O Mapa Cor-de-Rosa escrita por Melanie Blair


Capítulo 27
Acusação


Notas iniciais do capítulo

Feliz 2014!
Quase um ano de "O Mapa Cor-de-Rosa"!



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** Castiel Pov-ON **

Escusado dizer que esta última semana tem sido um inferno. Pouco dormimos. Cinco sextos do dia eram ocupados a planear todas as possíveis estratégias que poderão ter de ser usadas em tribunal. O restante do dia era passado entre intervalos desses mesmos planeamentos, entre sestas. Mas nunca se dormia. Tentava-se dormir. Não importava o quão esgotado estava. A verdade era que nem nesses intervalos, em que supostamente os assuntos deviam ser arrumados e esquecidos, o julgamento deixava-me em paz. E principalmente, nem quando até dormir parece cansativo, o sorriso triunfante e nada ameaçado de Raúl me deixa descansar.

Por isso seria de esperar que me sentisse algo aliviado por ter chegado finalmente o dia do julgamento. Mas isso não correspondia totalmente à verdade.

Porque, na verdade, sabia que não seria hoje, ainda, o dia em que ia dormir. Além da anormal quantidade de cafeína ser a única coisa que me mantinha de pé (mas que se continuasse no meu corpo, manter-me-ia acordado por duas semanas), toda a ansiedade que sentia deixava-me bem mais desperto que todos os descafeinados que pudesse tomar.

No entanto, tentava a todo o custo esconder o meu nervosismo (mas eu sou um homem ou um rato?). Alguém tinha de manter a compostura. Pelo bem do miúdo. Era nestas alturas que agradecia à minha reputação (que demorei a espalhar) de “despreocupado” e “insensível”.

Esperávamos o início da batalha. Estava sentado ao lado de Faraize que parecia preocupado (até demasiado) com a organização da mesa. Será que as canetas ficam melhores à frente dos papéis? Ou ficam melhores à direita? E os papéis? Será que estão bem alinhados?

Irritado com o nervosismo nada profissional do advogado, olhei para o banco de trás, onde se encontrava Christian que ansioso, roía as já cortadas unhas. Assim que me fitou, pisquei-lhe o olho, tentando transmitir-lhe alguma confiança.

Nesse momento a acusação entrou no tribunal. Aquele homem vinha na frente. Surpreendido, percebi que ele não trazia uma multidão de pessoas, como eu estava à espera. Vinha apenas acompanhado do seu advogado, gordo e careca, o total oposto do nosso.

Sem escrúpulos ou timidez, cumprimentaram pelo primeiro nome todo o pertencente do júri, que desde cedo se sentara ali. De seguida, e ambos com largos sorrisos, dirigiram-se a nós e estenderam-nos as mãos, à espera das nossas.

Faraize foi o primeiro a reagir. Cumprimentou o advogado de acusação que disse:

– Que ganhe o melhor!

Esta exclamação pareceu surpreender Faraize que, ainda sorridente, ripostou:

– Oh, vá lá! Ambos sabemos que isto não se trata de quem ganha!

– Tudo na vida é acerca de vitórias.- finalizou o outro, deixando o meu advogado estupefacto.

A seguir apresentou-se o nojento. E, embora relutante, apertei a mão que ele me estendera. De repente, aproximou-se e segredou-me ao ouvido:

– Pronto para perder a sua Esmeralda?

Faraize também ouviu. Se não fosse o olhar do mesmo a advertir-me para não lhe responder, acho que lhe teria partido uns cinco dentes (duvido que, com a sua quantidade de juízo, tenha os do ciso). Era nestes momentos que lamentava não ter a minha Springfield M1903 por perto. Ou pensando melhor, acho que o meu cão podia fazer alguns estragos. Afinal, Dragon adorava salsichas pequenas.

E como se nada tivesse acontecido, voltou a afastar-se. Ofereceu-nos mais um dos seus sorrisos falsos e cantarolou:

– Boa sorte!- e regressaram para a mesa deles.

Ao ouvirmos murmúrios vindos do júri, tanto eu quanto Faraize percebemos o que se passava. Percebemos para que serviam os cumprimentos, os sorrisos, os votos de boa sorte… Tudo servia para agradar o júri. Porque, afinal, eram aquelas pessoas, e não o juiz, que decidiam a sentença do acusado. Ou seja, se o júri os considerasse como elegantes e educados, eles estariam um passo à frente de terem a sua confiança. Estariam um passo à frente de conseguirem o que queriam. Olhei cada um do júri e perguntei-me: Quem dentro destas pessoas já foi “comprada” pelos “meios” de Raúl?

Como se ouvisse os meus pensamentos, o miserável voltou a levantar-se e foi trocar ideias com os elementos do júri. Tratava-os como se fossem seus amigos próximos, abordando assuntos como família, emprego… Que cão!

