Sai do elevador correndo e então cheguei na santa portaria do prédio enquanto olhava para os lados como um louco perdido, mas tinha nenhum sinal se quer da July.

- Ei, cara! – Fui até o porteiro velho que logo pareceu perceber quem eu era – Você viu uma garota morena com malas enormes saindo daqui?!

- Uma garota...?

- Sim!

- Carregando malas?

- Isso!

- Morena?

NÃO! CARECA!

-Desculpe, mas estou com pressa! - Insisti, tentando ser educado para não assustar o velhinho e matar ele com um ataque cardíaco.

- Ahh, desculpe-me – Ele sorriu, mas eu continuei com uma carranca impaciente na cara – Sim, uma garota passou agora a pouco e me perguntou se eu podia ajudá-la a conseguir um taxi.

- Um táxi?! – Meu Deus... Estou lascado – Ela já pegou o taxi?!

- Na verdade, eu acabei de chamá-lo para ela. Provavelmente já deve estar saindo do...

- Valeu cara! – Cortei ele logo já que sabia que era capaz de me prender ali com todas as descrições possíveis de como ajudou a pirralha.

Quando corri para fora do prédio já estava com o celular no ouvido, torcendo para que o motorista do táxi fosse um velho gaga com síndrome aguda de lerdeza.

E então o Paul atendeu na segunda chamada.

- Encontrou ela?! – Perguntou logo de cara.

- Paul, trás o carro para a frente do prédio em cinco segundos ou então estamos ferrados.

- Eu sabia que ia precisar... Tá! Segura as coisas ai antes que ela suma! – E o cara desligou o telefone.

- Fala como se fosse fácil... – Bufei, colocando o celular no bolso da calça antes de empurrar as portas do prédio enquanto corria, e alcançar a calçada do lado de fora. Dei uma risada ao pensar o quanto era idiota correr e me esforçar daquele tanto – Se bem que estou parecendo o James Bond em ação.

Sim, o James Bond bêbado.

Ignorei o pensamento idiota e procurei qualquer taxi que pudesse encontrar ali perto, mas eu me sentia tão zonzo pela bebida que era meio difícil impedir os unicórnios voando na frente do meu rosto.

QUE MERDA! EU CHEREI MACONHA POR ACASO?!

- É só isso?

- Sim, obrigada.

Resolvi deixar os unicórnios em paz quando ouvi aquela voz tão familiar. E, ora vejam só, não é que era a guria quem estava entrando num táxi à vários metros de distancia?

- Ai que droga! – Resmunguei, correndo o máximo que podia até ela, mas não era muita coisa já que eu estava grogue pra caramba – JULY! ESPERA AI PIRRALHA!

A guria deixou metade do corpo fora do táxi só para ver quem era o louco mental que estava gritando no meio da rua, mas a cara da garota ficou muito esquisita quando percebeu que era apenas o idiota do irmão dela correndo.

- Eu não mereço isso... – Ela resmungou, e ainda teve a coragem de me ignorar e entrar no táxi.

VOCÊ ESTÁ QUERENDO MORRER PIRRALHA DOS INFERNOS?! SAIA DA PORCARIA DO TÁXI AGORA!

- PIRRALHA! SAI DAÍ AGORA! – Gritei para ela, puto da vida por ela me ignorar apesar de eu estar perdendo meu tempo e minha energia perseguindo uma garota mimada pra caramba.

Mas nãããõ. Era a pirralha sem noção ali, e ela simplesmente se mandou no táxi quando eu finalmente alcanço o lugar onde ela estava. E eu fiquei ali, encarando o maldito veículo amarelo se afastar de mim para a avenida.

AAAAHH... AGORA É QUESTÃO DE ORGULHO!

PAAAAAUL, CADÊ VOCÊ SEU LERDO?!

Dei graças a todos os deuses do olímpo quando vi minha linda Pickup surgindo na minha frente no seu esplendor negro brilhante.

O que estragou mesmo foi ver o rosto do Paul surgir no lado do motorista com um sorriso idiota no rosto.

- Pronto para uma perseguição? – Perguntou com um bom humor que alimentou minha raiva.

- Sai daí e deixa eu dirigir o meu carro!

- Ah, cala a boca e entra logo no passageiro. Você é o único bêbado entre nós.

Merda de álcool.

Entrei no passageiro com uma carranca pior que a ultima e então encarei o idiota no motorista enquanto ele dava a partida.

