O Mapa Cor-de-Rosa escrita por Melanie Blair


Capítulo 28
Responsabilidade


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo é grande para comemorarmos o primeiro ano de "O Mapa Cor-de-Rosa" (já foi à quase quatro meses, mas mais vale tarde que nunca).
Este capítulo é grande para vos compensar do tempo que não postei.
Este capítulo é grande para agradecer a todos os que acompanharam (e acompanham) esta fic.
Muito obrigada, desculpem e boa leitura.



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Castiel POV-ON

Aos pontapés, Esmeralda foi levada até ao lugar do réu. Depois dos guardas a largarem, percebi que ela ia fazer um dos seus gestos obscenos (um toma, acho), mas deteve-se. Faraize, ao meu lado, murmurou:

– Ela tem uma personalidade muito forte, não tem?

Eu respondi-lhe:

– Conhece o provérbio “O que me desejas, que te dêem o dobro”?- Faraize acenou.- Se lhe desejasse algo de mau, ela não só lhe daria o dobro como também uma cacetada com uma frigideira.

O advogado riu-se, percebendo onde eu queria chegar.

– Senhora Thompson!- chamou o juiz, tentando despertar uma Esmeralda que ainda tentava descobrir como amaldiçoar os guardas sem ser vista. Assim que acordou, mirou o juiz e, com a maior calma do mundo, corrigiu-o:

– Menina se faz favor.- assim que a ouvi, bati com a minha testa na mesa, três vezes. O plano não era ela ficar calada?

– Menina Thompson,- repetiu o juiz, pouco bem-disposto- ouviu tudo o que aqui foi dito, não é verdade?

Ela acenou a cabeça.

– Há algo que queira acrescentar antes dos advogados começarem a questionar?

– Sim, quero.- admitiu. Senti Raúl a impulsionar-se para a frente, como se interessado no que haveria de vir. Atrás de mim ouvia Christian a apostar que ela iria fazer merda.

– Quero, por favor, que me explique qual o critério que vocês usam para empregar aqueles sacanas.- disse, apontando para os guardas que a tinham trazido- São uns imbecis que nem atar as suas atacas conseguem e que não têm qualquer esperança de arranjar mulher. Já que essa pobre não podia contar com o marido nem para martelar um prego. Eles têm que proteger as unhas, percebe?

O auditório encheu-se de risos. Raúl, sem exceção, gargalhava um “Sempre a mesma teimosa!”. Enquanto procurava uma pedra para atirar à cabeça da tábua, Faraize suspirou um “Pelo menos foi bem-educada”. Se isto continuasse assim, os jornalistas teriam muito que vender pela manhã de amanhã…

– Ordem! Ordem!- ordenou o juiz esperando que todos se acalmassem.- Menina Thompson, peço-lhe que guarde esse assunto para depois de ser considerada inocente e para alguém que se interesse por essa sua situação.

Esmeralda, com um sorriso confiante, finalizou:

– Assim farei!

– Voltemos então para o importante.- informou o senhor juiz virando-se, de seguida, para o advogado de Raúl.- A acusação pode prosseguir.

O advogado de acusação avançou até se encontrar cara a cara com Esmeralda.

– Peço permissão ao tribunal para questionar a menina Esmeralda.- pediu o mesmo.

O juiz cedeu ao pedido e Esmeralda foi encaminhada até à cadeira das testemunhas. Aí, assim que colocou a mão na bíblia, fez o juramento de que diria só e apenas a verdade. E foi, também aí, que tive um péssimo pressentimento. Não sabia por quem ou porquê, mas sabia que algo ia correr terrivelmente mal.

Virei-me para trás e encarei Christian:

– Quão católica é ela?

Ele, surpreendido com a minha questão, respondeu-me com outra:

– Porque queres saber?

– Para começar a ponderar as possibilidades de ela fazer asneira.- respondi.

Faraize, apercebendo-se que o rapaz ainda não tinha percebido nada, explicou a minha tese:

– O senhor Castiel está curioso sobre até que ponto a tua irmã está disposta a fazer aquilo que jurou.

– Quero saber se há possibilidade de ela inventar algo que não a verdade.- acrescentei.

