Paul -

Cara, aquilo estava muito errado. Muito mesmo. Não é como se a July ser sequestrada não fosse algo realmente preocupante, e que em todo o segundo que passava ela estava sendo refém de sei lá quem e por causa disso, rapidez é importante mesmo, mas... Cara... Não é uma boa ideia você se manter vivo até encontrar ela?

E foi exatamente nessa hora que o Vinícius vira o carro numa esquina de modo que quase que toda minha cara fica prensada no vidro do carro. Bem, pelo menos eu estava de cinto, e isso é um motivo bom para eu agradecer, porque independente  do seu ponto de vista, ficar aqui no banco da frente é melhor que ser o Matt amarrado no banco de trás.

Aliás, acho que ele perdeu a consciência pelo som que a cabeça dele fez ao bater na porta.

- Maldito seja Vinícius! Parece que tem a merda de um cavalo me dando patada na cara! - Berrou o Matt, deitado de forma engraçada no banco, e pelo jeito, fazendo bom uso da única parte do corpo que não estava amarrada. 

Bem, acho que na próxima ele perde a consciência de vez.

- Então agradeça ao cavalo porque isso é o máximo de "carinho" que vai receber hoje - Vinícius nem se deu ao trabalho de olhar para a cara do Matt e rir, mas o sorriso dele era o suficiente para você perceber o quão satisfeito ele parecia com o sofrimento dele. O que, sinceramente, não é nada saudável.

- Eu tenho nada a ver com isso! - Matt pegou um impulso para se sentar, mas acabou caindo contra o banco. De novo - Droga Vinícius, eu juro que fiz nada!

Depois de passar ridiculamente rápido por uma mini van, e eu ficar de queixo caído com quantos palavrões poderiam ser ditos em tão poucos segundos, Vinícius respondeu:

- Ok Matt, então me explica como diabos você sabia que esse sequestro foi coisa do babaca do Dylan e cia?

- Eu não sabia. Eu apenas sugeri que foram eles - Grunhiu.

- Ah, claro, porque você é expert do ramo, foi mal.

- Meu Deus! Você esperava que fosse quem mais? Não foi sua irmã quem espancou praticamente todos eles porque você levou uma surra graças aquele ta... - O Matt poderia ter terminado a frase dele se o carro não tivesse sido brutalmente freado e ele fosse jogado com tudo contra o meu banco.

Vinícius calmamente puxou o freio de mão e virou para trás para observar o cara que deu o maior beijo no meu banco quando meteu a cara nele.

- Eca, e a minha irmã beijou o cara que tem um fetiche por banco de carros - O Matt deve ter ficado bravo com aquilo pelo gemido esquisito que soltou. Acho que era para ser algo como "Vai a merda" ou coisa do gênero.

Eu fui o primeiro que resolveu sair logo do carro, estacionado numa boa distancia da casa toda cercada por um muro de concreto que Matt disse que encontraríamos. Encarei aquilo com as sobrancelhas juntas, pensando em que droga estariam fazendo com a primeira garota que resistiu a mim por mais de uma semana.

A garota tem valor mesmo para suportar algo do tipo, muitas acabaram não voltando ao tentar resistir.

E então paro de olhar aquilo quando segue a cena mais romântica do dia na frente de meus olhos. O Vinícius estava segurando o Matt nos braços, tipo, nos braços mesmo, como se o Matt fosse a princesa dele. E no segundo seguinte que eu ia começar a rir, Vinícius me encara com o cumulo da repugnância expresso na cara.

- Não ria Paul, ou então eu jogo esse troço na sua cara - Então ele jogou o Matt nos ombros, o que me fez perceber que o cara estava semi-consciente. Ah, achei que era algum tipo de boiolice mesmo.

- Precisa mesmo levar o Matt? - Perguntei, tentando não voltar a rir.

- Claro, ele vai ser nosso "colete a prova de balas" - E deu um sorrisinho antes de começar a caminhar para a outra calçada com o Matt sacudindo nas costas dele.

E depois dizem que eu exagero quando falo que esse cara tem tudo para ser um psicopata.

Bem, voltando ao nosso presente, segui os dois por trás porque eu não sou maluco para seguir de cara para o bando de sequestradores cheios da maconha. Nem vem. Então paramos à alguns metros deu um portão médio dividido em dois retângulos de madeira velha e fedida. Parecia algo fácil de arrombar, mas eu sigo a regra em que não se deve subestimar casa de drogados.

 Vai que saem os Teletubbies montados em unicórnios dali para matar a gente.

