O Mapa Cor-de-Rosa escrita por Melanie Blair


Capítulo 17
Mecha


Notas iniciais do capítulo

Eu se, eu sei. Demorei muito tempo, eu sei. Desculpem, desculpem. Andei à procura de uma alternativa, de tentar adiar o julgamento. Porque já consegui alguém que me explicasse o que se sucede em tribunal, mas essa pessoa está fora do país e ainda não veio a casa :(
Mas consegui ter uma boa ideia e espero que gostem. Assim ainda virão alguns capítulos antes do julgamento. Não se preocupem...acho que é interessante desta maneira.
Música do capítulo: http://www.youtube.com/watch?v=xOm2fLucQ9g



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Pela manhã, como prometido, guardas atravessaram as portas do meu quarto. E, sem mais demoras ou preocupações pegaram-me, ainda com as roupas de noite, e levaram-me, abruptamente, para a carruagem-policial que me esperava. Sem misericórdia, colocaram-me na pequena cela presente atrás do cocheiro que, ansioso, puxava os cavalos, inquietos.

Tentando esconder o medo e angústia que sentia, acenei um adeus sentido ao meu irmão que, ao contrário de mim, não sorria.

Toda a viagem até ao meu destino foi demorada. Demasiado demorada. Infelizmente. Deu-me demasiado tempo para pensar, até nas coisas que deveriam permanecer “não-pensadas”. E se Castiel não conseguisse? E se Raúl tivesse os “meios” certos? E se passasse o resto da minha vida na crueldade do reflexo daqueles espelhos que tanto odiava?

Abanei a cabeça. “Não penses!”, gritei. Quanto mais imaginava as cruéis possibilidades de não ser bem-sucedida, mais elas pareciam realistas.

Cada árvore que passávamos, cada pássaro que nos ultrapassava, cada face que transpúnhamos, fitava-me, como se me condenasse pelos inúmeros crimes que imaginava que eu tinha feito. Era esse mesmo olhar que me fazia desejar ser pequena, invisível. Era esse mesmo olhar que, mesmo eu sabendo que não fiz nada, me fazia sentir envergonhada, incapaz de retribuir o olhar fugaz.

Felizmente, os cavalos pararam. Aquela eternidade, aquela eternidade com buracos nas estradas, tinha deixado mazelas nas minhas costas (marcas das grades, quando fui empurrada, continuamente, contra elas).

Avistei o edifício que seria a minha casa pelos próximos…poucos dias, esperava eu. Do pouco que conhecia, sabia que naquele lugar nada mais me esperava que um pesadelo, um longo e infindável pesadelo.

A minha chegada não poderia ter sido menos agitada. Os fortes braços dos guardas, que, novamente, transportavam-me da maneira mais fria possível, injectavam em mim uma dor imensa. Esta “nova casa” antes pintada com as mais ínfimas lágrimas, tinha-se tornado cinza.

Assim que entrei, percebi que este local, considerado “seguro”, não era menos perigoso que um cão enraivecido- conseguia ver as paredes a degradarem-se lentamente. Mas, pouco depois, compreendi que não era das paredes que eu deveria ter medo.

Ao percorrer o corredor que dava acesso a todas as celas da prisão, percebi que era de cada olhar, de cada gesto, de cada respiração do resto das prisioneiras (sim, é uma prisão feminina) que devia temer. Pelo menos, ainda permanecia o silêncio. Ainda…

- Novata!- gritou uma mulher. A partir daí, o barulho explodiu-me os ouvidos. Todas as prisioneiras, antes silenciosas, começaram a correr. Assim que chegavam ao limite do seu território, às grades da cela, expandiam, ao máximo, os braços, tentando alcançar-me.

Todas gritavam. Por qualquer coisa. Algumas por mais uma fatia de pão, outras por um simples copo de água.

