O Mapa Cor-de-Rosa escrita por Melanie Blair


Capítulo 21
Lealdade


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, "amoris"!
Agradecimentos:
À Filipah que teve que sair do animespirit para ler a fic aqui. Obrigada linda!
À Menininha Indefesa por ter dado uma oportunidade a esta fic e por estar a acompanhar. OBRIGADA!
A todos os que estão a ler/comentar/acompanhar. Muitíssimo obrigada!
Continua a história da Lynn!



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LYNN

– Vives num sítio espectacular!- exclamei, usando, em exagero, uma grande quantidade de ironia. Sinceramente, pouco gostava do sítio onde, neste preciso momento, colocava os meus pés. Não me identificava em nada com o azulejo partido nem com o ambiente depressivo do local. Mas também não era a mim que competia a decisão de viver ou não naquele fedor. Essa responsabilidade ainda pertencia ao corpo que se apoiava nos meus ombros, o mesmo que há momentos se tentara suicidar: tentativa cobarde de fugir aos seus problemas. Depois de, finalmente perceber que não era esta a atitude de um homem, aceitou a minha proposta de o acompanhar até casa.

– É, não é?- o corpo de cabelos pretos lisos riu-se.- Pelo menos, tem um tecto que não deixa passar a chuva.

Suspeitei que poucas mais condições aquela avenida podia oferecer. Poucas dúvidas tinha em relação a isso.

A avenida era preenchida por apartamentos em degradação, um vaivém de paredes caídas ou por cair (que não deveriam demorar muito a juntar-se à outra categoria). Pouca segurança transmitiam-me. Das janelas minúsculas saiam os cordões que suportavam as roupas sujas e ruídas pelas malditas traças. O real símbolo da pobreza. Por vezes dessas janelas aparecia uma ou outra cabeça que, com ou sem cachimbo, não escondiam o olhar de rancor. Controlavam, minuciosamente, cada passo, cada respiração minha. Era um pressentimento, no mínimo, estranho.

Enquanto tentava ziguezaguear o “cadáver” do homem da montanha-russa de lixo que se formava na estrada imobilizada, um barulho gravíssimo parou-me os sentidos: o barulho inconfundível do disparo de uma arma de fogo.

– Não te preocupes.- assegurou-me o suicida.- Isto é normal nestas zonas.

Anuí. Continuei a andar até chegarmos ao nosso destino, à casa dele. A estrada parava e ali, em frente àquela “sem-saída”, encontrava-se uma única casa, uma mansão. Pouco diferente era das restantes a não ser algo que conseguia, de modo desconhecido, fazer com que o meu corpo tremesse de medo.

Tentando esconder o sentimento que se acumulava no meu ser, balancei o meu peso, que pouca vontade tinha de se aproximar do edifício, até à entrada. Ainda a tremer, esforcei-me ao máximo e bati à porta que parecia desejar cair. Nenhum som saiu do seu interior.

– Lealdade é para pacóvios!- gritou o cadáver, atrás de mim. “Mas que raio?”, pensei.

A porta abriu, com certa preguiça. O cadáver, apressado, entrou na casa. Segui-o. Atrás da porta, erguia-se uma quantidade anormal de imóveis. E, ao contrário do que o exterior da mansão dava a crer, imóveis caríssimos. Entre as forradas de prata e ouro, encontravam-se obras de arte e esculturas que representavam tudo aquilo que eu nunca pensei, alguma vez, ver. Uma delas daria para o governo de uma vida completa.

– Surpreendente, não?- disse-me o rapaz.

– Só um pouco.- menti. Ele riu-se.

– O que fizeste, Victor?- perguntou um homem de pele pálida. Estava atrás da porta que, afinal, não se tinha aberto miraculosamente.

Victor, aparentemente o rapaz que eu tinha salvado, baixou a cabeça, como se para pensar no que havia ou não de dizer. Percebi que, por alguma razão, ele não devia contar o seu atentado de suicídio. Relatei a primeira (estúpida) ideia que me veio à mente.

– Ele perdeu-se no centro da cidade!- exclamei.- Parece que bebeu demais num bar e, com a bebedeira, perdeu a orientação. Estava a arranjar tantos problemas que tive que o ajudar.