- Não pense em quebrar o meu carro, escutou?!

- Tá, ta... Apenas fique de olho para não perder a July – Ele acelerou para a avenida onde ela seguiu e então tentei identificar o taxi dela em meio aos carros na nossa frente. Para a minha sorte ela estava perto de nós, a três carros de distancia.

- Ela está naquele taxi – Apontei para o demônio amarelo causador da iminente morte do meu carro.

- Ótimo. Eu não perco ela de vista por nada – Ele abriu um sorriso medonho enquanto apertava o cambio, então comecei a suar.

O meu carro...

July –

- Esta sendo difícil acreditar nisso... – Murmurei, menos zangada que agora a pouco – Porque o idiota do meu irmão resolveu me seguir logo agora?

- Problemas, senhorita?

Levei um susto quando ouvi a voz do motorista e então virei o rosto para o cara de mais ou menos uns 30 e poucos anos, mas com estranho ar jovem.

- Não se preocupe, só estou metida numa confusão com meu irmão – Dei um sorriso e ele assentiu, parecendo entender.

- Então você deve ser a irmã mais nova.

Heim?

- Como sabe disso?

- É que eu não pude deixar de ouvir aquele rapaz te chamar de “pirralha”.

MALDITO VINÍCIUS! QUAL A DIFICULDADE DE ME CHAMAR PELO NOME?!

- Ah... Claro que ouviu – Entortei os lábios.

- Não quero parecer intrometido, mas ele parecia preocupado.

Bufei.

- Ele nunca se preocuparia comigo de verdade. Ele apenas me vê como a típica irmã caçula insuportável – E se via. Ele tinha mais amor pelo Xbox que pela chata da irmã.

- Sei... Isso é bem normal.

Encarei o cara com as sobrancelhas erguidas. Desde quando é normal que seu irmão mais velho tente te matar com um abajur logo no primeiro dia que te vê?!

O cara percebeu que eu fazia cara de que não se convenceu, e então limpou a garganta.

- Sério mesmo! Tenho certeza que isso é normal porque eu já tive uma irmã caçula e eu era horrível com ela.

Vish... Mais uma vítima dessa raça insuportável de irmãos mais velhos.

- Mesmo assim, você não devia ser tão ruim com ela quanto o meu irmão é comigo.

- Quer dizer que ele já te trancou no porão de casa durante um final de semana inteiro só para fazer uma festa?

MEU DEUS DO CÉU!

- VOCÊ FEZ ISSO COM A SUA IRMÃ?!

- Fiz.

Me afastei do cara com um rosto medonho. ELE É UM MOOONSTRO.

Ele riu da minha expressão.

- Falei que é normal. Eu fazia coisas piores que essa com a minha irmã. Ela era insuportável na época.

Engraçado, pareceu alguém falando agora...

Mas... Perai. Tem algo errado...

- “Era”? – Perguntei meio confusa, e então tive a leve impressão de que não era algo bom.

- É que...

BIIIIIIII BIIIIIII!!

- Ô PIRRALHAAA! SAI DESSE TÁXI GURIA!!

Soltei um grunhido esquisito e então enfiei a cara para fora do vidro aberto do táxi, dando de cara com o meu irmão logo atrás de mim fazendo a mesma coisa.

- NÃO VOU SUPORTAR FICAR COM ALGUEM QUE NÃO GOSTA DA MINHA PRESENÇA! – Dei língua para ele como uma pirralha de verdade e então voltei a me sentar – Tiozinho – Chamei.

O cara me olhou confuso.

- Meu nome é James...

- Tá certo! James, acelera com tudo para o aeroporto mais próximo – Juntei as sobrancelhas, sentindo a adrenalina no ar – Tenho que despistar o meu irmão a qualquer custo.

- Mas...

- ACELERA AI TIOZINHO!

Ele soltou o ar pela boca e então olhou para a pista a sua frente.

- Já disse que meu nome é James...

- Ah ta bom! Mas acelera ai! Quero sair desse país e ver o Vinícius NUNCA MAIS.

O cara deu uma olhadela em mim por um segundo, mas então voltou a encarar a pista.

- Ok. Já que está pedindo.

Só foi o sinal ficar verde que eu senti todo o sangue fugir do meu rosto.

O TIOZINHO ERA MUITO LOUCO!