Putz, melhor nem imaginar. Iria ser muito violento.

Vinícius, que tem uma puta coragem, chutou o portão  e observou ele tremer um pouco com o chute, mas não cedeu.

- Essa coisa é velha, mas é dura pra caramba - Vinícius franziu os lábios e então me olhou - Está a fim de deslocar seu ombro pela minha irmã?

Que merda de pergunta é essa?

- Acho que não é uma boa deslocar o ombro quando sei que vamos entrar numa briga. Quem iria te proteger deles cara? - Sorri quando ele fez uma carranca em resposta.

- Droga, precisamos de algo pesado o suficiente para isso abrir, mas eu não presto quando se trata de peso - Falou a tripa seca - Não... Pera. Acho que sei o que fazer.

- O que? Está pensando em pegar uma tora de madeira para jogar no portão? - Claro, foi zoeira, mas pensa em como ficou minha cara quando o cara se afastou e segurou as pernas do Matt como se ele fosse jogar um saco de batatas no chão. No caso, era o portão, mas vocês entenderam.

- Não,  pera Vinícius! - O cara parou quando pensei que ia fazer merda, e me olhou confuso.

- Que?

- O que diabos você vai fazer?

- Jogar a unica cois pesada que temos, oras.

Ah, claro, desculpe. Pode jogar a PESSOA nas suas costas a vontade.

- Cê está louco?! Ele vai sair em coma daqui se fizer isso! Ele é uma pessoa.

- Paul, pense melhor na merda que esta dizendo. Este cara dedurou você para a July, colocou um bocado de loiras contra você, beijou sua ex-namorada maníaca por matar a July, e agora é a causa de a única namorada decente que você conseguiu estar refém de um grupo de caras que trabalharam para ele. Tem certeza que não quer que eu meta a cara dele nesse portão velho e que fede a Cheetos?

- Mas cara, você acha que sou tão desumano a ponto de não perdoa-lo e dar uma chance dele se redimir só para ver ele inconsciente num hospital por tempo indeterminado? - Vinícius me encarou e ergueu uma das sobrancelhas. Foi então que eu comecei a rir e dei de ombros.

- Cara, até parece que tava falando sério... Mete a cara desse desgraçado nesse portão.

- Nossa, pensei que você tinha virado um humano decente - Vinícius riu - Ainda bem cara, quase que não te reconheço - E num impulso, o Vinícius jogou o Matt na direção do portão. E foi até bonito, ele voou suavemente como uma pomba antes de quebrar todos os ossos na madeira fedida.

Mas não se preocupem, o portão acabou abrindo, o que tornará o coma do Matt algo a ser lembrado por nós com orgulho.

Mudando de assunto, assim que o portão cedeu, e as duas divisões dele se abriram para nós, meio que fiquei chocado, meio que fiquei animado, e depois de ver melhor, voltei a ficar chocado. Parecia que havia tido um ataque zumbi ali, e vocês saberão porque. Primeiro, o Vinícius nem pareceu perceber oque eu vi porque logo em seguida o eco do tapa que a July tinha acabado de receber na nossa frente foi alto o suficiente para ele só encarar o autor da obra. E devo dizer, com aquela pequena ponta de irritação que ele costumar ter, sabe.

- VINÍCIUS! - Tentei segurar o cara antes que ele acabasse fazendo merda, mas ele já estava correndo feito um touro louco até o cara que havia dado o tapa na July e quando eu havia dado o primeiro passo até eles, o Vinícius já tinha socado ele em cheio.

- Vinícius! - Virei meu rosto para a July assim que chamou ele, e ambos, eu e o Vinícius, ficamos sem reação ao ver o sangue que escorria da nuca até os ombros, encharcando todo o braço dela. Então ela sorriu, meio trêmula e disse - Putz... Você é um inútil mesmo. Não dava para chegar mais cedo?

WHAT?!

Meu choque desapareceu bem rápido quando eu percebi que a guria começou a cair para o lado como se fosse uma boneca. Antes que ela tombasse no chão de vez segurei a garota nos meus braços e me ajoelhei no chão, tipo, tremendo pra caramba enquanto olhava todo o corpo dela atrás de algum ferimento mais grave, mas desconcentrei disso quando percebi que ela ainda sorria.

- Merda July! Para de me olhar com esse sorriso enquanto uma catarata brota da sua nuca!

- Foi mal, mas é que esperei bastante por vocês... - Então soltou uma risada baixa. Merda... E querem que eu não fique de coração mole com essa garota!

