O Mapa Cor-de-Rosa escrita por Melanie Blair


Capítulo 14
Polar


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo é narrado pelo Christian, o irmãozinho de Esmeralda.



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Christian

“O que estou eu a fazer?”, pensei enquanto percorria as ruas escuras, onde as lâmpadas acendiam e apagavam num vaivém de inseguridade e, principalmente, irritabilidade. Esperem lá…eu sei muito bem o que estou a fazer. Deixem-me reformular a questão “Como e onde terei de estar para o fazer?”. Sim, assim está melhor.

Tinha-me encaminhado para oeste, porque era aí onde, a minha escassa geografia me dizia que, o Oceano Atlântico se expandia. Seguia a velha mas preciosa bússola do meu pai. Era um objecto feito de ouro maciço, feita provavelmente na Renascença. Para os menos entendidos, essa época de artistas como Leonardo Da Vinci (Mona Lisa, estão a ver?) foi há muito, muito tempo. Logo, como o tempo e o material são factores valiosos, este instrumento de navegação era caríssimo.

“Então”, comecei eu, “Se o norte geográfico tem um desvio de sete graus quanto ao magnético… O oeste, consoante este norte, é nesta posição”. Agradeci aos livros velhos (nunca abertos) e aborrecidos da estante da bronca da minha tia. Segui os meus cálculos.

Andava à procura de algo que me indicasse que o meu destino estivesse perto, já que estava farto de caminhar. O mar já se via ao longe e a lua encontra-se alta, reflectida no negro oceano. Vi, finalmente, a placa que procurava.

– P…Por…Porto!- utilizei os meus conhecimentos base de “como ler”.

A primeira fase do meu plano estava, certamente, finalizada: encontrar o porto marítimo. Era aqui que os diversos navios, naus e outros eram aparcados. Agora, mais difícil ainda, era encontrar um entre tantos.

Tentei procurar nas popas de cada navio a letra “P”, pois assim era-me mais fácil do que ler cada nome de cada barco. Depois viria a letra “O”. Não precisei de mais letras. Com apenas estas duas consegui chegar ao meu destino: o barco “Polar Star”, que em português significava estrela polar (a maior referência de navegação de todos os tempos).

Se não me engano, ele disse-me que os marinheiros não podiam, de todo, abandonar o navio pelo menos até se tornarem capitães (estes, por uma lei de justiça injusta, podem fazer o que quisessem, quando quisessem). Para os marinheiros, um barco era mais que um barco. Para um marinheiro, um barco é “a maior amante de sempre. Uma amante com grandes mamas e com um belo rabiosque. Uma amante que não podemos deixar sozinha ou esta pode-nos ser tirada”, tinha-me dito ele.

Eu sabia que homens como aqueles, que passavam meses no alto mar, assim que chegavam a terra, passavam todos os dias nas tabernas, aproveitando os dias que ficarão sem uma pinga de álcool. Sabendo que a minha possibilidade de encontrá-los entre as dezenas de bares existentes ali era muito reduzida, fiquei sentado perto da nau, esperando algum sinal de vida.

Fitei o céu estrelado e a lua cheia mas, como a vista já não era nova e, sendo eu um rapaz que se aborrece facilmente, virei a minha atenção para a nau. Era linda, sem sombra para a dúvida! Além disso, quem disponibilizou a sua construção e viagens tinha que ser, certamente, muito rico. Devia ser daquelas pessoas que já não sabia onde mais poderia gastar o dinheiro que ainda lhe sobrava. Quem me dera estar nessa situação.

Tal como a minha bússola, tinha partes que eram ou de ouro massivo ou de uma boa imitação do mesmo material. Todo o resto era feito de madeira de pinheiro trabalhada, ao pormenor. Detalhes como algas, peixes e até redes eram perceptíveis e espalhadas por toda a nau que envergava, com orgulho, uma bandeira da monarquia inglesa.

Por fim, sinais de vida humana civilizada manifestaram-se. Luzes cobriram o meu corpo como se se interrogassem o meu nome. Reconheci a farda policial.

– O que fazes aqui, miúdo?- perguntou-me um.- Sabes que este sítio é perigoso à noite?

Não lhes respondi. Não eram nenhum eles a pessoa que procurava. Tentei esconder a minha expressão de desilusão e continuei a mirar a nau, escutando as ondas a bater no muro de barro.

– Não me digas que estás à espera da tua mamã?- riu-se outro. O cheiro a álcool ecoava em cada um deles.