O táxi cantou pneus e avançou com tudo para frente como se estivéssemos dentro do jogo Crazy Taxi. Encarei o Tiozinho e me choquei ao ver o rosto dele tomado de tranquilidade enquanto dava a marcha e acelerava mais o carro.

Paul –

- Ela está fugindo mesmo. – Falei enquanto observava o táxi sair a toda pela avenida.

- Merda! – Vinícius fez um rosto coberto de raiva e então cruzou os braços com uma careta – Já era. Se a doida conseguiu convencer o taxista a correr a toda, é porque não quer mesmo ficar aqui.

- E a culpa continua sendo sua... – Falei em voz baixa, mas o cara conseguiu me escutar.

- Não importa se ela ficou chateada comigo – Furiosa é o mais correto, eu acho... – A decisão de sumir do mapa é dela e não minha. Vou receber uma porrada via telefone da minha mãe? Sim. Mas a culpa é DELA.

Abri um meio sorriso enquanto dava a marcha e acelerava o carro, e então disse com uma coragem completamente estranha:

- Bem, tudo bem se não quiser ir atrás dela, mas eu sou um cara lindo de mais para deixar uma garota que já beijei ir embora fácil – Nem arrisquei olhar para o rosto do cara com medo de perder toda a coragem, e então apertei mais o pedal, abrindo mais o sorriso de desafio ao ver a o ponteiro de velocidade subir.

Agora é a caça as mulheres!

Especificamente a irmã do Vinícius, ou a “mulher proibida”, se é que me entendem.

A pista não estava tão cheia, então isso facilitou que eu contornasse os carros em alta velocidade, tendo que ouvir algumas criaturas falarem coisas como “Idiota! Dirige direito!”, mas ignorei. A sensação de estar a toda numa pista era como enfrentar uma onda incrível no meio do verão, e agora que a corrente de adrenalina estava no sangue, eu não pararia tão rápido.

Caaaara, eu sou o máximo! Me sinto como aqueles caras de “Fast and Furious” numa corrida clandestina com nada além dos prédios a te impedir de correr! Bem... Isso porque eles não estavam dentro do carro do Vinícius com o VINÍCIUS dentro.

- DROOGA! PAUL PARA O CARRO AGORA! – Engoli em seco quando vi o rosto do cara todo vermelho enquanto grudava que nem chiclete no banco do carona.

- Que isso Vinícius! Você não disse que enfrentava qualquer corrida e ainda por cima ganhava de mim? – Brinquei e o rosto dele piorou.

- ISSO DAQUI TEM CARA DE SER UM MALDITO JOGO DE XBOX?!

- Sh, fica quieto. A gente tem que alcançar a sua irmã ou então tua mãe arranca sua alma do corpo – Falei ainda sorrindo, vendo que estávamos logo atrás do táxi amarelo.

- Merda...! Eu juro que se não estivesse enjoado eu te tirava daí... – Vinícius fechou a boca com força e então eu me afastei dele.

- Enfia sua cara para fora! Se vomitar em mim a coisa vai ficar feia de verdade!

Tentei ao máximo ignorar o bêbado enjoado do meu lado para me concentrar na July e seguir ela para onde diabo estivesse indo.

- Garota problema... – Murmurei quando vi o carro fazer uma curva repentina numa pista ao lado, e rezando a Deus para que não me ferrasse de vez numa batida, virei o volante para a cura que milagrosamente eu entrei cantando pneu.

Fazer oque... Eu sou o máximo!

O Vinícius se cagou todo de medo assim que terminei a maldita curva e então dei a marcha e avancei na garota problema com a Pickup do bêbado.

Depois de mais uma corrida e algumas “belas palavras de incentivo” dos motoristas que eu passava, fiquei lado a lado com o táxi dela. Dei uma cotovelada no Vinícius para ele desgrudar do banco.

- Fala para ela parar! – Falei rápido, tentando me manter lado a lado com o táxi.

Vinícius resmungou qualquer coisa e então enfiou o rosto para fora da janela da Pickup.

- July! Me ouve e sai desse táxi por favor! – Fiz um gesto de cabeça positivo ao ver que ele tentava ser educado.

July se inclinou para que o Vinícius pudesse vê-la da janela do motorista e então fez uma cara feia.

- Vinícius, deixa eu ir logo de uma vez! Nem você e nem eu parecemos estar a vontade em estar juntos, oque já era esperado. Só o Paul que tem sido legal – Eu sei, eu sei... – e você tem me esnobado toda hora, isso se não ameaçava os caras que mal se aproximavam de mim!

