O Mapa Cor-de-Rosa escrita por Melanie Blair


Capítulo 22
Lambe-botas


Notas iniciais do capítulo

Aqui está o último capítulo antes do início das aulas. Vai-me custar tanto o dia de amanhã :( :(
E, como já devem ter percebido, o ritmo de postagem vai diminuir drasticamente. Por isso aproveitem este capítulo!
A imagem da fic mudou. Gostaram ou preferiam a outra? Eu já desenhei a minha própria capa, mas ando à procura de uma programa de edição...e a procura está dificil.
Vá, espero que gostem!



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LYNN

– Parece que já perdi toda a minha autoridade!- exclamou uma voz, completamente irritada.

No espaço de tempo entre abrir os meus olhos, já que o reflexo de os fechar se tinha manifestado por causa de um medo desmedido, todos os agressores se tinham afastado de nós, suas vítimas. Sem fitar o “autoritário”, corri para Victor, procurando uma forma de o poder socorrer, já que as suas feridas não eram, de todo, bonitas.

- Victor!- chamei-o, enquanto tentava que ele se mantivesse consciente. Ao perceber que o “quase-suicida” tinha uma perna partida, ira começou a nivelar-se no meu corpo. E o nível subiu e subiu…até não o conseguir conter por mais tempo.

Levantei-me e comecei a abrir caminho entre os agressores lambe-botas que, neste preciso momento, pediam desculpas ao seu chefe. O meu plano era simples: iria ordenar à ordem suprema daqueles tipos para que levasse o pobre magoado a um hospital. Ele se quisesse que “aquilo que eu sabia” (que nada verdade não sabia) se mantivesse em segredo, iria ajudar-me a ajudá-lo. Como eu disse, simples.

Mas o plano, inesperadamente, surtiu uma mudança de cento e oitenta graus quando avistei a cara da “autoridade máxima”.

- Então és tu a origem de todos os problemas?- perguntou-me o chefe.- Já devia saber que a moça impertinente iria, eventualmente, procurar-me.

Não seguia a conversa. Pelo menos, não a compreendi. Talvez porque ainda estava paralisada, ainda estava hipnotizada por aqueles olhos.

- Ah?- foi a única coisa que me saiu da boca.

- Prometeste-me uma recompensa.- explicou ele. “A sério?”, pensei.

Sem saber o que fazer, desocupei os bolsos do meu casaco, tentando encontrar algo que lhe pudesse agradar. No final da procura percebi que era improvável que ele precisasse de um de um lenço usado ou de uma sandes meio-comida. Levantei as mãos, como se me rendesse.

- Tiveste azar, maldisposto.- anunciei.- Vim despreparada. Não sabia que te ia encontrar!

- Então que vieste cá fazer?- inquiriu.

- Como estávamos a tentar explicar-lhe,- começou um dos agressores.- Ela soube do que fazemos…

Dajan interrompeu-o e fitou-me, esperando a minha explicação.

- Eu dar-te-ei todas as respostas que quiseres.- disse-lhe.- Depois de levares o Victor ao hospital.

A tez negra dele contraiu-se, enquanto ele considerava a minha proposta.

- Dizes-me toda a verdade?- voltou a insistir. Anuí.

Fez sinal aos seus cães de guarda. Devagar, avançaram para um sonolento Victor. Analisaram as feridas e Dajan suspirou:

- O mais crucial é a perna.- anunciou.- Tratem disso!

Virou-se para mim, enquanto deixava os submissos a discutirem o que deviam fazer.

- Não era suposto irem a um hospital?- perguntei. Ele ignorou-me e apenas me aconselhou:

- Tapa os ouvidos.

- O quê?- perguntei, não percebendo. Mas já era tarde de mais. Os gritos de Victor já me tinham chegado aos ouvidos.

Tentei perceber o que se passava, mas Dajan não me deixou. Começou a empurrar-me para fora da sala.

- O que estás a fazer?- perguntei-lhe, enquanto me debatia contra a força do seu braço no meu.- Eles estão a magoá-lo.

Sem me responder, colocou-me dentro de um escritório e fechou a porta, encurralando-me. Sentou-se numa poltrona no lado oposto do compartimento, e incentivou-me a sentar à sua frente. Um segundo grito ecoou o espaço. Voltei a encarar a porta. Levantei uma perna e fiz balanço.