Faraize tentou persuadir-me a ir, pelo menos, cumprimentar os mesmos. Recusei. Iria ganhar, iria ilibar Esmeralda da acusação, independentemente das vezes que Raúl lambesse as mãos do júri. Não, não iria, de modo algum, dar de mão beijada a tábua para aquele molestador de crianças.

Aí, felizmente e para calar os ganidos de Raúl, o juiz entrou no compartimento. Em sinal de respeito todos nos levantámos. Assim que sua Excelência se sentou, todos tivemos permissão para fazer o mesmo. Pegou no seu martelo e declarou, numa voz solene:

– Declaro aberta a sessão!- o martelo foi soado.- A acusação que explique o caso ao auditório e ao júri.

– Sim, Meritíssimo.- levantou-se o advogado de acusação.- Para explicar o caso tenho de regredir dois anos e explicar-vos a situação da Menina Esmeralda. Esmeralda esteve desde os seus seis anos no orfanato. O seu irmão, o acusado do crime, conheceu o orfanato desde as suas primeiras semanas de vida. Assim que Esmeralda chegou à idade adulta, decidiu sair do estabelecimento e ficar com a tutela do irmão.

“Que mentirosos!”, pensei, “Ela teve que fugir para conseguir a tutela de Christian!”. O juiz, aborrecido com a pouco expressividade do advogado, reclamou:

– Seja rápido.

– Sim, Meritíssimo.- continuou.- Para ter a tutela legítima do menor, Esmeralda teve que assinar um acordo que declarava que se três regras do mesmo não fossem cumpridas, o orfanato tinha direito de ir buscar o irmão. Entre muitas regras estavam, por exemplo, a regra da visita regular ao orfanato, a regra de dar uma boa vida ao menor e, como não podia deixar de estar, as regras de educação. Todas estas três não cumpridas.

Respirou e voltou a falar:

– A testemunha que revelou a falta de educação do acusado, assim que confrontada, voltou atrás na sua palavra. Porém, um talhante local revelou que foi o mesmo menino que lhe roubou um presunto que foi, mais tarde, encontrado numa prateleira a baixa estatura na casa da família do acusado.

O juiz interrompeu o advogado:

– Um presunto? Entraram em julgamento por causa de um presunto?

– Não, Meritíssimo. Entrámos em julgamento porque os criminosos mais procurados começaram por fazer pequenos roubos a nível local. Entrámos em julgamento para podermos prevenir-nos de um mal que, sem julgamento, nos poderia afetar no futuro.

Todo o tribunal colocou-se numa balbúrdia. Tanto o juiz e o júri acenavam a cabeça, em compreensão e concordância com as palavras ditas pelo senhor “vitória”. Mas eu tinha outras coisas em que pensar. Christian, atrás de mim, era mirado “de alto a baixo”, julgado, incriminado por algo que não fez. Sem pensar duas vezes, virei-me para as raparigas que o criticavam em voz baixa e disse-lhes:

– Olhem para mim, que eu sou mais giro… e solteiro!- pisquei-lhes o olho. Elas, em resposta, coraram e mudaram de assunto de conversa. O miúdo sorriu-me, agradecido.

– Ordem no tribunal!- bateu o juiz com o martelo. Voltámos todos ao silêncio. O advogado teve nova permissão para falar.

– Como eu estava a tentar dizer…- continuou.- Em situações normais, o menor seria levado de novo para o orfanato, sem discussão possível. Porém, Esmeralda decidiu que o irmão não teria culpa, que a culpa seria da má educação que ela lhe tem dado, logo deveria ser ela a voltar ao orfanato. Assim, e depois de diversas discussões, acordámos em mudar o acordo e permitir que seja Esmeralda a castigada.

Christian aproximou-se do meu lugar e sussurrou-me:

– Que discussões? Ele ficou tão contente com a proposta de Esmeralda que concordou logo!

– A defesa acredita que o presunto não foi roubado pelo acusado.- concluiu o advogado.

O juiz coçou o queixo.

– Se por ventura,- começou o Meritíssimo.- for concluído que o acusado realmente não roubou o presunto… Que se sucederá?

Raúl falou pela primeira vez:

– A regra das três regras ainda estará intacta. O acordo ainda estará cumprido. O rapaz estará inocente e Esmeralda poderá voltar a sua casa.

– E se o rapaz for culpado?- perguntou o juiz.

– Esmeralda terá de voltar ao orfanato. A duração desta “pena” será decidida pelo júri.

O Meritíssimo acenou a cabeça, em compreensão.

– Traguem-na!- ordenou aos guardas que se situavam na porta traseira do compartimento.

De seguida, a porta foi aberta. As máquinas fotográficas dos repórteres presentes na sala dispararam, mostrando uma rapariga que tentava dar uma cotovelada no estômago dos guardas que, abruptamente, a traziam.


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Notas finais do capítulo

Pessoal este talvez seja o último capítulo antes das aulas começarem de novo. Se for aqui vai o aviso- o ritmo de postagem diminuirá de novo!



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