Como foi uma ideia (estúpida) arranjada à pressa, o pálido não acreditou. Mas, talvez para não se chatear, deixou aquela investida passar.

– Isso, asiática- começou o “sem-cor”.- Não responde ao facto de ele te ter trazido aqui.

– Victor não teve escolha. Eu consigo ser muito persuasiva, pálido!- respondi-lhe da mesma maneira.

Riu-se. Assim que o riso passou a gargalhada, vultos ergueram-se atrás dele, saídos de todos os cantos não preenchidos pelos móveis.

– O que se passa?- perguntou um.

– Parece que o Victor falou demais a esta mocita.- explicou o pálido.- E consoante as regras… já sabem o que têm que fazer, não sabem?

A resposta dos outros foi um breve riso. Percebi que aquilo seria um sinal positivo. Formaram um círculo à minha volta, ainda com o sorriso na face.

– 1…2…- começaram a contar. Respirei fundo, receosa.

– Isto vai-me dar muito prazer.- disse o pálido.

–…3.

Aos três, todos saltaram para cima de mim. Agarraram os meus punhos atrás das costas, prenderam-me os pés e colocaram-me um pano na boca. Uma navalha foi descoberta do seu esconderijo, e mostrada, orgulhosamente, a mim. Voltaram a rir-se.

– Deixem-na!- ouvi a voz de Victor, que tentava abrir caminho pelo círculo de homens.- Eu não lhe contei nada!

Debati-me, tentando sair da rota da navalha. Gritei, mas o pano absorvia, quase por absoluto, todas as minhas tentativas de som.

– Sabias muito bem, Victor.- disse um, enquanto tentava afastá-lo de mim.- Sabias que ninguém pode saber de nós, ninguém pode saber do que fazemos…

– E se alguém souber…- continuou outro.-… esse alguém morrerá uma morte muito demorada e dolorosa.

– São as regras.- riu-se outro.

– Não é nada pessoal, querida.- acrescentou um, enquanto me afagava o rosto. Lancei a minha cabeça, que não estava aprisionada, contra a dele, criando-lhe uma circunferência vermelha na testa. “Poças!”, pensei, “Que pedra!”. Pelo menos, percebi que lhe tinha doído (talvez não tanto quanto a mim), já que ele cambaleou, como se se tratasse de um bêbedo.

– Ou será que é?- perguntou, retoricamente, o pálido. Voltaram a dar uma gargalhada de grupo.

Levaram a navalha até à minha coxa. Lentamente abriram um corte por toda a largura da perna. Gritei de dor.

– Ela não sabe de nada! Estão a ferir uma inocente!- tentou interromper Victor.

– E a pessoa que lhe contou,- ignoraram-no.- Será severamente castigada.

E com isto, o segundo corte foi deferido no meu braço esquerdo. Enquanto lágrimas começaram a tentar ultrapassar as minhas retinas, Victor gritou de dor. Entre a água que começara a reunir na minha visão, consegui perceber que ele estava a ser espancado, impiedosamente.

Depois de mais uns cortes ligeiros, a navalha foi apontada ao meu pescoço. Sabendo que aquilo seria o fim, fiz uma prece rápida:

“ Queridos avós,

Desculpem a minha cobardia. Desculpem o meu egoísmo. Desculpem a minha boca de trapos. Desculpem toda a minha mania que tantos problemas vos causaram. Desculpem a minha inutilidade. Desculpem-me por eu não ter conseguido. Por favor perdoem-me!

Se Deus for tão misericordioso como vocês, sei que nos encontraremos lá em cima. Onde nenhuma guerra ou ditadura nos poderá separar!”

Sustive a minha respiração, esperando o golpe que poria fim a tudo.

– Parece que já perdi toda a minha autoridade!- exclamou uma voz, completamente irritada.


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Notas finais do capítulo

Tentarei escrever mais um antes de começarem as aulas (segunda-feira), será que vou conseguir?
P.S. Será que ultrapassaremos os 100 comentários com este capítulo?
P.S.S. Para quem já está com saudades do Castiel e da Esmeralda, não se preocupem. Esses dois doidos devem estar a aparecer. Daqui a um capítulo ou dois, espero!



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