– Esperemos com ele.- aconselhou outro.- Pode ser que a mãe seja gira!

“Homens”, pensei. Eu também sou um homem, mas duvido que, quando for adulto, a única coisa que pense seja em pares de saias.

– O rapaz está comigo!- gritou uma voz séria.

Encarei-o. A expressão de fúria fez com que os polícias, assustados com a sua súbita presença, perdessem o pio e recuassem, para longe de nós.

– Afinal não era uma mãe toda boa!- disse um, fazendo com que todos os polícias, ao rirem, escondessem o susto que tinham levado.

O homem sentou-se ao meu lado. Permanecemos em silêncio por momentos. Nenhum de nós queria começar a conversa. Ele ganhou a coragem de o fazer quando eu ia para o fazer. Gosto de pensar se ele não falasse, eu teria o necessário para o fazer.

– Devias ir para casa, miúdo.- começou ele.- Este sítio não é propriamente seguro…

– Já ouvi dizer…- interrompi.- Preciso da tua ajuda, Castiel.

Castiel abriu os olhos, puro sentimento de surpresa. Mas esta foi, rapidamente, substituída por alguma dor e falsa insignificância.

– Se é sobre Esmeralda…O assunto é entre nós os dois. Não te metas, Christian.- fiquei surpreso. Normalmente o ruivo apenas me apelidava de “miúdo” e “puto”. Penso que esta era a primeira vez que ele me chamava pelo meu nome: o meu nome e nenhuma das fracas alcunhas que a minha irmã usava para o fazer.

– Não é nada disso.- admiti.- Não viria de tão longe para me meter em brigas entre dois orgulhosos.

– Eu? Orgulhoso?- Castiel riu-se.- Ela é que está a ser casmurra como uma mula. E não penso em falar-lhe de novo a não ser que ela me peça desculpas…de maneira original e inesquecível.

Não sabia o que tinha acontecido entre eles, já que a minha irmã nada sobre o assunto me tinha referido e, principalmente, porque tinha escondido a chave da minha base de dados: o diário dela. E enquanto não descobrisse onde ela estava (e suponho que esteja num sitio inalcançável como, por exemplo, entre o corpete dela) nada podia abordar sobre quem, entre os dois, estava mais correto (porque, totalmente correto, nenhum dos dois deve ter sido).

– Esqueçamos esse assunto.- declarei, farto de não avançar na conversa.- A minha irmã precisa da tua ajuda. E não estaria aqui se essa ajuda pudesse vir de outra pessoa.

O ruivo levantou-se e começou a dirigir-se para o navio.

– Desculpa puto.- disse-me ele.- Mas, como já te disse, até ouvir um “Desculpas” dela não tenciono vê-la, muito menos ajudá-la.

“ O quê?”, pensei.

– Afinal de contas, não sou o tipo de homem que a nossa princesinha Esmeralda possa chamar quando precisa de algo e, quando já tem o que quere, ser colocado no lixo, esquecido.

Algo estava a ferver dentro de mim. Quando senti que o tacho não podia mais aguentar com a pressão da água quente, arrebentei:

– Que tipo de homem és tu?- gritei, zangado.- A minha irmã tem estado desolada desde que vocês se zangaram!

Era verdade. A ideia de ela ir à feira ajudar Violette tinha sido, maioritariamente, minha. Até tinha pedido a Iris que mentisse e dissesse a Esmeralda que não se estava a sentir bem. Tudo isto para a minha irmã sair do quarto e ir espairecer, para esquecer a discussão entre ela e o ruivo.

Mas Castiel continuou a andar, ignorando-me.

– E mesmo que ela não estivesse triste…- continuei- Um homem deve proteger aqueles que lhe são importantes.

Vi o corpo dele reagir a esta última nota. Virou-se na minha direcção, furibundo.

– E quem és tu para dizeres que ela é impor…- interrompi-o.

– Tu gostas dela, não gostas?- perguntei, sem deixá-lo responder. O rubor que se formava na face dele respondia por si só.- Vais deixar alguém que te é importante, alguém que devias proteger (porque és um homem, afinal de contas), voltar ao pandemónio que a deixou ferida e depressada para, quem sabe, todo o sempre?

Os olhos dele abriram-se. Castiel não demorou muito a perceber do que eu falava.

– Estás-te a referir ao…- começou ele, assustado.

– Sim.- confirmei.- Estou a referir-me ao orfanato.


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Notas finais do capítulo

Desculpem mas, infelizmente, só saberão o resto da história nos meados da próxima semana. Sorry sorry :(



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