Christian, finalmente percebido, baixou a cabeça e murmurou:

– Bem… ela não é muito católica…

Suspirei. A cada passo que, aparentemente, dávamos em frente, na realidade, caímos de uma ponte. Eu não gosto de água fria. Logo espero que a tábua faça, pelo menos, a sua parte e diga a verdade. Pode ser que assim nos mantenhamos mais algum tempo na superfície. Pelo menos o tempo necessário para conseguirmos provas fortes o suficiente para dar cabo de Raúl, de uma vez por todas. Porque, afinal, só podíamos contar com a verdade para nos tirar de grandes sarilhos.

–Menina Esmeralda,- começou o advogado- onde estava no dia do suposto roubo?

– Estava a trabalhar.- respondeu ela, simplesmente.

– E onde é que trabalha? Faz o quê?

Ela suspirou. Como se soubesse que esse era um ponto fraco. Um ponto fraco que eles, a acusação, conheciam. Um ponto que eles jogariam a favor deles. Um ponto perigoso.

– Sou bailarina num bar.- confessou.

– Num bar?- perguntou ele, sem surpresa.- Suponho que existam por lá muitos homens desrespeitosos e com segundas intenções, que só pensam em…

Faraize levantou-se, interrompendo o cretino:

– Meritíssimo, o senhor advogado não está a questionar, está a supor. E não vejo qualquer relevância nessas suposições para o caso.

O juiz acenou a cabeça, concordando:

– Senhor advogado, perguntas pertinentes por favor.

Esmeralda sorriu ao nosso advogado, agradecendo-lhe silenciosamente.

O “submisso” de Raúl voltou-se, novamente, para Esmeralda:

– Sabe dizer-me onde estava o seu irmão durante esse mesmo dia?

– Não.- respondeu ela.

– Não sabe? Que tipo de tutora não sabe onde se encontra a sua criança?

– Uma supervisora que trabalha, ao contrário de certas pessoas que fingem que trabalham.- ripostou a tábua mirando o violador, causando mais gargalhadas aos jornalistas que num frenesim apontavam tudo o que pudesse vir a causar um escândalo.- Além disso, eu confio nele. Christian não é uma criança, como você tinha dito, ele já é um homem. E um homem precisa da sua quantidade de liberdade.

– Não terá sido essa liberdade que nos terá levado até aqui?- atacou ele.- Onde está o seu senso de responsabilidade?

Aproximou-se mais dela e continuou o seu ataque:

– Como consegue viver consigo própria?

Tive que me controlar para não me levantar e mostrar-lhe um pouco daquilo que um marinheiro é treinado para fazer quando encontra um pirata. Quem era ele para julgar Esmeralda? Ela podia ser teimosa, tosca e, mais importante, uma tábua de passar roupa, mas ninguém podia contrariar uma grande qualidade dela: ela é uma ótima irmã… Quando tudo isto acabar o maldito do advogado nem vai conseguir tomar banho, com medo de eu aparecer por entre a água.

Ao contrário de mim, Esmeralda encontrava-se surpreendentemente calma. E, tal como o advogado, aproximou-se dentro do já pouco espaço que existia entre os dois (até os narizes dos dois se encontrarem a milímetros de distância) e repostou:

– E o senhor? Como consegue viver consigo próprio? Como consegue viver sabendo que poderá a arruinar a vida de um rapaz inocente ao colocar a sua irmã, a única família que ele tem, na prisão?

O advogado recuou, como se ferido por uma bala. E Esmeralda, confiante com a reação dele, continuou:

– E pergunto-me qual o número de casos que o senhor condenou, sem certezas, e quantas vidas e futuros ceifou. Tudo porque o homem com maior quantidade de dinheiro lhe dizia que era o correto.- sorriu e piscou o olho ao já aterrorizado advogado.- Parece que nós os dois temos muito que confessar no que se trata a falta de responsabilidade.

O tribunal encheu-se de um silêncio perplexo. De repente, o escrevinhar no papel voltou a ouvir-se, em força. Olhei Raúl que, em vez de chateado, continuava a sorrir com admiração e afeição para Esmeralda.

O advogado, por sua vez, não sorria para Esmeralda. Parecia ter mesmo medo dela! Tanto que, sem conseguir olhá-la nos olhos, voltou-lhe as costas e murmurou, desistindo:

– Não tenho mais questões.

