O Mapa Cor-de-Rosa escrita por Melanie Blair


Capítulo 20
Lamentações


Notas iniciais do capítulo

Feito hoje para cumprir promessa a certos comentários. Desculpem os erros. Continua a ser a Lynn a contar a história e ainda não será agora que compreenderão todos os motivos dela ok?
Agradecimentos:
A todos os 90 comentários que recebi até à postagem deste capítulo. Continuemos assim pessoal!
À Michiko Chan que começou agora a ler a fic. Sê bem-vinda flor!
Desculpem ter respondido aos vossos comentários só hoje! Desculpem desculpem. Vou tentar responder a tudo no mesmo dia!



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– Não acha que já aterrorizou em demasia esta pobre rapariga?- perguntou uma voz, enquanto espetava a arma contra a nuca do “destruidor de lares”.

Fitei o dono da arma. As minhas pupilas abriram, enquanto a surpresa e simultâneo esplendor surgem da cena. A surpresa derivava da cor da pele do homem que, ainda, não me olhara. Assim que tentei deixar de observar a mesma característica (“ Ele está te a salvar de um racista, Lynn. Tu dignas-te a fazer o mesmo?”, pensei), o esplendor seguiu-se. Era belo. Não sei se foi por aquele ser o primeiro negro que alguma vez tinha visto (logo não tinha termo de comparação) ou se ele era realmente belo. Tentei concentrar-me. Bem que podia ser belo, mas não deixava de ter uma pistola na mão, não deixava de ser perigoso.

Os que antes pareciam corajosos e os “maiores do mundo”, os que me tentaram cobrar um montante pelo qual eu não era responsável, deram emprego às pernas, encolheram o rabiosque e fugiram dali. Suspeito que os esteróides de estupidez lhe tenham saído dos poros. Ou isso ou compreenderam que os casacões caríssimos nada fariam contra uma bala. Fiz uma vénia à estreia do uso de inteligência daqueles cabrões.

– Obrigada.- sussurrei enquanto me levantava do chão.

Ele ignorou-me, como se nada tivesse saído da minha boca, como se não me tivesse ouvido. Não querendo passar por mal-agradecida, voltei a agradecer, desta vez mais alto.

– Eu ouvi-te da primeira vez.- explicou o homem de cor.

– Como não disseste nada, pensei…

Finalmente dignou-se a fitar-me. Afinal o “esplendor” não era, de todo, a palavra ideal para descrever aquele pedaço de humanidade. Talvez,… sim… talvez “demoníaco” resultasse. Sim, parece-me bem. Assim que mergulhei naqueles olhos castanhos, como se se tratasse de um doce chocolate quente, percebi que havia algo no aspecto físico dele que apenas não combinava com os padrões de beleza normais. Não tinha a ver com o facto de ser negro, nem o facto de ser o único negro que já vi. Ele seria belo aos olhos de todas as pessoas, de todos os países. Aquele chocolate encantava-nos (pelo menos a mim) e fazia com que todos nós fossemos inferiores à magnitude de confiança irradiada por ele. Não importava o nosso nome, o cargo que impúnhamos…seríamos insectos comparados àqueles olhos. Como se tivessem sido criados pelo demónio mais maligno do fundo do mais escuro inferno. Uma beleza demoníaca, maligna. Compreendi que se me afogasse naquele delicioso chocolate, só me iria aperceber quando fosse demasiado tarde, quando não havia hipótese de voltar à superfície.

– Não tenho que responder a tudo o que dizes.- murmurou.- Não há leis que me obriguem a isso.

Tentei concentrar-me na conversa.

– Também não há leis que permitam o porte de armas e aqui tens uma nas tuas mãos.- disse-lhe com confiança.- E “responder às conversas de outros” é uma regra sim. Está escrito, em letras garrafais, no livro de boas maneiras.

Ao ouvir-me, riu-se. Talvez tivesse sido um riso falso, porque quando me mirou de novo, a sua face contorcia-se com uma expressão de seriedade e até, algo contida, fúria.

– Veja como me fala, moça.- advertiu-me.- Afinal ainda tenho a arma na mão…

– Não seria uma falta de princípio salvar uma “moça”- usei a mesma designação usada por ele, que nada me tinha agradado.- para matá-la de seguida?

Sorriu.

– Depende do quão impertinente for a moça.- explicou-me, ainda com o sorriso na cara. Percebi que estava mais calmo. Senti a minha cara a expandir-se num sorriso. Parece que até o sorriso dele era contagiante.

– Vou ter cuidado.- disse. Comecei a encaminhar-me para longe dele. Sentia que se permanecesse muito tempo ali, a seu lado, perderia o controlo da minha mente e ele passaria a controlá-la, como se eu não fosse que um brinquedo.

– Ah, quase me ia esquecendo.- comecei, enquanto me virava para fitá-lo.- Quando houver algo que eu possa fazer para te recompensar, diz-me.

E com isto, fui-me embora.

**

Não sei há quanto tempo já me tinha apercebido da sua presença. Há algum tempo, com certeza. Permaneci no meu local. Esperava que ele fizesse algo. Sabia que ele iria fazer algo.