- O que vais fazer?- perguntou-me. Como ele já me tinha feito por diversas vezes, não lhe respondi. Deixei as minhas ações falarem por si próprias.

Comecei a dar pontapés à porta, tentando encontrar um ponto fraco, um ponto que me deixasse salvar Victor, um ponto em que esta se abriria, mesmo sem a chave. Mas o resultado não foi, de perto, o que eu esperava. Não encontrei nenhum ponto fraco. A única coisa que encontrei foi a minha fatiga, nascida da meia hora de seguidos pontapés.

Dajan não me tinha parado. Nem erguido a voz. Ainda se encontrava sentado na sua poltrona preta de cabedal, com um ar confortável e com um sorriso nos lábios. Parecia que se estava a divertir com o meu esgotamento nervoso.

- Abre-me a porta!- pedi, exausta.- Ele precisa de ajuda.

Riu-se.

- Provavelmente já devia ter-te dito isto,- começou.- mas eles não estou a magoá-lo, estão a curá-lo!

“O quê?”, pensei.

- Então porque é que ele grita tanto?- questionei.

- A perna dele está com esta curvatura,- explicou enquanto gesticulava- eles, sem qualquer medicamento ou anestesia, têm que a colocar assim… Deve doer um pouco.

Só de pensar, já me doía. Rezei ao Buda para que as dores de Victor não fossem tão más quanto pareciam. Sentei o meu rabo no chão gelado, cansada. Tanto suor derramado para nada.

- Vamos à nossa conversa.- anunciou, voltando a convidar-me a sentar na cadeira (menos majestosa do que a dele) à sua frente. Sem mais desculpas, assim o fiz.

- Então,- começou, enquanto me ajudava a limpar as minhas próprias feridas.- Como é que vieste aqui parar?

Com mais algum tempo para pensar, dei mais uns detalhes necessários à história de há pouco.

- Esta tarde, enquanto dava um passeio pela cidade, ouvi uma balbúrdia no meio da rua. Parecia que era um homem a arranjar sarilhos num café. Ao aproximar-se, percebi que ele estava só e bêbedo, o que, não sei se sabes, faz uma má combinação. Por isso, já que ninguém se oferecia para se livrar dele, eu voluntariei-me para o trazer a casa. E estas foram as nossas boas-vindas.

Fitou-me, inexpressivo.

- Lembro-me de tu me prometeres dizer a verdade.- acusou-me.

- Como é que…?- comecei a perguntar, surpreendida pelo raciocínio dele.

- A tua história tem demasiados detalhes. Demasiados detalhes é sinónimo de demasiados factos. E como os teus detalhes não correspondem a factos, significa que algo está mal, que me estás a esconder algo, que me estás a mentir.

- Que detalhe é que te chamou a atenção?- inquiri, curiosa.

- Entre os teus muitos detalhes falsos, foi o simples facto de nada de Victor cheirar a álcool, logo ele nunca poderia estar bêbedo.

Fazia sentido. Ao relatar a minha história, nunca pensei que ele desse tanta relevância a tão pouco. Parece que tenho de ter cuidado ao redor de Dajan.

- Eu sei que ele tentou cometer suicídio.- anunciou.

Fitou-o, exaltada. Como é que ele sabia? Não contestei a sua afirmação. Sabia que ele era um detector de mentiras humano, logo mentir só me afundaria mais em problemas. E, se confirmasse, sentiria que estava a trair Victor, a quem tinha prometido, no meu interior, lealdade.

- Todas as pessoas na nossa profissão, numa altura ou outra, outras mais tarde outras mais cedo, tentam acabar com as suas vidas.- explicou à minha inquietude.

- Porquê?- perguntei.- O que é que a vossa profissão tem de tão ruim…?

E antes de terminar a minha questão, já tinha percebido. Já tinha percebido que algo de errado se passava, que algo de muito errado andava a acontecer.

- Porque essa é a única maneira de escaparmos, é a nossa única forma de morrermos com alguma dignidade.- disse, enquanto o olhar dele transmitia alguma espécie de tristeza.


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Notas finais do capítulo

Boa semana!



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