Enquanto conseguíamos ouvir Christian a gritar “Vitória!”, Esmeralda voltava, com uma auréola de confiança, para o seu local inicial. E enquanto eu avisava Christian que celebrar antes do tempo dava azar, o advogado, depois de respirar fundo diversas vezes, informou:

– Gostava de chamar a testemunhar o talhante do talho que o presunto em questão foi roubado.

Aí, um homem careca, gordo e com bigode ergueu-se do público. Sentou-se no mesmo lugar onde estivera Esmeralda. Puxou a cadeira à frente de tal forma que a gordura da barriga subiu para cima da mesa. Nesse momento, a irmã de Christian soltou uma gargalhada no meio de uma audiência silenciosa. “Histérica!”, pensei.

– Do que achas que ela se está a rir?- perguntou Faraize ao puto. Este último estudou a irmã e sorriu:

– Bem, nós não somos gêmeos por isso não lhe posso ler o pensamento nem nada do gênero.- começou ele.- Mas acho que ela está a pensar “Aquele deve comer mais do que vende!”.

Era algo que ela podia dizer. Por tal, eu não consegui conter-me e gargalhei enquanto Faraize tentou, em vão, manter a sua postura rígida de advogado.

O talhante, tal como a tábua de passar roupa, fez o juramento e o advogado de acusação reiniciou o seu ataque de questões:

– Senhor é verdade que lhe roubaram um presente no dia X deste mês?

– Sim, é verdade.- respondeu o bigode.

– Pode, por favor, contar-nos como tudo se passou?

– Claro.- começou o talhante.- Estava eu a cortar um presunto, numa tarde normal, quando um rapaz chegou ao talho e pediu umas costeletas. Os poucos segundos que eu demorei a ir buscar as mesmas, o rapaz desapareceu, tal como o presunto.

Respirou e continuou:

– Só tive tempo de ir à porta e vê-lo a correr pela rua com o presunto debaixo do braço. Tentei persegui-lo mas com esta idade…

Esmeralda voltou a manifestar-se e Christian voltou a explicar-nos:

–“… e com esta barriga…”.

Voltámos a rirmo-nos. Estava a estranhar vê-la tão calma. Era ela que estava preocupada com os “meios” e mais não sei o quê…

Faraize, percebendo o que eu estava a pensar, disse-me:

– Rir é uma forma de nos acalmarmos. Ela deve estar tão ou até mais nervosa que nós, mas ela tem de manter a compostura de alguém confiante para o bem dele- olhou para Christian- e talvez até para o nosso próprio bem. Esta é a sua maneira de nos mostrar que confia em nós.

Observei as costas de Esmeralda. Só espero que as suas espetativas em nós não sejam destruídas.

– Se visse o rapaz, seria capaz de reconhecê-lo?- continuou o advogado.

– Claro!- respondeu o inquirido, olhando por momentos para a plateia e, de seguida, apontando o dedo na direção do puto.- É aquele fedelho!

Nesse momento, as galinhas saíram do galinheiro e começaram todas a cacarejar. Christian, o pintinho, olhava para o chão sem conseguir fitar os olhares frios que o resto dos animais lhe estavam a mandar.

Enquanto o juiz tentava repor a ordem, o advogado de acusação repetiu “Não tenho mais perguntas”.

Assim que a missão do juiz foi concluída com sucesso, ele perguntou-nos:

– A defesa quer fazer alguma pergunta a este senhor?

Encarei Faraize e disse-lhe:

– Acho que não vale a pena o esforço. Não sabemos a quantidade de almoços que Raúl já lhe pagou.

– Concordo.- referiu o nosso advogado, antes de se dirigir ao juiz.- Não, senhor meritíssimo.

– Então a defesa que prossiga com as suas testemunhas.- ordenou o juiz.

Faraize levantou-se e declarou:

– Gostávamos de chamar a testemunhar a menina Iris.

Esmeralda reagiu à nota do nome da amiga e virou-se, procurando-a no público. Assim que esta se levantou, a face de Esmeralda era uma mistura de felicidade e preocupação, enquanto que os olhos com olheiras de Iris refletiam apenas calma e algum cansaço. Calma ao ponto de tentar acalmar a tábua com uma língua de fora.

