O Mapa Cor-de-Rosa escrita por Melanie Blair


Capítulo 29
Enevoado


Notas iniciais do capítulo

Pessoal desculpem a demora. Afinal tive mais exames do que era suposto e atrasei-me muito. Vou tentar recompensar-vos ao tentar postar o mais possível no menor tempo possível.
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/315305/chapter/29

**Esme Pov ON**

Por algum motivo, motivo a mim desconhecido, deixaram-me na sala de visitas, nesta sala demasiado aborrecida e demasiado insípida, para apodrecer (é que só pode ser por isso). Já me encontro sentada nesta cadeira há demasiado tempo. Que lata! O que lhes vale é que eu estou muito bem-disposta! Se não fosse o facto do julgamento ter corrido bem e a esperança de que daqui a vinte e quatro horas tudo estará terminado, eu aconselhava esses que me deixaram aqui a criar raízes a não se apresentarem à minha frente durante algum tempo.

Mas, visto que estou mesmo bem-humorada, juro que se daqui a cinco minutos um dos guardas entrar por aquela porta dou-lhe a morada de uma solteirona do meu bairro (qualquer que seja o sortudo pelo menos já terá um ponto em comum com ela: um bigode). E até forneço um pente para o bigode para terem um tema inicial de conversa.

Eles devem estar mesmo desesperados porque nem um minuto foi preciso para a manivela da porta começar a rodar. Comecei a pensar no discurso casamenteiro que daria ao guarda que estava a entrar. Talvez fosse bom dizer que ele pode continuar a ser um inútil, já que ela tem mais músculos e mais força que muitos homens…

– Já não era sem tempo.- resmunguei.

Porém ao ver quem estava a entrar na sala, as minhas pernas adormecidas acordaram fazendo-me levantar, de rompante, da cadeira metálica.

– Esperavas-me?- perguntou Raúl, satisfeito.- Posso acreditar que foi o teu coração que me detetou enquanto vinha ter contigo?

– Não.- respondi-lhe.- Se algo detetasse a tua chegada seria o meu nariz, mais nada.

Raúl, ao contrário do que eu esperava, sorriu, mostrando que nem os meus insultos o afetavam. Algo se passava. Comecei a temer o que estava para vir. Porém, reuni os meus medos e coloquei-os no lixo, tentando mostrar que o sorriso maléfico dele, tal como os meus insultos, não afetavam ninguém.

– Sai!- ordenei, tentando empurrá-lo para fora do compartimento. Vendo que a minha missão não estava a ser bem-sucedida, vi-me, desesperada por mantê-lo afastado de mim, a chamar pelos guardas. Ainda com uma réstia de esperança prometi, a mim própria, que se eles viessem, além de dar a todos a morada da rapariga, pedir-lhes-ia desculpa por todas as vezes que os chamei de paspalhos (ou outros nomes com intenção semelhante).

Porém até essa pequena quantidade de esperança esfumou-se assim que Raúl confirmou os meus piores pesadelos, os medos que eu queria, que eu necessitava, que não se tornassem realidade.

– Eles não vêem.- afirmou ele.- Afinal paguei-lhes bem para, secretamente, deixarem-me falar contigo e para não abrirem a porta até eu o autorizar. Afinal de contas não quero qualquer tipo de interrupções.

Olhei para o chão, mais uma vez derrotada. Como pode o dinheiro comprar o nosso julgamento entre o que é certo e o que é errado? Mesmo paspalhos aqueles idiotas que se fingem figuras de autoridade. Não sabem o que perderam. Aquela mulher valia o dobro de qualquer quantidade de dinheiro que o violador lhes deu.

– Não desperdicemos o nosso tempo, então.- disse-lhe.- O que queres, Raúl?

O chefe do orfanato sentou-se na cadeira onde eu me sentara há poucos minutos. Cruzou as pernas e fitou-me, como se saboreando a ansiedade que saia, com um cheiro muito característico, dos poros da minha pele.

– Algo muito simples, na realidade.- confessou-me.- Apenas quero a tua palavra.

– Para que necessitas da minha palavra?- questionei-o.