- Auch!- gritei de dor, quando uma mão alcançou-me e conseguiu arrancar-me umas mechas do cabelo. Afastei-me, ao fitar a dona da mão. E, dos olhos castanhos irradiados de sangue, só distingui uma voz “Bem-vinda ao inferno na Terra!”.

Os guardas, pouco importados com o incidente, continuaram a puxar-me pelo corredor. Assim que encontraram a minha cela, trancaram-me e retornaram aos seus afazeres. Escondi-me no canto mais escuro do meu pequeno pedaço de mundo.

Castiel’s Post On

- Quanto tempo é que esta merda vai demorar?- perguntei, totalmente farto. Dr. Faraize reagiu à nota da asneira, mas ignorou-a, percebendo-me.

Estávamos a fazer directas desde anteontem, o que nos deixava num mísero estado de quarenta e sete horas e trinta e quatro segundos sem um minuto de sono. E saber que todas estas horas de pesquisa e trabalho estavam a ser em vão… era angustiante! Saber que até agora todos os planos que nos atingiram foram “ir à casa de banho” ou “beber mais um copo de café”…era angustiante! Saber que a cada minuto que passa Raúl pode conhecer mais um dos seus “meios invencíveis”…era angustiante!

Porque nós sabíamos de todos esses factos. Porque nós sabíamos que aquela tábua estava numa cela fria e solitária. Mas isso não nos ajudava. Conhecer tudo isso colocava-nos numa pressão tremenda de conseguir um plano rapidamente. E essa pressão apenas travava o raciocínio do cérebro, que já nos latejava de cansaço.

Bebi mais um copo de café, uma tentativa fraca de permanecer acordado e lúcido, enquanto Faraize voltava ao mesmo sermão que já ouvia há dois dias.

- Então…- começou ele.-… O acordo entre o orfanato e a acusada resume-se a um compromisso de educar Christian da melhor forma possível. Para tal este não pode ultrapassar três erros dessa “educação”. O primeiro foi a falta de comunicação entre Esmeralda e o orfanato, regra esta destacada no contrato. O segundo deveu-se à constante falta de maneiras do irmão da acusada, testemunhada por muitos terceiros. O terceiro erro foi o roubo…

E, como sempre, Dr. Faraize concluiu com o pensamento:

- Raúl não tem qualquer fraqueza neste contracto. Como se sempre tivesse planeado isto…

Suspirou. Baixei a cabeça, tentando pensar, outra vez. Recordei toda a história de Esmeralda, tentando encontrar uma “fraqueza”… Nada. Recordei tudo o que sabia sobre Raúl… Nada (ele era um pedófilo mas isso não nos ajudava em nada). Recordei o contrato e todas as suas regras parvas… Nada.

- Foda-se!- protestei, batendo na mesa.

- Deve existir algo em que possamos atacar.- confortou-me Faraize.- Devemos estar a ver nos sítios errados…

“Nos sítios errados…”, pensei. A expressão lembrou-me de quando Christian me procurou no porto marítimo. Ele parecia assustado e perdido. Como se estivesse no sítio errado…

- Já sei!- gritei, quando se fez luz na minha mente, quando recordei a conversa com o irmão da tábua.

Estávamos de facto a procurar em sítios errados. Estávamos demasiado concentrados em Esmeralda e no tentar ilibá-la do peso do contrato. Mas a chave não é ela, é Christian. O problema não é o contrato (talvez seja, mas não podemos começar logo por ele). O problema era o presunto. Se conseguíssemos provar que Christian não podia, de modo algum, ter roubado o talho, então o contrato ainda estaria de pé e Esmeralda seria libertada. Só tínhamos de procurar um sítio…

Levantei-me de repente. Dirigi-me à porta do escritório do advogado. Sorri ao dono:

- Como não nos lembrámos antes?- perguntei e saímos à procura das nossas provas.


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Notas finais do capítulo

O próximo virá o mais rápido possível. Mas não vos prometo que seja o mais rápido para vocês. Espero que tenham gostado.



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