistimos o corpo dela no chão, relembrando da queda. Vi Lene voltando a si e indo até Dorcas enquanto eu ainda estava em choque.

– Lily - falou Lene com urgência. E voltei a realidade. A ajudei a levitar Dorc, e a levamos em silêncio para a enfermaria. Era hora de descobrir o que estava errado com Dorcas.

A enfermeira nos encarou com pena.

– Eu receio dizer isso, mas acredito que a Sra. Meadowes esteja com bulimia.

Quando ela disse isso, eu não consegui respirar. Dorcas... Como eu pude ser tão cega? Por que eu não notara antes? Dorcas, a doce Dorcas... Meu mundo todo estava diferente agora. Várias memórias surgiram na minha mente.

– Lils, coma alguma coisa – ordenou ela. Eu fiz careta. – Vamos, Lily! Só um pouco – implorou.

– Eu nunca pararia de comer por causa de um cara – falou Dorcas, chocada – Se ele não gostar desse mim assim, problema dele – a outra menina assentiu.

– Eu amo chocolate! Isso foi feito por Deus! – sorriu ela.

– Eu não sou uma dessas pessoas que ficam obsessivas com o peso – falou, séria.

Como era possível que ela estivesse... doente? Como era possível que essa menina tão orgulhosa do próprio corpo, tivesse se transformado em uma pessoa que vomitava para não engordar? Por que Dorcas fazia isso e por que ela não tinha contado para mim?

Olhei para Lene, que também parecia chocada, e só quando não consegui focar a imagem dela, percebi que eu estava chorando.

Nunca tinha sentido nada parecido na minha vida. É como descobrir que a sua irmã tem câncer. É como se... você finalmente abrisse os olhos e percebesse que a vida pode ser horrível. Perceber que uma pessoa tão próxima está passando por tanta coisa em silêncio enquanto você dá atenção a todos os seus dramas ridículos. É como se sentir quebrada. Para mim, eu não recebi a notícia que uma amiga estava doente, recebi a notícia que eu estava doente. Porque agora eu estava e não parecia que nada ia ficar bem de novo.

Dorcas abriu os olhos.

– O que aconteceu?

– Nós descobrimos, Dorcas – falou Lene simplesmente, séria.

– Descobriram o que?

– Que você tem bulimia – falei, chorando.

Dorcas entrou em pânico. Parecia querer negar, mas não conseguia. Mexia a cabeça, em choque.

Era uma cena triste, mas mesmo assim, eu estava feliz por agora saber. Talvez assim pudesse ajudá-la.