Inclinou-se e colocou as suas mãos na bengala que usava em situações que este objecto que lhe poderia trazer qualquer vantagem, qualquer ilusão de conhecimento ou de cavalheirismo, qualquer “Um homem de bengala é sempre civilizado”. Uma mentira que não lhe saia da boca.

– Necessito dela porque não tenho nada onde possas assinar.- respondeu ele, com alguma maldade no semblante.- Quero fazer um acordo contigo.

Um acordo? Eu sabia o quão perigoso um acordo com este homem se podia tornar. Talvez tão perigoso, ou mais, do que prometer um primogênito a Rumpelstiltskin. Raúl era conhecido por ser um homem de sua palavra, mas também por castigar quem não cumpre a sua. Mas não sabia até onde podia seguir tais rumores, já que ele também é referido como um homem de honra (e sei o quão isso está errado).

– Porque haveria de querer fazer um acordo contigo?

Sorriu, como se soubesse qual ia ser a minha reação.

– Porque tu tens algo que eu quero e eu tenho algo que tu queres.- confessou.

– Duvido.- afirmei.

Sem mais demoras, e ainda usando o mesmo sorriso assustador, Raúl tirou um documento do bolso do casaco e entregou-mo. Assim que o li, a minha alma estilhaçou-se em pedaços.

– Como é que…?- tentei perguntar, mas a dor latejante no peito não me deixou terminar a questão.

– Consegui a tua atenção?- perguntou ele quando o sorriso subiu-lhe aos olhos. A sensação de vitória vinda dele era sufocante, mas não havia nada que eu pudesse fazer para contrariá-la. Estava tudo perdido.

** Castiel’s Point of View**

A manhã começou com uns resplandecentes raios de sol, mostrando, esperava eu, o também resplandecente dia que estava a nascer. Christian saltitava e cantarolava, esperançoso quanto à assembleia de hoje. Esperava a irmã há muito e queria-a de volta o mais rápido possível. Tanto que andava a tentar preparar a torta preferida dela. Porém como ainda não sabia ler muito bem a tarefa de se guiar por uma receita escrita tornava-se difícil.

– O que está aqui a dizer?- perguntou-me, apontando para o papel.

– “1 colher de sobremesa de maisena”.- li.- Deixa isso Chris. Temos de nos apressar para chegarmos a tempo ao tribunal.

O rapaz, mesmo chateado com a interrupção da sua confeitaria, seguiu-me. Enquanto nos aproximávamos o semblante carregado dele tornava-se num mais suave, num sorriso de espetativa.

– O que vais dar à minha irmã quando ela sair da prisão?- perguntou-me ele.

– Eu? Porque haveria de dar-lhe alguma coisa?

– Para que ela se sinta bem recebida e para perceber que todos tivemos saudades dela.- respondeu-me, inocentemente.- Até tu.

… Este rapaz às vezes assusta-me com as conclusões que tira.

– Olha lá miúdo eu só estou a fazer isto…- tentei dar-lhe uma explicação que não envolvesse qualquer possível sentimento pela irmã dele.

Christian interrompeu-me, como se aborrecido com as minhas explicações:

– Sim, sim. Diz o que quiseres. Se eu fosse a ti…

Desta vez fui eu a interrompê-lo. Além de não precisar de nenhum conselho, de nenhum tipo, de um rapaz de dez anos senti uma mudança radical à porta do tribunal. Em vez dos típicos dois ou três jornalistas dos jornais locais encontravam-se, mesmo ali, acerca de vinte repórteres vindos de todos os cantos do país. Algo se passava. Algo de errado se passava.

Enquanto pensava no assunto, Faraize veio ter connosco. Ao ser questionado sobre aquilo que me assombrava, o advogado respondeu-me:

– Aparentemente foi o próprio Raúl que convocou todos estes jornalistas. Não deu qualquer explicação a nenhum deles, apenas referiu que seria uma notícia digna de primeira página.

Com isto, Faraize apressou-nos a entrar para a sessão começar. Antes de entrar olhei o céu. Estava enevoado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Mapa Cor-de-Rosa" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.