Iris, como testemunha, teve que sofrer o mesmo processo que Esmeralda e o talhante: mão na bíblia, juramento, etc.

Agora era a vez de Faraize (e não o outro cretino) a fazer as perguntas:

– Menina Iris, onde estava no dia referido?

– Em casa.- respondeu ela.

– O que fazia?- continuou o nosso advogado.

– Estava com Violette, a prepararmo-nos para irmos à feira no dia seguinte.

– E chegou a ir?

– Não, porque um menino muito travesso pediu-me para não ir.- sorriu Iris, olhando com ternura para Christian.

– O irmão da acusada?

–Sim.

– Porque faria ele isso?- questionou Faraize.

Iris respondeu, ainda sorridente:

– Aparentemente, porque Esmeralda tinha tido uma discussão muito feia com um amigo e Christian achava que a feira seria uma maneira de ela distrair-se e divertir-se.

“A nossa discussão!”, pensei enquanto Esmeralda, surpresa com o que estava a ouvir, virou-se e encarou o irmão. Com um sorriso nos lábios separou as sílabas da palavra “Malandro” de maneira a ele perceber sem ela ter que dizê-la.

– E acha que era possível, nesse dia, Christian ter roubado um presunto?- continuou Faraize.

– Não, impossível!- negou Iris.- Ele esteve connosco todo o dia! Desde as nove da manhã, antes da abertura do talho, até às sete da tarde, quando já se fazia noite e o levámos a casa. Christian nunca saiu da minha casa, e quando saiu, foi connosco. Se ele roubasse algo teria de ter sido depois da sete e nunca à tarde como o senhor talhante referiu.

Faraize sorriu e questionou:

– Tem provas que possam comprovar aquilo que afirmou?

Iris sorriu-lhe de volta:

– Violette pode vir testemunhar, mas duvido que diga algo diferente do que eu disse. Além disso, a dona da pensão onde vivo tem escrito num documento toda a pessoa que entra e sai no edifício e às horas que entra e sai. Sei que ela não se importaria de o mostrar.

O nosso advogado, satisfeito, afirmou, tal como o outro, um “Não tenho mais questões”.

– Acusação, tem algumas perguntas a fazer à testemunha?- o juiz perguntou.

O advogado de acusação ia-se a levantar, mas Raúl deteve-o.

– Não, meritíssimo.- respondeu o violador, em vez do cretino do seu advogado.

O juiz, surpreso, voltou-se para o júri e perguntou:

– Acham necessário chamar a próxima testemunha?

Porém, em vez do júri, quem se manifestou voltou a ser o pedófilo:

– Não há qualquer necessidade para isso.

Algo estava mal. Algo estava terrivelmente mal.

– Mas, senhor Raúl…- tentou o juiz, mostrando ao público mais do que devia, mostrando que apoiava a acusação.

Se Raúl não queria mais testemunhas, se não queria que o seu advogado questionasse mais, se não queria engendrar mais formas de mudar a história… Só havia duas hipóteses. Ou Raúl tinha, finalmente, visto que o que estava a fazer era errado e “fez-se luz naquela cabecinha” ou sabia de que de uma maneira ou de outra ele iria ganhar o caso, ele tinha um plano de reserva.

E foi por saber que a primeira hipótese era pouco provável de ser verdadeira que não festejei quando o juiz disse que o júri daria uma resposta ao caso no dia seguinte. Porque, normalmente, face ao nosso “espectáculo” de hoje seríamos nós os vencedores. Porque Raúl não provou nada, não conseguiu nada.

Normalmente. Porque, normalmente, a acusação não pode falar com o réu enquanto o caso não acabar. Porém, ali ia Raúl, seguindo os guardas que levavam Esmeralda para longe da nossa vista, para longe da minha protecção.

Estes são os meios dele hã? Bem jogado Raúl! Tenho pena é de não ter aqui o Dragon para morder nos guardas que te deixaram segui-la, mas que a mim não mo permitem. Tens sorte de eu não ter aqui o Dragon senão eu seguir-te-ia, descobria os teus planos e… dava cabo de ti!


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Notas finais do capítulo

Terminando as notas iniciais...
Este capítulo foi grande porque só postarei no final de junho, quando os exames terminarem. Desculpem, mas depois recompenso-vos. Obrigada.



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