O Mapa Cor-de-Rosa escrita por Melanie Blair


Capítulo 4
Rua


Notas iniciais do capítulo

Já cá está um capítulo novinho em folha. Só recebi dois reviews no último, por isso estou um pouco triste...Mesmo assim, boa leitura!



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“Querido Diário,

Será que me esqueci de te mencionar que tenho um irmãozinho? O nome dele é Christian, tem onze anos… e já me dá dores de cabeça!”

A minha escrita foi interrompida por um barulho brusco e insípido que me furou os tímpanos- a minha tia/patroa a berrar.

– Christian, sai já de cima da cama da tua irmã!- berrou ela para o puto que saltitava na cama.- E se partires a armação? Queres gastar o dinheiro da tua própria tia por causa de brincadeiras parvas?

Ele, em resposta, colocou-lhe a língua de fora.

– Já tão novo e tão delinquente… Não lhe dizes nada Esmeralda?

Encolhi os ombros.

– A culpa do mal comportamento dele é toda tua!- apontou-me o dedo gordo.- Se te dedicasses mais ao teu irmão e menos a encolher os ombros talvez surtisse algum efeito.

Inspirou e voltou a atacar:

– Queres que ele se torne como o teu pai? Num ladrão que rouba os corações às pobres raparigas…

Tapei os ouvidos ao Christian- ele não tinha que ouvir aquelas barbaridades.

– Pare com isso!- gritei-lhe.- Aquilo que aconteceu não tem nada a ver com ele…

– Claro que não queres que ele saiba. A morte deles foi totalmente tua culpa.- ripostou ela.

Ignorei-a:

– Primeiro, o meu pai não era ladrão. Ele era um sapateiro honesto, incapaz de algo do género. – comecei.- Segundo, ele foi o único homem que a minha mãe amou na vida, e vice-versa. O único que a fez sentir-se viva enquanto vivia na mesma casa que a tia e a avó.

Sabia que aquilo doía mas era a verdade. Tinha acumulado tanto na garganta durante dez anos…

– Além disso, - continuei,- O meu irmão consegue avaliar bastante bem as pessoas, ainda melhor que eu. Se ele não confia em si, por alguma coisa tem de ser… e boa coisa não será. Tenho razão, titia?

Ela olhou-me furiosa e explodiu:

– Ingrata!- gritou- Depois de tudo o que fiz por ambos vocês, é assim que me agradecem? Colocando ainda mais nervos ao meu pobre, já atormentado, cérebro?

Saiu e fechou a porta com força. Sabia que ela tinha ido à procura de companhia masculina, alguém que lhe tornasse a tarde menos sofrível…se é que me entendem.

Retirei as mãos dos ouvidos do meu irmão e afundei-me na cama, ao seu lado.

– Eu ouvi tudo na mesma, sabias maninha?

Anuí.

– Sabes quantas vezes ela já te berrou desde o início da semana?

– Não, nem me interessa.- confessei-lhe.

– Treze. Tenho estado a contá-las.- sorriu-me, com orgulho de si próprio.

Olhei por ele e por momentos julguei que via o meu pai. Os olhos e o cabelo encaracolado eram da mesma cor, mas as semelhanças não lhe ficavam por aí. Por detrás daquela expressão malandra e travessa, encontrava-se alguém mais maduro do que eu, talvez até mais responsável.

– Realmente, para quem não vai à escola, és bastante inteligente.- elogiei-o.

Ele corou por momentos, mas logo voltou à postura de um homem que não cairia por tal elogios.

– Também não é difícil… tendo uma irmã tão obtusa como tu…

Ataquei-o com cocegas.

– PARA!- gritou, ainda a rir-se.- RENDO-ME!

– Ainda bem que percebeste, que eu como mais velha, tenho o direito de ser a mais forte.

– Um dia destes, serei eu a ganhar.- desafiou-me ele.

– Mal posso esperar.- sorri.

Voltei para a secretária.

– Tenho uma dúvida, mana.

Fitei-o.

– Qual é?- perguntei, curiosa.

– O que fazes aqui sentada? Se não fizeres nada, não terás nada de novo nem de único para escrever. Sai daqui, e regressa com algo interessante para escrever.

“Hum,”, pensei, “Detestava quando ele parecia mais inteligente que eu.”

– Tens razão!- confessei.

*********************************************************

A rua estava movimentada como sempre. O tráfico na zona do porto era realizado por nomeadamente homens cansados (os que ali trabalhavam) ou por cansar (os que vinham nos navios visitar o nosso país). Como mulher alguma se aventurava naqueles caminhos, e não querendo dar nas vistas, tinha-me vestido como um homem (incluindo bigode). E não me estou a reclamar- adorava a sensação de não me ter que preocupar com o facto de poder ter um homem a espiar-me para baixo do vestido!