Juntei o que restou de coragem e disse no máximo de firmeza que consegui:

- Vou te tirar daqui, eu juro - E então ela aumentou o sorriso, o que era estranho para caramba se pensar que o sangue ainda não parava de escorrer e empapar minha camisa. Foi então que lembrei que o Vinícius ainda estava ali. Me virei e lá está o cara, olhando para a irmã dele tão imóvel que me assustei com a possibilidade dele estar em estado de choque ou algo assim. Logo atrás dele, percebi que o Mark se preparava para se levantar, apesar de estar tonto pra caramba.

- Vinícius! Acorda droga! - Ele levantou a cabeça para mim, parecendo fora do ar, então Dylan surgiu pela porta da casa acabada e começou a correr até o Mark. Soltei um palavrão e voltei a olhar o Vinícius - Vinícius, preciso que você tire ela daqui, agora. Ela... - Olhei para a garota de novo e trinquei os dentes - Ela está perdendo sangue, então ACORDA LOGO MERDA!

- Ela... - Ele olhou para mim, e eu precisei de um segundo para ver que os olhos dele marejavam - Paul... Me ajuda.

Merda...

- Vai embora, eu seguro eles aqui - Coloquei a garota nos braços do Vinícius e ele assentiu, se levantando com a minha ajuda.

- Ei! Ei! - Mark estava apoiado no Dylan, com um sorriso idiota na cara enquanto olhava para mim - Acha mesmo que vai sair assim? Levando a garota? - Riu - Desiste disso, eu já acabei com a raça dela.

 Virei o rosto para o Vinícius e fiz sinal para ele ir, e logo o cara começou a correr nervosamente até o portão. Estava óbvio que apesar do pânico ele queria socar o Mark até a morte.

E parece que essa missão acabou de ser dada a mim.

- Porque você fez isso... - Me virei para o Mark, e quando cravei os olhos nele, o sorriso idiota dele sumiu. Fazer o que, eu estava puto - PORQUE?!

- Ela mereceu, apenas isso - Mark afastou o Dylan com um empurrão e aproximou um passo - Porque Paul...? Está magoado? Acho que devia ter matado ela antes que pudesse encontra-la.

- Cala a merda da sua... - Calei a boca quando senti uma sensação esquisita nas costas, então me virei e lá estava o Robb segurando um bastão de ferro, prestes a acertar minha cabeça. Foi então que neste segundo meus instintos ninja foram ativados e minha mão pega o bastão antes que ele pudesse me acertar.

Eu sei, eu sei. Se tão ninja além de lindo deve ser um choque para você.

Quando o Robb tenta puxar de volta, eu agarro o bastão com a outra mão e chuto a parte de trás do joelho dele, de modo que ele caiu que nem uma menininha no chão.

- Merda! DYLAN! - Mark berrou, e logo vi o cara correndo na minha direção.

- VOCÊ VAI MORRER PAUL - Dylan berrou com um sorriso, mas eu apenas afastei um passo e segurei o meu bastão com as duas mãos (Coisa feia, olhe que mente impura é essa que você tem).

E no segundo que ele ia tentar pega-lo de mim, eu giro meu corpo em 180 graus e atinjo em cheio as costas do maldito, e termino chutando ele para que caísse no chão assim como o Robb. Abaixei o bastão e me virei para o Mark que estava branco, chocado e acima de tudo, sozinho. Aproximei dois passos dele e o olhei bem nos olhos.

- Sabe Mark, July não é apenas uma garota pela qual eu possa simplesmente perdoar você por ter batido nela... Ela é minha namorada - Agora ele pareceu apavorado de verdade - E você não podia ter mexido com cara pior, porque eu vivi com algo muito pior que uma gangue de drogados sedentos por briga - Então abri um meio sorriso - Eu vivi com o Vinícius, e isso é o suficiente para eu saber como acabar com a sua raça agora.

E quando eu achei que aquele momento era heroico o bastante para eu ser chamado para fazer um filme, umas sete ou oito sombras surgiram ao redor da casa e pararam a apenas alguns metros do Mark cambaleante e de queixo quebrado. Então o maior deles, um cara gigante e careca cruzou os braços e apontou para mim com a cabeça.

- Lindo discurso cara, agora podemos quebrar sua cara?

Olhei para cada um deles e depois para o meu bastão. Só me sobrou soltar um suspiro, erguer o bastão e dizer:

- Ok, acho que eu posso não ter aprendido tanto com o Vinícius, mas vamos lá.

E foi assim que Paul Whitte morreu.