Vinícius fez um rosto magoado e então colocou a mão no coração.

- Eu não fazia só isso! Eu estava sendo legal com você antes de agora a pouco!

A cara dela virou uma carranca mal humorada.

- Está falando quando me deixou cair daquela rocha e lesionar meu braço? Ou quando quase tirou a minha vida com um maldito abajur?! Aaaah não, acho que foi quando jogou a porcaria da mala na minha cara!

- Esses são detalhes que podem ser esquecidos com uma boa conversa entre irmãos...

- CONVERSA O CARAMBA! VOCÊ É UM GROSSO!

Vish... Ela tinha razão.

Oque é?! Você também não acha que o Vinícius é um insuportável grosso pra caramba?

- AFE! VOCÊ QUE É UMA INGRATA! – Vish... Já perdeu a cabeça – EU TIVE A BOA VONTADE DE TE TRAZER PARA ESSE LUGAR E VOCÊ VAI EM BORA?!

- Na verdade você foi obrigado a isso... – Falei quando ele pausou, e então o cara virou para mim irado.

- VALEU PELA AJUDA MARAVILHOSA!

- De nada – Sorri, tentando parecer inocente.

- Vinícius, não importa! – Ele virou o rosto novamente para ela – Eu vou embora e pronto. Pare de atrapalhar o transito e vai para o seu apartamento – E então se afastou da janela.

- Perai, pirralha!

Já era. O cara pegou a outra faixa e virou numa curva sem que eu percebesse.

- Merda! – Falamos juntos assim que passamos pela curva que ela fez.

- Essa garota me tira do sério! – Vinícius reclamou.

- Esquece isso – Diminui a velocidade e soltei o ar pela boca – Se ela realmente vai para um aeroporto, então só tem um aqui perto que ela pode ir. Podemos alcançá-la ain...

- Deixa isso para lá – Vinícius me cortou e então me obriguei a virar o rosto para ele, vendo que a cara dele estava menos chateada e até... AI MEU DEUS! ELE ESTÁ TRISTE! – A July não quer mais ficar no apartamento porque não suporto ela e vice-versa. Então deixa a guria ir. Eu me viro com a minha mãe e... Paul? Oque você está fazendo?

Eu fui para o acostamento da pista e parei a Pickup, me virando para o Vinícius.

- VIRA HOMEM! – Dei um tapa no rosto do Vinícus e quase que ele vira do avesso.

Ele virou para mim com uma marca vermelha viva no rosto.

- VOCÊ PIROU?! – Ele berrou comigo, novamente irritado.

Aaah, assim é melhor.

- Eu que pergunto! Desde quando você fica choramingando por causa de uma briga com uma garota? Para de agir que nem um Kiwi e traz a sua irmã de volta em segurança!

Vinícius ficou com uma cara muito hilária, com o nariz inchado e uma marca vermelha na cara enquanto esbugalhava os olhos.

O cara está feio pra caramba... E apesar de toda a minha posição de homem responsável com palavras bonitas, observe oque ele me pergunta:

- Kiwi...? Você conhece essa fruta?

PELO AMOR DE DEUS CARA!

- A July conseguiu encontrar uma vasilhinha com esses negócios naquela loja de verduras – O preço era alto pra caramba... – E então ela me mostrou... AAA, MAS NÃO É PARA ISSO QUE ESTAMOS AQUI CARA!

- Verdade! – Vinícius juntou as sobrancelhas e estufou o peito – Eu preciso cuidar daquela chata insuportável pelo bem da minha pele!

Bem... Não falei tudo isso por causa da pele dele, mas tudo bem, pelo menos ele voltou a ser homem.

- Isso!

- Agora a gente vai na porcaria do aeroporto!

- Isso ai!

- E nós vamos encontrar a pirralha!

- Exatamente!

- E ENTÃO VAMOS ACABAR COM TODO O LUGAR!

- É ISSO MES...! Não... Perai...

- VAMOS PAUL! ACELERA AI ANTES QUE A GURIA SUMA DE VISTA!

- Beleza! – Liguei o carro e então voltei para a pista num segundo, elétrico por algum motivo.

Vinícius abriu um sorriso maníaco-psicopata-possessivo e então levantou a mão.

- ESPERE POR MIM PIRRALHA! VOU TE DEIXAR NEM IR PARA O INFERNO SE EU NÃO QUISER!

Esse cara está bêbado mesmo...