Mas claro que sou das poucas que faz isto! A minha tia e boa parte das suas empregadas adoram ser olhadas e interpeladas pelos homens nas ruas. Acham até excitante poder observar as reacções dos seus clientes quando as vêem na rua (acompanhados, claros, pelas esposas). Realmente, ser reconhecida como “a mulher que exibe o seu corpo” não me agradava!

Entrei no centro na cidade. Olhei para todas as montras de todas as lojas, de todos os comércios. Se queria ter aquilo que via? Claro, mas não era algo que me tornaria mais feliz. Mas o meu pensamento mudou quando vi que a pastelaria tinha inventado bolos novos. A minha boca encheu-se de água. “Controla-te”, pensei e continuei o meu caminho com a barriga vazia.

Era uma quinta-feira, (dia seis de Fevereiro, se não me engano) pelas cinco da tarde- uma hora movimentada. Tentava, arduamente, chegar o mais rápido possível à tal livraria- onde podia comprar o caderno que Chris tanto queria.

Intuitivamente, olhei para a direita, para a estrada onde dezenas de pessoas movimentavam-se todos os dias. Uma criança brincava no meio desta sem se perceber do perigo que corria. Olhei para o redor- procurando alguém que pudesse socorrer a pequena.

“Faz algo de único. Traz algo memorável para escrever”, disse-me o meu irmão há pouco.

Coragem.

Assegurei-me que ninguém se deslocava na estrada. Movimentei-me rapidamente. A criança fitou-me. Peguei-lhe ao colo e o solo começou a estremecer. Ergui a cabeça e vi uma carruagem de seis cavalos a aproximar-se, a toda a velocidade. Comecei a correr para o passeio.

Pousei a rapariga que começara a chorar.

– O que se passa, querida?- perguntei.

Ela apontou para a estrada.

– Moneca.- disse ela.

Uma boneca pousava no meio da estrada estava prestes a ser esmagada pelos cavalos. Olhei novamente para a rapariga que ainda lacrimava. Lembrei-me da minha infância, da falta de bonecas que tive, e o quanto importante aquilo era para cada criança. Uma boneca, para uma criança, é um melhor amigo. E perder um melhor amigo naquela tenra idade era péssimo, porra.

Voltei a correr para o meio da estrada. A estrada estremecia ainda mais. Peguei nela e voltei a correr para a borda da rua. Porém, não estava a contar com a pedra que se encontrava pelo caminho.

As minhas pernas falharam e caí pelo chão de cimento frio. “Auch”, arfei. O meu chapéu de aba larga caiu, mostrando a todos o meu cabelo longo, rebelde e feminino.

A carruagem estava a menos de dez metros de mim. “Apressa-te”, pensou o meu eu interior. Tentei levantar-me. O meu pé esquerdo não se movia. Doía-me imenso. Tentei arrastar-me até ao passeio.

– Sai da rua, garota- ouvia eu.

Pois falar era fácil, mas não me ajudavam… Acalmei-me e enfrentei a realidade. “Não te consegues mexer, Esmeralda. Ninguém se mostra interessado o suficiente para te ajudar. Vais morrer!”, gritou o meu eu interior.

A boneca ainda estava na minha mão. Lancei-a para a criança que estava a uns bons e longos sete metros de mim. Ao ver a boneca, ela sorriu.

“Bem,” pensei, “Se morrer, pelo menos sei que fiz algo de bom.”

Os cavalos estavam em cima de mim. Fechei os olhos.

– Eiaa!- gritou um homem.- O que pensa que está a fazer aí? Podia tê-la matado.

Abri os olhos. Parece que o homem parou a carruagem mesmo na hora H.

Expirei lentamente. Uma porta da carruagem, abriu-se.

– O que se passa?- perguntou um rapaz.

Arranquei o bigode da cara. Raios que estava cansada!

O rapaz inclinou-se na minha direcção. Raios (outra vez) que era bonito! Tinha cabelos platinados e olhos bicolores (ambos belos).

– Encontra-se bem?

Pegou-me pela cintura e tentou colocar-me de pé. Não sei se foi o contacto do pé com o chão, ou a gravidade, que me fez desmaiar contra o tronco do (belo) mas desconhecido homem.



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Notas finais do capítulo

Desculpem se tem erros. Foi uma pressa para colocar este capítulo. Reviews, por favor?



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