Continuava a caminhar, para frente e para trás, como se considerasse o que devia fazer. Temo dizer-vos que a decisão estava a ser difícil de ser tomada. O engraçado de tudo isto, e o motivo por eu continuar a estar ali a olhar para o pobre homem, era a expressão de conflito que tinha na cara. Acho que nunca vi uma pessoa tão perturbada como ele. Perguntei-me se ele tinha um daqueles problemas horríveis que, na verdade, são bastante banais. Como, por exemplo, pedir a namorada em casamento, dar um par de estalos ao chefe e despedir-se, coisas do género. Parecia que estava pronto a partir a loiça toda (é pena não ter um parto para lhe dar).

Pelo menos, enquanto ele se decidia, tinha um sitio para esticar as pernas. O banco de madeira não era, de todo, o mais confortável mas pelo menos servia o propósito, pelo menos não cansava as pernas. Além disso, tinha algo que me entreter: a vista do oceano.

Estávamos num sítio denominado “Mar de Lamentações”, por motivos que eu desconhecia. Porque chamar um nome desses a uma paisagem tão bonita? Era final de dia, e o sol, ao mergulhar nas águas frias, emitia todas as cores que possam imaginar. Eu, pessoalmente, admirava a mistura de amarelos e roxos. Sentada perto de onde a terra, a pique, se despenhava, sentia-me como se estivesse num sonho. Acho que tal se devia a estar a admirar um céu que não tem os cinzentos e pretos derivados dos motores da guerra. Era um pensamento, pelo menos, refrescante.

O homem, finalmente, parou. Parecia decidido e confiante. Debrucei-me, curiosa para ver o que ele faria. Lembram-se de eu questionar-me acerca do apelido “Mar de Lamentações”? Pois, bem, arranjei rapidamente a resposta.

Ele recuou até chegar a um palmo de mim. Olhava para a frente, para o precipício. Colocou-se numa posição de partida.

– O que raios vai fazer?- perguntei.

Ele, sem me fitar, respondeu:

– Acabar com alguns problemas.- “O quê?”, perguntei-me. Percebi o que se iria suceder.

E começou a correr. Assim que chegou à beira do precipício, aquando se preparava para saltar (colocar o pé de impulso e coisas do género), uma mão agarrou na sua camisa branca e puxou-a. O homem, surpreendido, caiu de cu no chão. “Olha toma lá!”, pensei, “Bem feita!”.

Sentei-me o meu rabito redondo em cima do seu tórax para o impedir de se levantar. Não era o melhor assento onde já estive, mas tinha que fazer uns sacrifícios pelo bem público. Agarrei-lhe os pulsos e torci-os, assegurando-me que ele não iria colocar-me abaixo.

– Cabra!- resmungou ele.

– Olha lá pá!- zanguei-me.- Essas são as maneiras de falar com alguém que te salvou a vida?

– Alguém te pediu que me salvasses?- perguntou-me retoricamente.- E se eu não quisesse ser salvo?

Fitei-o. “ Que puto armado em esperto!”, pensei.

– Se assim foi é porque tu nem tens grande inteligência!- afirmei.

– Tu não me conheces cabra!- exclamou- Vai morrer no inferno!

Farta da sua mal educação, levantei-me um pouco e depois, com a maior força que pude reunir, saltei para cima daquele ponto sensível dos homens (vocês sabem qual é, né?). O rapazito, coitado, ficou sem ar.

– Filha da…!- interrompi-o.

– Vamos lá falar com modos.- comecei, assim que ele me virou a cara, recusando a ideia, argumentei.- Ainda tenho energia para saltar mais umas vezes para cima do teu amigo…

Finalmente colocou-se direito. Incentivei-o a falar.

– Não é fácil de explicar.- iniciou.- Não é algo que te possa falar.

Não o obriguei. Afinal eu sei o que é ter segredos…

– Nada é resolvido com a morte, sabias?- perguntei-lhe.- E há tanto que a vida traz de fantástico que a morte não traz e perder tudo isso por causa de certos problemas… não vale a pena.

Fitou-me, surpreendido.

– Eu acredito na vida para além da morte. Mas não acredito que seja uma vida como esta. Imagino o outro mundo como um sítio cinzento sem uma única forma de vida. Um vazio.- continuei.- Perderias as cores, os cheiros, os paladares, as memórias e, mais importante, as pessoas que amam e que te amam. E apenas ficavam remorsos daquilo que podias ter feito.

Baixou o olhar, pensativo.

– Mas a minha vida como está… é um pesadelo!- confessou ele.

– Então muda-a.- arranjei-lhe a solução simples.

– Não consigo…

Enervei-me. Como podia ele ser tão fraco? Porque não continuava a lutar? A vida não é um mar de rosas. Temos que lutar por aquilo que queremos. Temos que ultrapassar todos os desafios.

– Deixa de ser maricas e luta!- gritei-lhe.- Que tipo de homem és tu?

O homem corou, envergonhado. Levantei-me e ajudei-o a erguer-se.

– Vamos.- disse-lhe.

– Para onde?- perguntou-me, nervoso.

– Vou levar-te a casa.

– Eu estou em condições para ir sozinho.- assegurou-me.

– Não vou arriscar. Podes ter mais ideias suicidas.- expliquei-lhe.

Segui-o prontamente, enquanto ele me mostrava as indicações para a sua “casa”. Não estava era à espera do que sucedeu depois…


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